31 julho 2004

Privatus versus Publicus

Rio Ave
Hoje, um evento comemorativo arrastou-me ao Hotel de Santana, em Azurara, Vila do Conde. Da sala de refeições, mesmo defronte, depara-se uma deslumbrante paisagem sobre o Rio Ave, a cidade e, em especial, o Mosteiro de Santa Clara. Este monumento, que foi convento de Clarissas e, no ancien régime, reformatório de crianças, é hoje uma escola profissional sob a tutela do Ministério da Justiça, entregue, desde 1944, aos cuidados dos Salesianos. A casa conventual que ainda existe já não é a primitiva – trata-se de uma edificação do séc. XVIII, de que apenas foi construída a fachada sul de um grandioso projecto de construção para um novo mosteiro. Continua a ser, no entanto, o ex-libris de Vila do Conde.
Situado no centro da cidade, ocupa, com o terreno envolvente, onde estão construídas modernas oficinas e um amplo campo de futebol, um espaço cobiçado pelos interesses privados. E aquilo que poderia ser um edifício de utilidade pública, ao serviço dos vila-condenses e populações limítrofes, está condenado, segundo dizem, a transformar-se “na maior pousada do norte”, acessível apenas a endinheirados. Se isso já não aconteceu, não faltará um qualquer secretário de Estado, daqueles que ainda mal se mexem dentro de recentes fatos encadernados, a assinar uma qualquer portaria de cedência do público (só o rendoso) ao privado, com o aplauso de um qualquer presidente de câmara, sócio-da-lista ou não, com ou sem cabelo. E haja quem diga que o negócio cheira a esturro!
É por estas e por outras que cada vez menos me revejo nesta mal parida (demo)cracia!

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