15 março 2009

Estes dias que passam 146



puxando a corda ou
isto é como as cerejas


Já por aqui de falou da candidatura de Elisa Ferreira à Câmara do Porto. E também na altura se apontou que Elisa fragilizava essa candidatura ao concorrer simultaneamente ao Parlamento Europeu. Isto ainda na altura em que ainda não havia exactamente uma candidatura aprovada pelo PS mas apenas essa intenção. Todavia, agora a candidatura é um facto. E perante isso convém começar a tentar perceber.
Em primeiro lugar, desconhece-se absolutamente o programa da candidata. O pouco que se apura de declarações avulsas não chega sequer para adivinhar o que virá depois. Mau começo, portanto. Com se Elisa começasse a seguir o estilo de Sócrates. Uma figura providencial e já está. É pouco, convenhamos. Muito pouco. E é ainda menos se, como tudo indica, do outro lado voltar a aparecer Rui Rio. Quem me lê sabe o nulo apreço que tenho pela personagem. Nem sequer sei se foi aqui que já lhe chamei Rui rícino. Mas se não foi fica agora.
Não gostar de Rio significa, no meu caso, não votar nele, dê lá por onde der. Mas não significa menosprezá-lo, achá-lo tonto ou incapaz. Rio não é nem uma coisa nem a outra. O que o torna um candidato perigoso para os adversários como já por duas vezes se viu.
Elisa, se quer ganhar a Câmara ou, mais plausivelmente perder por pouco, já deveria ter dito ao que vinha, já devia ter tornado clara a opção Câmara ou Parlamento, para evitar o que esta semana ocorreu,
De facto, numa reunião à porta fechada, a “concelhia” socialista do Porto, deu esta semana o primeiro e efusivo sinal que as coisas não estão a correr bem. Em primeiro lugar lembraram-se os presentes do problema da dupla candidatura e descobriram tardiamente que isso enfraquece a candidata. Teria sido mais interessante tê-lo descoberto há meses mas regista-se o esforço daquelas meninges alvoraçadas.
Depois começou a discussão de mercearia: quantos candidatos seriam propostos e por quem. E daí passou-se à falta de programa convincente. Ao que dizem os bem informados (e estas reuniões são ainda mais frágeis do que os inquéritos do ministério público e o seu escasso segredo de justiça) as coisas chegaram a azedar.
Os jornais, sempre a pau com a escrita e alucinados pela campanha negra, contaram tudo. Hoje, a “concelhia” portuense vem molemente defender-se queixando-se dos que, de dentro, informam para for a. Ou seja: a “concelhia” nem se dá ao trabalho de negar a evidência. Alguns comentadores, que partilham a minha ojeriza anti-Rio, acham que o PS gosta de “dar tiros nos pés”. É verdade. Então ultimamente tem sido um verdadeiro vê se te avias. E sempre com protagonistas nortenhos. O dr. Santos Silva, cujos tiques estalinistas vão em crescendo, gosta de malhar. E não gosta da imprensa sobretudo da independente. De todo o modo, o seu discurso tem lógica e alguma argúcia. Já o mesmo não se pode dizer da criatura José Lello. José Lello, de que se desconhece sequer uma ideia, quanto mais uma ideologia ou um passado de combate pela liberdade, entendeu eructar qualquer coisa sobre a falta de carácter de Alegre. Lello, homem de todas as maiorias, entende que no PS não há lugar para quem “mija for a do penico”. Nisto vê-se que, além de não saber o que diz, também não tem memoria. O PS (mesmo este mais recente) teve sempre correntes (aliás permitidas pelos Estatutos) e bastaria lembrar algumas declarações passadas de, por exemplo, Jaime Gama, a quem Lello transportava, pressuroso e serviçal, a pasta, para perceber que Alegre quanto muito está nessa mesma onda de proclamações de que todos os tenores do PS usaram e abusaram. Parece que agora se reduziu o número de solistas, deixando os restantes reduzidos a fazer de coro bem afinado. Quem conhece a história da música sabe bem onde é que isso acaba.
Não sendo militante do PS preocupa-me escassamente o ensimesmamento dos seus militantes e dirigentes. Todavia, fui durante todos estes anos um votante resignado no PS. Não era sedutor mas, apesar de tudo, garantia um espaço de respiração. Agora parece que até disso desistiu. O problema é que os votantes perante tal desistência podem também lembrar-se de desistir do PS. Deste PS…..


* na gravura: um fantasma desconhecido de Lello: Pierre-Joseph Proudhon

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