22 novembro 2005

desblawgar

ou

"o que parece é"

As caixas de comentários do Incursões dão-me cada vez mais gosto ler. Não só pela oportunidade e interesse do que muitas vezes nela escrevem os colaboradores e outros tantos leitores, em escritos que bem dariam outros tantos posts, mas também porque parece ter-se retomado um certo espírito inicial de tertúlia…
Agrada-me sobretudo vislumbrar que, pelo menos entre os colaboradores mais constantes, se criou um certo grau de conhecimento virtual e empatia mútuos que os/nos leva a sentirmo-nos, de facto, como uma pequena comunidade – tendo, para mais, a empatia saído reforçada dos poucos contactos pessoais havidos. Esta é uma característica muito própria do Incursões que me agrada sobremaneira e que, nalgum momento, me criou como que um “vício incursionista”…

Quando fui convidada, já a carruagem ia em velocidade de cruzeiro, para colaborar no extinto Os Cordoeiros, precursor do Incursões, os temas relativos à Justiça (e ao Judiciário) eram expressamente tidos por um dos “temas de eleição” dos seus mentores, dada a percepção da imprescindibilidade de abrir canais que permitissem, sobretudo aos magistrados que para tanto de outros meios não dispunham, expressar ideias, sugerir caminhos, coligir informação dispersa ou, por vezes, tão só manifestar perplexidades…

Durante estes quase dois anos que passaram desde a criação de Os Cordoeiros (ano e meio desde a criação do Incursões) praticamente todos os magistrados que deram corpo a este(s) projecto(s) foram, paulatinamente, seguindo outros caminhos – a maioria interrompeu a viagem, outros preferiram outros meios de transporte.
Durante o último ano, apesar de já não ser magistrada nem estar, sequer, profissionalmente ligada ao mundo do direito, procurei militantemente manter na agenda do Incursões os temas da Justiça e do Judiciário e, desde ha demasiado tempo, sou a unica administradora em exercicio.

Mas eis que, finalmente, a blawgoesfera se anima de forma aparentemente consolidada.
Assim, dos vários blawgs de juízes que nasceram como gritos que se libertam de gargantas há muito sufocadas, num afã de sistemática contraposição de argumentos às afirmações demagógicas do Ministro ABC e seus assessores na comunicação social, alguns iniciaram o caminho da análise do funcionamento do sistema e da apresentação de propostas construtivas (cfr. Indice Tematico na side bar do Incursoes).
Também o jovem Sine Die, colectivo de juízes e magistrados do MP (onde estao os anunciados advogados?), parece trilhar aquele último caminho, aliás de forma ja bem mais programatica e estruturada - se bem que, lamenta-se, sem possibilidade de exarar comentários (nem sequer com moderação prévia!?!)
No Mar Inquieto Rui do Carmo, curiosamente num "estilo muito espirito incursionista", regularmente partilha, para alem de muito mais, fundamentadas e profícuas reflexoes, quer sobre temas da prática judiciária quer sobre temas estruturantes para o funcionamento/reforma do sistema de justiça, sem esquecer algumas dicas oportunas (v., p. ex., este post de ontem). Para ser perfeito só falta mesmo os leitores passarem a usar as caixas de comentários…
Na Grande Loja do Queijo Limiano, nestas matérias já com apreciáveis pergaminhos, sobretudo pela pena dos incansáveis José e Manuel, nenhum tema da agenda mediática passa em claro.
No Informatica do Direito onde, entre outros juristas, pontifica Francisco Bruto da Costa, opina-se com oportunidade e substancia.
No disLEXias Alexandra Mendonça proporciona informaçao util (e observaçoes pertinentes) para alem da agenda comunicaçao social e, quanto a esta, o repositorio completo(e nao so) pode ser consultado no Vexata Questio.
No Patologia Social, complementado pelo A Revolta das Palavras, por entre novas da jurisprudencia JABarreiros, sintetica e incisivamente, nao da treguas.
No Verbo Jurídico, para além das reflexões do seu autor, JoelTRPereira, sao coligidos diariamente, os "recortes da justiça" e, mais recentemente, as "cronicas da justiça" – quase se tornando dispiciendo, para quem queira estar a par do que se vai escrevendo sobre estes temas, perder-se na consulta de jornais e de blawgs diversos, não fora o bem apertado critério editorial do autor.

É pois tempo de a Kami (confesso que me enternece o petit-nom, ideia do maroto do Carteiro) deixar a militância judiciário-postativa, visto que, final e felizmente, já não há nexexidade, e passar a escrever como os demais colaboradores: apenas se, quando, como e sobre o que lhe aprouver (tudo dentro do tal “espírito incursionista”, ainda que auto-actualizado, claro!)

Como unica administradora em exercicio (espero que nao por muito mais tempo) fica a promessa de continuar a zelar pelo bom funcionamento do blogger e a de retomar a actualização do Índice Temático.

Como Little Palha, as mais das vezes Lots of Palha daqui envio os mais sinceramente amistosos abraços a todos os meus companheiros/resistentes nesta aventura incursionista.
Bem-hajam!

7 comentários:

Gomez disse...

Faço minhas as palavras dos comentadores antecedentes!

Silvia Chueire disse...

Apoiada !Escrever mais está muito bem. : )

Abraços.
Silvia

Informática do Direito disse...

Obrigado pela referência que muito me envaidece, cara Kami, mas palavra que o teu postal me preocupa - não vejo relação de causa e efeito entre os fundamentos e a decisão - então lá por a blogosfera jurídica estar um pouco mais habitada, tu entras em "low profile" ?
De qualquer modo, se bem compreendi, não nos vais deixar, espero bem.
O espaço da blogosfera jurídica lusa vai-se preenchendo, mas está muito rarefeito ainda, bastante longe da massa crítica que o poderia transpor para outros cenários, que jornalistas e opinion makers consultassem cuidados e regularmente e em que o poder político pensasse duas vezes antes de afrontar as nossas posições dominantes.
Bom, e há aqui também uma questão de filosofia: há quem pense que fazer um blog é quase pura interactividade, coisa que não me "cheira": para mim, construir um blog colectivo é quase como escrever um livro partilhadamente, erguer uma obra escrita a 4, 8 ou 10 mãos, que só por razões de oportunidade e facilidade assume dimensão cibernética; um blog também pode ser comparado a uma obra musical composta por várias pessoas em que muito naturalmente cada um toca a sua especialidade: trombone, oboé, violinos, piano, violoncelo, bateria, viola-baixo, viola-solo, etc. - mas com uma vantagem: a discordância não implica desafinação, pelo contrário, significa saudável diversidade enriquecedora das correntes musicais.
Tudo isto para te dizer que este livro, esta canção, esta sinfonia, têm de continuar porque não estão de modo nenhum acabados - desculpem o devaneio, este discurso deve ser fruto de eu andar a reler o Aquilino...

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Cara Kamikaze, venham de lá essas ameaças de novos textos e aventuras, fora do mundo judiciário.

Kamikaze (L.P.) disse...

JCP:
Eu cá não fiz qualquer ameaça com escritos desses (e muito menos com escritos "daqueles"), outros as fizeram por mim nestes comentários, denotando amabilidade. Mas creio que o post é claro, e o título condiz.
Assim, "quando, como e sobre o quê" se verá, se algo houver para ver.

A todos obrigada pelos simpáticos comentarios.

O meu olhar disse...

Acho que a percebo Kamikaze. Penso que é uma boa decisão porque alarga um pouco o seu tempo e a liberta para poder usar mais a liberdade que todos temos. E aqui ficamos nós a aguardar o fruto da sua vontade e inspiração, para termos ainda mais diversidade com a garantia de qualidade.

Alexandra disse...

Obrigada pela distinção na "blawgsfera".
Não há, porém, motivo aparente para abandonar a "miltãncia postativa". Ficamos, pois, a aguardar novos posts.