09 julho 2007

Ah, a frescura na face de não cumprir um dever!


Ah, a frescura na face de não cumprir um dever!
Faltar é positivamente estar no campo!
Que refúgio o não se poder ter confiança em nós!
Respiro melhor agora que passaram as horas dos encontros,
Faltei a todos, com uma deliberação do desleixo,
Fiquei esperando a vontade de ir para lá, que eu saberia que não vinha.
Sou livre, contra a sociedade organizada e vestida.
Estou nu, e mergulho na água da minha imaginação.
É tarde para eu estar em qualquer dos dois pontos onde estaria à mesma hora,
Deliberadamente à mesma hora...
Está bem, ficarei aqui sonhando versos e sorrindo em itálico.
É tão engraçada esta parte assistente da vida!
Até não consigo acender o cigarro seguinte...
Se é um gesto,
Fique com os outros, que me esperam, no desencontro que é a vida.

Fernando Pessoa


9 comentários:

Cleopatra disse...

"Está bem, ficarei aqui sonhando versos e sorrindo em itálico.
É tão engraçada esta parte assistente da vida! "

o sibilo da serpente disse...

Este poema é mesmo de Fernando Pessoa? Não sei porquê, mas não me parece...

carteiro disse...

o de cima, sou eu :-)

O meu olhar disse...

Este poema é do Fernando Pessoa. Porque não lhe parece dele?

carteiro disse...

Caríssima:
Porque há um outro dele que é mais ou menos Ai que prazer não cumprir um dever. E não me parece o estilo de FP. Mas devo ser eu que estou enganado. De qual dos livros é?

d' Oliveira disse...

Caro Carteiro: agora com a nova reordenação dos poemas de Pessoa, com o resgate de inéditos e com o estudo das variantes tudo é possível. suponho, não garanto, que a nossa amiga o foi buscar a uma das novas edições porque também eu o não conhecia. Ando ainda a tentar decidir que edição vou comprar. O estilo é Pessoa e as palavras idem: acho de resto um magnifico contraponto ao poema que citou.
e faz bem lê-lo: num mundo de stress crescente Pessoa vale por duas psicanálises.

carteiro disse...

Fui fazer uma pesquisa e , com efeito, este poema aparece noutros sítios como sendo de FP. Eu é que sou um ignorante :-)

O meu olhar disse...

Caros amigos, vi este poema na net , num site dedicado ao Fernando Pessoa. Gostei muito e resolvi colocá-lo aqui. E gostei muito porque ando com excesso de trabalho e ás vezes, no auge da pressão apetece-me ser “livre, contra a sociedade organizada”. Mas isto é só um desabafo de momento porque se há coisa que eu não gosto é não cumprir os compromissos.

Carteiro, uma das coisas boas da vida é a capacidade de estarmos sempre a descobrir. Há uma máxima que eu não sei reproduzir correctamente mas a ideia é mais ou menos esta: o que sabe partilhe, o que não sabe pergunte. Sempre me dei bem com esta máxima apesar de, face a algumas das minhas perguntas haver pessoas que me olham com ar de quem está pensar” Então não sabe isto? Que ignorante”. Eu não gosto mas não me importo … e continuo a perguntar.

carteiro disse...

Olhe, também nunca tive problemas em reconhecer que não sei, quando não sei. Por isso perguntei se o poema era do Pessoa, porque, de facto, não me parece e deu-se a curiosidade de ser parecido com o tal outro.