20 março 2008

Estes dias que passam 100


Num inglês absolutamente aceitável para espanhol cabeçudo, o senhor Aznar afirmou que “a situação [no Iraque] é muito boa.” Ora toma lá que já bebes! A situação é”muito boa” ainda que, acrescenta Aznar “não é idílica” (sic). Um cristão (ou nem isso, como é o caso do escriba) ouve estas com as pobres e cansadas orelhas que a terra há-de comer e não acredita. Até se persigna, à cautela. Fui de novo pela notícia e era mesmo verdade. Aznar disse isso, exactamente isso. A televisão espanhola confirma-o.
A minha vontade era dizer que Aznar asneia. Mas que culpa têm os asnos das asnices de Aznar?

Ao pé de Aznar, a lusa e pujante criatura socialista e nortenha que dá por Renato Sampaio é uma espécie de sombra. Ao fim e ao cabo, o pobre homem apenas quer proibir os piercings à garotada que adora estar na moda. E nem sequer todos, ao que parece. Só os mais feios, os da língua. Ignoro se a criatura autora de tão robusta ideia se lembrou dos piercings no clítoris (que os há!) nos testículos (idem) e em mais um par de locais recatados. Ter-se-á esquecido? Ou não acredita nisto? Este Sampaio a quem o santo Paio (ou Pelaio, descobridor piedoso do túmulo do apóstolo Tiago) não ensinou a descobrir a pólvora, sequer a água, enfim as ervinhas humildes da rua, andava por aí amargurado ao que presumo. O país e as suas forças vivas a salvar os portugas dos vícios, do tabaco, dos pasteis de bacalhau caseiros, das amêndoas de Portalegre, das bolas de Berlin, enfim, o pais a ficar bom e novo, pronto a correr a meia maratona lado a lado com o conhecido aluno de inglês técnico, e ele Sampaio, sem uma proposta no parlamento, ali sem poder mostrar à pátria o seu génio político... Felizmente há dias felizes: eis que o piercing a percé (esta é forçada mas relembra comovidamente a Entente Cordiale e homenageia o meu camarada Carteiro que se mete – e bem, com humor e talento - com as minhas francesices, saravah camarada!) e Sampaio atinge a imortalidade com a sua proposta ou com a proposta de que ele é primeiro subscritor.
Eu votei neste abencerragem e sinto-me portanto também ligeiramente ungido pela glória imortal que, resplendente, o aureola. É verdade que quando o votei nem sabia da sua existência. A gente aqui vota numa repolhuda molhada de criaturas e conhece, quando conhece, os quatro ou cinco da primeira linha. O resto é um pouco como os brindes do bolo rei. Vêm com o bolo, de graça. Ora aqui está como, em vez de uma fava, me saiu este Sampaio descobridor dos malefícios do piercing maldoso e provavelmente moscovita. Se formos a ver o piercing é causado pelos malandros dos professores que não só não ensinam como também estimulam as criancinhas inocentes e analfabetas ao pecado da auto-laceração.
Uma proposta ao talentoso deputado: para quando um projecto lei contra as cuequinhas fio dental?

O inefável dr. Meneses, esse mesmo, veio candidamente alvitrar que os partidos não deveriam cobrar quotas aos seus militantes. À uma, aquilo são trocos sem expressão que se veja na saúde financeira dos partidos. E depois, o Estado, sempre esse monstro tentacular!, paga e não bufa uma boa maquia às organizações políticas. O dr. Meneses, que noutros momentos é tão contrario a este Estado invasor, acha que isso chega. Com esta desarmante proposta terá pensado que assim tapava a boca aos seus adversários internos. Ou, se não a tapava, punha-os a abrir as beiças de espanto e isso evitaria durante momentos que eles continuassem a conspirar, a criticar, a serrazinar, a chatear, a ofender, a insultar, em suma a ser anti-partido e anti-Meneses.
De facto, tendo em linha de conta que boa parte dos militantes dos partidos do centrão só o são por razões que nada tem a ver com a ideologia do partido (se ela existe...), a ideia luminosa do edil de Gaia tem pés para andar. E até há um outro especial mérito: é que não havendo quotas a pagar deixa de haver aquelas cenas sempre pouco edificantes de cavalheiros pela calada da noite a pagar um fartote de quotizações em atraso, de militantes apinhados em casas minúsculas (lembram-se?) sempre a favor de algum candidato mais generoso mas falho de apoios.
Dizer a Meneses que um pequeno esforço pecuniário dos militantes seria uma prova, pequena mas real, de ideal poderá ser inútil. Provavelmente isso é uma teoria pateta minha, ideias de um velhadas educado nas tolices de 68...

a gravura: eu ia pôr um piercing mas os que encontrei eram ou repelentes ou pornográficos. virei para imagens de lingerie. Excelentes mas "demasiado sugestivas" e ainda me caía em cima a lei anti-vício ou outra repelência descoberta ou a descobrir pelos paios seculares deste portugal acrisolado. Fiquei-me pela que se vê: livre da censura mas tristonho. As do fio dental eram claramente mais interessantes...

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