30 novembro 2007

Farmácia de Serviço 40


Ai os livros... (mais do mesmo!)

Eu tinha jurado a mim próprio que este ano ia ser de vacas magras. Pouca compra que o que por cá o que mais há é livros em lista de espera.
Mas o vício espreita a cada canto e as oportunidades saltam-nos ao caminho descaradamente.
Desta feita foi uma coisa que provavelmente vos despertará alguma reminiscência: A “Residência de Estudiantes” essa extraordinária instituição madrilena onde nos anos trinta se encontraram Lorca, Dali, Buñuel, Cernuda, Altolaguirre e Bergamín. Para não falar noutros frequentadores, Alberti à cabeça.
Agora a “Residência” é uma fundação muito embora ainda hospede por curtos espaços de tempo escritores e artistas. E é também uma editora! E que editora! Tenho aqui, acabadinhos de chegar, fresquíssimos portanto, cinco títulos de encher o olho e esvaziar a algibeira: “Luís Buñuel, el ojo de la libertad”, “Alberti, sobre los angeles”, “Ruedo Ibérico, un desafio intelectual”, “Luís Cernuda, álbum” e “Pablo Neruda, álbum”. Estes dois últimos são foto-biografias, muito ilustradas, capa dura, uma delicia. O Alberti é um catálogo lindísimo (como o Buñuel...) mas traz incluído o famoso livro que lhe dá título em fac-simile. Finalmente o catálogo do Ruedo ( e deve haver por aí alguém que lhe tenha frequentado a livraria em Paris, na R. de Latran) resume uma aventura a que nós portugueses deveríamos também estar gratos pois aquela casa e aquela editora também dedicaram alguma atenção às nossas desgraças. A Residência tem um belo site (www.residencia.csic.es) mas quem quiser encomendar fará melhor em telefonar. As pessoas de lá são atenciosas, entusiastas e percebem portunhol.
Sempre de Espanha, três novidades dignas de atenção: “sagas islandesas de los tiempos antiguos” (recolha de quatro sagas que à vista desarmada, não constavam de nenhuma recolha que eu conhecesse (e juro que conheço uma boa dúzia...). A responsabilidade da tradução é de Santiago Ibañez Lluch e a editora é a Miraguano. Sai a 15€. Um pouco mais caro deverá ser o último Reverte: “Un dia de cólera” (Alfaguara): o dois de Maio revisitado por um prosador ágil e competente. Finalmente é de chamar a atenção para o prodigioso Javier Marias de que se publicou há dias “Veneno y sombra y adios” terceira e ultima parte de “Tu rostro mañana”.
Passados os Pirinéus, suponho que já aqui referi uma revista chamada Telerama, muito orientada para as notícias do mundo dos espectáculos nomeadamente a televisão. Saindo dessa trivialidade a Telerama apresenta um copioso número de “hors-serie” de altíssima qualidade. Dei por eles graças a um admirável “René Char” e descobri depois que, de Brassens a Chagall, de Tati a Cézanne, de Verne aos Renoir pai e filho, há ainda disponíveis mais sessenta títulos. (www.telerama.fr) Com sorte e choradinho eles fazem 6€ por exemplar.
Na farmácia anterior referia a editora musical “brilliant classics”, um fenómeno de preços baixos e alta qualidade. Então não é que eles publicaram mais um caixote com as integrais sinfónicas de 12 conspícuos cavalheiros (Mozart, Beethoven, Haydn, Schubert, Mendelsohn, Schumann, Brahms, Mahler, Nielsen, Chostakovitch, Borodine, Dvorak e Muzio Clementi (1732-1832, de que nunca ouvi falar! )) São cem discos por 85€... Esperemos que a Fnac de cá se lembre de mandar vir. Senão já sabem: abeillemusique.com.

29 novembro 2007

Farmácia de Serviço 39

Consumismo natalício

O Natal ronda-nos a porta e boa parte das pessoas esfrega as meninges à procura de uma ideia para sair da monotonia dos presentes sempre iguais. E, já agora, presentes não muito caros que o forno, como dizem os vizinhos do lado, não está para bolos.
Esta botica não tem grande variedade de artigos. Isto é artesanal pelo que não procurem demasiadas coisas. Para isso há os chineses, a FNAC e outras catedrais do consumo. De todo o modo não creiam que arrenego da FNAC. Era o que faltava. Volta e meia há lá belas surpresas e será por aí que começaremos.
A livralhada na FNAC é o trivial. Aquela malta arrisca pouco e não está para aturar as pequenas edições, mormente de poesia. Mas na música a coisa fia mais fino. Com sorte poder-se-ão encontrar alguns mimos e dentre eles, sempre se recomendarão algumas antologias da Callas, a inimitável. Há para todos os preços desde um duplo chamado “una voca poca fa” (Black Box BB229) até a edições completas ou quase.
Anda também por lá uma colecção “Quadromania” que, por parcos maravedis, oferece duas óperas diferentes em versão integral. Alguém me disse que ouviu o volume que traz “A sonâmbula” de Bellini e a “Lucia de Lammermoor” de Donizetti e que ficou muito agradado. Eu segui-lhe o conselho e já aprontei um presente com estes dois conjuntos.
Por menos de 50€ anda pelas mesmas paragens o caixote dos “50 ANOS da Harmonia Mundi”: soberbo!
Para voos um pouco mais altos mas ainda acessíveis (?) aí está em todo o seu esplendor a caixa com a “Integral” de Beethoven, uma produção da Brilliant Classics.
Finalizemos com a colecção “Les trésors du Jazz” (Le Chant du Monde”). O 1º “coffret” é de grande qualidade, garanto-o porque o ouvi. Aliás, tenho por hábito só recomendar o que conheço.
Abandonemos a FNAC e passemos à importação: quem resolver explorar a abeillemusique.com encontrará excelentes surpresas sobretudo nas edições “Opera Rara”. A “Opera Rara” é como o porco: aproveita-se tudo: saiu agora na colecção “Il salotto” o volume 11º : La Serenatta. Pela parte que me toca já o mandei vir.
Ando há muitos anos atrás de “kwelas”, essa música suburbana da África do Sul. Recomendo três autores de grande gabarito: Spokes Mashiyane, Hugh Masekela e Donald Kachamba. Do primeiro há um título glorioso: “King Kwela”. No mercado de 2ª mão anda pelos 90€ (!!!). Quem quiser uma introdução a esta música vigorosa procure “A long way to freedom”. Está na Amazon.fr
E agora a livralhada. Para além do imperdível “Ir para o Maneta”, um exercício de inteligência, só uma dica: “Kalevala”. Eu sei que isto parece difícil. Não é. Leiam duas páginas ao calhas e depois digam-me o que pensam. Para quem não sabe, o “Kalevala” é uma espécie de rapsódia, ou um poema constituído por centos de poemas de raiz popular. Ah, esquecia-me, é finlandês. Mas em tradução portuguesa: um doido chamado Orlando Moreira leu aquilo, espantou-se, e vai daí traduziu a coisa a partir de várias traduções em línguas menos estranhas. Eu não sei finlandês, nem o vou aprender, era o que faltava nesta idade mas há muitos anos, quase 30, caiu-me na unha uma edição deste longo poema. Em francês na edição absolutamente louvável de Jean-Louis Perret (Stock Plus, Paris 1978). E fui lendo devagar devagarinho. Acabei a leitura oito anos depois, em Murnau, entre bávaros bebedores de cerveja e malta estudante do Goethe-Institut. Conheci aí uma finlandesa (honny soit...) que primeiro espantada e depois interessada me forneceu um par de explicações sobre o autor, Elias Lönnrot. Este cavalheiro percorreu a Finlândia de lés a lés recolhendo centenas ou milhares de canções populares que depois com espírito de cerzideira uniu. O resultado é prodigioso. A editora chama-se Ministério dos Livros e começa bem, muito bem. Com estrondo. Leitores e Amigos: folheiem o livro, leiam uma ou duas páginas e façam um favor a vocês mesmos: comprem aquilo que não se arrependerão. É para ler devagar, ao sabor do acaso, com a idade esta poção só melhora. A edição é bonita, o livro vem encadernado, a letra é gorda e na tradução sente-se muito amor pela literatura. Mesmo quando (e acontece) se discorda de um ou outro termo...

28 novembro 2007

Au Bonheur des Dames 101


100!!!

Pois é leitorinhas gentis. A série “Au Bonheur des Dames” atingiu, entre trancos e solavancos, o bonito número 100. Ora toma lá que já bebeste! Então eu já vos incomodei cem vezes? Cem vezes é um modo de dizer que andam por aí outras escrituras que mesmo descontando alguma fantasia no seu cômputo (e só Deus, a Madame Kami e o leitor Manuel Sousa Pereira é que lhe conhecem todos os desvios, desatinos e confusões) já devem perfazer um numero bem redondo.
Não sei bem como tudo isto começou. Ou melhor, esgaravatando a memória exausta fico com a ideia de que tudo se deve a um desafio do caríssimo Lemos Costa, patriarca in partibus deste blog, neste momento em parte incerta, e do Manuel Simas Santos que, fosse eu Pinóquio ele seria o grilo da consciência. O raio do homem só me arranja sarilhos. A ideia dele é que eu sou preguiçoso (alguma razão terá) e que por isso devo fazer muita ginástica sueca, ler livros de Direito (chiça!) e vender a minha força de trabalho (tal e qual, o homem tem as suas leituras sinistras) a quem for suficientemente ingénuo para me contratar.
Eu, claro, faço-me de parvo (e se alguém daí disser que não me será difícil, que se acautele...) e deixo correr o marfim, tentando ver se ele se esquece. Mas não. Aquilo é um elefante teimoso e, só para me livrar dele, vezes há em que acabo por fazer o que me pede. E foi assim que comecei a colaborar nesta barca. De todo o modo, fintei-o: quando aqui cheguei imperava (mas não exclusivamente) a colaboração de carácter jurídico. Ora eu, para esse peditório, já tinha dado mais do que suficiente. Ainda por cima estava desde há muito desligado dos mundos jurídicos de modo que por muito que espremesse a moleirinha nunca sairia nada de interessante. Quem não tem cão caça com furão, e eu à falta de matéria substanciosa dediquei-me às croniquetas.
Para dar alguma unidade a tais escritos, lembrei-me de um nome que, por mais voltas que desse ao miolo, não recordava a origem. Alguma vez nos longínquos anos 60/70 vira um cartaz ou algo no género com este título “Au Bonheur des Dames”. Onde e quando é que era mais complicado. Todavia, por várias vezes ao subir o Chiado tentei ver se seria dali que me vinha essa memória precária. Nada! No Chiado, que eu percorrera vezes sem conta com uma alegre comandita onde se destacavam os irmãos Salomé (Vitorino, Janita, Manel) o Cabeça de Vaca (já lá descança) o Hipólito Clemente (idem, aspas, aspas) o Fernando Assis Pacheco e sei lá mais quantos, não sobrava nenhuma placa com esse nome tão franciú e tão de outra época.
Tenho felizmente um par de leitores amigos e entre eles, o escultor Manuel Sousa Pereira, ocasional peripatético lisboeta, fotógrafo de longe em longe e marceneiro de estimação cá de casa (neste momento anda a fazer-me uma pequena estante e seria bom que quando lesse isto já a tivesse pronta...). Mais abrangente do que eu na pesquisa, deu-lhe para subir a Rua do Carmo sempre a olhar para o alto dos prédios com risco da própria vida pois consta que chocou com o carro dos fados, ali a meio da citada rua. Atropelou-o, valha a verdade, mas a carripana magnânima não se queixou. Ora ao passar por uma coisa em forma de assim (ou melhor: uma coisa assim de informe) com um nome ridículo e pouco condizente com o minimalismo do que dentro ostenta, reparou no antigo nome do estabelecimento, uivou um eureka que se ouviu na Brasileira e, zás!, tirou uma fotografia, esta, que ora ilustra a crónica.
Leitoras que aqui chegaram: digam-me lá se o antigo nome da loja (e eventualmente a antiga loja...) não tem muito mais graça do que aquele anódino “empório”?
Por mim até agradeço: ninguém me vem disputar o uso do título destas crónicas que adquiri, não direi por usucapião mas por estar simplesmente ao abandono. Já o Dr Marcello Caetano, quando se viu cercado ali perto, chamou o general Spínola para “o poder não cair na rua” (onde aliás estava e se manteve um bom ano e meio). Eu também Marcelo, mas só com um “l”, fiz o mesmo que o general. Apanhei do chão como salvados de um incêndio as quatro palavrinhas francesas “au bonheur des dames” limpei-lhes o sarro, a fuligem e as manchas do tempo e das chuvas ácidas, e aqui lhes vou dando uso. Se com muito, pouco ou nenhum êxito não sei. Espero todavia que, uma que outra vez, alguma leitora me premeie com um sorriso. O cronista contenta-se com esse pouco que para ele é muito.

27 novembro 2007

Aviso avulso (mais um)

As boas causas exigem meios adequados e, já agora, educados. Não sei bem porquê mas, volta e meia, nos meus "posts" aparecem coisas extraordinárias a título de comentário. Não, não se trata de insultos, chammadas de atenção, recriminações... Nada disso. Trata-se, tão só, de manifestos, comunicados diversos que nada têm a ver com o que disse ou escrevi mas com interesses de quem aproveita esta porta aberta e franca para publicitar o que lhe interessa.
Desta feita é uma senhora que pretende apresentar uma petição na assembleia da república sobre o dever do Estado proteger as crianças vítimas de abusos sexuais.
Para cúmulo assina com pseudónimo! Ou seja: eu aqui a dar a cara e esta senhora que não conheço de lado nenhum entra pelo meu texto como quem entra no moínho da Joana e autonomeia-se "curiosa".
Eu mesmo sobrescreveria a petição se percebesse exactamente o que se pretende o que não é o caso. Tal como vem parece algo sem definição, a menos que por isso se aceite apenas o tom geral e generoso. O que é pouco, muito pouco. Se queremos amarrar o Estado e/ou o Parlamento a uma obrigação o melhor é defini-la logo, indicar o seu alcance, todos os seus fins e todos os seus sujeitos.
Isto no caso vertente. Mas já fui alvo, ou involuntária boleia, de publicidades mais directas: vá ler o blog X ou Y. Leiam o artigo Z ou W.
Ora bem: eu não me importo nada de conversar com quem aqui vem e parece-me que já dei sobradas provas disso. Sou sensível a apelos desde que os perceba. Não seria melhor, mais útil, eficaz, mandarem-me um mail para mim ou para o blog (como aliás é possível e já aconteceu inúmeras vezes)? E aí exporem o que pretendem, pedindo, se for caso disso, publicação aqui. Eu até tenho uma secção chamada "voz alheia" perfeitamente adequada para tais solicitações.
Claro que isto não significa nem pode significar que se publique tudo o que cá chega: há um limite e esse é, obviamente, o meu acordo específico e a consciência de que os meus companheiros de viagem também não estarão contra. Mas dentro destes larguíssimos limites cabe muita coisa, mais de certeza do que o que chegar.
Agora, aproveitar a franqueza de um comentário, sobre o qual não há qualquer controlo da minha parte (ao contrário de quase todos os blogs que conheço e para onde envio de quando em quando uma contribuição sob a forma de comentário) para vender a mercadoria parece-me uma falta de educação (desculpem mas não há outro termo) e um abuso. Mesmo que os motivos sejam os melhores e os mais evangélicos.
Continuarei a não entravar o direito ao comentário do que aqui publico. Não me apetece fazer censura prévia que bastante sofri com ela no tempo da outra senhora. Mas provavelmente e se as coisas continuarem assim terei que aprender a apagar textos intrusivos e absolutamente estranhos à mercadoria que aqui vou expondo. O que além do mais me vai dar trabalho. Poupem-me, criaturas de Deus!

Au Bonheur des Dames 100


De pequenino se torce o pepino
ou o revolucionário no jardim-escola


Convenhamos: escreve-se por aí muita asneira pelo que convém ler com um pé atrás ou mesmo com os dois se é que tal posição permite ler seja o que for. Todavia esta confirmei-a: a etérea criaturinha que chefia a juventude do CDS entendeu, sabe-se lá por que razões, arremeter contra um par de figurões da esquerda e com a notória falta de imaginação que anima a hoste nacionalista acusou as vítimas da sua diatribe de terem andado no rebuliço revolucionário de 75. Parece que, para o ousado dirigente daquele partido em vias de extinção, a prescrição é letra morta. Ou então não tem assunto mais moderno e vai daí recorre aos tempos da Maria Caxuxa para fazer a cama aos adversários. Dentre os acusados dos tumultos de 75 teve o cuidado de citar Bernardino Soares, actual deputado do PCP.
Não sei qual foi a reacção de Bernardino mas o “Público” relembra perfidamente que este teria quatro anos nessa recuada época em que terá andado a pregar a sedição e a ameaçar os pais fundadores do CDS (que pelos vistos ou já lá não estão ou emudeceram de vez para não terem que se pronunciar sobre os dislates que por lá se ouvirão) e os cidadãos comuns do país, este.
Convenhamos que para um “revolucionário profissional” (se é que no PC ainda se usa esta velha e leninista terminologia...) é uma honra ter “debutado” com a tenra idade de quatro anos. Imagino o jovem Bernardino no infantário a ameaçar a reacção (as educadoras, presumo) a reclamar um bibe vermelho e a recusar-se a cantar o “Ah, ah, ah minha machadinha/ quem te pôs no meio/sabendo que és minha...” etc. Quero a gaivota que voava voava vociferava o infante do bibe vermelho. Não sabem?, então quero o “Grândola...” seus reaccionários! E para já não vou comer a sopa de legumes. Eu sou um proletário e só como açorda!
O quadro é enternecedor mas desculparão se me mostro reticente. Eu já dei para muitos peditórios mas este parece-me forçado. Aceito que Outubro tenha sido uma revolução apesar do mês ser Novembro e do Palácio de Inverno não ter três guardas à porta. Aceito que o Komintern tenha tido sempre razão quer quando advogava o Klasse gegen Klasse como quando propunha frentes populares. Aceito que o Dr Álvaro Cunhal é um misto de Marx e Engels com um pó de Lenin mas para melhor. Mas contemplar a silhueta opaca de Bernardino Soares e ver nele um líder de massas aos quatro anos parece-me demais. O senhor Pedro Moutinho que me desculpe.
E já agora? Que é que Moutinho fazia nesses anos terríveis, fora o facto de ver “claramente visto” Soares em permanente arruaça?
Eu, confesso, nunca tive particular estima, sequer consideração pelo CDS. Mesmo quando ele contava nas suas fileiras com Amaro da Costa ou Lucas Pires pessoas que me parecem estar a milhas do actual staff dirigente desse mini-partido que só a farronca do dr Portas tenta fazer parecer grande. Baldado esforço: enquanto espadeira o bloco central, vem por trás Moutinho e pimba: arreia a giga com a conspiratória tese de Soares (Bernardino) disfarçado de SUV a ameaçar o Estado, a Igreja e a Sociedade em geral. A menos que Moutinho confunda este Soares (Bernardino) com Soares (Mário), o chavista. Só que também este em 75 andava de humores menos vermelhuscos numa roda viva a incendiar as fontes luminosas do país para barrar o caminho à populaça gonçalvista. Vistas assim as coisas não me parece que fosse Soares (Mário) o alvo de Moutinho.
Em desespero de causa lembrei-me de Bernardo Soares o nefando autor do “Livro do Desassossego” que alguém injustamente atribuiu a Fernando Pessoa. Oh lá lá terá dito no mais puro francês de Le Pen o nosso Moutinho. Livro do Desassossego? Que é isso? Um manual de malfeitorias, de atentados à independência nacional, à religião dos nossos maiores, à segurança do comércio jurídico, aos bens dos privados...
Um gajo desses não é de confiar. Querem ver que tem um heterónimo chamado Bernardino? Ai o grande sacana...

na gravura Bernardo ou Bernardino a plantar uma bandeira nas ruínas do infantário. O Moutinho está lá em baixo disfarçado de carro mesmo debaixo da bandeira.

25 novembro 2007

Estes dias que passam 85


Momentos...

Estou diante da televisão a ver um “in memoriam de Maurice Bejart” (mezzo): uma biografia filmada de alguém que, em matéria de dança, marcou a segunda metade do século XX. Houve outros, evidentemente. Felizmente. Americanos sobretudo, justiça seja feita. Enquanto vejo o documentário, admirável, aliás, recordo uma burrice escrita num jornal “de referência”: para a luminária repentina que dizia algo sobre dança, Bejart era ultimamente kitsch. Lamento não vos poder dar o nome deste abencerragem mas a coisa era tão extravagante e tão fora do contexto que li, inspirei fundo, disse “burro” (coisa que ofende a nobre raça dos asnos a quem peço desculpa), e passei adiante. O jornal está no lixo á espera de ser reciclado. O autor (ou a autora, não recordo o sexo) não deve ter reciclagem possível. E ainda bem.

2 hoje de manhã, fria manhã, quem é que ainda se lembra de “Orfeu negro”, deixa para lá mcr, não peças aos jovens memórias impossíveis, um grupo discutia o texto de VPV sobre o livro de MST. A discussão nem o era, de facto. Aquela meia dúzia de pessoas, dois médicos, duas professoras secundárias, uma engenheira e um historiador e universitário, estava de acordo: o tiro de misericórdia de VPV afundara o presunçoso batel de MST. Admirei-me: regra geral as pessoas acham Tavares um génio. E um escritor, o que é ainda pior. Tentei ler o seu primeiro e indigesto romance. Desisti rapidamente. Não tenho tempo para mediocridades mesmo com fundo tropical. Sobretudo com fundo tropical. A minha família materna teve bastante a ver com S Tomé, ouvi muitas histórias pelo que a toada de Tavares me soube a pouco e mal. Depois o livro estava mal escrito, enfim era pesado, revelava cruelmente as fraquezas do estilo e da história. Troquei-o por uma releitura breve do Francisco José Tenreiro. Esse sabia do que falava. e falava bem.

3 Não li, nem sequer tenho intenção, o novo livro de Tavares. À uma não me interessava e depois da necrologia que VPV preparou sobre ele ainda menos. Também não faço falta. O livro vai ter uma venda superlativa. E ao fim e ao cabo isso é que conta. Se vai ser lido ou não é uma questão menor. Autores bem melhores, merecedores de uma leitura, mesmo distraída, são comprados por uma turba ignorante e endinheirada que rapidamente os mete numa estante ou numa mesa ao lado dos laliques. Encadernados se possível.

4 estão na moda os romances “históricos”. Históricos é um modo de dizer. Romances com uma borradela de “história” as mais das vezes sem “h”. Uma pá de cal três de areia. Uma vagas tolices, uns pozinhos de mistério, uma elucubração difícil e histérica, e zás!, salta romance. Figuras sem peso, sem substância, sem aventura, recurso ao mistério, ao irracional, é todo um “ar do tempo” tristonho e pobre que se respira. No meio disto, de vez em quando uma pepita: Fernando Campos, por exemplo: um honrado trabalhador da palavra, autor digno, bem informado, escrita escorreita. Vende pouco, ou pelo menos não vende muito. Mas vende mercadoria legível e honrada. À volta dele a mediocridade vistosa e gritante e vazia dos bestselerizados. Arre!

5 Parece que a Senhora Ministra da Cultura chamou provincianos aos que não apreciaram a exposição do Hermitage. A Senhora Ministra não deve saber o significado de provinciano. Também não sabe de Arte mas isso é outro contar. O Hermitage tem excelentes colecções. O que não é o caso do que veio a Lisboa. Aquilo é medíocre, dejá vu, e caro. Se querem exposição digna de ser vista e revista acudam a Serralves para ver o Rauschenberg. De caminho tragam a Senhora Ministra. E expliquem-lhe a diferença entre uma grande exposição e aquela coisa do Hermitage. Talvez ela perceba. E talvez perceba que quando o dinheiro é pouco é preferível gastá-lo bem. Que diabo sempre são os nossos impostos!...

na gravura: Júlio Pomar. À cautela sempre se informa a Srª Ministra que JP está vivo, continua a pintar, é um grande pintor, português mesmo, veja bem, e vale duas exposições hermitagescas inteiras. E provavelmente é provinciano.

24 novembro 2007

Diário Político 68


O Dr Meneses, nova estrela d’alva do sempre renascente PSD (renascente e surpreendente, diga-se já) desistiu de reduzir o número de deputados para em troca conseguir um acordo com o PS quanto a mais alguns pormenores das futuras leis eleitorais.
É provável que na cabecinha pensadora do Dr Meneses este golpe de rins tenha parecido um exercício deslumbrante de inteligência política. E também não será descabido supor que o líder do PSD ache que o povo se renderá incondicionalmente a este robusto raciocínio político.
Eu não tenho nada a ver com o PSD e muito pouco com o actual PS. Digamos que votei neste último por mero descargo de consciência e porque o iluminado Dr Santana ameaçava reduzir o pais a uma espécie pouco interessante de capoeira de galinhas pedrês. Um sobressalto patriótico venceu o nulo entusiasmo que o presumível engenheiro Sócrates me despertava. Entre dois males, o menor.
Dito isto, que podem tomar como declaração de interesses, convém esclarecer que o golpe de rins do Dr Meneses me parece excessivo e totalmente ineficaz. À uma desiste da redução da deputadagem coisa que no país ilustrado (e também no outro, aliás) despertava alguma simpatia. A ideia geral é que cortando a eito naquele areópago cacafónico talvez se conseguisse, por eliminação dos mais incapazes, uma pequena melhoria do pessoal político. Isto se, com um número menor de eleitos, os partidos abdicassem daquelas múmias paralíticas que mais não fazem durante os quatro anos de mandato do que levantar e sentar as partes pudendas. O que não está provado. A meia dúzia de palradores de serviço prefere ter uns yes-men e umas yes-women nas filas de trás do que alguém capaz de pensar pela própria cabecinha. Mas enfim, sempre era uma tentativa. E ficava mais barato aos cofres públicos.
Abandonando isto, o Dr Meneses rende-se mesmo antes de começar a refrega. Por mim tudo bem, não tenho nada a perder com uma nova e cada vez mais previsível derrota do PSD nas próximas legislativas.
Mas há por trás deste anúncio uma suspeita. Será que o Dr Meneses não foi obrigado pela clientela deputante a largar este osso? Ou seja, uma redução dos lugarzinhos em S Bento prejudica todos e sobretudo os dois partidos rotativos que, qual Dupont e Dupond, se tem sucedido na (des)governação da pátria mal amada. Funil mais estreito, menos oportunidades. Aliás, numa ocasião, tive oportunidade de ouvir em confidência duas sumidades políticas de médio alcance. Ambas consideravam horrível esta ideia de cortar nos lugares à mesa do orçamento. Mas o parlamento nem sequer paga assim tanto, argumentava eu. Mas paga, responderam-me. E a tempo e horas e não só não é grande canseira mas ainda abre hipóteses para umas assessorias camarárias, uns lugarzitos mimosos em empresas mais ou menos públicas, enfim, a coisa dá. Dá prestígio (!!!), dá cacau, dá reforma boa e rápida e dá entrada noutros negócios. Fiquei assim ciente desta nova corrente ideológica a que por simpatia chamarei nacional-dadivosismo, prevenindo desde já que quem a usar sem licença pagará direitos.
Objectar-me-ão que na Assembleia se usam indiscriminadamente duas expressões: surrealismo e tremendismo sem que os seus usuários sejam chamados à pedra. Sempre respondo que no primeiro caso faz parte da prática surrealista deixar qualquer energúmeno usar o termo surrealismo sobretudo fora de tom. E no segundo, informo que embora Camilo José Cela tenha usado o tremendismo com outra conotação, nada pode fazer porque está morto e enterrado. Como o tremendismo, aliás. Mas isso são outras contas.
Sobra-nos então esta novidade política que deve fazer rir a bandeiras despregadas os deputados receosos e a direcção do PS. Convenhamos que uma oposição assim permite tudo ao actual Primeiro Ministro. A menos que com tanta cedência ele acabe por ganhar demasiada confiança nas suas possibilidades e se estatele um dia destes. A ser assim, o Dr Meneses ainda conseguirá ficar na história. Como aquela poltrona do finado Dr Salazar.

d'Oliveira fecit

missanga a pataco 35

Notícia do comboio descendente

No Expresso vem uma entrevista com um cavalheiro dos comboios, ou melhor, de uma coisa chamada alta velocidade (AV propõe-se lá). A entrevista não é carne nem peixe mas de todo o modo permite perceber que, pelo menos cá dentro, a dita AV é uma patetice gorda e uma despesa dispensável mesmo se boa parte dos fundos vierem, como me pareceu, da “ Europa”. Isto de inventar obras para gastar o cacau que não ganhámos e muito menos merecemos é uma velha pecha lusitana que tem servido para que gente absolutamente duvidosa encha o bolso sem transpirar demasiadamente.
Respigo dessa entrevista uma pequena pérola: a AV em relação ao que já há dará no percurso Porto Lisboa um ganho de 15 minutos. Ou seja o suficiente para um intervalo numa reunião para um café e uma mijinha. Por isto, vamos pagar um pancadão de milhões. Sim porque por muito que chegue de fora há algum a ser pedido cá dentro.
Num país civilizado os propositores da tal AV seriam despedidos com justa causa. Se a civilização fosse um pouco superior ainda apanhariam um pontapé no dito cujo para saírem mais depressa. Cá o tal projecto parece imparável. E mais ainda por via de Vigo. Vigo vai ser uma nova Fátima para a glória do indústria e do comércio nacionais. Com Vigo cinco minutos mais perto do Porto vai ser um vê se te avias de êxitos financeiros. O país com Vigo ao fundo do túnel é já outro.
O pior é se o túnel se confunde com um buraco e a luz com um pirilampo lascivo à procura de fêmea.

23 novembro 2007

Estes dias que passam, 84



um grande senhor do Direito,
um cidadão
e um homem culto

Este é o retrato de Figueiredo Dias, perdão, Professor Doutor Jorge Figueiredo Dias, um dos professores que foi obrigado a aturar-me e, milagre das rosas nova versão, me deu uma boa nota.
Jorge Figueiredo Dias distinguiu-se mesmo antes de ser catedrático como um daqueles mestres de Direito que não se limitava às frias paredes dos “Gerais” mas que intervinha onde quer que uma voz clara e corajosa fosse necessária. E sabe Deus, sabemos nós todos, os desses anos de chumbo, quanto ela foi precisa. E como ele nunca a regateou. É evidente que não foi o único professor daquela antiquíssima faculdade, entrincheirada na parte mais antiga e venerável do velho Paço das Escolas, que soube estar com o seu tempo, com a cultura, com a liberdade. E com os anseios dos seus alunos... Todavia hoje não venho falar desse pequeno mas admirável grupo de professores mas apenas deste homem, franzino, vivíssimo, entusiástico que fazia as aulas parecerem relativamente curtas e os exames uma honrada troca de argumentos. Não se pense que facilitava, nada disso. Naqueles anos sessenta e naquela escola, a simples ideia de facilitar fosse o que fosse era inconcebível para professores e estudantes. Simplesmente, Figueiredo Dias perguntava o que tinha ensinado, não armava ratoeiras, não tratava o candidato com sobranceria mas antes, até, com uma cortesia invulgar e tentava, sobretudo, procurar perceber o que o aluno sabia. Via-se que tinha perfeita consciência do facto de, dada a fama da faculdade, até os bons alunos irem para uma oral nervosos.
E depois era encontrado em cafés, em espectáculos de teatro, no cineclube, numa tertúlia bem humorada. E isso, nesse tempo de negrume e ainda visitado pelos fantasmas dos velhos lentes que se isolavam nas suas torres de cristal, era uma novidade, ou ainda era uma novidade.
(Não) deu agora a sua última aula. Aula a que por ignorância absoluta faltei. Coisa de que me penalizo: eu, que fiz o possível e o impossível por me escapulir dessa provação de assistir a aulas, lamento agora ter falhado esta. Pronto, vai ter de ser daqui que mando um abraço, desses antigos, de partir costelas, para lhe dizer que quase quarenta anos passados o recordo com admiração e amizade. E que sinto uma grande honra em ter sido seu aluno. Nas poucas vezes em que nos cruzámos já tive oportunidade de lho dizer mas coisas destas podem, julgo eu, repetir-se constantemente.
Doutor* Figueiredo Dias foi uma honra tê-lo tido como professor!
Um abraço
Marcelo Correia Ribeiro

* no meu tempo, os nossos professores gostavam de ser tratados assim: doutor. Por extenso naturalmente, mas em conversa isso não se notava.

Abriu a época de caça!

Li no jornal por estes dias que Luís Filipe Menezes angariou novos militantes para o PSD. Tudo normal nestas coisas, excepto quando, pelo meio, surgem algumas aves raras. Que nos espantam, ou nem por isso.
Um dos novos militantes é Fernando de Sousa. Quem é, perguntarão alguns? Sousa foi meu professor de História Económica e Social Contemporânea, embora pouco efectivo, valha a verdade. Não era tido em muito boa conta nem pelos colegas, nem pelos alunos. Explorou o segmento das "histórias" de empresas e instituições, com base nas valiosas contribuições de alunos e assistentes e presidiu ao Ateneu Comercial do Porto. Deixou a Faculdade de Letras da U.Porto sem deixar saudades e "passou-se" para a Universidade Lusíada, em busca de melhores "condições". Prolixo, dirige actualmente mestrados e doutoramentos. Seja em relações internacionais ou em ciência política. O que vier, vai.
Sousa chegou agora ao PSD depois de "deputar" durante alguns anos em S. Bento na bancada parlamentar do PS. Contudo, o seu maior destaque foi enquanto director do "Acção Socialista", quando publicou uma caricatura de Narciso Miranda com orelhas de burro. Acantonado na ala soarista (de João Soares), esse episódio traçou-lhe o destino dentro do PS. Mas Sousa também nunca perdoou ao PS não lhe ter proporcionado a tão ansiada candidatura à Câmara de Gaia.
Por essas e por outras, Sousa aparece (poucos) anos depois colado a Menezes como presidente do Parque Biológico de Gaia - mais uma área do saber! - e agora adere ao PSD. De quem devemos desconfiar: de Menezes ou de pessoas como Fernando de Sousa?

22 novembro 2007

missanga a pataco 34


Esta vai assim, directa, para o éter sem redacção prévia sem plano (como se eu fosse muito dessas coisas) como quem segue uma música ao longe. Morreu o Béjart. Quase diria morreu a dança mas isso ele nunca o permitiria.
eu não sei se o século XX teve muitos revolucionários. Duvido bastante, para falar com sinceridade. Mas se os teve, um deles, e não o menos importante foi este meteoro que agora se vai juntar à grande família das estrelas errantes. Morreu, diz o "le monde". morreu, vírgula! Enquanto se dançarem as suas coreografias não há morte que o leve, que o esconda, que o torne esqecido. E há os filmes, os vídeos e, sobre tudo isso, a nossa memória. E o nosso embevecido encantamento. Aquele homem punha um paralítico a dançar...
Deixo para os críticos, o relato frio e minucioso do que ele fez e não fez. Eu, e porventura muitos como eu, contentávamo-nos em assistir espantados aos espectáculos que ele montava.
Permitam-me que, dentre todos, recorde um, em Lisboa, onde no fim entre intermináveis aplausos, Maurice Béjart chegou-se à boca de cena e condenou o fascismo português. A plateia levantou-se ainda mais e se me lembro saiu-se do teatro numa arruaça tremenda. Béjart foi obviamente expulso nessa mesma noite. Mas o escandalo e a repercussão internacional do seu gesto fizeram o regime dançar freneticamente uma dança de S. Vito. Sem aplausos da plateia internacional e dos jornais de todo o mundo que relataram a acção do grande coreógrafo que de todo o modo ainda estava em início de carreira.
Nem que fosse só por isso, querido Béjart, muito obrigado.

Desabafo em Bragança…



Estou em Bragança mais uma vez. Estou num hotel, num quarto grande, com uma das paredes toda envidraçada e com o castelo como vista de fundo. Um belo quarto. Tem apenas um senão: foi certamente ocupado anteriormente por alguém que fuma e muito. Cheira como se estivesse alguém a fumar aqui neste momento, mas eu estou só e já não fumo há 10 anos. Não sou intransigente relativamente aos fumadores nem fundamentalista dos espaços puros. Apesar de ser ex fumadora não fiquei com a missão de moralizar hábitos alheios. Todavia, sinto-me cada vez mais exigente quanto ao respeito que devemos ter uns pelos outros também relativamente ao tabaco. Um quarto de hotel é algo que ocupamos temporariamente e não seria mau que fosse tratado como um bem público.

21 novembro 2007

Au Bonheur des Dames 99


Uma lâmpada para troca
ou aqui vai troco

Alguém, uma mulher de certeza, mandou ao João Vasconcelos Costa, um texto com piada que não resisto a transcrever aí em baixo ou em cima, como sair (cfr. voz alheia 2)
Tenho, caríssima e anónima amiga do João, uma história exactamente ao contrario. Aliás, neste capítulo de arranjos caseiros, lamento dizer-lhe que V é a excepção (como n’ “A excepção e a regra” do velho sátiro Bertolt).
Em tempos que já lá vão quando a feliz surpresa de ter conhecido a CG era uma novidade novinha em folha, ela confidenciou-me que adorava obras. Sabia tudo sobre como pintar uma parede, pôr argamassa numa fila de tijolos, tirar o “nível”, enfim, tudo de tudo. Discutia com os trolhas melhor do que com os juízes. Arrumar um canalizador era canja e quanto a pintores de broxa gorda, então nem se fala. Os honrados mesteirais já lhe chamavam engenheira, ou, pelo menos, arquitecta... E tinha ferramentas. Ferramentas a sério e não como aquela colecção de inutilidades que eu e o Manuel Sousa Pereira descobrimos em casa do Manuel Simas. Aquilo parecia um lote de brinquedos estragados, comprados num saldo. Um desastre. Ou talvez não: o ferramental habitual dos ilustres magistrados portugueses, sub-espécie juízes no STJ.
Tendo em conta esta queda da CG para a construção civil e actividades similares, num Natal, enchi um belo saco Louis Vuitton (dos melhores que se arranjavam na China) com ferramenta variada onde nem faltava um berbequim eléctrico.
A CG adorou o saco (que tinha rodas e tudo como os franceses) e que, aliás, enganou toda a gente que me olhava como se pela primeira vez vissem o Pai Natal verdadeiro e gastador. Quando o abriu e deu com a parafernália ferramentista ia desmaiando de emoção.
Os anos passaram-se: o saco continua impecável prova que o artesanato chinês não está para brincadeiras.
As ferramentas continuam novas. Por boa qualidade? Qual quê! Porque nunca foram usadas. Cá em casa, sou eu, o canhoto, o imprestável, o inimigo das tarefas humildes e proletárias quem dá à perna quando toca a reparar seja o que for. Ah quanto eu detesto isso... quanto me custa. Quanto me irrita!
De longe em longe a CG compra uma dessas coisas tipo IKEA que tem de se armar. Quando não tem coragem para me encomendar a tarefa, ei-la que se põe a caminho. Querem acreditar que com ela se repete o milagre das rosas? Sobram-lhe sempre uns parafusos alguma anilha, uma porca, e até, numa vez mais miraculosa, uma tábua... Mistérios insondáveis da incapacidade da IKEA ou mistérios gozosos com que se rebola mcr o incompetente?
As leitoras que decidam.

Vai esta para o JVC antes mesmo de ser postada no “incursões” ainda hoje, sexta-feira (14 do mês As, festa de S P. Bonnard pintor das Phynanças, do ano 133, do calendário patafísico. Amanhã celebração da Navegação do Dr Faustroll)

voz alheia 4

Mulher (na verdadeira acepção da palavra):

Só ela! Sózinha!! Porque ninguém, dentro desta casa sabe como
trocar uma
lâmpada! São um bando de IMPRESTÁVEIS!!! Eles nem percebem que a
lâmpada se
queimou! Eles podem ficar em casa no escuro durante três dias
antes de
notar que a porcaria da lâmpada se queimou! E quando eles notarem,
vão
passar mais cinco dias esperando que EU troque a lâmpada, porque
eles acham
que eu sou a ESCRAVA deles!!! E quando eles se derem conta de que
eu não
vou trocar a lâmpada, eles ainda vão ficar mais dois dias no
escuro porque
não sabem que as lâmpadas novas ficam dentro da porcaria da
despensa! E se,
por algum milagre, eles encontrarem as lâmpadas novas, vão
arrastar a
poltrona da sala até o lugar onde está a lâmpada queimada e vão
arranhar o
chão todo, porque são INCAPAZES de saber onde a escada está
guardada! É
inútil esperar que eles troquem a lâmpada, então sou eu mesmo quem
vai
trocá-la! E como eu sou uma mulher independente, vou lá e
troco!... E SAI
DA MINHA FRENTE!!!

20 novembro 2007

JUSTIÇA

Cada vez mais as sentenças judiciais passaram a ser tema dos colunistas, Veja-se o JN de hoje, aqui e aqui. Mas se formos ler outros meios de comunicação também lá aparecerão outras opiniões sobre a aplicação da justiça.

Poderá isto significar outra coisa que não seja a popularização da justiça?




há no bailado dos teus gestos
a luz louca do gênio
a luz derramadamente mansa
da voz colada ao vocábulo
do vocábulo agarrado às idéias
das idéias postas a girar
numa roda que não pára

há nos teus gestos a minha falta
a ausência da minha voz
a te acalmar as dúvidas
nessa tempestade furiosa
em que te metes
a fugir
de mim

mas eu
sempre estou


silvia chueire

19 novembro 2007

o gato que pesca 1


Olá a todos. Chamo-me Puff von Heinzelmann de Andrade e sou, como o nome não indica, um gato. Melhor dizendo um gatinho. Os meus hospedeiros foram buscar-me e às minhas irmãs à SPA. Eu fiquei com a CG e o mcr que me serve de dactilógrafo enquanto a Violeta e a Orquídea foram viver com a Ana, em Matosinhos num apartamento que tem mais vidro do que paredes.
Claro que vocês estarão surpreendidos com o meu nome. Em boa verdade o nome só me serve para cirandar no meio dos humanos. O meu nome de gato é, já se sabe, absolutamente impronunciável por vocês. Não é grave, nós os gatos sabemos desde sempre, que uma das vossas fraquezas é essa absoluta falta de entendimento destas coisas simples que qualquer gato sabe desde que nasceu. O meu hospedeiro propôs-me pois este nome de acordo com a mulher. Parece que Puff é um nome fácil. Assim não se esquecem quando tiverem de me pedir para vir almoçar. Por mim tudo bem se o almoço for coisa que se veja. Os hospedeiros costumam ter ideias absolutamente delirantes sobre o que um gato gosta de comer. Mas já lá iremos.
Antes disso vou explicar-vos porque falo em “hospedeiro”. Os humanos entre outros mitos igualmente pueris alimentam este: que são donos do mundo em que vivem (boa piada) e que podem ser donos de um gato. Como se um gato fosse um cão! Um gato, caros leitores, aceita um hospedeiro e é tudo. Alguém que se encarrega de o alimentar, de lhe dar uma casa, de lhe mudar a areia da retrete. Em troca disso deixamos que nos acariciem e nos forneçam material para aparar as unhas (reposteiros, sofás, maples enfim o trivial). Alguns humanos mais expeditos já perceberam isso mas, pelos vistos, não se importam: um gato dá-lhes status. O meu hospedeiro diz que um gato o faz esquecer por momentos os cavalheiros do governo. Eu deveria irritar-me mas percebo-o. Ele votou por ess a gente e agora tem vergonha.
Foi ele que teve a ideia de me convidar a escrever umas notas de quando em quando. Parece que neste blog há vários hospedeiros de outros gatos, o casal JSC-o meu olhar a dona Kamikaze, perdão Frau Kami, a administradora et j’en passe. Portanto preparem-se: volta e meia aqui virei dizer algumas coisas que nem sempre terão a ver com gatos (sequer os do senhor Fialho de Almeida) mas sobretudo com os humanos. Se em tempos houve um persa convidado a escrever umas cartas sobre os franceses do século XVIII não vejo porque é que, três séculos mais tarde, não deverá um gato, por natureza laico e pouco dado a puerilidades teológicas e salvíficas, dizer da sua justiça sobre um mundo bem menos interessante do que o da “ilustração”.
Aí ao lado poderão ver a minha fotografia. Apesar de perceber a emoção que ela pode despertar nas gatas convém dizer que só tenho dois meses e que, para já, não penso no sexo oposto. Há que dar tempo ao tempo.

Puff v.H.

Algo Não Bate Certo - 2

Dizem os especialistas que os spreads praticados pela banca vão continuar a subir, o que irá trazer maiores dificuldades às famílias, aumentando o número das deixarão de pagar a respectiva prestação bancária (da casa, do carro, das férias, do computador,…). Entretanto, o Relatório do Banco de Portugal confirma que as famílias portuguesas são as mais endividadas da EU, de tal modo que o rendimento disponível é inferior em 24% ao montante global do endividamento.

Apesar desta situação a banca continua com grandes campanhas para atrair novos clientes, para elevar o volume de endividamento, numa estratégia de dispersão do risco, não contrariada por qualquer entidade pública.

Às cada vez maiores taxas de juro os portugueses têm ainda de suportar uma cada vez maior carga fiscal, com particular destaque para os impostos que incidem sobre o património e a chamada fiscalidade local.

Os empresários portugueses parecem não acreditar muito na previsão Governamental e do Banco de Portugal de 1,8% para o crescimento da economia, sendo que este valor é já afectado pela quebra que se está a verificar nas exportações.

É neste cenário de crise continuada que, segundo o Diário Económico, os grandes investidores portugueses colocam o seu dinheiro nos hedge funds e private equity, investimentos de alto risco, sendo a sua apetência por estes fundos superior à que revelam investidores dos EUA. Inglaterra ou Hong Kong.

18 novembro 2007

Freguesias Reclamam + Dinheiro

As Juntas de Freguesia reclamam mais dinheiro. Pelo menos é o que se depreende festa notícia. Nunca vi grande utilidade na existência de Freguesias, em particular nas Juntas dos grandes centros urbanos. Que serviços são prestados por uma Freguesia que não possam ser assegurados pelo Município? E isto sem se perder a tal relação de proximidade.

São quatro mil e tal freguesias, outros tantos presidentes, secretários e tesoureiros. O mesmo número de sedes e de despesas correntes. Depois ainda há a assembleia de freguesia. Para fazer o quê? Se formos ler o plano de actividades das Freguesias – aquelas que o têm – verificamos que o mesmo reproduz o volume de iniciativas que a Câmara se propõe fazer na freguesia, o resto são despesas de pessoal, senhas de presença e outras despesas de funcionamento.

16 novembro 2007

Algo Não Bate Certo

Acaba de ser divulgado um estudo da Ernest & Young segundo o qual 20% dos empresários estão a pensar em abandonar o país, levando as suas empresas para outras paragens. No ano passado esta vontade de deslocalização empresarial ficava pelos 7%.

Números acabados de divulgar pela Comissão Europeia mostram que o nível de vida em Portugal não pára de descer, sendo o oitavo pior entre os 27 países da EU, prevendo que em termos comparativos os portugueses fiquem ainda mais pobres em 2008 e em 2009. Aliás, ano após ano, Portugal foi ultrapassado pela Grécia, por Malta, pela República Checa, prevendo a EU que em 2008 sejamos “comidos” pela Estónia, a que se seguirá, com grande margem de certeza, a Eslováquia. É sempre a cair!

É o Banco de Portugal que diz que a taxa de desemprego é de 8,2%. As previsões da EU é que o desemprego se mantenha a este nível pelo menos até ao final do próximo ano. A explicação para tão elevado desemprego, segundo o Banco de Portugal, é a significativa alteração no tecido produtivo e o facto do subsídio de desemprego ser elevado e atribuído por um prazo alargado, o que desmotiva a procura de novo emprego.

A contrariar tudo isto está o discurso governamental e oficioso que aponta para cenários de desenvolvimento sustentado, gerador de expectativas favoráveis na criação de valor e na qualidade de vida das pessoas.

Convenhamos que algo não bate certo no modo de ler a realidade portuguesa pelos diferentes actores. Quanto ao modo de a viver, cada um conhece bem as consequências que os verdadeiros números têm no seu dia a dia.

Au Bonheur des Dames 98


Complexos de esquerda.

Anda toda a gente a arrear pazada na esquerda. Não na esquerda estilo Sócrates, coitada, que essa, de tão dessorada, já há muito que deixou de ter conotação fosse com o que fosse. De resto poder-se-ia mesmo questionar se aquilo é política no sentido nobre do termo ou mera gestão de uma massa falida que, apesar de tudo engorda os que estão no bom sítio. Amesendados.
Também não me queria referir ao sono do razão e aos seus pequenos grandes monstros. Para o peditório do finado camarada Yossip Vissaronovitch Djugatchivilli já dei. Sempre o considerei um selvagem e um canalha. Parece que o igualmente finado (mas embalsamado!) Vladimir Illitch Ulianov teria opinião semelhante. Pelo menos é o que uma piedosa hagiografia de fontes altamente duvidosas tentou fazer passar como o testamento do pai fundador da URSS. Esquecem as excelentes criaturas que o terror não foi inventado pelo georgiano mas existiu desde que a fracção bolchevique entendeu ocupar o Palácio de Inverno e acabar com a “anarquia” revolucionária dos soviets. Acabou e de que maneira: metralhando os marinheiros de Kronstadt, criando a Tcheka, eliminando os socialistas revolucionários, os diferentes partidos do centro esquerda com a preciosa ajuda das democracias ocidentais e dos generais “brancos” reaccionários.
A URSS e os partidos que integraram a 3ª Internacional são filhos dessa perversão da revolução. E pelos vistos não morreram de todo. Ainda há dias li no Público um texto de um rapaz que se reclama dessa exacta herança e desse desvio do marxismo. Disse marxismo e não marxismo-leninismo porque é aí mesmo que o caldo se começa a entornar. Razão tinha a Rosa Luxemburgo quando criticava a “mise au pas” dos sindicatos e da sociedade em geral. E o partido de revolucionários profissionais. E o fim das fracções, das opiniões, dos confronto, da pluralidade de opiniões.
O que é interessante é que mesmo nos “affranchis” dessa longa doença se descortinam cicatrizes e eventuais hipóteses de recidiva. Para não ir mais longe, basta atentar na troca de palavras entre o Rei de Espanha e o Presidente da Venezuela. Não há quem se atreva a dizer que Chavez é um herói. Será herói para “as massas latino-americanas” claro, como vi asseverar. Mas no resto é apenas um “índio” ou um “mestiço” que enfrentou um rei e um representante do imperialismo e do colonialismo. E aí o herói que não era ressuscita. O oprimido que não teme o opressor. O indígena contra o Bourbon, perdão o Borbón y Borbón! Nada disto é verdade, obviamente. Nem o facto de ser mestiço torna melhor ou mais simpática a sinistra figura do antigo golpista e actual candidato a tirano que é Chavez. Que a direita venezuelana esteja contra ele parece ser viático suficiente para Chavez entrar no pouco exigente clube da “esquerda pura e dura” ao lado desse outro símbolo da degenerescência revolucionária, Fidel Castro.
A América Latina tem esta má sorte: demasiado longe de Deus e demasiado perto dos Estados Unidos. E demasiado governada por corruptos populistas, por ditadores militares ou a tender para isso, por barões da droga ou por guerrilheiros fanatizados que na floresta ou na montanha mantém países e populações em cheque. Algum cinismo ocidental e outros tantos intelectuais latino-americanos servem-se disto para declarar a impossibilidade de uma democracia normal nestes países. Também o dr Oliveira Salazar considerava a democracia um luxo excessivo para os cidadãos do Minho a Timor. E o general Franco em Espanha não tinha opinião diferente. Os fascismos e seus regimes afins sempre se escudaram nesta tese da impossibiliade da democracia. Disseram-no em Itália e na Alemanha (onde até ganharam uma eleição, a última em liberdade) na Grécia de Metaxas, na Polónia de Pilsudsky, na Hungria de Horty. E o resultado foi o que se viu.
Estamos a assistir ao aparecimento de uma ditadura na América Latina. As reformas constitucionais, o silenciamento dos meios de comunicação social, a criação de milícias partidárias, o envio de esquadrões da morte à universidade são elementos mais que suficientes para nos fazer temer pelo futuro do país. Dir-me-ão que para já os políticos mais influentes do hemisfério não têm feito grandes declarações. Pois não. Há muito petróleo atrás disto. E o cheiro do petróleo embriaga os ambiciosos e esconde os maus odores da tirania. Que o digam os que privam com os poderes constituídos em Angola, ou na Arábia saudita. O petróleo limpa mais branco, que o diga o coronel líbio.
Não há quem ache estranho que nas mesquitas pagas pelo dinheiro saudita, enquadradas por imans educados em madrassas whahabitas ou afins corram todos os insultos á sociedade dos infiéis. E se prometa o paraíso aos futuros mártires suicidas da jihad. Ao que parece nem os americanos tão ciosos das suas fronteiras, tão guantanameros se interrogam sobre estas ligações. Nem sobre as tonitruantes declarações de toda esta gente. E valha a verdade, eles falam que se fartam. Chavez neste ponto não inovou. Fala menos embora cante mais. O que num europeu decadente e imperialista seria ridículo é normal num oriundo do terceiro mundo. Coitados, são assim, nasceram assim, rumberos e faladores... Mandar calar uma criatura destas mesmo se em tom interrogativo e não imperativo, é uma pura manifestação de arrogância e de imperialismo. Mandar calar Hitler, diria Daladier ou Chamberlain só serviria para o excitar. Como se viu!
Dir-se-á que nada disto tem a ver com a tal esquerda. Erro, tem tudo. Hitler cresceu sobre outra brutal ilusão do movimento comunista internacional. A ideia de opor uma barreira ao fascismo que irrompia só se tornou realidade demasiado tarde. Até às frentes populares regia o famoso slogan “Klasse gegen Klasse” que via nos sociais-democratas uma espécie de traidores, de agentes da burguesia. Foi a guerra de Espanha (onde entretanto se aniquilou o POUM e se tentou sufocar os anarquistas) e os campos de concentração alemães estreados pelos comunistas e pelos socialistas (mesmo antes dos judeus) que subitamente puseram em polvorosa a inteligentsia do Komintern. Mas convém não esquecer que logo que a guerra se declarou, com a URSS neutral, os partidos comunistas declararam que aliados e Eixo eram a mesma coisa. Em França o PCF tentou (e conseguiu em certa medida) agir na legalidade, publicar “L’Humanité”. Este conúbio sinistro só acabou com a invasão da URSS. Ou seja: tarde.
Ando para aqui a dizer que, de há muito, desde sempre, a esquerda é múltipla. Talvez seja por isso que normalmente perde. Perde para a direita, para a burocracia aparelhista, para os convertidos da 25ª hora, perde para os neo-convertidos, para os filisteus e para os zelotas.
Mas reaparece, como a erva cortada pelo jardineiro. Felizmente. E como essa erva humilde ninguém fala dela.

A gravura é uma homenagem a um jornal que me acompanha há muito, desde os tempos em que se chamava Harakiri: Charlie hebdo! A ler com urgência.

15 novembro 2007

A DISCUSSÃO SOBRE O ORÇAMENTO

O Orçamento de Estado é o documento onde se prevê a origem dos recursos financeiros e a sua afectação aos programas e projectos, a desenvolver no respectivo ano, bem como à gestão corrente da administração pública, com excepção do poder local.

Manda a tradição parlamentar que os deputados discutam e relevem o Orçamento de Estado. Em boa verdade o que deveriam começar por discutir, com rigor e pormenor, eram os programas e projectos que os recursos disponíveis potenciam. Ou seja, a discussão prévia à afectação dos recursos era debater as opções e cenários alternativos de aplicação desses recursos previsionais.

Contudo, não foi, não é, nem será assim. A própria comunicação social induz a que não seja assim. Claro que a discussão feita a partir do Orçamento também poderia levar à análise das opções, ainda que numa fase em que tudo já está bem definido e as dotações distribuídas pelo Governo para as diferentes finalidades.

Acresce que a formatação política da abordagem parlamentar do Orçamento é imposta pelo Governo (o actual ou qualquer outro) no acto de apresentação do documento. Esta metodologia permite-lhe sobrevalorizar o que lhe é politicamente favorável e omitir ou secundarizar os impactos mais negativos da política orçamental na vida das pessoas.

Pode até suceder que a discussão do Orçamento seja aproveitada para debater outras temáticas ou para revisitar o passado, quando o que o Orçamento trata é do futuro.

A discussão que tem sido feita em torno do Orçamento para o ano de 2008, que agora a Assembleia da República está a apreciar na especialidade, tem seguido este modelo: Muita conversa sobre questões marginais à política orçamental ou por em relevo medidas que em termos de absorção de recursos não mereceriam grande discussão.

O Orçamento é um instrumento importante na redistribuição da riqueza nacional, com natural e imediato impacto na qualidade de vida das pessoas. Ora, como se sabe, o que tem sucedido é o empobrecimento de camadas cada vez mais alargadas da população e a concentração da riqueza num núcleo populacional bem restrito. Como é que as políticas orçamentais previstas para o ano de 2008 contrariam esta tendência? Alguém sabe? Esperemos que os especialistas da AR, em política orçamental, nos elucidem aquando do debate final e aprovação do Orçamento.

14 novembro 2007

missanga a pataco 33


Je donne ma langue au chat


Bem pensadas as coisas sou dono de muito pouco. Nem sequer de mim, às tantas. Tenho alguns livros, uma casa, uns quadros, a roupinha de todos os dias e pouco mais. Agora a família alargou com a chegada de um gato, adoptado directamente na “protectora dos animais”. É uma bola de pelo branco que ainda não percebeu que o rabo é mesmo dele e não qualquer coisa que morder. Poderia dizer que temos um gato mas isso então é entrar no delírio. Um gato é algo que permaneceu selvagem desde sempre. Transige em ser alimentado e alojado por humanos, permite que de quando em quando o acariciem, dorme em cima duma barriga que lhe pareça confortável e basta!
Vem tudo isto a propósito de umas declarações do Francisco José Viegas, cavalheiro eminentemente frequentável e conversável: “nós não somos donos da nossa língua. Ela é mais falada fora das nossas fronteiras do que em Portugal”.
Correndo o risco de me enganar parece-me que FJV nos nega o direito de possuir uma língua não porque ela seja como o gato mas porque os proprietários vivem fora e são mais numerosos do que nós. Alto e pára o baile!, caríssimo FJV. Pode ocorrer que não sejamos donos desta língua que falamos todos, ricos e pobres, portugueses e não portugueses, incluindo no lote um par de maduros que não tendo bebido a língua no leite materno, a adoptaram por gostar dela, das pataniscas de bacalhau, da açorda alentejana ou da morcela da Beira, ou do Herberto Hélder. Ou por qualquer outro motivo. Mas o facto de haver um porrradão de brasileiros, muitos angolanos ou moçambicanos cujo número nos submerge não nos retira a língua com todos os “direitos” patrimoniais morais ou o que quer que seja. Se existem. Nem os transfere para os outros. Se, como disse, eles existem. Era o que faltava.
Aliás, o caríssimo FJV, excelente escritor, diga-se de passagem, não pagou portagem para usar a língua, inventar alguma palavra, algum novo significado para uma antiga. A língua é de todos mas não é de ninguém. Sobretudo dos académicos portugueses e brasileiros que decidem por nós como se os tivéssemos votado. Tira esta letra, tira este hífen escreve f em vez de ph, fato é terno facto é fato, mas a que título, mãe de Jesus? Quem é que entregou a estas criaturas a polícia do dicionário? Acaso deveremos modificar os textos do senhor Eça de Queirós ou de qualquer outro, é bom de ver, só porque estas criaturas resolveram unificar uma língua que como um rio antigo e majestoso se espraia e desagua em delta, criando novas margens, novas praias, novos recantos onde um mergulho representa a felicidade, seja ela acompanhada por um caril, por uma feijoada à transmontana, por moamba ou por um belo vatapá?
Homero de vez em quando dormita, diz-se. Estou convicto que Viegas também. Não acredito que quisesse dizer o que parece querer ter dito. Às vezes uma citação mal feita estraga uma bela entrevista. Ainda por cima pesquei esta junto de um artigo sobre o Drumão madeirense, tardio converso independentista. Até ele tem direito a falar português. S ó não pode é usar um sujeito singular com um verbo na primeira pessoa do plural. Uma coisa é a língua, outra a gramática.

a gravura é roubada a Siné

missanga a pataco 32



Encore un effort monsieur Drumond
se quer ser independente

Uma espécie de aventesma saída directamente das gravuras neolíticas do Côa, veio lançar a confusão no reino plácido do “torraozinho de açúcar”. A história conta-se em duas penadas. Um deputado regional da Madeira entende que a pátria é governada por um bando directamente saído do pinhal da Azambuja, ávido do sangue madeirense, das bananas, idem, e do peixe espada preto.
Segundo a criatura, “o povo da Madeira está sendo roubado por Lisboa” pelo que não tarda nada que não desate a convidar os amigos e conhecidos para “declararmos unilateralmente a independência”. Diz mais um par de patacoadas de jaez idêntico e acrescenta esta pérola [há que ver] “se é conveniente a gente estar ligados a um pais que nos trata...à sapatada”.
O português de Drumond pelos vistos já pediu a independência e, milagre, consegue que um substantivo colectivo (ou então singular) apareça em plural logo de seguida pelo intermédio do verbo estar. Dir-se-á que Drumond é um rapaz novo para quem a gramática é impenetrável graças aos sistema de ensino que trinta anos de centrão impôs à mocidade estudiosa. Mas não. Drumond é crescidinho, já tinha barba no tempo da “outra senhora”, parece que inclusivamente terá debutado na cansativa profissão de deputado nas fileiras do antigo partido único. Não sei se por essa altura já tinha o mesmo nobre ideário independentista. Razões não lhe faltavam porquanto a Madeira era uma espécie de “buraco negro” no meio do mar imenso. Púnhamos que Drumond na altura tinha “cu”. E quem tem “cu” tem medo. Ora, o dr Salazar não estimava particularmente os independentistas onde quer que estivessem. Drumond, á cautela, dominou os ardores juvenis e amortalhou-se como deputado salazarista. Para castigar a carne, seguramente.


Eu já por aqui defendi que se devia dar a independência à Madeira. Nisso estou de alma e coração com Drumão. Não o quero roubar mais. Estou farto de lhe fazer judiarias, de aprovar leis celeradas contra o pacífico povo do Funchal e do Machico. Prometo nunca mais comer bananas, excepção feita às “chiquita” que, parece, vêm da Martinica. E quanto ao peixe espada preto, só o de cultura, se houver. Em não havendo, contento-me com besugo. À Madeira o que é da Madeira. Se Drumão precisar de uma mão para assinar de cruz o abaixo assinado ipiranguista, conte comigo. Com uma condição: ficam também com o dr Jardim. Ou tudo ou nada.

o título é pirateado do Divino Marquês

11 novembro 2007

O leitor (im)penitente 26

So long old pal

Em África diz-se, ou dizia-se, que quando um velho morre, morre uma biblioteca. Mistérios e consequências das velhas civilizações ágrafas, onde a oralidade mantinha todo o seu valor e prestígio. Agora as coisas são diferentes. Por um lado a alfabetização é real e por outro os caçadores de histórias gravaram tudoo que puderam. Junte-se a isso a desagregação do modo de vida tribal, as guerras, a morte, a deslocação das populações e pode ter-se como provável que já morreram todas as bibliotecas que tinham de morrer.
A África ficou mais pobre sem que o resto do mundo tivesse ficado mais rico. Pelo menos nestes difíceis domínios da literatura oral.
Não sei porquê mas foi isto o que me veio à cabeça quando soube da morte de Norman Mailer. Quando um tipo destes morre é mais um pedaço da nossa juventude que se vai. Eu faço parte de uma geração que cresceu com os primeiros livros de Mailer. Sobretudo com o imenso “Os nus e os mortos”. Fui por ele à estante mas descobri que o exemplar que por cá anda foi editado pela “Portugália” em 71. Não pode ser. Li o Mailer pelo menos dez anos antes. Em casa da tia Néné, provavelmente. Ela e o tio Marcos estavam a par do que saía e lembro-me de me terem recomendado John dos Passos, numa edição de 40, por causa de alguns processos narrativos semelhantes. De vez em quando um autor recente chama a atenção para um da anterior geração e foi isso o que se passou com este primeiro Mailer. Depois li “As praias da Barbaria” um livro que, agora vejo me foi oferecido pelo Zé Quitério, em 64. Curiosamente terá sido comprado numa livraria ABC de Luanda. Como é que este livro chegou ao Zé é mais um mistério. Em 69 marchou “Um sonho americano” e logo a seguir “Os Exércitos da noite”, que, leio nostalgicamente, me ofereci a mim próprio em Vila Real de Santo António. Ou seja, foi no Verão, depois da greve de 69 quando andava fugido à polícia. Os restantes mailers já não têm história. Para mim, claro. Estes citados eram tão próximos da nossa vida, das nossas esperanças, dos nossos sentimentos, que depois os outros entram já na categoria de “revisões da matéria dada” mesmo se isso possa parecer injusto (e é-o, de facto) para Norman Mailer, um homem que nunca se calou e que a cada romance arriscava todos os anteriores.
Temo bem que para os comentadores amanhã Mailer apareça irremediavelmente datado e ligado aos happy sixties. Ou seja, lamento que a minha ligação a Mailer possa (não por minha causa, está bom de ver) ser o que vá lembrar aos carpideiros profissionais. Merecia mais. Muito mais. Por exemplo que o lessem. E sobretudo que lessem “Os nus e os mortos”. Uma obra prima.

10 novembro 2007

MAL SERIA DA DEMOCRACIA SE ...

Acabei de ouvir alguém a defender que mal seria da democracia se cada governante, central ou local, tivesse que pagar as despesas judiciais para se defender em Tribunal das acções que lhe poderão ser imputadas, pelo exercício da actividade de governação.

E quando a acção governativa defraudar o erário público em proveito próprio, ainda assim deve ser o orçamento público a suportar aquelas despesas (privadas)?

Mal será da democracia se o Estado é roubado e ainda terá que pagar as despesas da acção judicial que coloque contra quem o rouba.

Mal será da democracia se o Estado não se consegue livrar destes procedimentos, uma vez que a democracia não o deixa livrar dessa gente.

Mal será do país que convive tão docemente com tudo isto e que tem tão doutos doutores em direito a defenderem o irrazoável.

Mal será do país quando se perdeu a vergonha e o próprio povo já não dá por isso.

09 novembro 2007

O leitor (im)penitente 25







Não, não é o culto da personalidade.
Pelo menos ainda não é...


Leitorinhas gentis
Amanhã é dia de castanhas e jeropiga. Ou de vinho novo, como queiram. Eu não sei se essas velhas usanças (não vou ao ponto de falar em tradições) ainda estão vivas entre vocês, imagens delidas para lá deste ecrã que me olha amavelmente. Antigamente o dia de S. Martinho festejava-se forte e feio: castanhas, a dita cuja jeropiga, vinho novo na falta dela, e depois qualquer coisa mais para entreter. Algum paio, um chouriço assado, umas lascas de presunto, alguma febra de porco, o que houvesse. E S Martinho, o da capa rasgada, era honrado numa festa pagã, como competia a um santo de lenda. Para os mais sérios, honrava-se S Martinho “como Deus manda”. Traduzindo: dando-lhe ao dente e matando a sede ancestral com um copo de três. Se calhar vocês nem sabem o que é um copo de três. Eu também não, confesso. Calculo que seja um copo decente e não uma coisinha pífia dessas de enganar a sede.
Ah o S Martinho... Se eu vos disser, para alegrar o meu querido compincha Alexandre, hoje morador em Liége, terra boa e com dois rios, se é que me lembro bem, que no velho CITAC sob a égide do Victor Garcia montámos um “Auto de S Martinho” que fez chorar uma plateia francesa e snob pejada de artistagem teatral da mais celebrada que França tinha pelos idos de 68, vocês franzem o nariz e não acreditam. Acreditem, ó velidas soo aquestas avelaneiras frolidas, acreditem que é verdade, verdadinha. Aquilo foi um ver se te avias: palmas e mais palmas e nós esparvoados, então os francius gostavam mesmo do que nós fazíamos? Parece que sim. Ou então era milagre de S Martinho.
Há pouco a CG e eu começámos as celebrações sãomartinianas. Toma lá castanhas e um tinto bastante decente, à guisa de jantar. E lembrámos com ternura as aniversariantes de Novembro, a saber, Isabel Pinto, Teresa e Luísa Feijó, todas a fazer anos entre 4 e 11. Coitadas! Fazem anos na parte menos interessante de Novembro!... Bom Novembro só o do signo Sagitário, signo do que se assina, claro, se calhar queriam que dissesse mal do meu signo, era o que faltava, eu sou pouco dessas coisas mas que diabo, já que sou do Sagitário o melhor é dizer bem dele mesmo não acreditando. De todo o modo, parabéns a essas três velhíssimas amigas, flor e sal das amigas.
Mas eu não vinha falar disto, como a fotografia mostra. Vinha falar de livros!!! Como o título genérico da série seriamente demonstra. E vamos a isso que senão não acabo a encomenda. Hoje isto é um bocado melancólico. A culpa é do “Le Monde”. Ou melhor do suplemento semanal de livros. Então vejam:

Ninguém, enfim, quase ninguém sabe quem foi René Maran, um nome alto e sonante da negritude. Um antilhano que se atreveu a escrever um romance interessantíssimo “Batouala, veritable roman négre”, que sacou um goncourt no tempo em que isso não andava aos caídos. Bem se lixou o pobre do Maran que ao seu livro responderam com um coro de insultos. Maran punha causa a colonização francesa. Naquele tempo era preciso coragem. E ele teve-a. E era preciso desapego ao dinheiro. E ele perdeu o emprego. Parece que agora há quem comece a lembrar-se dele. Lembrem-se também vocês e leiam-no. Um escritor só serve para ser lido.
Sempre na onda do “monde” outra novidade: reedita-se num único volume a saga dos dois detectives negros criados por Chester Himes. Os detectives apelidados o Coveiro e o Caixão, enchem oito belíssimos livros policiais ambientados no Harlem post-jazz. Um must de inteligência, ferocidade, humor (negro, claro) e boa escrita. Os portugas inteligentes leram pelo menos “Assassinos a frio” (Puma editora, 1992?) e percebem do que falo: grande romance policial a ombrear com os melhores. A Gallimard reedita a saga num único volume na colecção “quarto” (25 €). Depois não digam que não foram avisados.
A terceira notícia, sacada do mesmo monde, enche-me de nostalgia. Trata-se de um artigo chamdo “Sartre et Benny” ou algo que o valha. O Sartre é o Sartre claro, quem é que havia de ser. E o Benny?, pergunta a leitorinha perigosa ali do fundo. Pois o Benny (Levi) é o Pierre Victor, um dos manda-chuvas da “Gauche Proletarienne” e episódico director do jornal revolucionário (enfim, era o que se dizia e o que a polícia e a censura acreditavam) “La Cause du Peuple” (eu acho que este título repete um outro do século XIX, um jornal e um livro ambos sob a égide de George Sand, mas deixo isso para mais tarde). Sartre foi convidado por Victor para director do jornal, vendeu-o nas ruas enquanto De Gaulle altivo mas inteligente proibia que o molestassem dizendo, ah as grandes frases...!, “não se manda Voltaire para a cadeia”. Por uma vez, Sartre teve um oponente à altura, bravo monsieur le general!
Victor entrevistou longamente Sartre e daí nasceram um ou mais livros bem interessantes. Conheci ambos em 1975, nesta cidade do Porto e durante dois inteiros dias guiei-os pelo pequeno universo revolucionário e sindical, pelas fábricas ocupadas, pelos campos minhotos, o Sartre bebia cerveja como um bávaro. O Victor era mais desconfiado e mais água mineral. Também terminou a comentar a cabala, em Jerusalém. Foram dois dias exaltantes, muita conversa, muito parlapié e um almoço memorável com o Eduardo Lourenço num tasquinho da rua do Bonjardim. Um gajo tem sorte, desculpem, muita sorte. Duma penada três cavalheiros que, nessa época louca, louquíssima, eu apreciava.
E isto vem a propósito do último livro: “Memorias em voo rasante” de Jacinto Veloso. Do general Jacinto Veloso! Ora toma! Na época da fotografia aí de cima o Veloso era alferes aviador e penava em Nampula. Anos de estúrdia lisboeta onde vagamente estudara medicina, creio, as mais das vezes num bar mal afamado, onde até as “meninas” tinham estatuto de antiguidades protegidas pelo IPPAAR da época, com outro amigalhaço, o “Perna” (nome ou alcunha?) levando os ossos da anatomia para uma mesinha do bar ao lado da orquestra dos ceguinhos e tentando em vão adivinhar os nomes dos buraquinhos dos ossos e a serventia dos mesmos, com um nulo resultado a favor das ciências médico-cirúrgicas, dera como resultado a tropa. Em 1962, eis o Veloso amigo no meio de um galhofeiro bando de estudantes universitários, todos sobreviventes da greve de 62, diga-se já para evitar mal-entendidos, num “garden-party” (toma lá!!!) na piscina de Nampula. O escriba está a meio como convém a tamanha personalidade e o Veloso à esquerda dele e já careca. Meses depois, metia-se num avião e “abria” em direcção à Tanzânia. E daí ao Estado Maior da Frelimo onde ainda estará. Onde é que andará esta malta? Bem, para a frente, se não isto começa na choradeira e não vale a pena. Naquele ano, tínhamos todos cerca de vinte anos, a greve fora cumprida galhardamente, mais prisão menos prisão e ali estávamos em Nampula, em Setembro, a receber a rapaziada do Teatro Universitário do Porto em digressão pelas áfricas. Esta fotografia foi tirada cedo, aí pelas sete, sete e meia da tarde (nos trópicos já é noite, claro) mas lá mais para o fim da noite o nosso aprumo era uma recordação nevoenta. Graças ao meu pai e aos outros antigos estudantes de Coimbra e do Porto, o champanhe correu a rodos. Pommery se bem me lembro e a coisa foi muito séria. Seriíssima!
Agora o Veloso conta a sua história, de ministro e tudo o mais num livro que não vou perder. Que querem, a juventude é uma doença que passa com a idade mas deixa cicatriz. Vou ler o livro, vou rir, chorar, irritar-me, mas vou lê-lo. E pensar, provavelmente, como no filme: “tão amigos que nós éramos...”

Esta, como se vê, foi mais uma pedrinha na construção do culto da personalidade de mcr. Ou talvez não: apenas um feixe de recordações de alguém que foi abensonhado* pela vida e pelos encontros. Fez por isso mas também teve boas surpresas. E permitam que mande um abraço aos amigos, Morgado, Carlos Vieira, Armando Ferreira, “o amigo da onça”, Zita, Jonet, Veloso, Teresa, Correia Mendes, Teresa Ferreira, João Oliveira e Lança. E desculpas ao primeiro da ponta direita: como é que te chamas, pá? Na fotografia falta Octávio Correia Ribeiro, onde é que o diabo deste meu irmão se terá metido? Será o fotógrafo?

Abruptamente

Espreite-se aqui ao lado a carta de António Cunha Vaz, sócio da Cunha Vaz & Associados que trabalhou para a campanha interna de Menezes no PSD, a Pacheco Pereira e o comentário deste. O verniz quando estala faz cair todas as máscaras.

08 novembro 2007

Advogados nas Esquadras e Prisões

Ora aqui está uma grande proposta de um grande candidato a Bastonário da Ordem: é preciso que haja advogados em permanência nas prisões e nas esquadras.

Até concordo que há alguns que lá deviam ser metidos! Aproveitavam para ir trabalhando sem fazer perder a paciência aos Colegas de profissão.

Claro que está pressuposto que os advogados ficarão sentados à mesa do Orçamento. E por certo não serão todos! Gostava de ver publicados (não é preciso papel; publicado=tornado público) os montantes pagos anualmente a cada um dos advogados em prática isolada e a cada uma das sociedades de advogados em sede de Apoio Judiciário ou de Prestação de Serviços a entidades públicas, judiciárias ou não! Isso sim poderia moralizar a advocacia.

Agora argumentar que os advogados evitariam a violência parece-me pouco eficaz! Há muitos cuja única função é incendiar os clientes e provocar as partes contrárias!...

missanga a pataco 31


Uma pequena ideia,
um pequeno gesto,
uma pequena despesa.


Ontem o «Público» trazia uma reportagem sobre um cidadão vulgar, como nós leitores e escrevinhadores deste blog, que reolveu criar uma bolsa para premiar estudantes que se distinguissem nos seus estudos mormente nos que vão até ao nono ano. A bolsa não é grande mas os contemplados, gente pobre, não lhe fazem má boca. E ficam orgulhosos. E aquilo, embora pouco, dá-lhes um jeito danado.
Alguém, não tenho o nome aqui á mão, passou a ideia ao João Vasconcelos Costa, esses mesmo, o do blog meubloconotas.blogspot.com, o tipo que sabe tudo sobre bichezas nefandíssimas e pequeninas que matam que se fartam, o meu velho amigo, cozinheiro de mão cheia e mais açoriano que o vulcão dos capelinhos. O JVC, nem hesitou, pimba, mandou-me a história. E assim, sem mais nem menos, está a nascer a ideia de também nós, cidadãos « de a pié », sans culottes, sem nome estabelecido na praça da caridade, arranjarmos uma maneira de nos cotizarmos e imitar vergonhosamente o cidadão de S Domingos de Rana. Nesta conversa que só agora encetámos, mandei a minha posta: E porque não dar um prémio simbólico ao professor dos ditos energúmenos que teimam em provar que mesmo em meios carecidos de tudo pode haver um bom aluno ? Já vou tramar o Manuel Sousa Pereira, escultor e marceneiro, professor aposentado que até tem uma sala com o nome dele na escola onde ensinou (deve ter sido cunha, aquilo dos alunos dele terem sempre notas altíssimas nos exames parece-me coisa muito mafiosa…) para fazer uma das suas terracotas em série para oferecer ao professor que lavrando a sua lavra mostre ter boa mão e melhor enxada. Tenho mais uns tansos em ponto de mira mas antes de alrgar a coisa, aqui deixo a notícia. Quem quiser junta-se à malta, dando o que quiser, não é preciso ser muito, basta que sejamos muitos como nas sociedades anónimas.
Não se dão indulgências, medalhas, nome de rua, queijadas de sintra ou berloques. Isto não é uma ong mas também não faremos ping-pong com a massa. Cacau entrado, cacau saído. Tudo na maciota, sem arrebiques, a la fresca… quem quiser botar o nome, diga para aqui ou para o JVC, melhor para ele que é mais desenvolto nisto de computadores e restante tralha.
À barca, à barca que temos gentil maré…

PS : se algum sacaninha aí do fundo nos chamar beneméritos apanha na tromba e paga cem eurinhos dos verdadeiros de multa. Ah, já me esquecia, isto é para continuar depois do Natal. Os blggers, que nos costumam visitar , com o João Tunes à cabeça, poderiam dar uma boleia a este texto ou esmifrar um outro do mesmo teor para ver se isto chega a bom porto. Obrigado, colegas. E um abraço, claro

A gravura de hoje é uma homenagem à revista Mad que ainda esperneia nos States. Devem andar atrapalhados com o bush e com os neo-cons. Mas são uma prova que aquilo também é terra de muita e boa gente. O senhor Newman é a figura tutelar desta louquissima revista que comecei a apreciar graças à Maria João Delgado