
Perplexidades de um da Naval (Associação Naval 1º de Maio, se faz favor)
Não percebo nada de futebol. Ou, pelo menos, deste futebol. Sou do tempo em que se dizia off side, back e outras inglesices do mesmo teor. Sou do tempo em que raramente um jogador mudava de clube, ou porque o dinheiro não era o mais importante, ou porque mesmo sendo havia o brio de defender o clube do coração.
E sou da Naval. E de Buarcos. E do futebol na praia, com banho de mar no fim. Enfim, sou um inocente.
Dizem-me que nas decisões agora anunciadas (Porto, Boavista e Leiria, mais um par de árbitros) a prova produzida decorre da intercepção de telefonemas que no processo principal (o famoso Apito Dourado) não terão cabimento por não terem sido obtidas segundo as regras da arte. É assim? Assim mesmo? Ou seja, por não se respeitarem determinados formalismos, a prova cai inexoravelmente até ao ventre da mãe terra ajudada pelo autoclismo legislativo. É assim?
Concorde-se ou não com este excesso formal, ele existe e faz lei. Essa lei, e só essa é a que deve ser aplicada pelos Tribunais. Dura lex sed lex, ou branda lei mas lei e basta!
Não acredito em tribunais de outro tipo, mormente os desportivos. Não acredito em tribunais ou em juízes eleitos, provavelmente porque não sou americano. Aceito mal esses tribunais especiais (a simples palavra arrepia-me, mesmo se não forem “plenários”...Explico-me?) e no caso em apreço só os tolero se a sua disciplina for idêntica aos Tribunais comuns, se a prova produzida correr pelo mesmo caudal que a que se produz nos Tribunais.
Em segundo lugar, repetindo que sou da Naval e de mais nenhum clube, muito menos de qualquer “grande” e jamais do Boavista, meu desagradabilíssimo vizinho, desagradou-me saber pelo noticiário das sete da manhã o que só foi oficial às cinco da tarde. Acho o processo deselegante para não dizer infame. Venha ele de um juiz togado ou dum assistente da faculdade de Direito de Coimbra (a minha faculdade e a minha universidade).
Mais me perturba verificar que afinal o “apito final” se resume a três clubes e não à boa vintena de que toda a gente fala. Então a corrupção é assim tão pouca?
Não vou cair na inocência de pensar que um clube que ganha (no mesmo ano da tentativa de corromper árbitros) o campeonato português, o da Europa e o do Mundo andasse a tentar ganhar a dois clubes pequenotes, frangões, mesmo, passe o termo que não pretende ser insultuoso.
Eu, navalista, sei bem que o meu clube é o melhor do mundo. Todavia rir-me-ia a bandeiras despregadas se o senhor Pinto da Costa achasse necessário comprar um árbitro para garantir uma vitória do FCP sobre a gloriosa (e mais antiga, como se sabe) Associação Naval 1º de Maio. Eu sei que somos temidos mas tanto também não, que diabo!
Outra coisa que me suscita alguma perplexidade, pese embora estar do outro lado um jovem assistente que até tem um diploma seguramente maravilhoso em Direito do Desporto (boa piada, em Portugal, esta do direito do desporto numa terra em que o desporto é de bancada e se chama futebol...) é a tal alegação de “coacção”. Eu já disse que não gosto do Boavista, muito menos dos seus dirigentes mas coacção? Coacção é uma palavra grave, carregada de significado que não se pode perder por veredas subtis e imaginativas. Eu ainda me recordo do dr. Santana Lopes (outro que tal) a sportingamente avisar de conspirações em Canal Caveira, ameaçando varrer tudo como numa feira em Fafe (com que ninguém fanfa) ou os eternos dirigentes de outros clubes mal habituados a perder que avisam que vão estar atentos, atentíssimos, que não se responsabilizam pelo que as massas associativas possam fazer quando justamente indignadas pelas barbaridades arbitrais se virem forçada a fazer justiça pelas próprias e inocentes mãozinhas. Nem assim se falou de coacção, pelo que presumo que desta vez a coisa foi mesmo à moda de Chicago dos velhos tempos: “ou marcas uns pennaltys para a malta ou comes...” Uma espécie de Jorge Coelho mais encorpado e menos parlapatão, estão a ver o estilo?
Fico-me por aqui porque não compete a um paisano de Buarcos, navalista, meter-se no curral dos grandes. Todavia mantenho: sinto-me perplexo. Provavelmente é porque não sei o suficiente de futebol e muito menos de Direito. Se for esse o caso, não leiam o que está escrito aí em cima. Se o leram já, esqueçam-no. Se não o esquecerem rezem por mim um Pater e cinco Ave Marias. Se não me servir por demasiado pecador talvez sirva aos da Liga no caso de se verificar que eles meteram o pézinho delicado na argola. Vale?