O Zé, o António e os ajudantes
Há dias assim. Vem uma pessoa à capital do reino, visitar familiares e cumprir outras obrigações e, quando mal se percata, apanha com a campanha intercalar em cima. Amigos mais nortenhos dirão que é bem feito porque, para eles, Lisboa é uma espécie de Sodoma e Gomorra juntas com um toque marroquino. Eu desde já faço o meu registo de interesses (adoro esta invenção do J.M. Júdice!): gosto de Lisboa, sempre gostei, tenho cá muitos amigos, vários familiares, algumas livrarias, outros tantos restaurantes e bares onde me sinto em casa. Além do que os alfarrabistas são muito mais comedidos nos preços do que os do Porto. Diferenças abissais às vezes. E mais: a FNAC do Chiado tem o dobro dos livros de qualquer das fnac portuenses! Tomem lá que é para saberem...
Dito isto, vamos ao que interessa: o António e o Zé. Juntos e em cartaz, ali para os lados do Camões. Estava eu a beber o café da manhã, na explanada, e dou com dois cartazes com estes cavalheiros. Ao mesmo tempo lia no jornal, sempre o Público (o engenheiro Belmiro bem me podia pagar uma avença pela publicidade!...), e que vejo? Que o António e o Zé conseguiram uma espécie de milagre dos pães e dos peixes. Ao que parece transferiram a tempo uns assessores (4 o António e 10 –dez!!!- o Zé) dos seus respectivos anteriores lugares no ministério e na câmara municipal para os grupos parlamentares do PS e do Bloco. Ora dizem as más línguas, e o jornal repete, que estas assessorantes luminárias brilham pela ausência nos tais grupos parlamentares pela razão simples de andarem a ajudar nas campanhas eleitorais dos assessorados! Desconheço a veracidade da notícia mas, estando as coisas como estão, atrevo-me a crer que é verdadeira.
E sendo verdadeira que se poderá dizer? Pois que, prima facie é enternecedor o cuidado dos dois assessorados em assegurar o pão e a manteiga quotidianos aos seus assessores que corriam o risco de ir engrossar as filas do desemprego dado que para assessores não parece haver o nefando quadro de mobilidade especial. Gratos, veneradores e obrigados, os dois ex-responsáveis políticos quiseram, num gesto que só os enobrece, garantir a vidinha dos seus ajudantes. Que a tenham garantido à custa de quem paga os assessores dos grupos parlamentares é outra coisa! Conviria saber quem é que paga essa gente. Eu, sempre crédulo, avento que serão os partidos respectivos mas alguém aqui ao lado jura que as despesas correm por conta da Assembleia da República. Ora, a dita e virtuosa Assembleia é sustentada pelo Erário Público. Ou seja pelos impostos dos Zés, dos Manueis, das Marias e das Vanessas do Minho ao Algarve. Isto por todos nós, d’Oliveiras incluídos. O quê? Eu também pago? Ai que grandes****...
Só por isto o Zé e o António ficariam livres de me ter como votante deles. Não que precisem de mim: eu não valho 4 ou 10 assessores, longe disso. Também é verdade que fico muito mais barato, mas isso não incomodará o Zé ou o António no momento crucial de abrir as urnas. Têm de certeza um lugar de vereador à espera deles e quem tem uma vereação tem de certeza direito a assessores. E dessa feita quem os pagará será a falida Câmara Municipal de Lisboa. Ou seja os lisboetas, se é que não serão todos os portugueses... Mas o que importa uma dúzia de assessores quando o buraco do orçamento é do tamanho que se conhece?
Continuando: eu não tenho a certeza, esclareçam-me por favor: não foi o Zé quem andou a empatar o Túnel do Marquês? É que se foi ele, e não o famoso mano, temos que essa empatadela custou uns largos milhões de euros. Quem os paga, logo que o Tribunal entendeu que a obra podia avançar, contrariamente ao que era pressuposto nas tentativas judiciais de empatar uma obra, que até eu, que prefiro um litro de óleo de rícino diário ao dr Santana Lopes, já verifiquei ser de uma comodidade e de uma utilidade a todos os títulos espectaculares? Então uma criatura vem meter o tribunal ao barulho por dá cá aquela palha, causa um prejuízo do catorze, e não lhe sucede nada quando se vê que não tem razão? As providencias cautelares não deveriam acautelar a possibilidade de cascar em que delas usa e abusa?
Então isto é assim? Sem rei nem roque? E depois é a função pública que é má e cara? E os funcionários é que são desleais e não sei que mais?
A judiciarização da vida política tem-se traduzido no uso e abuso de recurso aos tribunais com fins indevidamente políticos.
E já que estamos com a mão na massa detenhamo-nos nessa miudeza que é o arquivamento do processo de Fontão de Carvalho. Registemos os devidos interesses: não conheço o homem, nunca o vi, nunca votei ppd, duvido absolutamente que isso alguma vez aconteça estando eu em meu perfeito juízo e respeito as decisões dos tribunais desde que elas sejam meridianamente claras e justas.
Acontece que o tal senhor Carvalho era vice-presidente e homem forte da CML. Foi indiciado, teve de se demitir e isso desencadeou o actual processo. Convém dizer que ninguém durante muito tempo quis eleições intercalares.
Ora bem, o senhor Fontão viu o seu processo arquivado. Consta que o ministério Público iria recorrer. Alguém assevera que isso se deve a instâncias, e sob indicação, da dr.ª Maria José Morgado. Permito-me não acreditar nisso ou, melhor, reservar a minha opinião até me provarem preto no branco a intervenção da dr.ª Morgado. Não posso acreditar que uma magistrada tão exposta mediaticamente, casada com um dos principais apoiantes do dr. António Costa, tenha de perto ou de longe intervenção ou sequer influência na posterior actuação do MP. Seria terrível e temível para o já abalado sistema judicial que acontecesse algo neste sentido. É que o público poderia não entender esta insistência contra o sr. Fontão e confundi-la com baixa manobra política. Aliás, o M.P. deve ele próprio ter sentido de oportunidade (e isso é política também) neste género de casos. A menos que a decisão actual seja clamorosamente perversa, uma canalhada e uma afronta à justiça. Já aqui defendi, convicta e fortemente, o MP e o sistema judicial. Sei que nem tudo estará bem mas, genericamente, como cidadão, entendo que o sistema é são e tem funcionado na defesa da legalidade, dos cidadãos e do bom nome da justiça. Se calhar sou um optimista mas é isso que sinto. Sinceramente. Esperemos que esta minha posição não tenha de ser revista.
É que, voltando ao tema, a posição do sr. Fontão, membro de uma lista concorrente à CML, se era frágil, tornou-se subitamente forte e um recurso fraco, para empatar, não só não ajuda a justiça como talvez não ajude candidaturas adversárias. Ou seja, a sensação de perseguição à lista Carmona poderá dar maus resultados aos que imprudentemente manejem meios outros que os políticos.
E daria um péssimo aspecto à justiça...
De Lisboa, o vosso enviado especial
d’Oliveira
7.7.7Dito isto, vamos ao que interessa: o António e o Zé. Juntos e em cartaz, ali para os lados do Camões. Estava eu a beber o café da manhã, na explanada, e dou com dois cartazes com estes cavalheiros. Ao mesmo tempo lia no jornal, sempre o Público (o engenheiro Belmiro bem me podia pagar uma avença pela publicidade!...), e que vejo? Que o António e o Zé conseguiram uma espécie de milagre dos pães e dos peixes. Ao que parece transferiram a tempo uns assessores (4 o António e 10 –dez!!!- o Zé) dos seus respectivos anteriores lugares no ministério e na câmara municipal para os grupos parlamentares do PS e do Bloco. Ora dizem as más línguas, e o jornal repete, que estas assessorantes luminárias brilham pela ausência nos tais grupos parlamentares pela razão simples de andarem a ajudar nas campanhas eleitorais dos assessorados! Desconheço a veracidade da notícia mas, estando as coisas como estão, atrevo-me a crer que é verdadeira.
E sendo verdadeira que se poderá dizer? Pois que, prima facie é enternecedor o cuidado dos dois assessorados em assegurar o pão e a manteiga quotidianos aos seus assessores que corriam o risco de ir engrossar as filas do desemprego dado que para assessores não parece haver o nefando quadro de mobilidade especial. Gratos, veneradores e obrigados, os dois ex-responsáveis políticos quiseram, num gesto que só os enobrece, garantir a vidinha dos seus ajudantes. Que a tenham garantido à custa de quem paga os assessores dos grupos parlamentares é outra coisa! Conviria saber quem é que paga essa gente. Eu, sempre crédulo, avento que serão os partidos respectivos mas alguém aqui ao lado jura que as despesas correm por conta da Assembleia da República. Ora, a dita e virtuosa Assembleia é sustentada pelo Erário Público. Ou seja pelos impostos dos Zés, dos Manueis, das Marias e das Vanessas do Minho ao Algarve. Isto por todos nós, d’Oliveiras incluídos. O quê? Eu também pago? Ai que grandes****...
Só por isto o Zé e o António ficariam livres de me ter como votante deles. Não que precisem de mim: eu não valho 4 ou 10 assessores, longe disso. Também é verdade que fico muito mais barato, mas isso não incomodará o Zé ou o António no momento crucial de abrir as urnas. Têm de certeza um lugar de vereador à espera deles e quem tem uma vereação tem de certeza direito a assessores. E dessa feita quem os pagará será a falida Câmara Municipal de Lisboa. Ou seja os lisboetas, se é que não serão todos os portugueses... Mas o que importa uma dúzia de assessores quando o buraco do orçamento é do tamanho que se conhece?
Continuando: eu não tenho a certeza, esclareçam-me por favor: não foi o Zé quem andou a empatar o Túnel do Marquês? É que se foi ele, e não o famoso mano, temos que essa empatadela custou uns largos milhões de euros. Quem os paga, logo que o Tribunal entendeu que a obra podia avançar, contrariamente ao que era pressuposto nas tentativas judiciais de empatar uma obra, que até eu, que prefiro um litro de óleo de rícino diário ao dr Santana Lopes, já verifiquei ser de uma comodidade e de uma utilidade a todos os títulos espectaculares? Então uma criatura vem meter o tribunal ao barulho por dá cá aquela palha, causa um prejuízo do catorze, e não lhe sucede nada quando se vê que não tem razão? As providencias cautelares não deveriam acautelar a possibilidade de cascar em que delas usa e abusa?
Então isto é assim? Sem rei nem roque? E depois é a função pública que é má e cara? E os funcionários é que são desleais e não sei que mais?
A judiciarização da vida política tem-se traduzido no uso e abuso de recurso aos tribunais com fins indevidamente políticos.
E já que estamos com a mão na massa detenhamo-nos nessa miudeza que é o arquivamento do processo de Fontão de Carvalho. Registemos os devidos interesses: não conheço o homem, nunca o vi, nunca votei ppd, duvido absolutamente que isso alguma vez aconteça estando eu em meu perfeito juízo e respeito as decisões dos tribunais desde que elas sejam meridianamente claras e justas.
Acontece que o tal senhor Carvalho era vice-presidente e homem forte da CML. Foi indiciado, teve de se demitir e isso desencadeou o actual processo. Convém dizer que ninguém durante muito tempo quis eleições intercalares.
Ora bem, o senhor Fontão viu o seu processo arquivado. Consta que o ministério Público iria recorrer. Alguém assevera que isso se deve a instâncias, e sob indicação, da dr.ª Maria José Morgado. Permito-me não acreditar nisso ou, melhor, reservar a minha opinião até me provarem preto no branco a intervenção da dr.ª Morgado. Não posso acreditar que uma magistrada tão exposta mediaticamente, casada com um dos principais apoiantes do dr. António Costa, tenha de perto ou de longe intervenção ou sequer influência na posterior actuação do MP. Seria terrível e temível para o já abalado sistema judicial que acontecesse algo neste sentido. É que o público poderia não entender esta insistência contra o sr. Fontão e confundi-la com baixa manobra política. Aliás, o M.P. deve ele próprio ter sentido de oportunidade (e isso é política também) neste género de casos. A menos que a decisão actual seja clamorosamente perversa, uma canalhada e uma afronta à justiça. Já aqui defendi, convicta e fortemente, o MP e o sistema judicial. Sei que nem tudo estará bem mas, genericamente, como cidadão, entendo que o sistema é são e tem funcionado na defesa da legalidade, dos cidadãos e do bom nome da justiça. Se calhar sou um optimista mas é isso que sinto. Sinceramente. Esperemos que esta minha posição não tenha de ser revista.
É que, voltando ao tema, a posição do sr. Fontão, membro de uma lista concorrente à CML, se era frágil, tornou-se subitamente forte e um recurso fraco, para empatar, não só não ajuda a justiça como talvez não ajude candidaturas adversárias. Ou seja, a sensação de perseguição à lista Carmona poderá dar maus resultados aos que imprudentemente manejem meios outros que os políticos.
E daria um péssimo aspecto à justiça...
De Lisboa, o vosso enviado especial
d’Oliveira
ps (post-scriptum, à cautela): o meu último "diário" teve um acolhimento que supera em muito a sua qualidade. De todo o modo agradeço a simpatia e, respondendo a quem me pede licença para o reproduzir, sempre direi que tenho nisso grande prazer e que tudo o que vou aqui escrevendo pode sempre ser citado, reproduzido, comentado sem terem de me pedir autorização. Acho que esse é o espírito genérico dos blogs, seguramente do "incursões" (espero traduzir bem o sentimento dos meus amigos e colegas desta barca...) e é de certeza o meu: eu escrevo movido pelo prazer, pela indignação, pelo gozo que isto me dá e porque dei o litro para que a exposição das nossas ideias fosse livre como o vento que passa. Digo o que penso e penso o que digo.
Na gravura: um cartaz eleitoral "detourné" pilhado por aí e referido a umas recentes eleições francesas.
2 comentários:
Que leviandade, falar nestes termos, em Jul. 2007, do túnel do Marquês e da acção (ou acções?) de José Sá Fernandes nesse domínio!...
O senhor já explicou mil vezes que o tunel que está feito não é o túnel que estava projectado, que havia severos problemas de segurança, a contiguidade da linha de Metro, etc. etc.
Estuda, Oliveira, depois escreve...
Certo?
O meu texto tem 3 pontos
os asssssores dos senhores candidatos
o tunel do marquês
o arquivamento do processo Fontão
vejo que só um interessou o comentarista. está no seu direito. todavia relembro que um tribunal acabou por não dar razão a Fernandes e por isso túnel foi avante. Ou o tribunal se enganou, ou de facto não deu provimento a Fernandes. isto chega-me como estudo. E parece chegar aos lisboetas. Não sou o único a achar que esse processo estava carregado de política que não voava nada alto mas enfim...
estou porém humildemente disposto a estudar...se me derem com quê. Até lá continaurei -e apesar de tudo sou um cidadão informado - a repetir o que disse
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