31 janeiro 2008

Missanga a pataco 43


Deprimido eu?
Apenas mais gordo!


Consta que a curva da felicidade na vida humana tem o aspecto de um U. Começa-se por ser feliz, a vida vai moendo e remoendo e aí pelos cinquentas a infelicidade bate no fundo. Depois, dizem os que sabem, volta-se a subir e a felicidade reinstala-se. Até que a morte separe a carcaça arruinada da resplandecente felicidade.
A lusa e fera gente sofre do endémico atraso que caracteriza o torrâozinho de açúcar. Só atinge o ponto G da infelicidade aos 66 anos. Se calhar é por ser capicua.
Lamento imenso não poder, uma vez mais, cumprir o patriótico dever de estar dentro dessa norma. Tenho 66 feitos e perfeitos mas não me sinto infeliz. Indignado, com certeza. Irritado, sem dúvida. Perplexo, provavelmente. Mas não me sinto deprimido, desculpem lá.
Fiz um esforço, juro que fiz, que isto de andar sempre fora da forma, mesmo sendo canhoto (o que já é um defeito gordo...) é inadmissível. E anti-patriótico! Se a ASAE sabe, ainda me inspecciona. E me reprova: impróprio para consumo. E aplica-me uma coima dessas duras, que eles aplicam, que aquela gente não brinca em serviço. A minha safa é que os processos da ASAE são arquivados em mais de 85% dos casos, segundo se confirmou há dias na Assembleia da República. Talvez escape. Até lá deveria andar angustiado, mas nem isso. A menos que os quilos a mais, fruto de uma gula mortalmente pecaminosa, sejam já os sinais anunciadores do castigo por não me incluir no número de sexagenários abatidos e infelizes na passagem do sexto ano dessa década.
Deus escreve direito por linhas tortas e a minha linha de cintura é apenas um U que ainda não percebeu que está mal desenhado.


Um olhar sobre o regicídio


Convite para a apresentação (pelo Dr. António Pedro Vicente) do livro da minha boa amiga historiadora-investigadora Margarida Magalhães Ramalho.
Lisboa, Paços do Concelho dia 1 Fevereiro, às 18h00 (às 16h00 visita aos locais do regicídio – concentração junto à estátua do rei D. José, no Terreiro do Paço)

(clicar na imagem para aumentar)

30 janeiro 2008

missanga a pataco 42


Uma andorinha não risca o céu dos açores

Pois não. Os açores caçam as andorinhas. Ou talvez não. Se calhar não há andorinhas a riscar o tal céu, por muito que isso pese ao Alexandre O’ Neil esse poeta que encantou gerações de amigos meus e que ainda hoje fornece motes a grandes conversas entre nós.
Também não é de açores, modestas aves de rapina, que a história se faz, mas tão somente de aviões carregados de gente que escalam as ilhas na sua trágica derrota até Guantánamo.
Parece que esse triste turismo teve início ainda sob o governo do actual Alto Comissário da ONU para os Refugiados. Se isso é verdade, convenhamos que estamos perante uma situação demasiado irónica. Depois, o tráfico, continuou alegremente sob os consulados dos senhores Barroso (o que riscava as ruas de Lisboa aos gritos “Vietnam vencerá”) e do menino-guerreiro, essa prova viva de que a democracia, sendo boa, pode dar péssimos frutos. Finalmente o último pacote de viagens nocturnas e enevoadas ocorreu durante este governo excelso que já desmentiu tudo. Há todavia uns ingleses que insistem na veracidade das suas alegações. E há órgãos de informação (sempre essa seita maldita!...) nacionais e estrangeiros que dão acolhimento a essas notícias malévolas... Ah que saudades do dr. Salazar: no seu tempo, não ocorreria haver na imprensa portuguesa novidades tão dissolventes. Aliás nem era preciso negar. Não se nega uma notícia que o não foi. O diabo da democracia, maldita invenção estrangeira, prega-nos cada partida.
Já agora: houve ou não esses voos? Sabia-se o que eram ou não? Se sim, quem autorizou? Se não, que fundamento tinham?
No caso, oh quem dera, de não ter havido esses voos, de que é que se está à espera para pôr em tribunal os difamadores?

Citação do dia

Há qualquer coisa de errado nesta mini-remodelação. Como uma desvalorização monetária que não imprime confiança no novo valor da moeda.

José Medeiros Ferreira

Estes dias que passam 92

Visto, lido e respigado

1. Em Moçambique, no antigo “território de Manica e Sofala” (era assim que ainda em 1934 -!!!- se chamava esta vastíssima zona governada pela “Companhia de Moçambique) foi interceptado um camião com quarenta crianças que, tudo indica, iriam ser traficadas na África do Sul. Que tráfico? Não mo indicam, mas tudo parece levar a crer que ou se destinavam à prostituição infantil ou, pior ainda, a serem meros fornecedores de órgãos.

2. Na União Indiana, a “maior democracia do mundo”, foi desmantelada uma rede que comprava rins a operários pobres (havê-los-á ricos? Na Índia?) para vender aos novos ricos da classe emergente indiana. Põe-se-me um problema: será que para fins meramente medicinais se pode transplantar o rim de um dalit (classe inferior), um intocável, para o mal tratado costado de um brâmane?

3. Parece que há quem atribua a remodelação governamental aos clamores da “rua”. Eu fico sempre um pouco de pé atrás com este género de desqualificações. A “rua” é o nome que se dá às multidões que não tendo grandes estudos nem grande estatuto político ou social, não encontra outro meio de mostrar a sua raiva, a sua indignação e, finalmente, a sua desgraçada situação de abandono, senão manifestando-se. Essa mesma multidão, no momento do voto, é solicitada abjectamente pelos mesmíssimos políticos que depois lhe chamam depreciativamente “rua”.
E é curioso que o termo é menos usado pela grande burguesia e pelos aristocratas do que pelos arrivistas que desesperadamente procuram um modo de se distinguir da pequena burguesia de onde vieram...
E, esquecia-me, pelos conversos, pelos que no caminho de Damasco, viram a luz cegadora do poder mesmo que esse mesmo poder só os utilize como “chiens de garde”.

4. Em Espanha, há uns anos, um automobilista atropelou mortalmente um jovem ciclista. Agora resolveu pedir uma indemnização de 20.000 euros pelos estragos na sua viatura. Como seria de esperar, isto despertou as iras dos cidadãos, da rua, para usar um termo em voga.
Hoje o julgamento durou dois minutos: o atropelador que pedia os vinte mil euros desistiu da causa. Segundo os seus advogados “foi crucificado pelos meios de comunicação social”. E isso fê-lo desistir. Que pena!

Moral da história: lá como cá, a culpa é sempre dos “media”.
E da rua!
E das vítimas!
E dos pobres!

* a gravura: "o caminho de Damasco", claro... O problema é que S. Paulo houve um e não se vê modo de voltar a repetir a proeza. Não que a história se não repita. Repete-se. Só que desta vez é em tom de chalaça...

** a expressão "chiens de garde" é pilhada a Nizan. Pena ser pouco lido, esse autor que já nos alvores da guerra descobria a trágica mentira do aparelho.

A gestão do tempo político

Logo a seguir à assinatura do Tratado de Lisboa, quando o país comunicacional se preparava para discutir se o mesmo deveria ser referendado ou não, o nosso Primeiro Ministro matou a questão com a apresentação da deslocalização do aeroporto da OTA para Alcochete. De imediato esquecemos o hipotético referendo para passarmos a levar com Alcochete, os estudos, as controvérsias.

Agora, estava tudo de dente afiado a ver o que ia sair da cerimónia da abertura do ano judicial. Com o tema corrupção a ocupar tempos imensos na comunicação social, com o PS a ser acusado de não dar seguimento aos diplomas que marinam na AR, o que é que faz o nosso Primeiro Ministro? Atira-nos com a remodelação ministerial. E pronto, lá se foi a cerimónia e a corrupção com ela. O nosso destino é seguirmos as novas personagens.

As próximas sondagens vão mostrar a eficiência na gestão do tempo político.

29 janeiro 2008

Diário Político 76


A dança das cadeiras

Independentemente do facto de pensar que duas substituições sabem a pouco, muito pouco ( e a Educação? E a Justiça? E o cavalheiro do jamé? ) há que constatar que por diferentes razões se justificam estas duas primeiras vagas no governo.
Correia de Campos conseguiu transmitir uma ideia de arrogância que escondeu as suas qualificações técnicas indiscutíveis e o seu profundo conhecimento dos dossiers. Pior: mesmo quando tinha razão (e teve-a em tudo o que dizia respeito a racionalização dos serviços, em diminuição de riscos -as maternidades com escassos nascimentos e completamente inadequadas e impreparadas para ver nascer uma criança em risco; as urgências sem pessoal qualificado, sem médicos especialistas etc...) conseguiu fazer passar uma imagem insuportável de autoritarismo, teimosia e, finalmente, inépcia política. Também não se devem esquecer os incidentes disciplinares em que muito provavelmente teve uma mãozinha do aparelho do ps que não descansou enquanto não correu das ARS e dos diferentes departamentos de nomeação os militantes de outros partidos (provavelmente entrados pelo mesmo processo e com as mesmas referências: cartãozinho partidário e quotas em dia. Só que não se pode responder à bandalheira anterior com bandalheira igual e nisso os ministros curvam-se aos poderes fácticos locais quanto mais não seja para evitar chatices).
Com Isabel Pires de Lima não é possível sustentar a mesma análise: Não era uma especialista em gestão cultural, não tinha experiência de qualquer espécie nesse campo (vinha da Universidade e era reputada como especialista em Eça de Queiroz. A latere, mas importante apesar de tudo, tinha sido indicada para continuar a obra de Óscar Lopes e António José Saraiva autores da mais conhecida história da literatura portuguesa. Passara pelo Parlamento mas não se recorda nenhuma acção especial enquanto deputada.
O passado académico, uma certa virgindade política apenas toldada por uma passagem aliás discreta pelas hostes do PC, terão sido, todavia, pontos favoráveis no acolhimento inicial que a comunidade “cultural” lhe concedeu.
Foi porém sol de pouca dura: Pires de Lima estreou-se numa guerrilha com Rui Rio a propósito de um túnel que efectivamente entrava descaradamente pela frente de um museu. O IPPAAR, melhor dizendo a sua direcção regional tinha-se oposto e jogava nisso o seu prestígio e a sua razão. A meio do percurso, e não obstante a campanha miserável contra ela, Pires de Lima (ou alguém por ela) chegou a um acordo que dava a vitória por KO a Rui Rio. Os do IPPAAR, demitiram-se, Pires de Lima não. A partir daqui estava perdida. Por duas razões: perdera o momento de bater com a porta e perdera o respeito dos que tinham apostado nela. E foi perdendo todas as oportunidades de sair de um governo onde parecia apenas desempenhar o modesto mas desagradável papel de punching ball. Os jornais amanhã contarão tudo isso em pormenor se (e é um grande SE) acharem que vale a pena falar pela última vez de uma has been. Pires de Lima averba uma triste vitória neste seu consulado: a exposição daquele punhado de coisas ridículas vindas da Rússia. Estava escrito que não seria Kandinsky, Malevitch ou Petrov-Vodkin mas apenas umas peças decorativas boas para basbaques incultos. E caras...
Para a pequena história fica o apontamento destes ministros se terem demitido. Provavelmente nem foi bem assim. A única pessoa que se sabe claramente que se demitiu é o secretario de Estado Amaral Tomás. Esse anunciou-o bem cedo forçando Sócrates, escolhendo o seu tempo, o seu campo e, finalmente, a sua vitória. A Pires de Lima e Correia de Campos ninguém os ouviu durante esses dias em que tudo terá sido decidido.
Sic transit gloria mundi

Na gravura: O banho do cavalo vermelho de Kuzma Petrov-Vodkin, pintor que não teve a simpatia de Stalin e que por isso mesmo nunca foi alvo do interesse dos seus sucessores. Mesmo os de hoje, mesmo os que já não acreditam nos amanhãs que cantam, mesmo dos que lhe preferem uns móveis pomposos e uns retratos académicos...

É Sempre a Somar…

O Diário Económico de ontem mostrava o caso de sucesso BPN. Em 10 anos multiplicou 173 vezes a riqueza do Banco. É caso para dizer que se Portugal não saiu do atoleiro não foi por culpa do BPN.

Pois bem, depois do caso BCP temos hoje o “Caso BPN”. Faz parte da dinâmica das coisas. Com um caso mata-se outro e assim sucessivamente.

O Diário Económico relembra, ainda, casos de sucesso. Por exemplo, na Caixa de Crédito Agrícola (destituição da equipa de gestão) paira um grande silêncio; Operação Furacão (a envolver o próprio BPN, BCP, BES e Finibanco) que se mostrou ser um furacão muito enfraquecido, pois rodopia desde 2005 mas sem provocar quaisquer estragos.

A conclusão virtuosa a retirar de todos estes processos é que o Governo, via Banco de Portugal, bem podia internalizar a grande experiência do nosso sistema financeiro no uso dos mecanismo de offshores, para colocar esse saber na produção e incremento da Riqueza Nacional.

Defender o Estado de Direito


Ao Presidente do Conselho Superior da Ordem dos Advogados compete zelar pelo cumprimento da legislação respeitante à Ordem dos Advogados; entre essa está o Estatuto da Ordem dos Advogados, segundo o qual são atribuições da Ordem dos Advogados «defender o Estado de Direito».
Ora o Estado de Direito é incompatível com a existência de pessoas com cargos de relevo no Estado português que cometam crimes impunemente.
Ao Bastonário que proferiu a afirmação caberá cumprir os seus deveres em face do afirmado. Que as instituições funcionem. O nosso silêncio será um contributo para isso»."


Contos Proibidos

Nem de propósito, depois de ter escrito o comentário ao post anterior (Corrupção & Inquérito), descobri o que segue no blog Manxa Solar:


(...) "curiosidade que se me levantou, graças ao Mário Crespo, foi a do: Contos Proibidos: Memórias de um PS desconhecido, de Rui Mateus – Dom Quixote 1996 - e que me passou completamente ao lado... até hoje. E, pelos vistos, ao lado de quase toda a gente... Desapareceu e nem aparece numa pesquisa no site da D. Quixote -????- curioso já que é a sua editora. Mas graças à net tudo é mais acessível, e em PDF! E eu vou embrenhar-me por este jardim de rosas... com sabor a piri-piri!

Instruções para o Download

Mais uns
polvozitos para apaziguar a fome... "

28 janeiro 2008

Corrupção & Inquérito


É ler aqui, aqui e aqui mais umas tantas opiniões sobre o tema. Segundo a imprensa de hoje parece que a corrupção estará na ordem do dia na cerimónia de abertura do ano judicial. Como se pode concluir da leitura dos colunistas JN, grande é a confiança no sistema.
Numa outra linha, é interessante a notícia veiculada pela LUSA a anunciar que o "PSD requereu hoje a audição parlamentar do ministro das Finanças ou do novo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais". Ou seja, ainda não tomou posse e já está a ser chamado à pedra. Isto é um espectáculo!

27 janeiro 2008

Corrupção, o que é?

Há temas que já nem vale a pena tratar. A corrupção é um deles. Sempre que alguém fala em corrupção logo se levanta um coro a pedir nomes. Depois, os nomes não aparecem ou se aparecem não há meio de provar. Fica-se pelos indícios ou nem isso.

A corrupção é como uma corrente marítima, sente-se, cheira-se, segue-se-lhe o rasto, mas não se agarra. Pior, se não temos cuidado, até nos pode fazer mal… ficarmos constipados ou apanhar uma pneumonia.

Por vezes, muitas vezes, a corrupção é uma arma usada pela oposição para atacar os que estão no poder. É quase como aquela coisa de vender os medicamentos a retalho. Quando se está no poder não se concorda. Quando se está na oposição exige-se que o governo aprove a medida. A corrupção é qualquer coisa parecida com isso.

Acontece que a corrupção teria que se traduzir num sistema hierarquizado. Na base teríamos os menos corruptos e no topo os mais corruptos. Ora como é que se poderia estruturar um sistema destes? Impossível. Deste modo, temos de concluir que a corrupção é um fenómeno incontornável, tal como as correntes de ar, que se pressente, mas que nunca está onde se crê que está.

Por isso, de tempos a tempos, alguém aparecerá a mostrar os indícios. Contudo, quem vê, não vê o que esse alguém vê. E tudo se dilui como se um mundo de sombras corresse por entre desfiladeiros reais, mas inacessíveis ao braço da justiça.



Onde pára então a corrupção?

Onde estará o financiamento dos partidos?


26 janeiro 2008

"descubra as diferenças"

O Carlos adiantou-se, na Grande Loja do Queijo Limiano, ao postal que eu ia escrever aqui. Na mouche, Carlos!

E o burro sou eu? Descubra as diferenças

Saldanha Saches
"Nas autarquias da província há casos frequentíssimos da captura do Ministério Público (MP) pela estrutura autárquica. Há ali uma relação de amizade e de cumplicidade, no aspecto bom e mau do termo, que põe em causa a independência do poder judicial".

DESPACHO
Exposição subscrita pelo Doutor em Direito, José Luís Saldanha Sanches*, na sequência da deliberação do CSMP em sessão de 6/6/2007. O Conselho deliberou dar por encerrado o caso uma vez que não foi especificado qualquer caso concreto que não tenha sido já averiguado e objecto de apreciação pelo Conselho e, por outro lado, as restantes considerações gerais constantes da exposição em causa constitui um exercício livre de crítica num regime democrático. Aqui.


António Marinho Pinto
"Existe em Portugal uma criminalidade muito importante, do mais nocivo para o Estado e para a sociedade, e que andam por aí impunemente alguns a exibir os benefícios e os lucros dessa criminalidade e não há mecanismos de lhes tocar. Alguns até ostensivamente ocupam cargos relevantes no Estado Português".

DESPACHO
Tendo em consideração as declarações do Senhor Bastonário da Ordem dos Advogados proferidas em entrevista dada a um órgão de comunicação social, a gravidade das afirmações feitas e a repercussão social das mesmas, determino:
Ao abrigo do disposto nos artigos 241º e 262º do Código de Processo Penal, a abertura de inquérito e, nos termos do artigo 68º do Estatuto do Ministério Público, designo, para dirigir a investigação de tais factos, a Senhora Procuradora-Geral Adjunta, Drª Maria Cândida Guimarães Pinto de Almeida, Directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal, que será coadjuvada pela Senhora Procuradora-Adjunta, Drª Carla Margarida das Neves Dias, do mesmo departamento. Aqui.

25 janeiro 2008

Diário Político 75


América, América...

Há entre nós um respeitável cavalheiro idoso, a quem o pais deve bastante mas que perde a cabeça quando fala nos Estados Unidos. Em se tratando dos “américas”, o excelente senhor esquece rapidamente todos os apoios que recebeu nos anos difíceis de implantação da democracia e chega a jurar por Chavez ou Fidel. É obra!
Todavia não é disso que quero falar mas apenas do facto da nossa vida estar constantemente à mercê do que se passa entre os Grandes Lagos e o Rio Grande. Sirva de exemplo esta crise das bolsas, este persistente sentimento de retracção, este tem-te não caias dos mercados financeiros. E os dedos apontam todos, acusadores para Wall Street. Como se esta “wall” fosse o “paredón” onde se executam todos os inocentes especuladores europeus e asiáticos, virtuosos e cheios de “graça”.
Ora bem, as coisas não são assim tão simples nem tão fáceis. Que a América carregue um bom par de pecados, de acordo, mas não todos. Então e os tais fundos “soberanos”, essa dinheirama imensa que vem dos países “emergentes”, para não falar dos “petroleiros”, cujos biliões correm mundo à procura de ganhos rápidos. E os investimentos europeus que também não dizem que não a estas bruscas mudanças de destino consoante os ganhos valem ou não a pena?
O restrito clube dos donos do dinheiro não tem escrúpulos quando se trata do seu capital. Um pouco como os grandes accionistas de um conhecido banco português... cujo desamor pelos pequenos e pelos depositantes tem dado direito a grandes parangonas.
Claro que as famosas sub-primes também não estão inocentes longe disso mas a verdade é que no essencial tudo se reconduz ao desregramento liberal dos últimos anos, à facilidade com que certas pessoas mexem no dinheiro, no seu e, sobretudo no nosso.
E vem a talho de foice esta história mirabolante de um jovem brocker francês, empregado da “Societé Generale” que “evaporou” cinco biliões de euros, uma soma idêntica ao produto interno bruto da Nicarágua!!!
Para além de ser surpreendente o facto de um brocker, jovem (31 anos) poder mexer em tanto dinheiro, como é que se explica que o Banco, um banco poderoso, não ter intervindo a tempo? O jovem brocker está desaparecido mas promete não faltar quando a polícia o chamar. Esperemos que sim, que não falte. Que esteja vivo, enfim.
O que mais me perturba nesta história, que não me atrevo a qualificar de polícias e ladrões, é a “calma” do banco. Não foi nada, dizem os seus responsáveis, nós mesmo assim temos lucros! Dois biliões, parece.
Não acham extraordinária toda esta saga?

Regressemos aos Estados Unidos para comentar com alguma inveja e bastante admiração essa greve dos guionistas de Hollywood que dura há meses e que paulatinamente vai obtendo mais e mais apoios. E depois digam-me que os sindicatos estão em crise, como certas alminhas portuguesas se apressam a anunciar. Com crises destas podem os trabalhadores bem.
Uma palavra, a penúltima para referir a morte anunciada de Vassili Alexanian, preso preventivo há dois anos por pertencer ao grupo financeiro Yukos. O Supremo Tribunal da Rússia negou hoje a sua solicitação para ser transferido para um hospital civil. Alexanian está tuberculoso e sofre de SIDA. A partir de hoje só uma eventual amnistia por ocasião da próxima eleição presidencial em Março o poderá salvar. Todavia, é voz corrente que o preso não chega vivo a esses “idos de Março”. Como se vê na Rússia os financeiros tem outra sorte consoante são ou não amigos do poder.


Um abraço forte ao Dr. Lemos Costa. Vai vencer este mau passo. Tem de o vencer. Muss es sein soll es sein.


d’Oliveira


Au Bonheur des Dames 108



Um senhor?


Um Senhor!

Assim mesmo, com letra grande. Refiro-me, claro, ao fundador (e amigo leal e sempre presente) deste blog: Lemos Costa ou, como, na sua proverbial discrição assinava, L.C.
Tive oportunidade de contactar com ele um par de vezes, a última por acaso, durante a visita, o raid, que a Sílvia, a nossa loira e bonita agente no Rio de Janeiro, fez ao torrãozinho de açúcar. O L.C. compareceu no festivo ágape portuense que reuniu a flor dos colaboradores nortenhos em volta da Sílvia. Trazia com ele, para oferecer à homenageada, um livro do Michel Onfray.
A propósito do livro, e enquanto esperávamos pelos restantes companheiros de galera, conversámos um belo pedaço (que esta malta no que diz respeito a horários é assim a modos que avessa, se é que me entendem). O diabo do homem é um poço de conhecimentos, de humor finíssimo e de curiosidade. Como profissional fez uma carreira notável mesmo se a discrição fosse o seu leme. Não foi mais longe porque, logo que se apanhou a jeito, se despediu. Mas estava na calha, olá se estava. E, sobretudo, era respeitado no “milieu”. Falo de fora, evidentemente, que eu arreneguei do Direito há muitos e bons anos. Mas o punhado de amigos que ainda por lá andam foi-me informando sempre do cursus honorum deles e dos restantes e o LC aparecia em todas as listas.
Deu-lhe agora uma camueca chata e que exige cuidados sérios e alguma sorte para ser levada de vencida. Um ateu não pode rezar e, de resto, parece-me que, nestas coisas, é a ciência médica e não o milagre quem diz a última palavra. Todavia, se os votos de um bom par de cidadãos puderem ajudar, aqui vão os meus, os do escultor Sousa Pereira, os do António Carlos Sobral e mais uns quantos que, ao lerem isto, de certeza se associarão.
Salut i força nel canut, LC.
E um abraço

24 janeiro 2008

Ao fundador-mor do Incursões

toda a força que possa haver na amizade

Nos idos de 2004 (tanto tempo já!) L.C., um magistrado do M.P. a trabalhar no Tribunal da Relação do Porto, congregou um pequeno núcleo de gente de dentro e de fora dos tribunais num projecto a que chamaram Cordoeiros. Era um projecto ambicioso: tratava-se de criar, na blogoesfera, um espaço informativo e de de intervenção cívica, à volta de temas relativos ao direito e ao judiciário, à sociedade e à cultura. O projecto era pioneiro e durante muito tempo os Cordoeiros foi o único blog com estas características em Portugal, tendo sido palco de interessantísimos debates que captaram a atenção e o interesse das magistraturas e não só. A os Cordoeiros seguiu-se este nosso Incursões e, mais tarde, o Cum Grano Salis.
Em todos eles L.C. com o seu saber jurídico, a sua profunda sensibilidade cívica e cultural, o seu refinado gosto estético e a qualidade da sua escrita, pontuada de certeira ironia, marcou de forma indelével.
Embora já colaborasse nos Cordoeiros, foi através do Incursões que fui conhecendo melhor o L.C. e momentos houve em que a empatia gerada neste espaço virtual foi enorme. Viria a conhecê-lo pessoalmente só algum tempo depois, e se alguma coisa me surpreendeu naquele que já tanto considerava, foi a sua enorme discrição pessoal (compreendi então porque razão um magistrado de tal qualidade profissional e humana nunca estivera em lugares de especial relevo).
L.C., recentemente a gozar as delícias que o tempo livre conquistado com a reforma proporciona às pessoas que, inteligentes e cultas, sempre tiveram mais interesses que os estritamente ligados ao exercício da profissão, foi esta semana atraiçoado por uma "avaria" orgânica. Se bem que o seu estado de saúde seja delicado, acredito que a sua força interior o virá a devolver, com o mesmo ânimo, ao convívio dos amigos e familiares. Desejo profundamente que a esperança e solidariedade de quem o estima possa ajudar no encontar dessa força, pois são seguramente muitos a "torcer" por si, L.C.!

23 janeiro 2008

Estes dias que passam 91


Carta a o meu olhar”,
excelente camarada de viagem


Li com toda a atenção que os seus textos comprovadamente merecem o post sobre a ASAE. E fiquei um pouco atrapalhado. De facto, se o país for assim tal e qual o retrata, no que diz respeito a restaurantes e similares, a ASAE até carece de força: se por todo o lado imperar a falta de higiene e de condições, como V. afirma, então forneça-se à ASAE ainda mais poder e mais meios. Todavia, para surpresa minha, dos autos levantados e conclusos, extrai-se uma fotografia menos grave, muito menos grave. Um restaurante fechado durante uns largos meses acabou por pagar uma coima ridícula, coisa para vinte e tal euros. Outro, que começara por ser apontado à execração pública, viu-se livre de qualquer pagamento o que o não impediu de perder uma boa maquia pelo tempo de fecho, pela desconfiança de eventuais fregueses. E por aí fora...
Não tenho dúvidas que aqui e ali, há restaurantes a laborarem em condições deficientes. Penso, contudo que não só isso não é a regra mas que, cada vez mais, é a excepção.
Há para avaliação um largo par de milhares de autos. Bom trabalho, dir-me-á. Bom, só se se verificar o bem fundado do levantamento dos autos. Mau, se isso significar prepotência, erro de julgamento, falta de bom senso.
A ASAE é uma polícia. Antes fosse um serviço menos policial e mais adequado. Todavia é o que temos e o melhor é mexer-lhe apenas o necessário. E esse necessário passa pela formação dos agentes e dos dirigentes e não por uma preparação militar como se aquela boa gente fosse combater as guerrilhas das Filipinas, ou as FARC da Colômbia.
Ora, do lido e do respigado, parece poder concluir-se que “por vezes” a mão sai demasiado pesada, como referiu perifrasticamente o seu director. Outras vezes, o excesso de cautelas faz com que os agentes saiam para missões surpresa sem saberem bem como lidar com os alvos da investigação, sem conhecer exactamente, ou sem conhecer de todo, as especificidades do meio que vão investigar.
Mas passemos agora a um segundo ponto: o da contrafação. É verdade, mais uma vez, que um cristão passa por uma dessas feiras cheias de gente a mercar e vê contrafações. Aliás distinguem-se bem pelo ar ordinário e de contrafacão, para já não falar dos preços inacreditáveis de baratos. Parece que mesmo assim o povo, e o não povo, compra.
A ASAE entra por ali, olha à volta e, onde descortina um cigano, pimba! Umas vezes acerta, outras não. Nem todos os ciganos são vendedores de contrafação. Mas são sempre os primeiros a ser inspeccionados. É bem feito! A ciganagem que volte para onde veio que de leitura da buena dicha estamos fartos. Porém, ocorre-me uma pergunta: de onde vêm as “lacostes” falsas, as sapatilhas “nike” falsas eos jeans levi’s falsos? Não foram certamente os feirantes quem os fabricou. Ponhamos que alguma(s) fábrica(s). Ora bem: nós vemos, ouvimos e lemos que na feira de Carcavelos, na feira da Golegã, na feira de Espinho, enfim nas feiras todas do torrãozinho de açúcar se confiscaram peças de roupas, discos compactos, jogos de computador, vídeos, enfim tudo, à ganância. Por falsos, refalsissimamente falsos. Força, direi eu (coisa que por acaso não digo, porque não caio na esparrela dessas ucharias a rastos de barato. Milagres, minha excelente amiga, já houve o das rosas mas isso foi chão que deu uvas. Nestes tempos de falta de fé, de incredulidade maldosa e redobrada o único milagre é o de haver casinos onde se pode fumar...
Íamos, penso, nas contrafações vendidas por aí (e não só em feiras...) por ciganos ( e não só, bem antes pelo contrário). Não acha curioso que nunca se oiça falar dos fabricantes das mesmas que, pelo menos, no caso dos têxteis e calçado, são (eu apostava dez contra um...) nacionais?
É que se apanhassem o fabricante, fechava-se em parte a torneira. Um fabricante dá trabalho a cem, duzentos feirantes. Um fabricante não produz dez, cem, mil unidades mas uns larguíssimos milhares. Cesteiro que faz um cesto...
Porventura estarei enganado mas parece-me que a ASAE teria menos trabalho e mais proveito em se dedicar à caça grossa em vez de andar por aí a dar tiros a tordos. Claro que a caça grossa é outro mundo. Ele há influências, dinheiro (como nos casinos...), empregos, poder (incluindo o político) e isso poderá eventualmente arrefecer o entusiasmo do caçador.
Não seria a primeira vez...
A terceira parte desta maçadoria é o estilo. O estilo far-west da ASAE. O aparato. O pôr-se a jeito para a fotografia. O alvoroço. A desmesura. E tudo o que isso implica em arrogância, em abuso, em incontinência verbal (aquela declaração do senhor Nunes, “alto funcionário da administração central” (será isso ou é apenas um cavalheiro nomeado por comissão de serviço, recrutado por aí fora, na privada, por exemplo?) que, no seu alto critério, fechava metade dos restaurantes da pátria doente e corrupta. Num país menos civilizado do que o amorável Portugal, Nunes estaria já de partida para outro destino. Por cá, está, estará e pronto. Porque o seu estilo se coaduna com o estilo dos seus mandantes: primeiro arreia-se e depois logo se vê.
Nunes, na comissão parlamentar, defendeu a actuação dos seus (cow-)boys com o respeito pelas leis e regulamentos. Nunes e os seus cumprem ordens. Claro que cumprem. A PIDE idem, aspas, aspas, como se pode ler no belo livro de Irene Pimentel. Mais: raras vezes se excedia. E quando isso ocorria, os agentes eram punidos. Por excesso. O problema é que no cumprir as tais ordens e regulamentos já havia violência que chegava e sobrava.
As “ordens” que se cumprem, o “dever” que é cumprido tem saias compridas para debaixo das quais tudo se varre. E varre-se muito, demasiadamente.
E é isso que alguns portugueses, uma clara minoria, uma menosprezável minoria, acham. E que seria possível ter uma ASAE eficiente mas discreta. Capaz mas sensata. Determinada mas prudente.
Um país que viveu quase todo o século XX entre autoritarismos vários desde João Franco a Afonso Costa, desde Pimenta de Castro a Sidónio, até cair definitivamente debaixo da mão pesada do dr Salazar, pode estar habituado a viver sempre ao som do chicote. Pode até aceitar isso. Todavia a democracia é também, exactamente, a recusa disso, do chicote e do estado de espírito que ele inspira. Ou seja é preciso, uma vez por todas, alguma sensatez, alguma polidez, algum sentido critico quanto ao dever. Ou como os romanos, ou alguém por eles, diriam: est modus in rebus.

Um abraço
mcr

22 janeiro 2008

A ASAE


Como é sabido, porque amplamente divulgado, o inspector-geral da ASAE vai ser ouvido hoje na comissão parlamentar de Assuntos Económicos, a pedido do CDS- PP. Aliás, para compor o ramalhete, este mesmo partido criou um endereço electrónico para receber as queixas dos portugueses relativamente à ASAE. Acho notável este tipo de preocupação. Num país onde a contrafacção impera, onde a falta de higiene e de condições é regra nos nossos restaurantes e pastelarias, onde as leis não são para serem cumpridas mas sim contornadas, ataca-se a ASAE. Parece-me bem. Estavam a dar muito nas vistas, trabalhavam excessivamente. Parece até que os quatro mil processos-crime relativos a material falsificado que instauraram nenhum deles foi ainda julgado. Não pode ser. Além de trabalharem dão que fazer aos outros. Assim sendo, vamos lá a ver por onde podemos pegar com esta malta da ASAE. Usam meios aparatosos, não pode ser. Inviabilizam a Bola de Berlim nas praias, ora nem pensar! Fecham restaurantes por questões de higiene, lamentável porque todos gostamos de comer um bife bem passado… no tempo.

Dificilmente se ouve ou se lê uma palavra que seja de apoio ao trabalho que a ASAE desenvolve. Porque será? Que se refiram os excessos e se questione alguma ausência de bom senso é uma coisa, agora que se denigra por inteiro uma entidade que funciona neste país é algo que tenho dificuldade em encaixar. Quem sabe minimamente o que se passa nas cozinhas dos restaurantes e pastelarias deste país só tem que agradecer a actuação da ASAE. Que sejam aparatosos, que sejam amplamente noticiados, que sejam controversos, que actuem. É o que se pede.

Au Bonheur des Dames 107


Uma moedinha para o desempregado

O “Monde” (Le Monde se faz favor) traz hoje um artigo onde se referem os “escandalosos” ordenados, prémios, comissões, subsídios e pensões de reforma dos grandes gestores das grandes empresas. Ou seja, não é um jornal nosso, pejado “ de invejosos”, de gajos que não sabem nada de economia, de gestão de empresas, enfim de esquerdistas (irra, credo!, abrenúncio!) que se atira à dinheirama ganha por uns cavalheiros que, aliás, nem sempre levam a barca a bom porto. Do que li verifica-se que a revolta (generalizada, ou em vias disso) começou há já algum tempo no país campeão da iniciativa privada: os Estados Unidos. E a razão é fácil de descortinar. Na sequência de uma série de escândalos gigantescos que envolveram empresas igualmente gigantescas e que arruinaram multidões (gigantescas, obviamente) de pequenos accionistas que, ao contrário dos gestores das falidas empresas, se viram sem cheta de um momento para o outro. Porque é preciso dizer que a estes gestores das américas miraculosas pouco se lhes dá ganhar ou perder. Porque eles ganham sempre. Já se não fala do ordenado que obviamente é alto. Tão pouco dos prémios que, enfim, sempre se poderiam vagamente justificar pelo acumular de lucros inesperados, muito embora isso, os lucros, devessem ser o resultado natural da acção do gestor. Todavia, o que excita as multidões lesadas e o público em geral é o facto de, na hora da saída por bons ou, sobretudo, maus resultados, o gestor sai com o bolso recheado, muito bem recheado mesmo.
E isso, esse prémio à incompetência, à falcatrua, esse pecado tão comum em países protestantes onde o perder dinheiro num negócio, mais do que um azar, é quase um pecado, ou é mesmo mais do que um pecado, põe as multidões anglo-saxónicas num estado de fúria incontida.
Não admira que, neste jardim da Celeste à beira mar plantado, nesta nóvel e surpreendida “west coast” duma Europa que, paradoxalmente, não nos inveja, também se elevem uns murmúrios indignados quando se sabe da reforma de um desses prodígios do capitalismo que por cá vicejam. Imaginem um pequeno accionista desse banco a quem o dr Vara vai agora oferecer o seu talento prodigioso, que viu a sua carteira encolher como “peau de chagrin” graças à chicana guerrilheira de meia dúzia de barões da finança, saber que os ex-dirigentes expulsos manu militari da direcção da instituição levam para casa um mais que confortável pé de meia, aliás dois pés, vários pés enfim uma centopeia inteira de meias grandes e cheias de cacauzinho...
Felizmente o país é de brandos costumes, as zangas acabam as mais das vezes num “é só fumaça” como dizia um imortal primeiro ministro do século passado. Alguma ardilosa leitora dirá que de todo o modo o escândalo é gordo. Poderá ser, poderá ser mas mesmo isso passa mais depressa que brotoejas da primavera.
E depois... mesmo quando se sabe de fonte certa que a pensãozinha substanciosa existe, há sempre um desmentido. E o desmentido do desmentido. Em que ficamos? Recebeu o ex-boss dos bosses aquele dinheiro que a ávida comunicação social parangonou ou não? E se não, quanto recebeu? Menos cem euros? Menos mil, dez mil, cem mil?
A questão seria ociosa se o visado viesse ao jornal e dissesse: saí do banco X, não recebi nada, um ceitil que fosse a titulo de compensações, indemnizações ou pensão de reforma. Mas os desmentidos nunca são assim. Normalmente desmente-se não o essencial mas o acidental, ou menos ainda. F. vem declarar que não recebe trinta e cinco mil euros de reforma. E trinta mil? Ou trinta e dois mil e quinhentos?
Eu estaria pronto a perceber que um grande patrão de uma grande empresa saia com um boa batelada e o compromisso de não ir trabalhar para a concorrência. Parece-me porém que uma pensão vitalícia de sete mil e quinhentos contos dos antigos, por mês, pode fazer pensar qualquer incauto que não estamos em Portugal mas no Brunei, nos emiratos ou em qualquer outro sítio onde à falta de pardaus corra petróleo em jorros pelas terras de Basto. Pelas minhas contas, mesmo sabendo que o gestor em causa se reformou por doença (e aproveito para lhe estimar as melhoras se é que melhoras pode ter) o banco poderá ter que desembolsar durante umas dezenas de anos uns largos milhões de euros, mesmo que o pensionista não tenha direito a 13º mês e subsídio de Natal. O que, diga-se de passagem, seria uma grande sacanice que lhe fariam.

mcr, enviado especial ao Porto, diante duma televisão que felizmente lhe está a proporcionar uma genial interpretação do “Barbeiro de Sevilha” (canal ARTE) o que o salva do deprimente espectáculo do 1º canal onde um Director Geral de Saúde gagueja e brande partículas de ar permitidas para o futuro contra cinquenta mil estabelecimentos construídos num venerável passado. Não seria melhor demoli-los todos e criar cantinas radiosas de saúde de higiene com ar quimicamente puro, água destilada e comida liofilizada, vitaminada, bebível por palhinha esterilizada, num mundo sans peur ni reproche mas com muitos e bons banqueiros para emprestar os capitais necessários aos produtores de tabaco da zona da Beira Interior, para investir na Tabaqueira, em mais um par de Casinos sem os quais a civilização é uma palavra vã e as leis uma pálida cópia do código de Hamurabi?

21 janeiro 2008

Os Novos Circos e Contra-Circos da Economia

Hoje há um fogo ao longo das casas, a desafiar as casas. E os que vão até ao lado ficam fascinados com esta corrida do tempo. Inédito, dizem os que passam por cima das brasas. E vão todos telefonar aos filhos, a dizer o que já se sabe. No fundo, o que querem é que a televisão apareça e entreviste muitos. É urgente que se filme o nosso declínio. De todos os lados emergem seres com olhar cheio de espanto. Talvez seja a consequência natural da fome encoberta que se espalha ou da perda que dá lugar a sentimentos próprios da frustração que sobe pelas janelas. Pressente-se a volatilidade dos dias. E o que muda é a distância entre os que têm e os que não têm, entre os que alcançam a porta e o batalhão imenso que soçobra. Cada vez mais se acentua a ironia do destino. Não há razões para ter esperança, excepto para os que já têm e sabem que vão continuar a ter. Os novos sistemas políticos funcionam assim. Gastam e gastam para que os que têm passem a ter mais e mais. É o princípio da acumulação restrita. Depois, quando tudo parece complicado, define-se um novo desígnio: repor o equilíbrio. É a contracção da economia. Só que, nestes tempos de fogo, a mesma família política que gerou o desequilíbrio é a que vai repor o equilíbrio. Ou seja, são pagos para equilibrar e para desequilibrar. São os modernaços circos e contra-circos da economia. E o grosso da população, incluindo a classe média, cada vez mais banda larga e de consciência ainda mais alisada, lá vai gemendo (baixinho) e pagando a quem lhe organiza o espectáculo e gere a vida.

"manda quem pode, obedece quem deve"

(...)
"O equilíbrio de poderes do Estado, para Alberto Costa, cinje-se a muito pouco: os eleitos mandam, legislam e os restantes eleitores obedecem. Não têm que criticar nada, porque não foram eleitos. Eles é que foram e por isso, legislam. Os outros, acatam, sem refilar muito. No fundo, não difere muito do velho aforismo salazarista: manda quem pode; obedece quem deve. (...)
quem pretende retirar qualquer legitimidade de crítica a medidas legislativas de cariz judiciário, vindas dos sectores mais ambientados nelas e que por isso melhor prevê os respectivos efeitos, está a esquecer várias coisas essenciais numa democracia moderna."

excerto da detalhada análise da entrevista dada pelo M.J. à revista Visão de 17 Jan., a ler na íntegra aqui.


O PGR e o novo CPP:

"escusava de se estar a maçar"

Quando o Governo anunciou o seu Código de Processo Penal, que depois passou a dizer ser o Código da Assembleia da República, por ter sido viabilizado por esta, figuras de relevo do Ministério Público vieram a capítulo a criticá-lo com veemência.
Parecia que depois dele era o dilúvio, o caos.
O Código, entretanto, entrou em vigor, impondo-se aos que trabalham na Justiça.
Constou, entretanto, que o Procurador-Geral da República iria propor modificações ao diploma. Os mais cépticos vaticinaram que o Governo nunca cederia.
Eis agora o que Fernando Pinto Monteiro trouxe ao ministro da Justiça como sugestões de alteração ao CPP.
Esperavam ainda alguns ingénuos que as sugestões de reforma estivessem, na sua extensão, à medida das críticas.
Lendo o que o PGR apresentou, e vendo que são estas, desiludam-se os esperançados. (...)
Lê-se e nem se acredita que não há mais.
Do texto onde estão as chamadas «propostas de alteração» consta:

«As questões relativas à interpretação e aplicação das disposições do Código de Processo Penal, decorrentes das profundas alterações introduzidas pela Lei nº 48/2007, de 29 de Agosto, foram amplamente debatidas com os Magistrados do Ministério Público mais directamente implicados nas fases do inquérito e da instrução do processo penal, em reuniões efectuadas nos dias 13 de Setembro e 15 de Novembro de 2007. Dessas reuniões e das comunicações que entretanto foram recebidas na Procuradoria-Geral da República sobre esta matéria, resultou a conclusão segura e unânime de que o âmbito de algumas das inovações introduzidas que especialmente no domínio da “publicidade do inquérito” e do “segredo de justiça”, não é compatível com as exigências de eficácia da investigação criminal, que ao Ministério Público compete dirigir».

Notável!Depois de reuniões, ante comunicações, as questões «amplamente debatidas» são estas, as do segredo de justiça e nenhumas outras?
Claro que perante quem com tão pouco se contenta, o Governo sabe como tratar do caso:
«daqui a dois anos falamos»
. É como se dissesse ao PGR: «muito obrigado, pode deixar, escusava de se estar a maçar».

texto integral no Patologia Social

20 janeiro 2008

Proposta construtiva:

cada martelada 1 €



dorme


dorme entre os dedos
a rosa viva
no meio da noite
e os lábios dizema palavra impossível
lâmina em meio ao delírio

no escuro os olhos cantam
uma canção liberta
o corpo desorientado
sabe apenas ser corpo

uma harpa estremece
embala os cabelos
a irem e virem
e um nome improvável.


silvia chueire

Linha de montagem


"Ouvi hoje na televisão o bastonário dos advogados a dizer, ex catedra, que o «sistema» está todo mal… pois que os juízes haveriam de ser distinguidos uns dos outros, para efeito de progressão na carreira e também retributivos, em razão do número de decisões produzidas. Pois claro. (...)
Há países onde as pressões populistas destes incendiários pós-modernos levaram a sua avante e a experiência foi feita. Deu mau resultado. Claro. Veja-se o exemplo espanhol, apenas por ser aquele que temporal e geograficamente nos é mais próximo e que o senhor bastonário pelo visto não conhece (mas devia)." (...)

texto integral no Joeiro

Também sobre este tema ler no In Verbis
(atenção aos comentários ao post linkado; aqui vai um exemplo: )

... : Incrédulo
O Bastonário foi mal entendido. O que quis dizer é que também deve ser tido em conta aquilo que dizem ser asneira. Meus Senhores: Não é isso tido em conta com as inspecções?
18.Janeiro.2008

... : Bruno P.
Não, Incrédulo, não foi isso que sr. bastonário disse e se queria dizer outra coisa, que falasse abertamente.
Quis mandar bocas, dizendo que quem faz muitas sentenças e não tem recursos das suas decisões ou as vê confirmadas devia ter maior remuneração. Não foi só de subida na carreira, foi também a título de remuneração, apontando como exemplo o que aconteceu na Espanha, que foi posteriormente julgado inconstitucional e cujos efeitos são nefastos na produtividade e na eficácia da justiça espanhola que, nesta como noutras questões é maltratada pelos políticos de lá tal como os de cá. E com bastonários que atiram gasolina para o fogo, pior estamos.
18.Janeiro.2008

Posts também no Patologia Social e no Sine Die este e este.

18 janeiro 2008

PSD Notícias

Luís Filipe Menezes e o PSD andavam há dias pressurosos numa diatribe contra as televisões pelo facto de não haver “ortodoxos” da linha oficial do partido nos debates televisivos. Segundo os próprios, haveria que encontrar uma alternativa a António Vitorino na RTP, outra a Marcelo também na RTP e ainda outra a Pacheco Pereira na “Quadratura do Círculo”. Reclamavam até que também devia haver lugar para os “heterodoxos” do PS – Alegre, Seguro e outros que tais – para que estes batessem em Sócrates. Pior é impossível!

Vá lá que não se lembraram dos debates dos futebóis, porque nesse caso ter-se-ia que encontrar alternativas para os ortodoxos Fernando Seara, vice-presidente do PSD, e José Guilherme Aguiar, vereador de Menezes em Gaia, no programa que ocupam na SIC Notícias.

Contudo, nesta mesma semana, a SIC Notícias entrevistou Santana Lopes na terça-feira e o próprio Menezes ontem à noite. Fossem eles do PS e Menezes estaria a dizer que a SIC Notícias estava a soldo do PS. Assim, de que será acusada a estação de Balsemão?

A verdade é que Menezes não consegue encontrar o rumo certo e arrisca-se a afundar ainda mais o PSD. Com esta oposição frágil e leviana, Sócrates não tem adversários em jogo.

17 janeiro 2008

Tribunal de Contas Europeu

Segundo o Diário Económico de hoje, o Juiz Vítor Caldeira foi designado Presidente do Tribunal de Contas Europeu. Acredito que este facto dignifique a justiça portuguesa e o próprio país.

Au bonheur des Dames 106


Os tempos e os costumes

Recebo um mail onde me contam uma história exemplar. Um senhor presidente de uma “Entidade Reguladora”, um desses organismos que não param de me surpreender porquanto nunca lhes vi utilidade que compensasse minimamente o que custam ao erário público e aos bolsos do contribuinte privado, demitiu-se.
Primeira surpresa: esta gente nunca se demite. Ou então demite-se com uma pistola apontada ao peito, uma faca encostada aos gorgomilos, ameaças contra a família e mais uma série de coisas que nem ao cérebro enlouquecido de um serial killer costumam ocorrer. Não se demitem e só com muita força e habilidade é que se consegue desencostá-los da mesa do orçamento onde copiosamente se vão servindo.
Mas este demitiu-se. “Bravo” dirá a leitora gentil e distraída, mais inocente do que convém a uma donzela nestes tempos onde não há capuchinho por mais vermelho que seja que a salve, floresta por onde se possa esgueirar, avozinhas doentes e restante parafernália. Nos tempos que correm os lobos andam escafedidos porque o homem, o bicho homem, arregaçou a beiça e mostrou com quantos colmilhos pode morder.
A leitora que esbravejou vai para o canto da sala e põe orelhas de burro. Se a pedagogia moderna dessa senhora que dá por ministra da educação (não se riam que é assim mesmo que lhe chamam...) ainda o permite.
E vai para o cantinho porquê? Porque é parva de atar, tonta, tontérrima, e diz coisas tolas. Já lhe disseram que os gestores deste género nunca se demitem e põe-se a aplaudir o tal que se demitiu. Então não percebeu que por ali anda marosca?
Andará?
Os leitores julgarão.
Este presidente de “entidade reguladora” demitiu-se sim senhor. Estará doido? Haverá doidos nessa categoria de criaturas que se sucedem umas às outras á frente dos mais variados institutos, entidades, empresas públicas & similares?
Não, reponta, lá do fundo, o leitor José.
Não, faz-lhe eco o leitor Manuel Sousa Pereira que conhece de ginjeira os gestores desta sub-raça lusitana.
Não, não e não, crocitam indignadas as leitoras ofendidas por eu ter ofendido a leitora acima citada que continua de castigo.
Claro que não, homens de Deus! E mulheres, acrescento, ainda que in imo pectore, murmure “do diabo”.
O senhor presidente da tal “entidade reguladora” de mes deux, demitiu-se mas conserva o cacau mensal que a alta justiça da mesma entidade reguladora do raio que a pariu, decretou como salário modesto mas digno para tão ilustre a atarefada criatura. Ou seja 12.000 eurinhos mensais. O mesmo é dizer dois mil e quatrocentos contos dos antigos. E por dois anos, coitado, até arranjar um emprego que o alivie da maçada de ter de viver com esta miséria.
O mail recebido pergunta-se retoricamente: mas se o gajo se demitiu porque raio continua a “mamar”?
Respondamos, elevando o nível:
Um presidente de uma entidade reguladora, instituto público, empresa pública ou similar não mama. Recebe honorários. Modestos mas ele, possuído pelo amor impensado pela “res publica” não olha a sacrifícios: “tudo pelo Nação, nada contra a Nação”.
E o facto de continuar a receber o pequeno estipêndio de uma dúzia de milhares de euros mensais é apenas uma obrigação decorrente dos estatutos da entidade reguladora. Ele limita-se a cumprir a lei ou, no caso vertente, a deixar que a lei cumpra para cima dele esta cornucópia de pardaus.
E quem é que estabeleceu os estatutos da “entidade reguladora”?
Para já essa pergunta é capciosa e indica má fé. Mas como a “entidade” e o digno demissionário nada têm a esconder, sempre se esclarece que os estatutos da entidade reguladora foram redigidos pela sua direcção como está bom de ver. Ou queriam que fosse o vizinho da frente? Ou o comandante Fidel de Castro? Ou o aiatolah Komeiny?
As entidades e as enteléquias são autónomas e fazem o que têm de fazer dentro dos limites generosos da lei que as pariu. Esta, através dos seus órgãos sociais, legalmente constituídos, deu aos presidentes demissionários (e aos colegas menores mas directores quand même...) esta pequena satisfação. Recebem até um prazo máximo de dois anos (e que são dois anos na história do mundo? Um soluço, um esgar, quiçá um traque, vulgarmente designado por peido, enfim um arzinho da sua graça, o que quiserem) o salário modesto que por sacrifício e sentido de Estado se atribuíram. Até encontrar um emprego digno. A lei é omissa, julgo, quanto a pareceres esporádicos, prémios de lotaria, ofertas por aniversários, gorjetas e outros recebimentos de carácter esporádico ou irregular.
Quem se demite tem de salvar a sua dignidade. Imaginem que além de se demitir ainda lhe retiravam o ordenado. Onde é que se viu uma coisa dessas? Em Portugal os demissionários, por exemplo o caixeiro da mercearia ali da esquina, que se chateou por o mandarem trabalhar a desoras, e se demitiu continua a receber do patrão inoportuno o cacau que mensalmente lhe cabia enquanto trabalhava. Ai não é assim? Depressa chamem a ASAE para punir o capitalista relapso e incumpridor!
É claro que isto que venho relatando é obviamente uma brincadeira. Não há entidade reguladora, não há presidente, não há demissão, não há 12000 euros (no meu bolso) ninguém seria capaz de uma coisa destas, sobretudo num país onde as galinhas têm dentes, as crianças estudam, a ministra é um génio e a corrupção uma miragem.
De Carcavelos para o mundo culto e oculto, esta foi mais uma hist(ó)eria de mcr chevalier servant de Ces Dames.

a gravurinha, um cartaz do Maio de há quarenta séculos, devia ser uma advertência ao escriba. Mas este não tem juízo é, ele também, um relapso, um marau, um cospe contra o vento. E além do mais é um invejoso. O que ele queria era ser presidente de uma entidade reguladora, é o que é. Comunista!

Cabecinha a jeito

É por estas e por outras que eu acho que, por vezes, os magistrados põem a cabecinha a jeito. Três listas disputam as eleições para o Conselho Superior do MP. E já se fala de impugnações, favorecimentos e outras coisas pouco abonatórias. Chamem a polícia!

http://dn.sapo.pt/2008/01/17/sociedade/eleicoes_mp_ameaca_impugnacao.html
.

16 janeiro 2008

missanga a pataco 41


Não sei se as leitorinhas gentis repararam mas a contra-almirante Kamikaze está que ferve. Uma rua em estado lamentável atirou-a para uma forçosa mas não gozosa imobilidade o que teve como consequência agradável (sempre há males que vêm por bem...) tê-la de novo aqui, ao leme desta galera, a carenar o casco da embarcação que andava, aliás a pedir estaleiro, a tornar mais cómoda (espera-se) a consulta dos textos antigos enfim a “dar um ar de sua graça”.
Eu obediente, como compete a um marinheiro raso, já meti no post que acabo de publicar o meu mcr em maiúsculas e com pontinhos como está na “badana” do blog. Eu bem que gostaria de continuar nas minúsculas que são mais “gauche”, mais da praia de Buarcos, mais próprias de quem canhoto nasceu e canhoto continua, mas temo bem que por razões inefáveis que me escapam, tal não possa ocorrer. Paciência e siga a rusga...
E fiz mais: coloquei obedientemente o mcr em primeiro lugar. Bem, isso foi só à segunda vez, porque estouvado como sou (e não deveria ser que a idade já não está para esses carnavais) tinha primeiro posto o nome da série (estes dias...) e só depois o nome do escriba. Um fatal pressentimento obrigou-me a ir rever a colocação dos nomes nos posts mais próximos e claro, vi logo, que tinha dado com os burrinhos na água. corrigi, obviamente, que agora, maravilha fatal da minha idade, já sei corrigir os erros editados.
Se isto continua assim ainda me promovem a contra-mestre de redes ou mesmo, ai que sonho tão alto, a mestre chalandreiro, esse mesmo, o tripulante da chalandra aquele barquinho que vai rebocado pela traineira.

A gravura representa um atuneiro de cerco mas traz uma chalandra como podem ver

15 janeiro 2008

Estes dias que passam 90


Saem mal no retrato

Parece que o senhor dr. Augusto Santos Silva resolveu pronunciar-se sobre a presença do dr. Bagão Félix, um cavalheiro reformado da Banca, na lista apresentada pelo dr. Cadilhe para o Millenium-BCP.
Em resumidas contas o dr. Santos Silva achou suspeita a presença do ex-banqueiro Bagão num encontro do PPD. Apesar do encontro já se encontrar agendado quando apareceu a lista Cadilhe, o dr. Santos Silva viu nessa coincidência mais do que uma coincidência.
É curioso relembrar que o país ou alguma parte dele e a maioria dos comentadores achou que a ida do dr. Santos Ferreira para a futura direcção do Millenium-BCP, levando ao colo essa sumidade financista que é o dr. (pela universidade independente...) Armando Vara, conhecido aparatchik do PS, poderia ser entendida como um assalto deste partido ao maior banco privado português.
Eu não me atrevo a pensar que as palavras do dr. Santos Silva seriam uma tentativa de resposta, olho por olho, dente por dente, às acusações acima referidas. Isto porque o argumento me parece canhestro. Todavia...
Todavia não consigo encontrar outra explicação lógica e racional para a conclusão que parece ser a do dr. Santos Silva: que a eventual entrada de Bagão, ex-banqueiro e chorudamente reformado na direcção do BCP era a invasão do PPD, ou pelo menos uma manobra política deste partido, enfim algo de horrível e tenebroso.
Não nutro pelo dr. Bagão qualquer simpatia, bem pelo contrário: sempre o tive por um papa hóstias com ar de virtuoso e como político sempre me pareceu irrisório. E depois não me caiu bem que a mesma pessoa que entendia que as reformas dos trabalhadores deveriam ocorrer bem tardiamente se tivesse reformado com uns escassos cinquenta e poucos anos. Eu acho que estes opinantes duros e puros devem dar o exemplo. Mas não foi isso que sucedeu.
E obviamente não entendo como é que um cavalheiro que se reformou da banca vem agora mansamente repegar ao serviço. Na mesma área parece-me demais. Claro que outro galo cantaria se o dr. Bagão viesse pôr o seu incomensurável talento ao serviço do BCP sem cobrar por isso um cêntimo. Mas creio que as histórias piedosas da carochinha já não têm curso legal neste labirinto infernal da alta banca à portuguesa. (disse alta banca e não tourada...)
Porém, tentar vender a entrada (a meu ver menos desastrada do que a de Vara na outra equipa administradora) de Bagão no grupo de Cadilhe como uma intromissão do PPD ou genericamente da oposição na condução do banco obriga-me a dar razão à indignada gritaria de Bagão.
O dr. Santos Silva tem-se revelado melhor do que a encomenda: gosta de dizer coisas, sobretudo se forem assim “fracturantes”, tonitruantes. Usa, aliás como Bagão, um ar de sacristão e pimba: aí vai disto. Convirá porém meditar um pouco e perguntar-mo-nos o que o faz correr. Já não falo da ambição porque um político tem obviamente de a ter. Há mais qualquer coisa e essa é uma incapacidade de medir as palavras. Dir-se-ia que tem menos vinte anos do que realmente tem. Eu bem sei que quando era novo (cronologicamente...) o dr. Santos Silva parecia velho, bastante velho, até, se bem me recordo. Era professoral e lembrava-me, longe vá o agouro aqueles intelectuais politizados que bebiam, comiam, respiravam e defecavam Trotsky. Erguiam o dedinho e zás!, lá vai mais uma de teoria revolucionária pura e dura, a desfazer a salgalhada barata e torpemente humana do maralhal. Terá sido isso, trotskismo aparte, que leva o dr. Santos Silva, agora, quando já não é tenro a tentar recuperar a mocidade que nunca teve nem viveu com uns arrincanços de rapazola atrevido.
Só que seria bom recordar-lhe que o que fica bem a um agitador estudantil ou ao dirigente de uma juventude partidária cai mal num ministro. A um ministro, pede-se contenção já que, como se provou com o senhor do “jamais” não se pode pedir mais comedimento no uso das línguas estrangeiras.

Museu do Pão

O Museu do Pão é um complexo museológico privado onde se exibem e preservam as tradições, história e arte do pão português. Em mais de 3.500m² o visitante encontra uma gama de actividades destinadas à cultura, pedagogia e lazer.
Através de quatro salas expositivas e de vários outros espaços do complexo museológico, poderá conhecer os antigos saberes e sabores da terra portuguesa.


Tertúlias
No derradeiro sábado de cada mês, o museu convida uma personalidade da cultura portuguesa, que no Bar-Biblioteca conversa com o público. Deste modo se procede a uma aproximação entre personalidades culturais portuguesas e o público, numa frutuosa troca de ideias. Estas tertúlias, por onde têm passado algumas das mais ilustres personalidades culturais portuguesas, em muito tem contribuído para a dinamização da região serrana, tendo já alcançado assinalável projecção.

Dia 26 de Janeiro, 22h00 - SÉRGIO GODINHO

Exposições Temporárias
Várias exposições temporárias já passaram pelo espaço reservado para tais eventos, na Sala da Arte. O destaque que têm alcançado na Comunicação Social e na apreciação do público atestam a sua qualidade. Estas exposições duram em média seis meses.

Actualmente está patente ao público, até Abril de 2008, a Exposição Temporária “Saborosos Postais”.




As sementes do fascismo


«Pode parecer que não, mas as sementes do fascismo estão aí: populismo e demagogia na política, insegurança e medo nas consciências, saudades do passado, rendição a quem vier e que mande nisto, o capital sem moral, o trabalho sem valor.»

J.A. Barreiros - texto integral aqui.

14 janeiro 2008

As Crianças… Senhor

A mendicidade infantil já não incomoda grandemente. É uma simples notícia de Jornal, banal, com justificações que nem o chegam a ser. Os jornais deram a notícia e pronto, tudo como dantes. Vamos aguardar pelos números do próximo ano. Talvez não sejam piores. As estatísticas estão a ser revistas e melhoradas.

Não deve ser por falta de legislação de protecção a crianças e jovens. Tão pouco deve ser a falta de instituições (públicas e privadas) que se ocupam a enquadrar crianças e jovens. Também não deve ser a falta de recursos financeiros, porque sempre se ouve dizer que as crianças são o futuro, logo a principal prioridade, o que significa afectação de meios.

Então, como justificar que seres indefesos sejam proscritos, abandonados ou mesmo explorados, em todos os sentidos? A resposta deve ser a do costume: É esta sociedade maldita; é a crise; é a dissolução da família. Assim se lava e justifica tudo.

Só que a notícia diz que a Escola expulsa porque se deu um dado número de faltas; a Junta de freguesia nada diz, a Santa Casa, por sua vez, diz não ter competências para intervir, o que é negado pelo Ministério da Solidariedade Social, que diz que é à Santa Casa que compete intervir.

Afinal o problema adicional é que há entidades a mais, sendo que não sabem exactamente quais as suas competências.

Para compor o ramalhete existe, ainda, alguém responsável pela gestão de uma coisa a que chamam Linha de Emergência Social do Instituto de Segurança Social, a esclarecer que podemos estar todos tranquilos porque não têm qualquer registo de crianças a mendigar.

Contudo, face à evidência que mostra que há crianças a mendigar, eu tenho uma explicação para a falta de registo que eles anotam. É que os funcionários e responsáveis da tal Linha estão todos escondidos atrás da dita Linha, se andassem cá por fora, com olhos de ver, veriam as crianças a mendigar, só ou acompanhadas.

A juntar às entidades já referidas há, ainda, as Comissões de Protecção de Menores e Jovens em Risco, que segundo um dos seus responsáveis explica o fenómeno das crianças a pedinchar porque “quanto mais tempo estão na rua a pedir, mais dinheiro conseguem obter” (deve ter estudado muito para chegar a esta conclusão) e “este fenómeno revela um padrão de marginalização social.

O trabalho que devem ter tido para tirar tão sábias e doutas conclusões, entretanto, a pedinchice (e exploração) continua, com as diversas entidades (polícia incluída) a reflectirem (ainda acabam por encomendar um estudo) para ver se descobrem quem deve fazer o quê, neste domínio.

Demolidor!


Mário Crespo, lido aqui:

A máscara privada do monstro público


Estamos em vias de nos endividarmos mais do que nunca com a construção de um novo aeroporto. A primeira derrapagem nos custos é anunciada num suposto direito a indemnizações que a Lusoponte julga ter quando houver outra ponte sobre o Tejo. Alega-se um "exclusivo" das travessias entre Vila Franca e o mar negociado pelo Engenheiro Ferreira do Amaral quando era Ministro de Cavaco Silva. O mesmo Ferreira do Amaral (ontem concedente hoje concessionário) que agora como Presidente da Lusoponte reivindica compensações financeiras em nome de um absurdo ponto contratual por ele aprovado. Se a Lusoponte tem direitos leoninos sobre um nó vital das comunicações nacionais, não os pode ter. O governo Sócrates tem tido o mérito de nos surpreender pela frontalidade. Se erra diz que errou e volta atrás. Isto é raro nos que nos governaram sem erros e sem dúvidas. Por isso talvez seja altura de parar com este baile de máscaras que tem sido a criação de híbridos que se comportam como se fossem entidades privadas e não o são. A Lusoponte não é mais do que capitais públicos, empréstimos avalisados pelo estado Português, dívidas e pequeníssimos pacotes de capital de especuladores privados que investiram em busca do lucro garantido da exploração das duas grandes pontes. Por poucos que fossem estes financeiros, eram importantes para afinar a mascara de economia de mercado enquanto atrás dela o monstro crescia. Para atrair esses bravos empreendedores, o Estado na versão social-democrata de Cavaco Silva decidiu eliminar o risco do investimento garantindo-lhes um monopólio. E foi assim que pontes construídas com o esforço financeiro do estado português ligando parcelas de território nacional foram alienadas a uma suposta entidade privada cujo património são duas das mais valiosas infra-estruturas de Portugal Uma ponte já inteiramente paga, assente num modelo financeiro duro mas impiedosamente fiscalizador e frontal (daí talvez o seu primeiro nome) e a outra uma maravilha arquitectónica do britânico Lhi construída com dinheiros europeus, empréstimos europeus com o Estado português como fiador e as tais participações irrisórias de "investimento privado" onde pondera, como sempre, a Caixa Geral de Depósitos. Portanto a quase totalidade do capital é dinheiro vindo daqueles 50 por cento da riqueza nacional que o Estado Português actualmente suga a quem trabalha e prodigamente distribui em indemnizações por bravíssimos investidores nacionais e estrangeiros que nada arriscam em monopólios estatalmente garantidos. Depois arranjam-se nomes para dar um ar mercantiloide ao puro e simples gasto que mais tarde ou mais cedo vai ser dívida pública a subtrair ao produto interno bruto. Na ponte Vasco da Gama o termo-chave era que a construção ia ser financiada em BOT (build, operate transfer) sugerindo que havia um diálogo do governo com uma entidade privada autónoma que não passa de mera ficção. Há cinco anos a Lusoponte esteve sob a atenção do Tribunal de Contas que auditou o acordo com o Estado. As conclusões foram arrasadoras. O relatório atestava uma degradação de "boas práticas" a tal ponto que um dos Juízes, o Conselheiro Ernesto Cunha fez uma declaração de voto onde concluía que havia indícios inequívocos de "desequilíbrio financeiro a favor da concessionária Lusoponte" que se traduziam num "prejuízo global para o erário público". Na sua conclusão o Juiz Ernesto Cunha admoestava com firmeza os governantes que tinham negociado tal acordo - considerando-os "passíveis de juízo público de censura". Estamos numa altura excelente para o fazer, acabando de vez com os ruinosos negócios com a Lusoponte dos governos de Cavaco Silva e António Guterres.


Desde Junho de 2007 que a Sílvia anda a escrever belíssima prosa aqui,
"às escondidas" (ou eu estive distraída?)!

13 janeiro 2008

o leitor (im)penitente 31




Ángel González,
boa noite, boa viagem e que encontres um bar amável onde possas continuar a conversar, beber, amar e fumar






O Outono aproxima-se


O Outono aproxima-se quase sem ruído
apagadas cigarras, alguns grilos,
defendem o reduto
de um verão obstinado em perpetuar-se
cuja sumptuosa cauda ainda brilha lá para o este.
Dir-se-ia que aqui não se passa nada,
mas um silêncio súbito ilumina o prodígio:
Passou
um anjo
que se chamava luz, ou fogo, ou vida.
E perdemo-lo para sempre.

Cantiga de Amiga

Ninguém recorda um inverno tão frio como este.

As ruas da cidade são lâminas de gelo.
Os ramos das árvores tem luvas de gelo.
As estrelas tão altas são clarões de gelo.

Gelado também está o meu coração,
mas não foi o inverno.
A minha amiga,
a minha doce amiga,
a que me amava, diz-me que deixou de me querer bem.

Não recordo um inverno tão frio como este.


Nada mais belo

Esse raio de sol inesperado
que cintila na neve
recém-caída!

Mas muito mais belo era o sorriso
que iluminava um rosto
ainda molhado pelas lágrimas.


Um longo adeus

Ó que dia preguiçoso
que não se quer ir embora
hoje, na hora devida.
O sol,
já por trás da linha lúcida
do horizonte,
puxa por ele,
chama-o.
Mas
os pássaros enredam-no
com o seu cantar
nos ramos mais altos,
e uma brisa contrária
mantém suspenso o pó
dourado da sua luz
sobre nós.
Sai a lua e continua a ser dia.
A luz que era ouro é agora de prata.


Em Outubro de 2007 saudei por aqui (Voz alheia (3)) os 82 anos de Ángel González, poeta da geração de 50, exemplo de vida, de literatura, de dignidade. E juntei um retrato dele, sentado diante de um copo com um qualquer álcool e o eterno cigarro. Hoje os jornais espanhóis dão a notícia da sua morte. Deixa uma oba memorável (aconselho “Palabra sobre palabra”, Seix Barral, que reúne a sua poesia até 1992 ou, na colecção visor de poesia, “ A todo amor” antologia personal, de 1996. Os poemas aqui pobremente traduzidos pertencem todos a “Otoños y otras lucestusquets 2001.
As leitoras e leitores que me aturam perdoarão o atrevimento da tradução mas esta pareceu-me ser, apesar de tudo, a mais sincera homenagem a um poeta e a um cidadão exemplares.

ÍTACA




Quando partires de regresso a Ítaca
deves orar por uma viagem longa,
plena de aventuras e experiências
(…)

Que sejam muitas as manhãs de Verão,
Quando, com que prazer, com que deleite,
Entrares em portos jamais antes vistos!
Em colónias fenícias deverás deter –te
para comprar mercadorias raras:
coral e madrepérola, âmbar e marfim,
e perfumes subtis de toda a espécie:
compra desses perfumes quanto possas
e vai ver as cidades do Egipto,
para aprender com os que sabem muito.

Terás sempre Ítaca no teu espírito,
Que lá chegar é o teu destino último.

Mas não te apresses nunca na viagem.
È melhor que ela dure muitos anos,
que sejas velho já ao ancorar na ilha,
rico do que foi teu pelo caminho,
e sem esperar que Ítaca te dê riquezas.

Ítaca deu –te essa viagem esplêndida,
Sem Ítaca não terias partido.
Mas Ítaca não tem mais nada para dar –te.

Por pobre que a descubras, Ítaca não te traiu.
Sábio como és agora, senhor de tanta experiência,
terás compreendido o sentido de Ítaca.


Constantino Kavafis (1863-1933)
(versão de Jorge Sena)

Seguindo em frente

(...)
"Dizem que o sofrimento faz crescer, mas isso é uma grande treta: esta ideia (um mero mecanismo de compensação) é uma muleta, como deus, que nos ajuda a suportar a bordoada e a ultrapassar os estragos. A dor não nos amadurece; antes, torna-nos mais pungentes as fragilidades e inseguranças, definindo a carvão grosso o nosso sentido de mortalidade. Não seguimos em frente por causa da dor; seguimos em frente apesar dela. O que nos faz maiores e mais lúcidos, o que nos empurra pelas costas, é o amor, isso sim. "
(...)
excerto de um belíssimo post da vieira do mar, que pode ser lido na íntegra aqui

Diário Político 74



No ano de 1975, se a memória não me falha, tive a honra de conhecer e ouvir durante um par de horas Don Pepín Bello. Em 1982 voltei a ter o prazer o de o ver e ouvir numa sessão da Residencia de Estudiantes.

no momento da sua morte, seja-me permitido, tirar lenta e metaforicamente o chapéu e dizer, também eu, "ola Pepín!

E muito, muito, obrigado

d'Oliveira

O leitor (im)penitente 30


Os três mosqueteiros eram quatro

Creio que nenhuma leitora contestará a razoabilidade do meu título que, mais do que uma homenagem a esse homem generoso que se chamou Alexandre Dumas, vem apenas deixar uma pequenina flor na tumba do último membro da geração de 27.
Refiro-me, claro, à geração de Lorca, Buñuel e Dali e à famosa “Residencia de Estudiantes”, em Madrid, ponto de encontro de uma plêiade de intelectuais onde não faltam Cernuda, Salinas, Neruda, Alberti e sei lá quem mais. De longe em longe, de muito longe em longe, aliás, acontece um milagre destes. Convenhamos que aqui tão perto, e tão longe ao mesmo tempo, é obra. Portugal assistira no meio da geral indiferença ao eclodir da geração do “Orfeu” que passou despercebida até bem tarde e que nos anos trinta estava esquecida e enterrada sob o manto espesso de uma literatura semi-oficial e subserviente. Em Madrid (mas também em Sevilha, Valência, Granada ou Barcelona) os tempos eram clementes para a criação artística e literária. E o público, que o havia e não era escasso, reconhecia e reconhecia-se nessa geração impetuosa que só por si teria justificado uma Espanha nova e viva.
Morreu ontem, sexta feira, aos 103 anos (bonita idade) José Bello Lasierra, Pepín, o amigo íntimo, o cúmplice, o defensor dedicado, desse grupo de amigos de que ele, “sem ser poeta nem pintor (Buñuel), foi um dos pilares.
É extremamente difícil pensar a geração e a maneira de estar de alguns dos seus mais destacados membros sem recorrer ao incontornável Pepín. Para além de se lhe poderem seguramente atribuir algumas das trouvailles surrealistas do cão andaluz e de ter sido um dos mentores da homenagem a Luis de Gôngora em Sevilha, sabe-se que era à volta dele que se reuniram as estrelas da casa!!! Centenas de cartas de e para ele forneceram e ainda fornecem pistas interessantíssimas e entusiasmantes para o estudo da geração e sobretudo dos “residentes”. A permanente disponibilidade de Pepín, a excelente memória que nunca perdeu tornaram-no uma testemunha imprescindível e generosa a que recorreram quase todos, senão todos, os estudiosos. Aliás foi até à sua morte presidente de honra da Asociación de Amigos da la Residência de Estudiantes e era Amigo e Bienhechor de la Institución Libre de Enseñanza, hoje Fundación Francisco Giner de los Rios.

Na fotografia: da esquerda para a direita: de pé ao fundo, Lorca (6º), Buñuel (8º) Alberti (10º) Neruda (13º). Sentados Maria Teresa León (6ª) mais tarde mulher de Alberti. À frente, Pepín (3º)