O que se decide nos partidos não são ideias, mas a mercearia. Saber quem tem mais votos é saber quem meteu mais gente da família ou de amigos no partido e mais prometeu. Os partidos nada têm a ver com a sociedade; ou melhor, são sociedades anónimas de interesses privados e de irresponsabilidade ilimitada. A candidatura de Manuel Alegre ou de João Soares só têm um objectivo: poder, como grupo, ocupar lugares pelo método de Hondt. Todos sabem que é Sócrates que vai ganhar. Tem com ele o pior do partido e isso é que conta. Mas, por outro lado, também é certo que nos partidos ninguém discute nada; ou melhor, todos dizem o mesmo. Discutir exige esforço de reflexão e isso não dá sucesso. Mas já não é só nos partidos. Por todo o lado, há uma indiferença pelos que pretendem reflectir e quem quiser colocar argumentos rapidamente verá que é levado ao ridículo. Tudo está subordinada à curiosidade dispersa e à retórica espectacular das frases generalizantes e simplistas. Por isso, o aprofundamento das ideias, o problema da natureza dos partidos, a questão da democracia têm o mesmo interesse que o boletim meteorológico ou o resultado do totobola.
Somos mobilizados por nada e por tudo. A polivalência de Teresa Caeiro é o simbolo desse "tudo" que é "nada".
Só o surrealismo nos pode ajudar.
Do Compadre Esteves
23 julho 2004
Um comentário: partidos e ideias
Marcadores: política, Primo de Amarante (compadre Esteves-JBM), sociedade
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10 comentários:
Bem compadre, estou de acordo com tudo o que escreveu, mas quanto à conclusão final esperava algo menos surrealista, uma vez que se assume como discípulo de M. Lourdes Pintassilgo.
É que não me apetece desistir.
E não sou só eu - veja-se por essa blogoesfera, à qual um comentador da GLQL já chamou as novas "Farpas" dos novos "Vencidos da Vida". Mas podemos/devemos fazer mais do que lançar farpas", embora isso já seja melhor que nada.
Novas formas de intervenção cívica procuram-se. A intervenção cívica não se esgota nos partidos! Aliás, o défice dessa intervenção extra partidária é, creio (e não estou a ser original, obviamente), uma das maiores fragilidades da nossa sociedade, da nossa democracia.
Associações cívicas que promovam e divulguem o debate de ideias, de estudos, de propostas, não poderão manter-se fora de uma lógica de acesso ao poder (pelo menos boa parte dos seus particpantes; ou pelo menos durante algum tempo)? Não se poderá contribuir para dinamizar algumas já existentes e/ou criar outras?
Um exemplo sem ambições megalómanas: eu, por exemplo, que coloco no Incursões posts que revelam preocupação com as questões do ambiente e ordenamento do território, saberia mais e poderia ter um contributo positivo se, por exemplo, me aproximasse de uma associação ambientalista? Se passasse a "frequentar" as Assembleias Municipais?
E se os magistrados do MP passassem a ter maior intervenção sindical?
E se e se e se?
Querem iluminar-me com as vossas sábias opiniões?
Nota: comentário dedicado ao José da GLQL, outro alegado "desistente... "
Não sei onde foi buscar essa de ser discipulo da M.L.P. Não é que isso não me honrasse, mas a verdade, a verdadezinha, é que só consigo ser discípulo de mim mesmo. E, mesmo assim!... Algumas vezes olho para o espelho e digo-me: és um f.p.
Criei e pertenço a muitas associações civicas e de solidariedade social. Só uma ainda me prende afectivamente a A25A. Tem preocupações civicas, culturais e ambientais. A Kamikase, como todos os bloguistas, podiam procurar a sua sede em Lisboa e almoçar ou jantar no seu restaurante. É uma obra do Siza Vieira. Está aberto e podem falar em mim, ao Vasco. Pertenço aos corpos sociais da delegação norte. Além disso, tem muitas actividades culturais. Está a organizar um passeio ao Sul do Brasil, para conhecer essa riqueza ambiental. falam-me que haverá contacto com os dirigentes do movimento sem terra.
Para satisfazer o seu desejo, Kamikase, há, pelo menos esta oportunidade. E lá encontrará, de certeza, gente do seu meio.
Dá-me ideia que a A25A não está à altura dos novos desafios... Ou estará? Vou aceitar a sua ssugestão, em todo o caso.
Quanto a MLP, de facto deveria ter dito "admirador" e não "seguidor".
Até mais à noitinha, compadre.
Nada está à altura dos novos desafios, porque desapareceu o capital de esperança que mobilizava as associações, os seus dirigentes e os seus associados. A A25A tem, no entanto, a gente mais generosa que eu conheço. Se for lá fale no vice-presidente da A.G da delegação Norte. Se a saudarem festivamente, é porque me conhecem bem e, de certeza, colocam-na logo à vontade. Se lhe contarem algumas peripécias da minha vida, não acredite. Em todo o lado há maldizentes!
Amigo P.N.: o verdadeiro filósofo és tu: o filósofo maldito. Foi este tipo de filósofos, como Nietzshe e outros, que marcaram a história. Os restantes, são, como diria Pessoa, qualquer coisa de intermédio: entre ser e não ser; entre filosofia e banha de giboia.
Força, caro Pinto Nogueira!
Ao longo de ano e meio de nova direcção sindical, os sócios só tiveram uma oportunidade de se manifestarem institucionalmente: quando da realização da A. Geral do SMMP, a 6 de Março de 2004 - e estavam lá bem poucos sócios! O SMMP apelou, entretanto, a outro tipo de participação/contribuição dos sócios em várias outras ocasiões, designadamente para entrega de teses ao Congresso da Justiça e a propósito do debate/preparação de parecer sobre as propostas de alteração ao CP e CPP da autoria do PS e do PSD (ver pág. 4 do B. Sindical nº 162 de Out/Nov. 2003 aqui)- e também não me parece que tenha tido um número de contributos dos sócios minimamente significativo!
No mesmo B. Informativo 162,na pág. 6, apelava-se aos sócios para participarem na vida sindical enviando cartas ou emails dando conta das suas preocupações profissionais (condições de trabalho, formação profissional, impacto da entrada em vigor de novos diplomas...), a fim de "dinamizar a comunicação com os sócios e o intercâmbio de informação e preocupações comuns"; e anunciava-se a criação, já no B. Informativo seguinte, de uma secção designada "Discurso Directo", onde tais escritos seriam publicados. Não dei conta que tal secção alguma vez tenha sido efectivamente criada. Possívelmente não houve contributos dos sócios...
Sei que muitos e muitos magistrados do SMMP, sindicalizados, nem o Boletim Informativo lêem..."não tenho tempo para isso", alegam com ar importante e assoberbado. Por isso nem fazem ideia da actividade que o sindicato vem - ou não - desenvolvendo. Mas são os primeiros a dizer que o SMMP não faz nada...
Em todo o caso, no actual momento da vida política e da vida sindical parece-me que o melhor contributo a dar passa por ajudar a dar consistência ao "movimento" já sugerido no Incursões, em comentários ao post "Retomar a Palavra" : POR UM PRESIDENTE COM TOMATES!
Essa é a questão fundamental do sentido da existência, colocada por Camus e, em certo sentido, por Sartre. A perda de um sentido para a vida é a perda de tudo. E nessa circunstância, só nos resta o suicídio. Ter esta sensação é horrível! Nunca a experimentou!?... Quem não a experimentou não conhece os limites do sofrimento. É um assunto sério, caro carteiro!
Referia-me à questão colocado pelo carteiro,a do "valer ou não a pena viver".
Ceerrrtoooo....!
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