20 novembro 2004

O Natal aproxima-se

Aproxima-se o Natal, uma data com forte sentido religioso. Sabemos que a palavra religião tem possivelmente duas origens etimológicas: pode ter raiz no vocábulo latino re-ligare - unir intimamente, vincular, atar – e, neste caso, sublinha uma relação entre o homem e algo que o transcende ou pode ter origem em re-legere – que significa tornar a ler, voltar a uma tarefa anterior, retomar os sinais com vista a uma nova reflexão.
Tanto num caso, como no outro, o que está em causa é a necessidade do homem encontrar uma resposta para a sua experiência de incerteza, de angústia e de infortúnio. Kierkegaard considerava que o homem é formalmente angústia, uma existência entre o ser e o nada. Heidegger escreveu que o homem é um ser para a morte, um ser que vem do nada e que caminha irremediavelmente para o nada. Sartre definiu o homem como uma «paixão inútil». E Albert Camus, sentindo a experiência da guerra, desabafou que o homem é um contínuo absurdo, algo irracional e sem sentido, mas digno e respeitável. Todos sublinharam o que cada um de nós sente na sua própria solidão. O Natal, ao confrontar-nos com algo que nos transcende, abre-nos para a esperança. E nesta abertura sentimos a amizade, a saudade, o encontro com a família. Talvez a transcendência seja isso mesmo, o valor da amizade, o reconhecimento da saudade ou o sentimento de dor por uma ausência inacessível. São muitas as dúvidas sobre o que configura essa transcendência.
Ser agnóstico é isso mesmo: é não ter certezas, é ser incapaz de encontrar para o sentimento de transcendência uma explicação. E isso é quase trágico.

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