30 setembro 2008

Au Bonheur des Dames 141


Fado descosido (adenda a Au bonheur des Dames 140)


Foi penoso ver a prestação da senhora vereadora Ana Sara Brito. Tive vergonha por ela. E pelo senhor Presidente da Câmara, ali ao lado, a apoiar o que não pode ser apoiado.
Ora vejamos.
1 A senhora vereadora exerce funções autárquicas, há um pancadão de anos.
2 Foi durante o exercício dessa função que alugou à Câmara de que era vereadora (e não interessa o pelouro, porque a Vereação é o governo da Câmara) o apartamento de que, inocentemente,
3 se desfez quando passou a tutelar directamente a específica área da acção social.
Tudo isto foi dito na televisão e transcrito no jornal.
4 A senhora vereadora insiste em que a casa não era “habitação social” pelo que
entende que havia entre ela e a CML um normal contrato de arrendamento que
5 só começa a ser irregular quando (sic) ela toma conta da área de tutela da acção social e corria o risco de começar a ser senhoria e inquilina ao mesmo tempo.
Presumindo que a senhora vereadora é uma mulher inteligente, conviria perguntar qual é o entendimento que tem da função de vereadora. Se não sabe que esse cargo não a torna de per si senhoria mas apenas, porque membro da vereação, um dos elementos do colectivo camarário e, como tal, do senhorio da casa que ocupa. Ou por outras palavras para ela perceber: a vereação é a representante da Câmara que é obviamente a senhoria da casa.
Portanto se, como julgo, a senhora vereadora é uma mulher inteligente, fez muito mal em tentar tapar o sol com uma peneira e pensar que somos todos burros. Não somos, senhora vereadora, não somos. Vª Exª meteu os mimosos pés pelas mãozinhas. Está a vender-nos gato por lebre.
Ou então não tem cabecinha e a gente perdoa-lhe mas pergunta-se o que faz uma criatura descerebrada na vereação da principal cidade do país.
A senhora vereadora, do alto da sua alegada e proclamada inocência jura que se não demite. É pena! Ficava-lhe bem. Tem de ser demitida por quem de direito, porque fez o que não podia fazer e ainda não percebeu.
E aqui entra o jurista dr. António Costa. Entra como Presidente da Câmara e como jurista, diga-se. Devia, em vez de estar calado (na parte em que vi), corrigir a inocente colega de vereação e partido e explicar-lhe esse facto irrisório que é o de ela enquanto vereadora ser senhoria, enfim representante do senhorio.
Fez-me pena ver o dr. Costa ali. Eu sei que fica bem ser leal. Acompanhar os camaradas nos bons e maus momentos. Mas, há sempre um mas, isso não pode ajudar à festa de enganos que a argumentação da senhora vereadora teceu.
Nem explica como é que a casa lhe foi parar às mãos, quanto começou por pagar (estes cento e quarenta e tal euros terão começado por ser muito menos, até nem deve ser difícil fazer as contas para trás bastará ir aos índices de aumento de rendas anuais para achar o primitivo quantitativo). E poderá dizer-se agora que os vinte e tal contos actuais seriam há vinte anos um preço mais ou menos normal para um apartamento na rua do Salitre. Só que há vinte anos se calhar a renda paga era cinco vezes mais baixa!.... Ou seja: um achado, um milagre, ou pior um favor estranho.
Ontem disse aqui que tinha consideração pela senhora vereadora. Mal a conhecia mas as circunstâncias em que a vi e ouvi, uma vez, há anos, tornaram-ma simpática. A partir desta conferencia de imprensa as coisas mudam. Não gosto de ser tratado como um pateta nem gosto de pessoas que atiram areia aos olhos dos outros. Verifico que a senhora vereadora (se ainda o é) não gosta de perder nem a feijões. É com ela. E com o partido que a mantiver.
Por menos, muito menos, está o dr Santana dos violinos de Chopin no banco dos réus. Deve estar a divertir-se à grande com este inesperado trunfo que uma vereadora do PS lhe oferece. De bandeja.

Nota que não tem a ver com isto: a senhora vereadora até poderia ser utente de uma casa classificada como habitação social. Os pobres também podem ser vereadores. O que a ela lhe falta (ou lhe sobra) é rendimentos condizentes. Os jornais falam numa reforma de três mil trezentos e tal euros. Para que se saiba: a reforma de um assessor principal no último escalão da função publica (e os AP são os mais altos funcionários da carreira) com o tempo de serviço completo é inferior. Muito inferior.

* a gravura representa 0 terramoto de Lisboa e foi pilhada num blog dum mestre do Técnico chamado Pisco. 'brigadinhos!


29 setembro 2008

Au Bonheur des Dames 140


É uma casa portuguesa, com certeza...

Eu andei a fugir deste tema como o Demo da Cruz. É que, leitoras gentis e pacientes, eu faço parte dum pequeno clube, o clube dos camelos com três bossas de que foi fundador e presidente perpétuo o Rui Feijó e secretario geral o que abaixo se assina. Para ser membro do clube apenas era preciso ser português, ter vergonha na cara e acreditar que há limites que não se ultrapassam.
Os sócios não abunda(va)m, como calcularão. E com a morte do Rui, o clube periclita mas mantêm-se.
Portanto, eu a fugir de falar das casinhas lisboetas, acreditando que grande parte dos beneficiários viria dizer das suas razões, entregar as casas, desculpem lá qualquer coisinha, mas nada. Raspas de nada!
Ora pratiquemos: a Câmara de Lisboa, ao longo os últimos trinta anos (ou mais...) foi recebendo andares, apartamentos de diversos tamanhos nos mais diferentes locais da cidade. As notícias avançam que há 3.200 habitações nestas condições. Pelo menos!
Ou seja Lisboa, melhor dizendo a sua autocrática Câmara, teve ao seu dispor 3200 chaves para premiar, oferecer, recusar, emprestar, barganhar, uns milhares de cidadãos escolhidos a esmo entre conhecidos, edis, artistas, motoristas, desgraçadinhos, protegidos, coristas, arrivistas e eleitores. Três mil e duzentos “chefes de família”. Eleitores como já se disse. Beneficiados sem um motivo claro, dentre o montão de postulantes.
E quem é que dava o bodo aos pobres? Pois a vereadora da habitação sendo certo que o senhor presidente da Câmara saberia disso ou pelo menos não desconheceria a prática. Prática que vem de longe como a fama do brandy Constantino.
Não estamos a falar dos bairros sociais onde (Camelo de 3 bossas), julgo, haverá regras mais conformes com o Direito e a Justiça. Estamos a falar de “um património disperso”, proveniente de contra-partidas entregues à CML (e porventura a mais câmaras no país...) sobre o qual não há controle de qualquer espécie. Aliás não se sabe exactamente quantas habitações existem, onde estão localizadas, quem as usa (e abusa), quanto valem no mercado, quanto rendem, em que estado de conservação estão. O relatório onde esses dados constam não foi entregue à CML porque esta não o pagou!!!
Eu sou proprietário em Lisboa. Com a minha excelente Mãe e o meu não menos excelente irmão. Temos a (des)dita de ser donos de três prédios em bom estado, nos quais apesar das rendas miseráveis que recebemos sempre fizemos obras, mesmo quando a CML não o impôs. É que, camelos com três bossas (desculpa lá Mãe, desculpa lá irmão) sempre entendemos que devíamos algum respeito à cidade, aos inquilinos e a nós próprios.
Não vos conto quanto custa a mais simples obra, os malditos andaimes, o inferno burocrático a percorrer para obter a mais simples licença, os amargos de boca, a insolência de certos serviços, o ar condescendente com que nos recebem como se também nos fossemos pedir uma casinha à Câmara. Poderia, todavia, dizer que estas obras úteis, necessárias ou imperiosas se têm feito e pago com receitas provenientes de vendas de andares como facilmente deduzirão.
Pagamos, contrariados mas na hora certa, os impostos municipais, as taxas, as derramas e tudo o mais que “eles” inventam para fazer os “ricos” pagar a crise.
E agora vem esta gentuça, edis, serviços, beneficiados, dizer com ar de perfeita tranquilidade e insuspeita inocência que faziam o que faziam, davam o que davam, compravam o que compravam, corrompiam o que corrompiam, porque era costume, porque se fazia desde sempre, porque sei lá o quê.
Pergunta inocente: nunca ninguém ganhou algo por baixo da mesa? Nunca um desses inquilinos miraculados pagou uma gorjeta a quem tão simplesmente lhe atribuiu o andar assim, sem mais?
Deixemos este ponto, pouco atraente, e passemos a um seguinte. Pelos vistos até uma (só uma?) senhora vereadora (já não falo de uma citada Directora de Segurança Social de Lisboa cujo ordenado é de sub-director geral !...) viveu tranquilamente 20 anos num apartamento destes. Dizia-se que iria falar. Falou? Quando? Eu bem sei que a dita senhora (da qual aliás tinha excelente opinião...) foi para a casinha generosamente camarária antes de ocupar o lugar político que ocupa mas, e está aqui o busílis, tem desde há muitos anos actividade política relevante no PS. E isto não lhe chegava para ser mais prudente?
Mas deixemos isso. Que faz a CML entretanto? Ao que leio, vão estudar o problema e fazer um regulamento. Há um, feito há dois anos mas nunca foi aprovado. Pudera! Aprovar o papelucho ia, quand-même, meter alguma ordem na desordem, na rebaldaria. A solução foi deixar a aprovação lá mais para o Verão, para as calendas gregas, digo lisboetas. Agora não: agora vão estudar e decidir. No meio desta frenética actividade, haverá um par de criaturas que, a bem ou pressionadas, largarão as casinhas e irão acolher-se sabe-se lá a que novo artificio residencial. O resto ver-se-á. E já se fala de direitos adquiridos. Ao fim e ao cabo daqui a dez anos estará tudo em águas de bacalhau. Mas o escândalo estará enterrado sob uma nova camada de esquecimento e de outros escândalos.
Finalizemos: as leitoras sabem que nutro pelo dr Santana Lopes o mesmo carinho com que recordo a primeira indigestão que tive. Da senhora vereadora Lopes da Costa nem isso. Nunca a vi e não estou com especial vontade de a ver. Mas vê-los a eles no banco dos réus por fazerem o que todos, repito, todos os outros fizeram, incomoda-me. Estão na mó de baixo, são da oposição, Santana é (para desgraça dos lisboetas) potencial candidato à Câmara, portanto há que lixá-lo. Alguém me diz que uma coisa é a política e outra o poder judicial. Claro! Será mesmo? Então os senhores acusadores não descortinam no meio de tanto caso ultimamente contado pelos jornais outros presumíveis réus? E não acham extraordinário o absurdo número de beneficiados, a sua posição social, a sua influencia na sociedade? Não lhes ocorre perguntar se eles mesmos não terão culpas no cartório? Não haverá quem queira saber de que meios se serviram estes felizes usuários do direito à habitação para pagar em média 35 euros mês?

Por outras palavras: ninguém cora ao saber desta história? Aceitam-se apostas.

ASSIM NÃO!

No Sábado passado decorreu a jornada de protesto contra os preços dos combustíveis desencadeada pela DECO. Esta iniciativa contou com a adesão de outras Associações.

Quem não aderiu muito foram os automobilistas. Também não era de contar com uma adesão muito significativa. O povão protesta, protesta, mas na hora de poder materializar o seu protesto, lá se esquece das razões e... resvala. É a vida!

Esta fraca adesão levou a que um representante (?) das empresas petrolíferas concluísse, via televisão, que os portugueses estão satisfeitos com a evolução dos preços e que confiam na autoridade reguladora e nas empresas que estabelecem os preços.

Admito que esta conclusão seja um tanto ou quanto forçada. A verdade é que ninguém, incluindo a DECO, apareceu a refutar tão aligeirada conclusão.

Uma vez que o preço do petróleo teve hoje a maior queda, em quatro anos, fico na expectativa para ver com vão reagir a entidade reguladora e as empresas petrolíferas.

Subtilezas

A notícia diz que Jardim foi condenado pelo Tribunal Judicial do Funchal a pagar uma indemnização de 20 mil euros a Edite Estrela.

Por sua vez, Jardim diz que recorreu da “decisão de um Tribunal da República na cidade do Funchal”.

Disputa Partidária

As legislativas estão de volta. O que faria sentido era que se ouvisse falar de opções, projectos para o país. Não seria pedir muito se os directórios partidários avançassem com uma ideia para o país alcançar no espaço de uma a duas décadas. Uma ideia que mobilizasse os diferentes sectores da sociedade. E que as pessoas a candidatar e a própria campanha eleitoral alimentasse o debate em volta de ideias e objectivos a médio/longo prazo, apresentadas por cada um dos partidos para o país.

As noticias que vão saindo mostram a tricas do costume, os alinhamentos, as escolhas que resultarão mais de quem domina e controla a perfídia das máquinas partidárias do que de qualquer debate de ideias. Esta notícia refere-se às movimentações no PS. O mesmo se passará no PSD. No PCP e no Bloco as coisas não se distinguirão muito e as mesmas gentes aparecerão nos lugares do costume. O CDS é o PP e basta-se.

A conclusão a tirar, plagiando alguns pensadores liberais, é que é preferível uma má democracia a não ter democracia nenhuma. Portanto, podemos estar todos tranquilos, o sistema vai manter-se e replicar o mesmo modelo de funcionamento. Assim o indicia a profundidade das ideias em debate no interior dos aparelhos partidários, a julgar pelo que transparece para a comunicação social.

27 setembro 2008

voz alheia 4



Eu sei que havia um bote no mar, o mar cheio de água, a água cheia de sal, eu sei, vi a perna baloiçar por sobre a transparência veloz do bote-barco, um semi-rígido com muitos cavalos, era a perna e o colete, era o riso esvoaçando nas alturas impróprias da hora em que os peixes almoçavam e queriam sossego, era isso e mais o limo no fundo do lago, o lago de mar aberto, saindo pela fissura de um canal de areias serenas. Havia o homem inteiro e azul e a mulher semi menina dois quatros de velha e meia pessoa era um ser periliquitante, parecia uma folha, saída de uma primavera. __ Mas espera, não era bem assim, era um tipo e uma miúda, calhou definirem a mesma ilha para se encontrarem, calhou dessa maneira pela razão coincidente de amarem com o mesmo ouvido, a força das ondas batendo no seu coração. Quase assim, estavam mais por ali sentados, cada um na sua ponta de areia, um com headphones a outra mergulhada numa revista, cada um com o seu silêncio fermentado de barulhos sonolentos, assim veio o skipper, assim ofereceu boleia, que venham dizia ele, que venham conhecer o outro lado da ilha, tem muitas terras, muita natureza, tem pescadores buscando peixe com o anzol, tem cabanas de caniço com TV a cores, venham, mostro-vos como as nossas mulheres organizam os filhos na beira do lago, e como o mar, o mar, canta músicas que batucam no centro de uma pessoa para nunca mais sair. Extasiados, levantaram-se e seguiram o senhor do bote, um meio barco valente que enfrentava o morno do sol sem calamidades, vestiram os coletes que não salvam a vida de ninguém, nem protegem o coração de arder pela magia de um bruxo simpático, ele aguentou-se de pé expectante, ela mais matéria de água, montou o bote como quem monta um cavalo marinho, sorriu, a cabeça enrolada numa onda de alívios insuspeitos. O pássaro súbito, cortou a nuvem e mergulhou no pé da moça, beijou um limo verde, falhou de apanhar um peixe, a moça, tocou-lhe com uma asa, mal abriu de regresso ao espaço. - Há coisas, que molham a alma, levam um homem a virar uma lavadeira, segurar o seu coração pela gola, batê-lo na pedra do rio e espremê-lo. É preciso um homem ter um cão que lhe guarde, garanta ao coração que pode ganir, se cair molhar no bico de um pássaro, se cair molhar nos pés de uma mulher. Pudessem os cães cheirar anjos de prata, pudessem luas enfeitiçar-se de lobos morenos, pudesse um homem ter o coração de um samurai. - Foi isso, o que aconteceu. Ela cimentou o homem por causa do pássaro.

Vanessa de Oliveira Godinho

O leitor (im)penitente 39

Olá Vanessa! Olá Djick!

Ora escutem que isto é uma fervurinha. In illo tempore, pelas coimbras de lavados ares, conheci um cabo-verdiano, aliás conheci um pancadão deles mas este é que interessa, que tocava viola como um serafim, se é que os serafins tocam mais instrumentos do que os preceituados numa Bíblia que esqueci depressa.
Anos mais tarde, muitos anos, há que dize-lo, reencontrei o Djick (havia de escrever Dick mas quis grafar a pronúncia do nome ou alcunha com que o brindavam) em casa da minha prima Lena. O motivo era simples: uma filha do Djick casava-se em breve com um filho de outra prima minha, o Ricardo.
Jantámos bem, que a Lena não deixa os seus créditos em mãos alheias, falámos um par de horas e até hoje. O Djick já é avô, e eu tenho um primo filho e neto de primos que nunca vi. Como nunca vi a mãe, a Vanessa, mulher do Ricardo.
E a que vem isto tudo?, perguntará a leitora gentil. Pois vem por que, hoje, outra prima (arre que o gajo está afogado em primas…, reponta o do costume. Estou sim senhor, replico. da primeira geração, das chamadas primas direitas, são dez e com as filhas já vai num quarteirão.), a já aquí mencionada Maria Manuel, me mandou um texto da Vanessa. O texto está aí a seguir e é, a meus olhos, excelente. Rapinei-o de uma coisa chamada PNET (literatura) esperando que seja boa gente e não me venham pedir contas.
Leiam a Vanessa (Vanessa de Oliveira Godinho) e digam-me lá se não é um regalo.
Um abraço, Djick! Um beijo, Vanessa!




26 setembro 2008

Au Bonheur des Dames 139


Lá está ele, outra vez”, rosnará um leitor façanhudo e neo-con. Estes gajos não têm emenda, retorquirá um coleguinha transferido da esquerda pura e dura para o aprazível prado onde as ovelhinhas de Deus e do capital engordam com a erva tenra que somos todos nós.
Ora pratiquemos, irmãs e irmãos:
Então não é que a Washington Mutual faliu? É mesmo a maior falência alguma vez registada nos States, ao que me diz um noticiário francês e manhoso. Os franceses mesmo com o Sarkozy são assim: quando podem, toma lá que já bebes! Está-lhes na massa do sangue um certo anti-americanismo, primário, secundário ou universitário...
Mas a verdade é que a Washington Mutual foi pelo cano. Era apenas a maior das empresas do ramo. Lá ficam a arder mais umas centenas de milhares de palermas que pensaram que aquela gente era séria, que os seus bens estavam a salvo. Então não haviam de estar? Com aqueles golden boys pagos a peso de oiro para administrar honrada e eficientemente o dinheiro à sua guarda, quem é que iria desconfiar?
São uns malandros, ululam uns republicanos despeitados. Agora que com a senhora Palin aquilo ia tão bem e há uns desavergonhados que estragam o arranjinho...
Os republicanos acreditam que Eva nasceu duma costela de Adão, que God is on our side, que o mercado se auto-regula que um homem americano é ainda mais homem se tiver em casa pelo menos um colt 38. E é por isso que esta tromba de água financeira tem, por força, de ser obra
a) dos comunistas;
b) do diabo;
c) de um bando de patifes, eventualmente democratas;
Os leitores escolherão a hipótese que mais lhes convier e, nunca, mas nunca, avançarão com hipóteses conservadoras (ora toma lá!) como a de que é forçoso regular o mercado ou nem todo o capitalismo é bom e natural.
Longe de mim, aproveitar o momento para disparatar com bolchevismos despropositados. O bolchevismo, que o diabo o guarde, nunca foi chão que desse uvas e, pela parte que me toca, nunca teve o meu favor. Todavia, há neste vasto mundo, mais opções do que estas duas aberrações a do liberalismo a todo o transe e a do comunismo. Claro que foram sempre minoritárias, que sofreram os tratos de polé que intelectuais ávidos de sangue ou banqueiros vorazes sempre lhes dispensaram.
Portanto, limitemo-nos a este facto, mesquinho mas facto: a WM foi à vida e hoje podia ver-se em Wall Street uma multidão enraivecida pedindo o seu dinheiro de volta ou, na falta dele, a cabeça de uns quantos sevandijas estrafalários que usaram e abusaram dos fundos à sua guarda e da boa fé dos depositantes.
E não serviu de nada a reunião entre Bush e os candidatos à Casa Branca porque um não podia dizer o que lhe ia na alma e o outro não estava para perder credibilidade embandeirando na proposta presidencial que, em boas contas, se resume, em ser o público que já foi lixado, a pagar os prejuízos. Ou a pagá-los assim, a secas, sem daí tirar consequências para o futuro, apurar responsabilidades, criar mecanismos idóneos de defesa.
Eu sou um empedernido amador de jazz, de policial americano, de literatura americana, de westerns e de mais algumas coisas que por lá se criaram. A falar verdade só não gosto de coca-cola, de hamburguers e daquele frango falsificado que agora servem nos KFC. O resto marcha tudo: A Marilyn Monroe, o Hemingway, o Pinchon, o Faulkner, o Pound (até o Pound!...) a Playboy e o suplemento literário do NYT. Até sou um pequeníssimo mecenas do Metropolitan Museum, vejam lá. Com as quotas em dia! Gosto da América, do sonho americano, da ideia de fronteira, dos grandes espaços e da Declaração de Direitos. Tenho um pequeno grupo de amigos americanos recrutados na aventura do direito comparado, em Berlin, nos bons tempos da colaboração entre a Secretaria de Estado da Cultura e a embaixada americana e, mais tarde numa prolongada estadia na Baviera.
É a pensar neles que escrevo estas linhas: gostaria de lhes dizer que estou solidário, criticamente solidário e que não liguem às parvoejadas que figuras públicas e semi-públicas portuguesas andam por aqui a debitar. Desde governantes acéfalos até cocottes da inteligentsia indígena tudo murmura que tudo vai bem. Não vai. Isto ainda agora começou. Vamos pagar, ai isso vamos, mesmo que a inanidade das nossas instituições financeiras, por pequenas e mesquinhas, as faça passar sem grande provação, a borrasca.
Algo tem de mudar, como diz Obama. Dêem uma oportunidade ao homem que com Mc Cain será apenas mais do mesmo.

* a gravura foi pilhada na internet a um blog cujo nome perdi. 'brigadinhos...

24 setembro 2008

Missanga a pataco 59


Ao que consta o FBI vai investigar cerca de cinquenta empresas bancárias e para bancárias americanas. Entre elas todas as que estão na origem da debacle financeira.
Afinal não parece ser assim tão difícil criminalizar o procedimento das Merryl Linch, Freddie Mac ou Fanny Mae.
Para que conste: o principal administrador do Lehman brothers ganhaou 40 milhões de dólares e saiu com um prémio de 13. O da AIG recebeu 68 milhões e o cavalheiro da Merryl Linch 60!
Imaginem o que eles não receberiam se não tivessem levado as respectivas empresas à falência.

Sábado: GasoliNÃO

É sabido que sempre que o crude aumentava a empresas faziam repercutir, de imediato, o efeito no respectivo preço de venda aos consumidores. Em dada altura um senhor até veio explicar que isso resultava da aplicação de uma fórmula matemática.

É sabido que durante semanas o preço do crude desceu, fortemente, nos mercados internacionais sem que a tal fórmula actuasse. Os consumidores continuavam a pagar os combustíveis ao mesmo preço, o que só poderia significar ganhos acrescidos para as petrolíferas.

Em consequência da reacção de diversas entidades, incluindo a DECO, a empresas estão, finalmente, a baixar os preços. Contudo, ainda estão longe de os ajustar em função da descida do crude nas últimas semanas.

É por isso que a reivindicação faz sentido. E mesmo que isso apenas seja uma acção simbólica, ainda assim faz sentido que expressemos o desagrado face às petrolíferas e face a uma entidade reguladora que apenas actua ou diz que vai actuar quando sente que o barulho desceu à rua.

23 setembro 2008

Estes dias que passam 125


O Outono será quente...

Eu ia falar-vos de livros: as editoras apressam-se a apresentar as novidades, depois duma seca estival apenas pontuada pela habitual (e triunfante) literatura light. Ia recomendar-vos uma obra prima japonesa “O dito do Genji”, de Murasaki Shikibu (preferentemente Murasaki-shibiku) dois sólidos volumes publicados pela Relógio de Água.
A obra, também conhecida por “Genji Monogatari” vem do século XI japonês, dos tempos da corte de Heian e tem tido crescente êxito na Europa. Eu, leitor me confesso, apenas conhecia uma versão pequenina, dois ou três capítulos numa edição estudiosa francesa dos anos sessenta. Fiquei fascinado mas de facto só agora é que há, cá e noutros países, europeus versões integrais da obra.
Devo, até, acrescentar que há mesmo uma edição francesa, (Dianne de Selliers ed.) em três volumes ricamente ilustrados por mais de 500 reproduções de pinturas japonesas, com comentários e tradução de René Sieffert. Um prodígio! Depois de uma edição por 500 euros saiu agora, outra num formato um pouco mais pequeno (e mais legível) com as mesmas reproduções e o mesmo aparelho critico por 150 euros. Não resisti e ainda não parei de me babar ao ver, devagar, devagarinho, as ilustrações.
Mas eu não vim aqui para falar de livros. Ou melhor: vinha, mas a realidade é mais forte ou mais brutal que a ficção e eis-me aterrado com as notícias da Finlândia: então não é que um energúmeno entra num liceu técnico e pimba, tiro à vontade sobre uns pobres diabos que cometiam o feio pecado de estar por ali à mão. Claro que a coisa, incompreensível, se compreende melhor se soubermos que, na Finlândia, 55% dos habitantes possui uma arma. E que a idade legal mínima para ter armas é aos 15 anos!!! Mas os finlandeses são parvos ou fazem-se? E isto não é uma novidade. Já no ano passado um outro sacana tinha feito o mesmo. Será que não se podem acusar os governantes de cumplicidade ou, pelo menos, de negligência culposa?
Mudemos de latitude. O ainda presidente Bush foi à ONU pregar a sua (dele) boa palavra. O homem nem quando fala para a história aprende. O discurso foi patético: condenou o eixo do mal, que ele ajudou a fabricar e a crescer com a sua desastrada guerra iraquiana, cominou o público a seguir-lhe os passos na contenção da crise, como se também nós europeus tivéssemos permitido, ajudado, propagandeado aquela imensa falcatrua dessa banca de negócios, dessas hipotecas miseráveis, dessa depredação que os neo-cons sempre acharam a respiração natural do mercado. Quem é medíocre, será sempre medíocre! Bush sai de cena mas ficam (lá e cá) os babados reconvertidos à excelência do liberalismo a outrance. Vai uma aposta que daqui a umas semanas voltarão ao mesmo e ao discurso sobre as potencialidades regeneradoras do mercado?
Mais perto de nós, a ETA voltou a matar. Três atentados, três. Para dizer que está viva? Para salvar o País Basco? Porque não sabe fazer mais nada?
A razão é outra. A ETA deixou há muito de ser uma organização política no sentido em que é a política que comanda. A política na ETA está subordinada à acção seja ela qual for. Não há estratégia e a táctica é o que se vê. A miragem da independência do País Basco é cada vez mais mirífica e menos consensual no seio da sociedade basca. Aliás, é mesmo provável que afrouxar a pressão dramática que os gangs juvenis exercem sobre o seu “entorno” (e afrouxará à medida que os quadros são identificados, presos, forçados á clandestinidade, à fuga e ao exílio, cada vez mais problemático e difícil) poderá eventualmente modificar os resultados eleitorais, quer no sentido de haver mais votos expressos quer no de haver mais votos discordantes. É mesmo provável que muitos dos opositores da ETA, forçados a sair do País Basco, possam regressar às suas cidades e aldeias, desenvolver actividade política, criar alternativas ao independentismo a-histórico professado pelos seguidores de Sabino Arana.
A política é o que é. E é sobretudo o que dela fazem. Mas é preferível haver política a não haver senão isto: a violência.
Todavia quando a política recorre demasiadas vezes à violência, mesmo que controlada, corre-se também o risco de confundir uma com a outra. Ou de como os ideólogos de Bush se aproximam perigosamente de outros ideólogos que pretendem combater : acaba tudo por se resumir a uma banal matança numa sala de aula num liceu longínquo na Finlândia.

* O Outono será quente, diziam, noutro tempo, noutro contexto, mas igualmente enganadas, outras pessoas. Foi-o. E seguiram-se anos de violência irracional, de desgosto, de chumbo e de sangue. Anda por aí um texto meu a falar disso mesmo.

**Ilustração da edição francesa do “Genji-monagatari”.

20 setembro 2008

Au Bonheur des Dames 138


De tudo, de nada, da vida e dos amigos

Este Outono está a dar cabo de mim. Demasiado doce, o dia de hoje então foi um espanto, demasiado carregado de comoções, como se não bastassem os figos maduros, as castanhas (que já se vendem por aí!...) o regresso de férias, o reavivar das rotinas interrompidas pelo verão.
Ora pratiquemos: então os mercados já se não corrigem a si próprios? Então a barracada das hipotecas dos subprimes que os pariu e mais uma série de truques especulativos iam dando com tudo isto em terra? Afinal o tal mercado que se auto-regula foi pelo cano? E a América (a verdadeira, a da Bayer, a dos grandes bancos, de Wall Street, do Bush...) põe-se de repente a adoptar medidas de um intervencionismo feroz, injecta biliões e biliões no mercado, ampara os bancos em risco, as seguradoras na falência como se isto fosse um paraíso socialista? Bush, ontem, parecia o Lenine a fazer a apologia da NEP, a famosa Nova Economia Política, que era a negação do bolchevismo puro e duro que ia mandando para o outro mundo algumas dezenas de milhões de pessoas que pura e simplesmente morriam de fome (para não falar dos outros milhões que morreram mesmo, convém dizê-lo, mesmo que isto soe a politicamente incorrecto.
O tovaritch Bush veio agora com falinhas mansas avisar que não podia deixar o mercado regular-se prometendo mesmo mais dinheiro se necessário fosse para parar a hemorragia e a queda da bolsa. Assim, sem mais nem menos. Só depois dele é que os ingleses de Brown, que é suposto ser socialista, se começaram a mexer.
Que diz disto o capitalismo indígena e os seus apóstolos (quase todos ex-esquerdistas radicais (que há muito viram não só a luz, na estrada de Damasco, mas também as prebendas que um oportuno volte-face lhes poderia proporcionar)?
Lembremos, com um piedoso sorriso que estes rapazolas eram mais papistas que o papa, mais liberais que o senhor Joe Berardo. E agora?
Recordemos também o senhor ministro da Economia que resolveu de repente ameaçar as petrolíferas. Irá nacionalizá-las? Irá impor preços máximos e mínimos?
E a Câmara Municipal do Porto que também ela de repente viu a luz (estou a repetir-me, já sei, mas a verdade é que me faltam palavras para definir a reviravolta no negocio do Mercado do Bolhão). Ainda há dias se ouvia dizer que os contestatários do projecto do Bolhão eram uns tontos (in)úteis e afinal agora já não são...
E o deputado senhor José Lello que também repentinamente descobriu que o ex-maoista Pedro Baptista é um esquerdista? Por onde andaria Sª Exª nestes últimos anos para só agora descobrir um perigoso radical na pele do cordeiro Baptista. Eu bem sei que o deputado José Lello é só isso, um deputado eterno que jamais terá frequentado qualquer esquerda (Deus o livre de tão feio pecado!) e que nunca terá tido a tentação de discorrer politicamente. A política é uma maçada e a ideologia pior ainda. Todavia, subitamente descobre o passado, morto e enterrado do ex-dirigente do Grito do Povo (enfim mais queixume do que grito que aquilo durou o que durou. Ou seja o tempo de um foguete de lágrimas, mas enfim há-de ter arrepiado as carnes tenras do deputado Lello que terá visto neste Pedro tão Baptista um similar do Pierrot le fou, o verdadeiro e não o de Godard, entenda-se, o mau, o que matava e não a personagem desempenhada por Jean Paul Belmondo).
A propósito (isto hoje vai ser assim, às voltas e reviravoltas, quem quiser seguir-me que ponha o cinto de segurança que nem eu mesmo sei o que vem a seguir) há por aí alguém que tendo visto o filme se lembre da maravilhosa Anna Karina, a actriz que chamava Pierrot ao “Ferdinand” e que tinha uma linha de anca, e outra da sorte (linhe d’anche ligne de chance como rezava a canção) ?
A Ana Karina era apenas uma lindíssima actriz que nunca se terá metido em política ao contrario dessa nova Egéria americana, a senhora Palin que há dias dizia com uma candura brutal que a Geórgia deveria estar na NATO. E que se já estivesse, os Estados Unidos deveriam tê-la defendido de armas na mão, mesmo que isso significasse uma guerra nuclear. Aliás percebia-se que mesmo sem a Geórgia estar na aliança deveria ter havido uma reacção mais musculada... Ora aqui está uma mulher “de armas tomar”. Mc Cain que se cuide.
E um bom exemplo para o acima nomeado deputado Lello que julgo lembrar ter sido um grande defensor da NATO. Há socialistas assim: vermelhos por fora mas verdinhos por dentro. Enfim, passemos adiante, que a criatura já teve o seu minuto de glória literária.
E que dizer do arranque do ano lectivo? O governo em peso nas escolas a dar diplomas aos melhores, e um cheque aos melhores dos melhores? Por mim, não faço reparos de maior. Ainda bem que as criaturas se lembraram do mérito, mesmo que isso pareça incongruente, com o abaixamento dos critérios de selecção, com a queda do rigor mínimo nas provas de avaliação, com o facilitismo de que aqui já se falou. Claro que teria gostado de ouvir que essas aberrantes práticas de “passar” à força as criancinhas que não estudam para gáudio de pais irresponsáveis, de educadores do eduquês e da senhora ministra da educação (cujo curriculum acabo de conhecer e que nem me surpreendeu, já esperava algo parecido, parvos fomos nós que suámos as estopinhas para obter uma licenciatura, uma miserável licenciatura em mais tempo do que o doutoramento da excelente senhora...) irão ser abolidas e que a escola voltará a ser o que em teoria deveria ser: um sítio onde a par do ler escrever e contar se ensina a ser cidadão responsável e livre.
Mas o espectáculo da entrega de diplomas desagradou aos sindicatos não por ser espectáculo mas por ser a apologia dos tais diplomas. Mal vamos, senhores sindicalistas, mal vamos se se tira a seriedade ao trabalho e ao mérito. A escola deveria ser meritocrática em vez de ser uma rasoira onde a mediocridade corre sérios riscos de triunfar. Sócrates será ridículo a fazer a apologia do mérito escolar (logo ele com o seu inglês técnico e restantes trapalhadas...) mas o princípio é salutar. Juízo, dr. Nogueira, juízo e cabeça fria.
E as eleições angolanas? Houve por aí uns comentadores apressados, recém-democratas que se apressaram a saudar os oitenta e muitos por cento de votos no partido MPLA/PT. Ia dizer partido único mas a Unita arrecadou umas migalhas e os restantes dez, vinte ou trinta partidos ficaram a chuchar no dedo.
Oitenta e tal por cento cheira muito a “democracia popular”, convenhamos. Deve ter sido por isso que os “órfãos de Estaline” deliraram com o resultado e se apressaram a passar um atestado de democracia ao partido no poder. O cheiro do petróleo e avalanche de votos endoida quem quer ser tonto. Que lhes preste. Convém dizer que não tenho a menor simpatia pelo segundo partido mais votado, a Unita, nem agora, nem antes. Deixo esses amores pouco exaltantes para o dr João Soares que terá visto em Savimbi um Mandela mais gordo e a falar português. Todavia, não posso deixar de me comover com as centenas de milhares de mortos das guerras civis angolanas, das guerras incivis angolanas, dos massacres de Luanda e de tantas outra terras. E algum direito tenho, quanto mais não seja porque fui amigo de alguns dos mortos, de muitos dos presos, de tantos exilados de ontem e de hoje. E mais outro escasso direito terei, por, nas palavras sempre certeiras de um relatório da PIDE, ter em algum momento da minha longínqua e desvairada mocidade sido apoiante activo da ideia de liberdade para a África dita portuguesa. Isto num tempo em que não era certa nem segura a orientação do principal partido de oposição a Salazar no tocante a participar ou não na “guerra colonial”. Fiquemo-nos por aqui porque mais seria levar a sério quer os órfãos do Zé dos bigodes quer as viúvas de Savimbi.
Os tribunais andam a dar cabo da vida aos juízes. Pedroso arrecada uma gorda maquia por quatro meses de prisão e opróbio. Ao ler a sentença fica-se com a sensação desagradável que anda por aí muito magistrado que deveria voltar aos bancos da faculdade, se é que a faculdade pode incutir prudência e bom senso (nem sempre incute, basta ler alguns dos seus mais excelsos produtos...)
Pinto da Costa ainda ganhou mais: por três horas de prisão absurda, leva 20.000 euros. O que dá cerca de 6.600 por hora. Ou seja, em boas contas de antigamente quase mil e quatrocentos contos de reis. Porra! Não há por aí um magistrado que me queira prender?
Mas Pinto da Costa não fica por aqui. Ganhou também, e definitivamente, no Tribunal Arbitral. E convenhamos que também aí o caso não parecia difícil. De que justiça desportiva poderemos falar depois destas sentenças arrasadoras?
Para cúmulo, ganhou o jogo de entrada na champions enquanto o resto dos clubes portugas (excepção feita ao Braga) fez a figura que se sabe.
Eu sou da Naval 1º de Maio e não tenho nenhuma simpatia pelos clubes do Norte (nem pelos do sul, diga-se) mas sou obrigado a rir-me do inútil gesticular dessa gentinha e a reconhecer que o FCP é o único com alguma credibilidade europeia. O resto é o que se vê. Ou que se vai ver daqui a pouco: fogo de palha verde.
Camaradas de blogue fizeram-me chegar reparos pela minha ausência na semana que finda. E inquietavam-se simpaticamente: o gajo estará doente? Nada disso, o gajo está são como um pêro mas andou por aí a fazer nem ele sabe bem o quê, preguiçou, espreguiçou-se, andou nos alfarrabistas a descobrir livros excelentes de que falará, foi a Lisboa assistir ao lançamento do álbum do filme “Le Passeur” em que, como saberão, contracena com outro incursionista, o Manel Simas (sem esquecer a Laurinda Alves e o Zé Teixeira Gomes), esteve com amigos, vai amanhã para uma reunião de curso em Coimbra, ver amigos e colegas tão velhos e jarretas como ele, beberá moderadamente, falará imoderadamente, comover-se-á, lembrará amigos que já não estão, o Zé Rita, o Aníbal Belo e tantos outros, puta de vida, estão a dizimar-nos e nós a assobiar para o lado, é pá estás na mesma, enfim quase, claro que não estamos, estamos mais velhos, mais gordos, mais sensíveis, menos indignados, com menos cabelo ou com o mesmo mas muito, muito branco, que se lixe, estamos vivos, estamos vivos, estamos vivos e por uns escassos momentos seremos os mesmos que há décadas descobríamos maravilhados e intimidados a liberdade, a universidade e a camaradagem que nos faz, apesar de tudo, voltar a estar juntos.
A CG não quer ir: para jarretas basto eu, e um bando de gajos como eu deve parecer-lhe uma viagem à pedra lascada. Tem razão. Mas eu vou. Com a idade que já tenho, o meu pai já não pode ir à reunião do seu curso. Morrera entretanto. Logo ele que era um coimbrinha radical. Também é por ele que vou. E pelos colegas dele: já só restam três ou quatro, todos com mais de noventa anos, é duvidoso que ainda reúnam. Lá irei ao Penedo ver se por lá está a placa da ultima reunião deles. Se fosse religioso iria à capela da universidade. Não o sendo, restam-me o Penedo e as ruas antigas de Coimbra e a recordação amável de alguns professores (Orlando de Carvalho, Ferrer Correia, Mota Pinto, Teixeira Ribeiro, todos de Direito e Paulo Quintela, Luís de Albuquerque, Joaquim Namorado, Fernandes Martins entre muitos que me aturaram as ousadias juvenis, me educaram, me ensinaram e são exemplos de cidadania e saber.)
No fundo, tive sorte, muita sorte. Mas também fiz por isso...


*Na foto Anna Karina

19 setembro 2008

Lisboa à Noite

Segundo o Público, o Governo e a Câmara de Lisboa vão dar transporte de borla ao pessoal da noite lisboeta. Tudo se passa aos fins de semana, entre as 22 horas e as 5 da manhã.

O pessoal da noite passa a usufruir de autocarros gratuitos, de 20 em 20 minutos. Para que a mobilidade seja maior, o metro e a CP vão alterar os horários matinais, tornando-os mais madrugadores, a fim do pessoal da noite poder ir dormir mais cedo. É ler emhttp://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1343287

O programa que o governo e a edilidade lisboeta acordaram também envolve a PSP, que será reforçada nas noites dos fins de semana para maior tranquilidade dos noctívagos.

O que a notícia não revela é quanto custa este programa de fomento das noitadas.

Também não revela se se trata de um programa exclusivo da capital ou se estamos perante uma experiência piloto, a ser aplicada em outras cidades do país, a começar pelo Porto, Coimbra, Braga e nos Allgarves.

Confesso que me pareceria mais racional se o Governo facultasse transportes grátis para quem se levanta de manhã e vai trabalhar.

De qualquer modo, é este o objectivo do post, não posso deixar de exprimir o meu desconforto e inquietação em saber que os impostos são aplicados desta forma.

A crise que veio para durar

Falências e nacionalizações à grande e à americana. Injecções de capitais pelos bancos centrais para segurar empresas e mercados. Queda abrupta das principais bolsas mundiais. Subida incessante das taxas de juro. Bolha imobiliária de consequências imprevisíveis. Exportações a diminuírem. Importações em quebra nos principais mercados. Empresas a fechar. Desemprego a aumentar. Preço do petróleo e cotação do euro a cair. Preço dos combustíveis a ir caindo. Dinheiro a faltar nos bolsos das pessoas. Crédito malparado a subir. Bancos a dificultarem (agora) o crédito a empresas e particulares. Quebra do poder de compra. Comércio e indústria com diminuição das vendas. A globalização no seu pior. Onde vamos parar?

Creio que estamos a viver novos tempos, para os quais ainda se não conhece nem a receita nem os remédios adequados. Tempos que afectarão sobremaneira países como Portugal, que vive uma situação fragilizada por estar demasiado exposto às contingências que afectam os nossos grandes mercados de exportação.

18 setembro 2008

A Sopa dos Pobres

Hoje, pelas 20,30 horas, a sopa dos pobres serve-se no Pátio das Nações. Ontem, como se sabe, foi servida no salão real do Palácio de Queluz. Para amanhã, caso não chova, os convivas serão servidos na Estufa Fria e, caso chova, no Salão Árabe. Para hoje prevê-se que irão ser servidos Peixes Fumados com Salada Verde, Creme Santo Humberto, Folhado de Pargo com Molho de Açafrão, Lombo de Vaca com Molho de Trufas, Toucinho do Céu com Pêras em Vinho Tinto, Café e Trufas. Também se sentará à mesa o verde branco Loureiro, o maduro Planalto, o maduro tinto Sogrape Garrafeira e o Porto Burmester Tordiz de 40 anos.

Despedida


In Diário Económico de 16/09/2008

Expropriador de Bancos

El Solitário, em pleno tribunal, declarou-se como “expropriador de bancos”.

Face ao histórico recente é de crer que quando o Classificador das Actividades Económicas for actualizado passe a contemplar esta nova profissão: “Expropriador de bancos”? Entretanto, é natural que esta actividade vá fazendo o seu caminho. Com outros métodos, outros proveitos e sem o incómodo de alguém responder perante a justiça, mas sempre “com muita honra”, tal como diz sentir El Solitário.

17 setembro 2008

É a Vida…

A Reengenharia, no domínio das organizações, nasceu com o propósito reorganizar, reformular, redimensionar, racionalizar e reorientar as empresas para o mercado, tornando-as mais competitivas e lucrativas pela optimização da relação proveitos-custos.

Durante anos e anos os gurus da reengenharia venderam a receita e impuseram as suas regras. No essencial, a técnica consistia em reduzir os custos, metaforicamente equiparados a “gorduras”. Para tanto, eliminavam-se departamentos, fundiam-se empresas ou vendiam-se segmentos de mercado, culminando sempre com um significativo número de despedimentos, proporcional ao objectivo definido para a redução de custos.

Ainda hoje temos por cá alguns gestores seguidores desta metodologia. A receita dá sempre resultado porque é mais que certo que toda e qualquer organização aguenta dois três anos em turbulência interna, tempo suficiente para os accionistas verem que as medidas deram resultado, uma vez que tudo passa a ser medido em função da redução de custos. Três, quatro anos é o tempo que esses gestores passam à frente de uma empresa. Depois saltam para outra e outra.

A vida das empresas tornava-se cada vez mais complexa, o equilíbrio financeiro também. Começaram a aparecer “gurus” a darem receitas miraculosas. Sempre pagos a peso d’oiro. A bolsa tornou-se como que a medida de uma economia virtual, onde as sociedades de risco, fundos disto e daquilo funcionavam livres e desregulamentados, em nome do mercado e da economia global.

Os Estados, por sua vez, influenciados por gurus internos e externos e cada vez mais dominados pelos grandes grupos económicos, pouco intervinham no funcionamento da economia ou descuravam mesmo a desregulamentação, quando não eram agentes activos na constituição de grupos dominantes, através do mecanismo das privatizações e das parcerias público-privadas, medidas alicerçadas no princípio ideológico do “Estado mínimo”.

O problema, o grande problema, que nenhum homem da reengenharia ou guru anteviu, é que o caminho estava armadilhado e com tantas facilidades concedidas a um mercado sempre guloso, este acabou por cair numa crise tremenda, que só não é maior (ainda) porque os governos (BCE incluído) estão a usar o dinheiro dos contribuintes para salvar algumas das empresas, sem que entenda, muito bem, porquê umas e não outras.

Neste processo, a que o director do Público ousa qualificar de “reestruturação do sector financeiro”, (se tudo se passasse nos países do eixo do mal seria “fracasso do sistema” ou qualquer coisa bem pior) ficaram de fora os arautos da reengenharia e os gurus, também nada se diz quanto às responsabilidades dos decisores políticos e dos executivos das empresas falidas. Quanto a estes, o Público de hoje apresenta os “bónus”, em montante de muitos milhões de euros, que alguns gestores receberam, referentes ao ano de 2007, apesar da ameaça de falências das respectivas empresas.

Entretanto, as dezenas ou centenas de milhares de trabalhadores, que perderam ou vão perder o emprego, têm sempre como alternativa “encontramo-nos na sopa dos pobres”, a exemplo da mensagem que um trabalhador da Lehman Brothers deixou registada na fotografia do CEO da empresa.

Como diria o outro, É a vida!

15 setembro 2008

Para que conste

O Tribunal da Relação do Porto condenou o Estado a pagar uma indemnização de 20 mil euros a Pinto da Costa, por detenção ilegal.

A defesa de Pinto da Costa apresentou um recurso por prisão ilegal em Dezembro de 2004, uma vez que foi detido no interior do tribunal, depois de se ter apresentado de forma voluntária para prestar declarações. O pedido de indemnização tinha sido recusado na primeira instância de Gondomar. Pinto da Costa recorreu e o Tribunal da Relação acabou por dar razão, condenando o Estado a pagar 20 mil euros de indemnização. Melhor explicado em http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=109296 notícia e comentários.

LEHMAN BROTHERS

A profundidade e permanência da crise no mercado imobiliário provocaram mais uma vítima. O quarto maior banco dos EUA declarou falência. A consequência imediata foi a queda generalizada nas principais bolsas.

Durante dias procuram uma solução para o Lehman Brothers. Todas as negociações tiveram como resultado o insucesso. Desta vez o governo americano mostrou-se indisponível para salvar o banco. Mesmo para o país mais rico do globo começa a ser esforço financeiro a mais.

O sítio do Diário Económico de hoje vai dando registo da evolução do drama:

18:31• Quatro companhias do grupo na Europa tentam reorganizar-se para escapar à falência
18:10 • Lehman discute venda da sua unidade de investimento
16:05 • FMI espera mais perdas resultantes da crise do crédito
13:35 • Fed pode cortar juros com falência do Lehman já amanhã
13:03 • Falência do Lehman e a maior de sempre nos Estados Unidos
07:40 • Fed anuncia medidas para ajudar sistema financeiro
00:05 • Lehman sem soluções

De tudo quanto fui lendo sobre esta matéria, todos se centram nos factos e no futuro. Mesmo o nosso Ministro da Finanças mostra-se surpreendido com a permanência da crise financeira, que parece ter caído do céu.

Como se chegou até aqui? Mais uma vez se deveria dar a palavra aos defensores do liberalismo económico, para nos explicarem onde é que os mecanismos de regulação e supervisão falharam.

O Prémio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, no Diário Económico, de 15 de Abril, registava que "Os EUA tiveram, pela primeira vez desde a Guerra da Independência, há cerca de 200 anos, de pedir apoio financeiro ao estrangeiro porque os níveis de poupança das famílias norte-americanas são próximos de zero. A dívida pública aumentou 50% em oito anos, sendo que 1 bilião se deve ao esforço de guerra – valor que deverá mais do que duplicar na próxima década".

No mesmo artigo Stiglitz concluía "Ninguém acreditaria que uma administração pudesse causar tantos danos em tão pouco tempo. Os EUA e o mundo vão ter de pagar a factura durante muitos e longos anos."

No último dia 12, ainda, Stiglitz escrevia “Mesmo o maior e mais rico país do mundo tem recursos limitados. A guerra do Iraque tem sido financiada inteiramente com recurso a créditos. Aliás, em parte por causa disso, a dívida nacional dos EUA aumentou dois terços em apenas oito anos. Mas não é tudo: o défice relativo a 2009 está calculado em mais de meio bilião de dólares, excluindo os custos do socorro financeiro a instituições e o segundo pacote de estímulo económico que quase todos os economistas agora dizem ser urgente.”

Cá estaremos todos para pagar os desvarios de uma administração e de alguns líderes europeus (a famosa cimeira) que lhe deram cobertura política.

12 setembro 2008

QUE DIZ O MINISTRO DA JUSTIÇA?

Ontem foi dia de grandes entrevistas com altos responsáveis do mundo da justiça. Na SIC Notícias, Noronha do Nascimento, Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, acabou por revelar que a Lei Penal deve ser alterada, defendendo a redefinição dos crimes abrangidos pela prisão preventiva.

Por sua vez, em entrevista à RTP, Maria José Morgado reconheceu que a lei está desadequada face às necessidades que o combate ao crime exige, dizendo, claramente, que a Reforma do Código de Processo Penal não foi uma grande ajuda, para além de ter entrado em vigor num prazo tão curto – 15 dias depois de publicado – que não permitiu que o mesmo fosse estudado e assimilado pelos agentes judiciais.

Outras figuras do mundo da justiça têm expressado as suas críticas ao CPP e apontado como saída a sua reformulação. Perante isto e face ao clima real de insegurança que se instalou, o que surpreende é que as baterias dos políticos e da comunicação social esteja direccionada para o Ministro da Administração Interna, deixando incólume o Ministro da Justiça, como se nada tivesse a ver com estas matérias..

Que pensará o Ministro da Justiça sobre estas coisas? Às tantas acredita mesmo que a lei é perfeita, os aplicadores é que são maus ou estão zangados por uma qualquer razão, sem razão. Entretando, a criminalidade sobe e sobe. O que, no entender do Governo, trata-se de um fenómeno normal, que apesar de tudo somos ainda um país seguro, abaixo dos índices europeus.
Portanto, esperemos que as nossas estatísticas subam e estejam ao nível comunitário para, então sim, o Governo alterar o CPP.

11 setembro 2008

Definitivamente

De acordo com a notícia vinda no Público “ O homem que ontem feriu gravemente um outro com três tiros dentro da esquadra da PSP de Portimão vai ficar a aguardar o julgamento em liberdade, mas proibido de abandonar o concelho, segundo fonte judicial. O juiz de Instrução Criminal do Tribunal de Portimão, Pedro Frias, que ouviu o indivíduo esta tarde, determinou, como medidas de coacção, a aplicação de Termo de Identidade e Residência e apresentações diárias na esquadra da PSP.O homem, de 55 anos, ficou também proibido de contactar a vítima e sua família. O autor dos disparos dentro da esquadra, que provocaram ferimentos muito graves num homem de 31 anos, ainda internado no Hospital de S. José, está indiciado pelos crimes de homicídio simples na forma tentada e posse de arma proibida. A inquirição do indivíduo durou cerca de uma hora, entre as 16h00 e as 17h00.”

Ficou-se também a saber que o Ministério Público tinha pedido homicídio qualificado na forma tentada.

Não percebo nada de leis e não sei se o facto daquele acto ser considerado homicídio qualificado na forma tentada seria suficiente para o juiz decretar a prisão preventiva. Não sei também se poderia ou não ser aplicado outro tipo de medida de coacção. O que sei é que, com a decisão de libertação do arguido, a mensagem que passa para o país é péssima. Então se pensarmos no que esta mensagem representa para criminosos e para os agentes da polícia, estamos conversados. Para os primeiros funciona seguramente como uma mensagem de permissividade. Para os segundos poderá ser um estímulo à passividade, ao desalento. E a família da vítima, como se sentirá? Basta pensar: se fosse o nosso pai, um filho ou outro familiar próximo o que sentiríamos?

De facto, estas decisões fazem pensar que o crime pode não compensar mas dificilmente é punível seriamente e que investir na investigação criminal pode ser perda de tempo. Afinal se o acto acontece numa esquadra da polícia, o atingido fica internado com prognóstico reservado e o arguido vai para casa, isto não funciona mesmo. Serão as leis? Talvez. Serão também interpretações de leis que estão em causa? Não sei.

O que sei é que a justiça em Portugal parece envolvida numa guerra surda que nos está a afectar a todos porque interfere na tranquilidade do país. Temos uma boa polícia mas temos um sistema de execução das leis que precisa urgentemente de ser melhorado. Definitivamente.

Au Bonheur des Dames 137


Olá cambada
(reflexões sobre a política, as amizades, as facilidades, e nós)


As leitoras (e o leitor Zé M. a quem esta vai dedicada) lembrar-se-ão de um cómico televisivo que começava o seu programa com esta expressão de fino recorte literário e televisivo: “olá cambada”. E depois prosseguia num sketch nem sempre brilhante, antes pelo contrario, dando voz a um comentador desportivo espertalhão, bebedolas e fanático do FCP.

Ao ler no jornal os resultados do último conclave do CDS lembrei-me do personagem em questão não porque pense que o dr. Portas seja engraçado (não é!), seja bêbado (não me consta), adepto do FCP (idem aspas) ou sequer que trate os seus camaradas por “cambada”.
Não trata, mas podia, dado o que li. Por um lado, o dr. Portas bate (levemente) no peito, confessa que foi imprudente e basta. Entende que a carta do seu vice-presidente era não uma demissão do cargo mas apenas um estado de alma, uma emoção, algo passageiro que o tempo, sempre o tempo esses “implacável escultor”, resolveria. E assim evitar-se-ia que razões espúrias afastassem as multidões nacionais e as massas partidárias do verdadeiro objectivo: a glória esplendente e eterna do CDS.
Por outro lado, o conselho nacional (uma boa centena de criaturas!...) não só entendeu perfeitamente as excelentes razões do dr. Portas em sonegar uma informação (finalmente) não essencial: a saída do dr. Nobre Guedes. Houve mesmo um conselheiro que produziu esta pérola: toda a gente sabia do divórcio amigável do dr. Guedes. Era um segredo gritado pelos cantos, por todos os cantos. Só um homenzinho do Porto é que, por surdez viciosa, desconhecia esta verdade elementar.
Houve mesmo uma criatura (Pires de Lima creio que se chama) que entendeu que as culpas, todas ou grande parte, deveriam assacar-se ao silente Guedes. Em resumo, parece que o dr. Pires acha que Guedes, ausente há um ano do moribundo CDS deveria insuflar-lhe o respiro da vida dizendo que a carta escrita a Portas era só um rascunho, um bilhete a falar do futebol e dumas sardinhas demasiado assadas. No meio dessa missiva vagamente gastro-desportiva, Guedes, incomodado por uma azia de pimentos (os pimentos são traiçoeiros...) deixava entre-linhas uma menção ao seu afastamento: vou ali e já volto, vou dar uma volta ao bilhar grande, vou num pé e venho noutro, adeus até ao meu regresso, os políticos conservadores são como os velhos jogadores de golf, não morreram nem desistiram estão só à procura de uma bola que se perdeu... Não se sabe exactamente a expressão usada mas é de certo uma destas ou outra semelhante.
Ora bem: comentemos esta historieta tão portuguesa, tão pão e vinho sobre a mesa, como dizia o fadinho da nossa conformada tristeza que nem por ser cantado pela Amália deixava de ser uma merda. Isto, esta vaga confusão, num partido com representação parlamentar, deixa um sabor amargo na boca. Pessoalmente, pouco me importa o CDS e menos ainda Portas. A personagem é medíocre, já não impressiona, repete truques e esgares mas (e neste “mas” vai um mundo...) detém um partido (mesmo pequeno e em perda) alguns mandatos parlamentares (poucos) e significa para alguns cidadãos a Política, a política com P grande. E isso é um pecado. Os cidadãos votantes têm o direito de saber como funciona o partido a que deram a sua confiança. E os restantes cidadãos têm o direito de querer que no seu país (este) a política se faça com alguma normalidade e elevação.
Um ano, um inteiro ano, de silêncio sobre uma demissão da segunda figura de um partido, mesmo que anunciada por carta particular a um amigo, por acaso o presidente, merecia outro tratamento. Primeiro, ser conhecida por muito que isso prejudicasse o partido. Prejudica mais agora o silêncio do que a verdade há uma ano. Segundo, mereceria uma clara assunção das responsabilidades e não esta série frouxa de explicações e desculpas. Terceiro, mereceria uma verdadeira critica e não este voto maciço (100 a favor e 4 abstenções) que parece premiar a actuação de Portas e dizer para fora, para nós que “no pasa nada” como na imortal Casa de Bernarda Alba: mas aí, mesmo se Bernarda urra que “no pasa nada”, passaram-se demasiadas coisas como eventualmente saberáo.
E é por isto, pelo silêncio e pela sua absolvição quase unânime, que me veio à memória o cumprimento do cómico: olá cambada!
Só não sei quem é o alvo desse elegante apodo: se o conselho nacional da unanimidade se os portugueses em geral que esperavam saber o que de facto aconteceu. E pelos vistos não aconteceu nada. Não se passou nada!

09 setembro 2008

O Comunismo à Americana ou o Novo Estádio no Sistema de Acumulação Capitalista

A intervenção do governo americano, que levou à nacionalização das duas empresas hipotecárias, pelo volume de recursos envolvidos, ganha contornos de escândalo à escala planetária. Ou seja, o tesouro dos EUA vai pagar mais de 200 mil milhões de euros para evitar a falência das duas empresas e o desastre de muitos bancos e instituições imobiliárias.

O curioso é que toda a gente ficou satisfeita. Mesmo aqueles que sempre defenderam a não intervenção do Estado na economia – os fieis do “Menos Estado melhor Estado”, ficaram calados ou aceitam a nacionalização como o mal menor.

O BCP também pode encarar o futuro com mais tranquilidade. É que detém 55 milhões de euros em activos das empresas nacionalizadas, que desapareceriam no processo de falência, mas que agora estão a salvo graças à intervenção do governo dos EUA.

Em meu entender, esta história apresenta três facetas distintas.

A primeira, reconfirma a absoluta incapacidade do mercado em se autoregular, do que decorre a permanente necessidade do Estado manter em alerta a “mão visível”, para impor as regas e os limites na assunção do risco;

A segunda, mostra até que ponto o capital livre e desenfreado contém o gérmen das crises e como o governo americano se dispõe a chutar para a frente um problema, sem o resolver de facto;

A terceira, mas não menos interessante, mostra como o EUA não hesitam em deitar mão de um instrumento de política socializante para salvar grandes empresas e accionistas.

A partir de agora, face ao sinal dado pelo governo americano, os gestores de grandes grupos financeiros não terão e se preocupar com a qualidade da sua gestão. Se as coisas correrem para o torto, o Governo deitará mão do instrumento das nacionalizações e salvará as respectivas empresas. É de admitir que estes princípios sejam adoptados por outros países, incluindo o nosso.

Ou seja, o Governo de Bush deixa mais esta marca na economia. De ora em diante as nacionalizações passarão a ser um instrumento de correcção das ineficiências do mercado e poderão ser adoptadas por qualquer governo, sem correr o perigo de ser apodado de antidemocrático, socialista, comunista ou outra coisa qualquer.

Atingiu-se um novo estádio no processo de acumulação capitalista: O Mercado a funcionar sob a “mão visível” do Estado.

08 setembro 2008

As eleições em Angola

Decorreram na passada sexta-feira (pelo visto, também no sábado…) as eleições legislativas em Angola. Dezasseis anos depois, os angolanos voltaram às urnas, mas o tempo parece não ter sido suficiente para que a organização desse uma resposta pronta e cabal a todos os constrangimentos verificados. A confusão generalizou-se e houve que repetir as eleições em muitas assembleias de voto, o que motivou a líder da delegação de observadores do Parlamento Europeu a classificar como um “desastre” a organização do processo eleitoral. Ainda que hoje venha dizer que as eleições foram “livres e transparentes”.

A verdade é que talvez não fosse de esperar algo de substancialmente diferente num país onde o caos é generalizado em amplos sectores e há carências gritantes em muitos serviços básicos, apesar do contínuo crescimento da produção de petróleo e do enriquecimento das “elites”. Ainda assim, o MPLA tira partido da sua longa permanência no poder e ganha as eleições com uma larguíssima maioria.

Apesar de Angola ser neste momento um importante destino de mão-de-obra e de produtos portugueses, chocou-me (ou talvez não) ver a passividade com que o Governo português olhou para o veto das autoridades angolanas à presença de órgãos de comunicação social portugueses naquele país durante o processo eleitoral. Com efeito, o facto de não terem sido concedidos vistos ao “Expresso”, à SIC, à “Visão”, ao “Público” ou à Rádio Renascença foi uma retaliação intolerável do poder angolano e devia ter motivado uma reacção firme das autoridades portuguesas. O Governo preferiu acentuar a “forma cívica e tranquila” como decorreram as eleições, mas não devia passar por cima de uma violação de princípios elementares, que deveria ter repercussões no relacionamento entre países amigos e adultos.

07 setembro 2008

As Boas Intenções de Bento XVI

Segundo a comunicação social, o Papa Bento XVI denunciou, hoje, a praga do desemprego e da precariedade laboral entre os jovens, que põe em causa os projectos de vida dos jovens, disse.

Da leitura das noticias não se percebe qual a causa ou causas que o Papa considera como responsáveis pelo desemprego dos jovens nem o que entende que governos e empresas deveriam fazer para acabar ou reduzir a precariedade laboral. Neste domínio o pensamento do Papa deveria ser mais explícito para que a mensagem passasse e se replicasse

Mais uma machadada nos neoliberais

É noticia no Diário Digital que o Tesouro dos Estados Unidos está prestes a anunciar uma acção de resgate para salvar e recapitalizar Fannie Mae e a Freddie Mac, as duas maiores sociedades de garantia hipotecária dos EUA.

Esta intervenção, que pode ser vista como uma "nacionalização" temporária daquelas instituições, será uma das maiores de sempre nos EUA e visa evitar consequências mais trágicas no quadro da turbulência gerada com a crise do subprime.

Se este intervencionismo estatal ocorresse na Venezuela, como é que seria noticiado?

05 setembro 2008

Au Bonheur des Dames 136


Acabei por não saber se o dr. Paulo Portas foi aos Estados Unidos dar a esperada lição de como ganhar eleições ao senador John Mc Cain e à flamante governadora do Alasca, de seu nome Sara Palin.
A propósito, esta senhora “que saiu do frio” parece ser uma nova estrela no universo multimédia americano. Caçadora e membro da National Riffle Assciation”, defensora da vida e anti-abortista, firme apoiante das teorias criacionistas (Deus criou o mundo em seis dias, Eva vem duma costela de Adão, Noé salvou o género humano embarcando numa arca, etc...), ela saiu-nos melhor ainda do que a encomenda. E não é um neto subitamente anunciado mas que nascerá legitimado pelo casamento dos pais adolescentes, que vai estragar a coisa. É claro que alguma das minhas gentis leitoras é capaz de achar estranho que a rapariga não usasse a pílula, ou o boy friend não soubesse que uso dar a uma french-rubber (se é que ainda é assim que lá chamam aos preservativos, instrumentos pecaminosos da lascívia e obrigatoriamente inventados pelos franceses. Claro que os franceses chamam à coisa “capotte anglaise” o que é um disparate igual. Salvamo-nos nós, portugas que sempre lhes chamámos “camisas de Vénus” o que não só retira ao objecto ((“uma teia de aranha contra o perigo e uma muralha espessa contra o prazer”, no dizer sempre romântico da Madame de Stael..., ai a erudição!...)) qualquer conotação racial mas até o introduz no mundo esplêndido da mitologia greco-latina), mas as minhas leitoras, poucas mas escolhidas, vêm de outra cultura e de outra visão do mundo (Meto “Weltanschauung”? Meto, pois, que isto hoje em se, tratando de Portas, exige mais do que habitualmente.)
Portanto, Portas: nos EE.UU. a declinar o verbo vencer (to win) na voz perifrástica diante de uma embasbacada multidão de cow-boys & similares.
Espero, todavia, que a rapaziada do partido republicano conheça mal, isto é, não conheça de todo, Portugal. Porque se conhecessem nem que fosse só um bocadinho, fatalmente saberiam que Portas, e o partido que chefia, não é (não são) exactamente um winner. Bem pelo contrário. Aquilo, se não se acautelam, ainda fica com menos votos e menos deputados do que o grupo do dr. Louçã, outro iluminado.
Durante um breve período, Portas foi considerado um meteoro na confusa galáxia da política nacional. Falava alto, vinha de um jornalismo agressivo que atacava tudo e todos (e que teve como resultado o naufrágio do “independente” - que era mais “indy” do que independente mas isso é outra conversa...- e um punhado de processos judicias que se arrastam pelos tribunais) o que, na decrépita direita portuguesa, parecia ser receita miraculosa. Bastava chamar burra à esquerda (e Deus sabe quantas vezes ela mereceu tal apodo, se bem que por razões diferentes das de Portas) e feia (idem, idem, aspas) e triste para um bando de pacóvios ajanotados começar a berrar que o messias chegara. Não era verdade. Não chegara, e se tivesse chegado não seria travestido em Paulo Portas, haja Deus!
O CDS, ou PP - é indiferente!... – nasceu envergonhado, numa época em que se partejavam com fórceps os elementos necessários à nova democracia. Toda a gente sabia que aquilo era de direita, mas aquilo jurava que era centro. Freitas do Amaral e Amaro da Costa, subitamente esquecidos de um passado recente salazarista e caetanista, blasonavam virtudes democráticas que faziam a antiga “oposicrática” parecer incomensuravelmente conservadora. Depois foi o que se viu.
Já o CDS andava a preços de saldo quando Portas resolveu fazer uma OPA sobre ele. Era a altura em que se falava em meteoro. Também aqui houve um engano. De somenos, mas engano. Portas não era um meteoro. Quanto muito era um meteorito. Ou seja: em caindo num planeta não mataria os dinossáurios e demais bicheza da época. Fazia quanto muito uma covinha na zona de impacto, e era preciso que esta fosse constituída de terra macia.
Portas, desculpem lá, fala bem, escreve bem, leu alguma coisinha mas fica por aí. Não é caçador de caça grossa. Deixemo-lo entregue às perdizes de aviário, aos estorninhos e a outra passarada do mesmo quilate. E já não é mau.
Daí que a ida dele aos States seja apenas, e só, uma espadeirada na água. Portas é irrelevante e provavelmente Mc Cain, se é que trocaram um shake-hands viril e banal, já não se lembra dele. Também Sara Palin não se lembrará. A menos que, num gesto cortês e decimonónico, Portas, em vez de a beijar castamente na face, lhe tenha agarrado a mão forte de basquetebolista para simular o velho beijo respeitoso e fidalgo. Imagino a senhora do Alasca, assarapantada, sem saber o que fazer e receando que o baixote latino lhe lambesse a unha manicurada!...
E depois, deve ser preciso muita estaleca e jogo de ancas para aguentar uma convenção republicana. Do que vi (às vezes dá-me para isto, sobretudo se tenho insónias) fiquei com a ideia de que aquilo era uma berrata danada com os congressistas todos a dizerem que a América era the best, que a estranja, sobretudo a europeia, era do piorio (da “pretalhada” ou do quintal latino americano, nem se fala). Por muito que a gente apoie os Cheyney, os Bush, ou a sombra do velho Theodore, deve ser doloroso ouvir escorrer o desprezo com que nos brindam. E nesse capítulo aquilo foi uma sangria desatada. E muito religiosa. Há momentos em que penso se aquelas multidões ululantes e evangélicas serão assim tão diferentes das outras muçulmanas que tanto atemorizam o Ocidente. Vamos lá, não se suicidam com um cinto de bombas à cintura... o que não impede de serem capazes de entrar num qualquer sítio, armados até aos dentes, e “záz! Toma lá que já bebeste!”.
Mas Portas foi (julgo...) e deve ter ficado deliciado com o que viu, ouviu e ensinou. Com sorte terá trazido lá dos fundilhos do Minesotta um chapéu de cow-boy, um “Stetson”: sempre dá para disfarçar o penteado, se é que aquilo são cabelos mesmo dele ou tão só um capachinho...

Nota: as minhas leitoras gentis dirão que dois textos sobre Portas constituem um exagero. É verdade. A criatura não dá para tanto. Mas, recordem Eça e o chiar das botas do moço de recados da tipografia: também eu estava sem assunto e custa-me (ou custa ao meu já escasso amor próprio) deixar passar um inteiro fim se semana sem dar notícias. Como já não há um bey de Tunes (ou há mas reservo-o para outra ocasião...) de quem falar fui rapar o fundo do tacho da política nacional e da classe que nele se evapora sem grande glória. E aqui está.

ANGOLA Eleições

Ex-dirigente da Unita, Fátima Roque, diz que vai votar no MPLA

A economista fez essa declaração à reportagem da Televisão Pública de Angola (TPA), à margem do comício de encerramento da campanha eleitoral do MPLA, realizado quarta-feira, 3, em Luanda.

A economista Fátima Roque, uma das mais importantes dirigentes da UNITA até muito recentemente, disse que vai votar no MPLA nas eleições legislativas desta sexta-feira, 5 de Setembro.

Ela fez essa declaração à reportagem da Televisão Pública de Angola (TPA), à margem do comício de encerramento da campanha eleitoral do MPLA, realizado quarta-feira, 3, em Luanda.

Fátima Roque, que era amiga pessoal do ex-líder da UNITA, Jonas Savimbi, chegou a pertencer ao Comité Político Permanente da organização. Antes da eleição de 1992, era cotada como possível ministra da Economia de Angola, caso a UNITA vencesse a disputa, que acabou por perder para o MPLA.

Ela foi casada com o banqueiro Horácio Roque, do Banif, que foi um dos principais financiadores da UNITA durante a guerra contra o governo angolano.

Durante este mês de campanha, terminada ontem, quarta-feira, perto de um milhar de militantes e outras figuras da UNITA aderiram ao MPLA ou apelaram ao voto no partido no poder, em todo o país.

Entre eles, contam-se responsáveis do partido, deputados, vice-ministros e administradores municipais e comunais.

Antes de Fátima Roque, outra figura de destaque da UNITA que já tinha apelado ao voto no MPLA tinha sido o deputado Jorge Valentim, um dos co-fundadores da organização, muito influente na área do Lobito e Benguela.

(Depois de ouvir Mário Crespo, da SIC, e o Director do Público a deplorar terem sido banidos, pelo governo de Angola, da cobertura das eleições, lembrei-me de colocar aqui este artigo, que retirei daqui. Talvez não seja visível a relação entre uns e outros, mas que Fátima Roque já teve grande tempo de antena naqueles órgãos de comunicação, lá isso teve).

03 setembro 2008

Diário Político 91

Indignações a norte

Parece que um conspícuo vereador da Câmara Municipal do Porto e membro da Comissão Política do CDS (ou PP, como queiram) se demitiu do partido, revoltado com o facto de a demissão do vice-presidente Nobre Guedes ter sido ocultada por Paulo Portas durante um ano.

O senhor comissário político e vereador ter-se-á sentido ofendido. Ao que se extrai da leitura do jornal, ele acha que tal demissão poderia ter sido escamoteada ao resto do pópulo centrista (ou popular, como queiram) mas não à Comissão Política.

Poderia ter sido noticiada a esta ainda que com o pesado selo de “reservado” e “confidencial”.

Note-se para já que o facto do resto da rapaziada do CDS (ou PP, etc...) ficar sem saber do paradeiro político de Guedes não parece preocupar o senhor vereador ex-comissário. Note-se que também não se preocupa com a ignorância da peonagem portuguesa em geral, sequer do magro número de eleitores do CDS (ou PP?). Essa gentinha não merecia, julga-se, a "verdade a que tinha direito” (como se proclamava um pobre periódico de curta vida que também não sacrificava sempre em aras da “Verdade”. Era uma verdade relativa a desse jornalinho, uma verdade nem sempre revolucionária, convenhamos, dissesse Lenin o que dissesse.

Mas voltemos às nossas encomendas: o senhor vereador e ex qualquer coisa zangou-se e bateu com a porta. Bateu mesmo?

Demitiu-se da vereação da invicta e leal cidade, onde, consta, o actual presidente também não partilha os seus inúmeros e brilhantes pontos de vista com a vereação senão quando não tem outra hipótese? Será que o senhor vereador que deve a prebenda ao CDS (ou PP?) ignora que é de bom tom abandonar os cargos políticos quando se está se abandona o partido a quem eles se devem?  Ou achará que também tem direito a uma espécie de segredo: como Guedes ele está fora, mas não diz nada. Ou seja continua na vereação mas está fora dela. Percebem?

Está fora, continuando dentro, como o fantasma protoplásmico de Guedes, o saudoso...

Dir-me-ão que, no entanto, estará a ser pago pela edilidade, isto é por nós (votantes ou não no partido que ele entretanto abandonou) e a latere estará, enquanto lá estiver, a ter aquelas regalias adicionais (a vereação tem efeitos para a reforma por exemplo: parece que oas anos contam a dobrar...). eu sei bem que o pagamento aos vereadores não será grande coisa, mas enfim, sempre dará para os alfinetes. Para os alfinetes com que, raivosamente, o edil enganado, vai furando o retrato do ex-líder mal  amado...

Os jornais, alguns pelo menos, louvarão esta posição do senhor vereador. Fez face ao hediondo Portas do capachinho (Ai não tem capachinho? Pois parece... Já agora podiam aconselhar-lhe um penteado mais ligeiro que aquilo assim parece mesmo um capachinho ou um ninho de andorinhas, desses que não servem para sopa...). Convenhamos que a criatura tão radical se esqueceu da demissâozinha da vereação, onde de resto, pouco ou nada pesará.

E convenhamos ainda que, também, se os motivos são os que o Público relata que algo ficou no tinteiro: é que a populaça também tem direito a saber quem é quem no organigramas partidários, que diabo!

Finalmente, e esta é uma nota pessoal, esta guerra, no actual contexto partidário português, é uma guerra do alecrim e da manjerona. As comissões políticas dos partidos não passam genericamente (sempre neste Portugal amorável, claro) de uns ajuntamentos de criaturas que estão sempre de acordo com o chefe do momento. É assim no CDS, consta o mesmo do PCP, graças ao tão celebrado centralismo democrático, e não tenho visto a dr.ª Ferreira Leite especialmente preocupada com as opiniões do saltitão de Gaia. Refiro-me obviamente à soluçante criatura que num célebre congresso veio entre choro e ranger de dentes queixar-se dos elitistas sulistas.

No P.S. também não tenho descortinado levantamentos de rancho na comissão política. Excepção feita a Alegre, toda aquela boa gente abana a cabecinha, levanta o cu do assento para bater palmas e palminhas. Se acaso há criticas, também elas devem ser confidenciais e reservadas. Isto de estar no poder, de ter por isso, uma amesendação simpática e por vezes choruda obriga a muito golpe de rins.

Quem não tiver telhados de vidro que atire a primeira pedra ao eternamente jovem Portas. E, já agora, acertem-lhe no capachinho...


* a ilustração é roubada de um simpático blog sobre a Figueira que o mcr descobriu. Ele que fale desse blog já que é um ferrenho da Naval 1º de Maio e de Buarcos

 

A Crise Desigual

O Diário Económico de ontem informava: “Remunerações dos gestores sobem”. Lendo a notícia ficava-se a saber que as remunerações auferidas pelos membros dos órgãos sociais das empresas cotadas no PSI 20, com excepção da PT, subiram significativamente no primeiro semestre deste ano. Os aumentos mais expressivos ocorreram para os gestores da Brisa (+12,4%), sendo a menor subida na Teixeira Duarte (+3,9%).

Em ano de crise acentuada, não deixei de ficar surpreendido com esta noticia, tanto mais que a mesma poderia indiciar que, afinal de contas, a crise não era tão profunda ou que os empresários/administradores não só souberam resistir, como conseguiram gerar mais valor, daí o acréscimo nas suas remunerações.

A alimentar esta tese estava também a notícia, no mesmo D.E., segundo a qual as “Empresas foram às compras durante a crise investimentos de quase 900 milhões em acções próprias”.

No mesmo D.E, de hoje, lê-se em manchete de primeira página, “Economistas contra subidas de salários”. “Não há margem para isso por causa da competitividade e da inflação”. Nas páginas interiores alguns especialistas traçam um cenário negro que desaconselha o aumento dos salários, porque, dizem, outros custos de factores produtivos não deixarão de subir e os ganhos de produtividade não acompanham o ritmo de crescimento desses custos. Em reforço destas opiniões aparece a posição expressa pelo Banco Central Europeu, titulada nestes termos: “BCE mantém juros e luta contra subida de salários”.

A conclusão a retirar é que o D.E. fez bem em dar aquelas notícias em dias diferentes. Assim não teve de questionar os especialistas acerca do aumento das remunerações e outros benefícios das administrações.

02 setembro 2008

Sempre a perder

A justiça fica sempre a perder com as decisões que tomou até à data relativamente a Paulo Pedroso, nomeadamente nesta última sobre a indemnização por ter sido considerada ilegal a sua detenção. Isto quer num cenário em que ele seja inocente, quer noutro em que seja culpado no caso Casa Pia.

No primeiro cenário, o da presumível inocência de Paulo Pedroso, torna-se quase monstruoso que alguém seja preso preventivamente sem haver motivos completamente fundamentados para o fazer. Sabendo a carga negativa poderosa que tem, merecidamente, este tipo de delitos, alguém que é preso injustamente, sendo inocente e sem provas cabais, é inaudito e não confere uma imagem de justiça ao sistema judicial e arruína a vida das pessoas envolvidas.

No segundo cenário, em que Paulo Pedroso seja presumidamente culpado, a situação para a imagem da justiça não é melhor, senão vejamos: a sua detenção foi considerada ilegal, ou seja, teve na origem um erro grosseiro do Juiz. Melhor dizendo, isto não significa que, em princípio, não existissem razões para o fazer, só que a fundamentação teve por base “erros grosseiros” que, verificando melhor, são erros que parecem facilmente evitáveis. Neste quadro os agentes da Justiça não precaveram o que seria básico precaver e o resultado foi um tiro no pé.

Por outro lado, relativamente às restantes decisões proferidas sobre as várias variantes deste processo verifica-se que atiram em direcções diversas: o MP acusou Paulo Pedroso de 23 crimes de abuso sexual. Em 2004 a juíza de instrução criminal decidiu não levar Paulo Pedroso a julgamento. Esta decisão foi posteriormente confirmada pelo Tribunal da Relação, após recurso do MP.

Em Julho do corrente ano o DIAP decide pelo arquivamento da queixa de Paulo Pedroso contra seis vítimas do processo Casa Pia. Segundo se leu na imprensa na altura “Em causa estão as declarações de seis antigos alunos da Casa Pia que asseguravam o envolvimento de Paulo Pedroso em actos de pedofilia e garantiam ter visto o antigo deputado socialista numa casa em Elvas supostamente para práticas sexuais com menores.”