10 julho 2007

o passo adiante


dar o passo adiante
todos os dias.
a náusea causada pelo excesso
a embaraçar-te os pés,
o precipício de cada minuto
a estrangular-te .

o que há de movimento organizado,
aleatório,
ou apenas ansiedade,
no mundo.
nesse excesso gigantesco que é o mundo.

o que há de sem sentido e louco
neste espaço de acasos,
neste espaço de ausências,
de vozes entrecruzadas e surdas,
os desencontros minando tudo.

o que há de vertigem
nas bordas de cada corpo gratuito,
cada minuto afundando-te
na angústia.
nestas horas de impuro silêncio,
sem mãos a te ampararem,
sem olhos a perceberem as mãos.

o que há de repentino terror
no assalto das sensações,
no florescer abrupto dos sentimentos
parados frente ao humano trêmulo
que és,
a desejar a morte.

a morte antes de tudo o mais,
porque a vida é uma impossibilidade constante,
dar o passo adiante um peso insuportável.


silvia chueire

2 comentários:

d' Oliveira disse...

Eu sei que aí o inverno chegou enquanto por cá andamos perdidos numa estação que não sabemos classificar: choveu durante boa parte e Junho e Julho molhado começou. Todavia este belo poema transmite uma sensação de incomodidade, de desconforto, de pessimismo qu me parece excessiva.
E isso torna-se mais agudo porque há imagens muito conseguidas que vão nesse sentido.
não que eu prefira um "impuro silêncio"ou o peso insuportável do passo seguinte mas fico preocupado porque este poema é tão vivido que me leva a pensar que gostaria de estar aí para conversar, longamente, varando a noite e espantando a angústia.

cheiroajasmim disse...

Não pude deixar de comentar, ainda que as palavras não me surjam com facilidade. É um belo poema!
«o passo adiante» é por vezes tão doloroso que nos angustia.