26 abril 2008

Estes dias que passam 106

Eu não sei o que é o nemátodo do pinheiro mas sei que não é um insecto. Como o senhor ministro o definiu! Não sei nem sabia donde ele vinha mas parece que não vem do norte de África, como o senhor ministro afirma. Também não sabia que se trata de uma doença e não de uma praga, como o senhor ministro estranhamente esclareceu. Finalmente porque não é um insecto, não há insecticidas cujo aparecimento o senhor ministro exuberantemente deseja.
Refiro-me a um senhor ministro da agricultura, que suponho chamar-se Jaime Silva, nome que, de per si, já deveria inculcar no público uma associação à terra e ao seu coberto vegetal. Todavia, dadas as afirmações do político muito me temo que o senhor Silve tenha tratado o assunto muito pela rama. Demasiadamente!
Parece que nesse ministério, que num ápice despediu mil e muitos funcionários, se abre agora concurso para duzentos novos elementos. Esperemos que os muitos dispensados (dispensado é um modo envergonhado de dizer semi-despedidos. E semi-despedidos é um modo estranho de dizer que o Estado não respeita os contratos que livremente celebrou...) não tenham as mesmíssimas competências dos futuros admitidos. Esperemos... ainda que com alguma desconfiança. Já se viu em outros sítios despedirem-se fulanos para depois se apadrinharem cicranos, se é que me faço entender.
Voltando todavia à ministerial criatura temos que em vez de chamar insecto ao nemátodo, poderia, com idêntica imprecisão mas com mais audácia ter-lhe chamado “bicheza”. E neste termo iria toda uma carga metafórica que insecto não tem. Por um lado é um substantivo colectivo. Depois implica uma vaga ideia de vício feio e anti-português. E, ainda por cima, acanalhado. Com uma outra vantagem: insecto é palavra muito precisa enquanto bicheza poderia passar por um repentino toque de humor com que o senhor ministro, campeão dos disponíveis, da mobilidade especial, agraciava o pópulo, especialmente o rural.
É que já não bastavam os incêndios que hão-de vir, ou que entretanto com estes repentinos calores podem ter ocorrido, para dar mais uma machadada na floresta para a eles se juntar o insidioso nemátodo para o qual Sª Ex.ª confessa não ter solução. Se Sª Ex.ª acha que não tem solução para a “praga” sugiro-lhe uma: arreie!
Vá dar uma volta ao bilhar grande, vá governar uma empresa, um banco, uma agência governamental e peça ao senhor engenheiro em chefe que pesquise pelas escolas agrícolas um recém-licenciado que distinga um peixe dum mamífero e ambos de um insecto e entregue-lhe a pasta, enquanto o senhor Jaime Silva apara o bigode e o míldio que por força pode atacar o mesmo.
E já agora: compre uns tampões para as orelhinhas mimosas porque pela Europa fora vai um coro de gargalhadas tonitruante. E o caso não é para menos.

botanicamente vosso,
mcr

* eventual aspecto do bicharoco mau chamado nematodus silvensis lusitanus.

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