26 outubro 2007

Para onde vai o meu banco?

Sou cliente do (agora) millennium bcp desde que iniciei a minha vida profissional. Contratei com esse banco os meus compromissos financeiros. Cimentei uma relação de proximidade e de cumplicidade que faz com que viva de perto os seus projectos e os seus desafios. Mas também os seus problemas.

O millennium bcp vive há demasiado tempo um período conturbado. Foi a OPA (falhada) sobre o BPI. Foram os insucessos de alguns projectos, nomeadamente das investidas em mercados estrangeiros. Foi o folhetim da sucessão, dos modelos de governação e das lutas entre administradores. Foram as disputas entre accionistas. Foram as notícias sobre as remunerações auferidas pelos responsáveis dos órgãos de administração e supervisão do banco. Por último, para “embelezar o ramalhete”, surgiram as notícias sobre as dívidas perdoadas a empresas do filho do fundador do banco e que este se viu obrigado a liquidar, perante a pressão do mercado e da opinião pública.

Neste quadro, a proposta de fusão ontem apresentada pelo BPI, que ainda há pouco tempo seria rechaçada de pronto pelos gestores do millennium bcp, pode ser uma boa oportunidade para arrepiar caminho e sair airosamente do quadro negro em que o banco se encontra, num ambiente de descrédito e de desconfiança que o pode tornar apetecível para a banca estrangeira.

A gestão discreta e serena do BPI – à parte as declarações por vezes abrasivas de Fernando Ulrich – permitiu dar passos consistentes na afirmação deste banco. E é muito curioso que seja hoje o banco mais pequeno a permitir ao banco maior encontrar um refúgio seguro. Artur Santos Silva e Fernando Ulrich, com astúcia e persistência, dão um autêntico xeque-mate a Jardim Gonçalves, que perdeu a oportunidade de sair incólume de todo este processo e não soube aprender com o (bom) exemplo do BPI.

Continuo a pensar que é importante para a afirmação do país ter um banco privado forte e consistente, capaz de contribuir para a afirmação dos empresários portugueses nos mercados internacionais e em particular nos países de expressão portuguesa, mesmo se os principais accionistas são de proveniência estrangeira. Espero, por isso, que esta operação de fusão se concretize, com a eventual afinação de um ou outro pormenor, para benefício de clientes e accionistas, do mercado e da projecção dos interesses nacionais.

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