Pelos Pais!
Em comentário a este post MCR diz que “O problema da educação está nisto: as famílias demitiram-se de educar, os pais não querem que lhes molestem as criancinhas, as autoridades querem apresentar bons resultados para as estatísticas europeias como se o passar à borla resolve o crescente analfabetismo das novas camadas etárias.”
Em comentário a este post MCR diz que “O problema da educação está nisto: as famílias demitiram-se de educar, os pais não querem que lhes molestem as criancinhas, as autoridades querem apresentar bons resultados para as estatísticas europeias como se o passar à borla resolve o crescente analfabetismo das novas camadas etárias.”
As consequências do problema enunciado são do conhecimento geral. As causas é que não têm sido assumidas.
O Jornal Público do último dia do ano findo sintetizava, em frases curtas, um conjunto de ideias sobre Portugal. Algumas boas. Muitas a mostrarem “o nosso lado pior”. De entre estas houve uma que me chocou de verdade: “Os jovens Portugueses são os mais alcoolizados da Europa”. Recordo-me que logo a seguir a esta divisa aparecia uma outra a declarar que “Somos os mais pobres da Europa ocidental”.
Então, lembrei-me de ter lido, em tempos, que os jovens portugueses são dos que têm uma mesada mais alta na Europa Comunitária. Contradições? Talvez não. Os pais, mesmo pobres, querem dar do melhor aos filhos.
Acho que tudo isto bate certo e valida o Estudo que a OCDE divulgou no mesmo mês de Dezembro, concluindo que os alunos portugueses de 15 anos estão abaixo da média, entre 57 países, a Ciências, Matemática e Leitura.
O que é que teria de acontecer para que este estado de coisas se alterasse?
Tenho para mim que a causa está, em larga medida, no grande espaço de liberdade que hoje (nos últimos 15-20 anos) os pais dão aos filhos. Liberdade, no pior sentido, que se confunde com falta de regras e mesmo com cobertura à libertinagem.
A mudança deveria começar por alterar estes comportamentos, por fazer com que os filhos adquirissem o sentido do valor do trabalho. Apenas os premiarem em função dos resultados. Por controlarem os seus gastos e os seus percursos. Pô-los a exercer trabalhos domésticos, a apoiarem a família nas suas actividades profissionais, mesmo em tempo de férias escolares. Cortarem as saídas nocturnas, por sistema. Exigirem o cumprimento de regras e disciplina em casa. Transmitir a noção do trabalho e do valor das ideias.
O laxismo, a disponibilidade de dinheiro sem esforço para o obter, o elevado poder de mobilidade que os jovens desfrutam constituem factores que retiram qualquer importância ao trabalho e ao estudo. Tudo lhes vai ter às mãos a custo zero.
Quando os pais forem capazes de agir mais responsavelmente, então, passarão a ter autoridade moral para exigir que a Escola, as autoridades cumpram com a parte restante. Enfim, contribuirão, decisivamente, para por termo aos indicadores miseráveis que, ano após ano, colocam os nossos jovens na cauda da aprendizagem e no topo da degradação social.
O resultado da mudança de atitude dos pais será uma juventude mais responsável, mais sadia e um país com melhores perspectivas de futuro.
Portanto, a pergunta “Por onde começar?”. Só tem uma resposta: “Pelos pais.”
3 comentários:
Um amigo meu disse-me que a única coisa que se podia fazer pelo ministério da educação era colocar uma bomba atómica em todos os seus edifícios, pois nem a mobilia se aproveitava.
Antigamente o ministério era chamado de "Ministério da Instrução", pois a educação competia aos pais.
Depois mudaram para "Ministerio da Educação" e os pais acharam que já que se chamava assim, podiam-se dedicar a outras tarefas.
Bem podiam começar por voltar aos nomes antigos e já agora acabar de uma vez por todas com a reforma Veiga Simão, voltar ao antigo sistema de Liceus Nacionais e Escolas Industriais e Comerciais, obviamente adaptado à realidade do Século XXI e despedir, no mínimo, 100 % dos funcionários do Ministério.
Não posso estar mais de acordo. Mas é mais fácil dizê-lo que fazê-lo. Passo a explicar:
Dizia-me uma mãe: "Se eu sou dura com o meu filho e ele for parar à droga, vão dizer que a culpa é minha por ter sido demasiado rígida; se eu sou permissiva, pode acontecer exactamente o mesmo. Não sei o que fazer."
Eu diria que este é o problema de muito mais de 50% dos pais: não saberem mesmo o que hão-de fazer.
Depois há talvez aí uns 20% que são honestamente adeptos da permissividade.
Depois haverá uns 10% que não querem mesmo saber, só não querem é que os chateiem.
Sobram poucos...
Mas aflitos acredito que estejam todos, eles e os professores.
Na verdade, ao pôr pais contra professores, este governo deixou ambos muito mais sozinhos e impotentes...
A vida não é fácil, nomeadamente a dos educadores, quer sejam pais quer professores, mas também é verdade que nós temos uma certa queda para a complicar. Essa mãe que citou, caro Rui, deve andar bem confusa. Eu percebo o dilema mas todos nós sabemos, quase sempre, o que fazer. Pode é faltar-nos vontade, disponibilidade ou coragem para o fazer. E o caminho mais fácil é sempre o mais fácil, pelo menos no curto prazo.
Quanto à mudança começar pelos pais, completamente de acordo enquanto mãe. Se fosse professora gostaria de ter discernimento para dizer deveria começar pelos professores. Quando algo está mal, e sabendo todos nós que as causas são sempre múltiplas, todos têm que mudar para que o sistema funcione. E os nossos filhos bem precisavam que o sistema funcionasse….
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