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02 outubro 2008

Diário Político 92

Bem aventurados os inocentes...

A drª Ferreira Leite saiu da sua sigilosa reserva e foi de longada até Belém. Foi auscultar o sr. Presidente da República a respeito do reconhecimento do Kosovo.
Entendamo-nos: a senhora dirigente do PPD não foi a Belém dizer o que pensa (ou não pensa) do reconhecimento como pareceria natural num partido que aspira a governar. Foi perguntar ao actual inquilino de Belém e ex-presidente do PPD o que é que este pensava de tão momentosa questão.
Ao que parece esta bizarra diligência deve-se ao facto do Governo estar prestes a tomar uma decisão. Decisão que, atentas as anteriores reservas, parece ser a de se juntar ao alegre e irresponsável grupo de reconhecedores.
Esse mesmo grupo, diga-se para já, que se indignou com os casos da Abkazia (há anos separada da Geórgia) e da Ossétia do Sul que desde há tempos mantinha não só um conflito com a mesma Geórgia mas também estava mais ou menos fora do país de Estaline.
A Geórgia é uma das curiosas ficções da revolução de 1917 e do decorrente direito dos povos disporem de si próprios. Nunca dispuseram, pelo menos na antiga URSS, mas isso era o menos. Os dirigentes da “União” traçaram fronteiras, deram territórios, tiraram outros, expulsaram populações inteiras, amalgamaram grupos étnicos diversos tudo em nome do “socialismo científico “ e da política de nacionalidades cujo primeiro comissário foi aliás o senhor Yossip Vissarionovicht Djugatchivili, mais conhecido por Estaline.
Antes da conquista russa, no século XIX, terá existido uma espécie de principado georgiano sempre tributário de tártaros, persa ou turcos, pese embora a religião cristã de parte da população, da língua e pouco mais. Nas sucessivas guerras que os russos travaram no Cáucaso foram anexados a esse primitivo território, outros conquistados quer a turcos, quer a persas. E por aqui ficamos.
Claro que o Kosovo, que alguns países europeus entenderam reconhecer, ainda é mais problemático como nação. Até aos inícios deste século era maioritariamente habitado por sérvios ortodoxos. Aliás o Kosovo é considerado o berço dos sérvios. A expansão da população albano-muçulmana é recente e tornou-se forte nos últimos decénios do século XX. Foi Tito quem criou a província autónoma do Kosovo dentro da entidade sérvia. Como aliás foi Tito quem inventou o conceito de nacionalidade muçulmana ou entregou a Dalmácia à Croácia, de onde era originário.
Nada disto perturbou as boas consciências ocidentais que assistiram à implosão da Jugoslávia com a satisfação que se conhece. E bom seria que se averiguasse com isenção e rigor as cumplicidades e os apoios a parte das movimentações político-militares nos Balcãs. E já agora recordar que todos, mas todos, os intervenientes cometeram crimes abomináveis. Todos!, repete-se.
Voltando à inocente drª Ferreira Leite. É assim que se perdem oportunidades, cara Senhora. Ir pedir batatinhas ao dr. Cavaco Silva revela menoridade, incapacidade política e ingenuidade. Demasiada areia para a camioneta do PPD! E um inesperado brinde ao sr Primeiro ministro que deve estar a rebolar-se...
Uma pessoa que gosta de falar pouco perdeu a oportunidade de estar caladinha. O desastrado dr. Meneses deve também pensar que lhe saiu a sorte grande. Logo a ele que fala pelos cotovelos...
Não sei, neste momento, qual vai a ser a decisão governamental. Não auguro, todavia, nada de bom. As pressões devem ser mais do que muitas no sentido do reconhecimento daquela fantasmagoria.
Também desconheço o avisado conselho do dr. Cavaco. Se é que deu algum. Se deu, fez mal. Não compete ao Presidente da República servir de ama seca aos dirigentes partidários. Mesmo se estes na sua incurável incompetência se lhe dirigem a pedir uma palavrinha. Essa palavrinha, dada a destempo, compromete o Presidente e mete-o no mesmo barco da requerente. Com as consequências que se adivinham.
Já agora: alguém já pensou no dia em que uns corsos mais exaltados proclamarem a independência? Ou os bascos? Ou os catalães? E por aí fora...
Pergunta final: será que o Primeiro Ministro mandou um belo ramo de flores à drª Ferreira Leite? Se ainda não mandou, faça o favor de se apressar. À falta de flores servem chocolates. Bons de preferência!

De Batumi para o incursoes,
d'Oliveira

03 setembro 2008

Diário Político 91

Indignações a norte

Parece que um conspícuo vereador da Câmara Municipal do Porto e membro da Comissão Política do CDS (ou PP, como queiram) se demitiu do partido, revoltado com o facto de a demissão do vice-presidente Nobre Guedes ter sido ocultada por Paulo Portas durante um ano.

O senhor comissário político e vereador ter-se-á sentido ofendido. Ao que se extrai da leitura do jornal, ele acha que tal demissão poderia ter sido escamoteada ao resto do pópulo centrista (ou popular, como queiram) mas não à Comissão Política.

Poderia ter sido noticiada a esta ainda que com o pesado selo de “reservado” e “confidencial”.

Note-se para já que o facto do resto da rapaziada do CDS (ou PP, etc...) ficar sem saber do paradeiro político de Guedes não parece preocupar o senhor vereador ex-comissário. Note-se que também não se preocupa com a ignorância da peonagem portuguesa em geral, sequer do magro número de eleitores do CDS (ou PP?). Essa gentinha não merecia, julga-se, a "verdade a que tinha direito” (como se proclamava um pobre periódico de curta vida que também não sacrificava sempre em aras da “Verdade”. Era uma verdade relativa a desse jornalinho, uma verdade nem sempre revolucionária, convenhamos, dissesse Lenin o que dissesse.

Mas voltemos às nossas encomendas: o senhor vereador e ex qualquer coisa zangou-se e bateu com a porta. Bateu mesmo?

Demitiu-se da vereação da invicta e leal cidade, onde, consta, o actual presidente também não partilha os seus inúmeros e brilhantes pontos de vista com a vereação senão quando não tem outra hipótese? Será que o senhor vereador que deve a prebenda ao CDS (ou PP?) ignora que é de bom tom abandonar os cargos políticos quando se está se abandona o partido a quem eles se devem?  Ou achará que também tem direito a uma espécie de segredo: como Guedes ele está fora, mas não diz nada. Ou seja continua na vereação mas está fora dela. Percebem?

Está fora, continuando dentro, como o fantasma protoplásmico de Guedes, o saudoso...

Dir-me-ão que, no entanto, estará a ser pago pela edilidade, isto é por nós (votantes ou não no partido que ele entretanto abandonou) e a latere estará, enquanto lá estiver, a ter aquelas regalias adicionais (a vereação tem efeitos para a reforma por exemplo: parece que oas anos contam a dobrar...). eu sei bem que o pagamento aos vereadores não será grande coisa, mas enfim, sempre dará para os alfinetes. Para os alfinetes com que, raivosamente, o edil enganado, vai furando o retrato do ex-líder mal  amado...

Os jornais, alguns pelo menos, louvarão esta posição do senhor vereador. Fez face ao hediondo Portas do capachinho (Ai não tem capachinho? Pois parece... Já agora podiam aconselhar-lhe um penteado mais ligeiro que aquilo assim parece mesmo um capachinho ou um ninho de andorinhas, desses que não servem para sopa...). Convenhamos que a criatura tão radical se esqueceu da demissâozinha da vereação, onde de resto, pouco ou nada pesará.

E convenhamos ainda que, também, se os motivos são os que o Público relata que algo ficou no tinteiro: é que a populaça também tem direito a saber quem é quem no organigramas partidários, que diabo!

Finalmente, e esta é uma nota pessoal, esta guerra, no actual contexto partidário português, é uma guerra do alecrim e da manjerona. As comissões políticas dos partidos não passam genericamente (sempre neste Portugal amorável, claro) de uns ajuntamentos de criaturas que estão sempre de acordo com o chefe do momento. É assim no CDS, consta o mesmo do PCP, graças ao tão celebrado centralismo democrático, e não tenho visto a dr.ª Ferreira Leite especialmente preocupada com as opiniões do saltitão de Gaia. Refiro-me obviamente à soluçante criatura que num célebre congresso veio entre choro e ranger de dentes queixar-se dos elitistas sulistas.

No P.S. também não tenho descortinado levantamentos de rancho na comissão política. Excepção feita a Alegre, toda aquela boa gente abana a cabecinha, levanta o cu do assento para bater palmas e palminhas. Se acaso há criticas, também elas devem ser confidenciais e reservadas. Isto de estar no poder, de ter por isso, uma amesendação simpática e por vezes choruda obriga a muito golpe de rins.

Quem não tiver telhados de vidro que atire a primeira pedra ao eternamente jovem Portas. E, já agora, acertem-lhe no capachinho...


* a ilustração é roubada de um simpático blog sobre a Figueira que o mcr descobriu. Ele que fale desse blog já que é um ferrenho da Naval 1º de Maio e de Buarcos