Mostrar mensagens com a etiqueta Poesia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Poesia. Mostrar todas as mensagens

05 março 2009

o verão

Embaraçada pelo tempo de afastamento sem nada ter avisado aos meus companheiros e companheiras de blog eu me desculpo. Conto com a tolerância de todos.
Estava com tantas saudades... Mas meu tempo tem andado curto. E o cansaço tem me vencido com frequência ao final de cada dia. Enfim, são as circunstâncias. Espero que me perdoem.
Deixo um abraço grande a cada um de vocês e um especial para a Guilhermina e a Kamikaze.
Vocês têm me feito falta.

Fica um poema que eu não havia ainda posto na net. Escrito ainda no início do verão, mas só hoje acabado ( eu me esquecera dele) .

Hoje desde um calor infernal recebam o meu carinho,

Silvia
--------------------------------------------

o verão

chove ainda,
o verão se aproxima lentamente.

a cidade se agarra às cores,
respira-as;
cola-se aos azuis, verdes,
vermelhos.
pega nas cores com cuidado,
vida a depender delas.

o verão é um dos poemas da cidade.
o povo bebe de má vontade
esta chuva fina a molhar-lhe os pés
e o olhar.

espera pela canção das cores e do sol,
dos risos alagados pelo mar,
do suor a fazer brilharem os corpos
e o desejo,

naturalmente.


silvia chueire

15 dezembro 2008

"QUEM MORRE?"


Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.

Morre lentamente,
quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples facto de respirar. Somente a perseverança fará com que
conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade.


Pablo Neruda

06 agosto 2008

o sol

o sol nascia no meu peito
iluminando-me a face,
lembras-te?

podia(s) senti-lo a tocar-me a pele.

podia(s) sabê-lo
no sorriso mais livre
que jamais me aconteceu.


silvia chueire

01 agosto 2008

POESIA POPULAR (politicamente inconveniente)

O Rotary Clube de Felgueiras terá organizado um concurso de quadras populares, no âmbito do programa das festas em honra de S. Pedro, padroeiro municipal.

Nomearam um Júri. Aprovaram o regulamento e os correspondentes prémios. Anunciaram a iniciativa, com data marcada para a entrega dos prémios. Receberam as quadras concorrentes.

Tudo terá corrido conforme o programado. O Júri recebeu uma centena de quadras, que leu, apreciou e classificou. Depois, avisou os concorrentes da classificação obtida e da data da cerimónia pública para entrega de prémios.

Só que no dia marcada (ou na antevéspera) foi anunciado que o Concurso fora anulado. Já não haveria entrega de prémios nem cerimónia.

Razões? Parece que alguém não terá gostado da quadra classificada em primeiro lugar pelo incauto Júri.

Nesta história, que o JN de hoje divulga, (não consigo fazer o link) o que me surpreende é como uma instituição tão prestigiada e respeitada como o é o Rotary Club se deixe envolver assim. A não ser que tenham pretendido dar projecção e notoriedade pública a tão imaginativa quadra:
S. Pedro, santo mundano,
Louvado de norte a sul,
Reina um só dia por ano
Na terra do “saco azul”.

(Autor: Carlos José Pereira)

17 julho 2008

tornar-se

a pétala desdobra
sua canção acetinada
e rubra
contra o sol
a nascer dentro dela

torna-se uma rosa
quando me toca os olhos


silvia chueire

22 junho 2008

para um domingo, dois poemas

o sol

elevamo-nos solares
algum dia,
em alguma terra habitada pelas oliveiras.

tinhas as mãos cheias de mim,
aproximavas teus lábios dos meus cabelos
e me dizias tudo,
depois depositava-os nos meus ombros.

éramos o sol ,
a exaltação da vida.


pensamento

grande é o universo do pensamento
ora caminha
com pés de chumbo
rente à terra
ora tem asas
espalha-se no céu
e voa infinitamente

silvia chueire

14 junho 2008

reconhecer

um corpo lembra com exatidão
outro corpo.
reconhece-o por sobre o tempo,
quando aquele é seu lugar definitivo.

silvia chueire

24 abril 2008

o sol

elevamo-nos solares
algum dia,
em alguma terra habitada pelas oliveiras.

tinhas as mãos cheias de mim,
aproximavas teus lábios dos meus cabelos
e me dizias tudo,
depois depositava-os nos meus ombros.

éramos o sol ,
a exaltação da vida.


silvia chueire

13 abril 2008

domingo

domingo os meus olhos dormem de ti
e as horas andam lentamente sob a chuva.

adormecida a urgência,
o mundo descansa pacífico

(quase não respira).


silvia chueire

23 março 2008

sobre o arbítrio

pedra sobre a palavra
tu retrocedes e te calas

eu rio-me porque tenho a faca
encostada à garganta
e só me calo se quiser

eu rio-me porque tenho a vida
a me bater no peito
a tocar-me com todas as palavras
ou me oferecer silêncios e abismos

não fujo da minha verdade
e vou para onde quiser

silvia chueire

12 março 2008















jasmins


é madrugada, o verão ignora
que o inventamos.

e o inesperado perfume dos jasmins
cola-se às calçadas, às pessoas,
desatando a memória de outras noites.

no sorriso do reencontro
com a cidade, o encantamento.


silvia chueire

23 fevereiro 2008

esqueces

baixas as pálpebras
para que teus olhos não me vejam.
esqueces que vivo dentro deles

(hesitei tantos séculos
até me aventurar por estes precipícios).


silvia chueire

14 fevereiro 2008

alegria

o poema
tantas vezes hesita,
tantas vezes estremece nas minhas mãos
a procurar palavras.

é grande a alegria
quando se deposita nelas.


silvia chueire

20 janeiro 2008

dorme


dorme entre os dedos
a rosa viva
no meio da noite
e os lábios dizema palavra impossível
lâmina em meio ao delírio

no escuro os olhos cantam
uma canção liberta
o corpo desorientado
sabe apenas ser corpo

uma harpa estremece
embala os cabelos
a irem e virem
e um nome improvável.


silvia chueire

13 janeiro 2008

ÍTACA




Quando partires de regresso a Ítaca
deves orar por uma viagem longa,
plena de aventuras e experiências
(…)

Que sejam muitas as manhãs de Verão,
Quando, com que prazer, com que deleite,
Entrares em portos jamais antes vistos!
Em colónias fenícias deverás deter –te
para comprar mercadorias raras:
coral e madrepérola, âmbar e marfim,
e perfumes subtis de toda a espécie:
compra desses perfumes quanto possas
e vai ver as cidades do Egipto,
para aprender com os que sabem muito.

Terás sempre Ítaca no teu espírito,
Que lá chegar é o teu destino último.

Mas não te apresses nunca na viagem.
È melhor que ela dure muitos anos,
que sejas velho já ao ancorar na ilha,
rico do que foi teu pelo caminho,
e sem esperar que Ítaca te dê riquezas.

Ítaca deu –te essa viagem esplêndida,
Sem Ítaca não terias partido.
Mas Ítaca não tem mais nada para dar –te.

Por pobre que a descubras, Ítaca não te traiu.
Sábio como és agora, senhor de tanta experiência,
terás compreendido o sentido de Ítaca.


Constantino Kavafis (1863-1933)
(versão de Jorge Sena)

07 janeiro 2008

rio de janeiro-restinga da marambaia *













Logo


Logo as chuvas
inundarão as ruas e os relâmpagos
riscarão as tardes.
O verão se eleva sobre as criaturas.

Nenhum nome se ouvirá?
Talvez.
As palavras se desdobram em muitas,
derrubadas
pela pedra da realidade


Silvia Chueire

*rio de janeiro-restinga da marambaia

11 dezembro 2007

passou


passou-te pela vida o amor,
pelo corpo,
encrespou-se o mar que eras.

o amor passou-te pelos olhos,
pelas palavras,
apanhou-te inesperado.

ao alto eras um corpo
e pensamentos amorosos,
um só milagre acordado na noite.

guardas nas mãos a memória
da vida te habitando os minutos
estremecidos .


silvia chueire

01 dezembro 2007












de saudades


tenho saudades de Lisboa quando o verão avança
poderoso e úmido seus dias em fogo
suas chuvaradas repentinas
e o ar parece
nossa roupa colada no corpo

tenho saudades do outono no céu
azul de Lisboa
o Tejo iluminado e mutante
as folhas amarelas sobre as calçadas
e o Bairro Alto
no alto da noite


silvia chueire

*apesar de aí não ser outono agora.

21 novembro 2007

voz alheia 4

Mulher (na verdadeira acepção da palavra):

Só ela! Sózinha!! Porque ninguém, dentro desta casa sabe como
trocar uma
lâmpada! São um bando de IMPRESTÁVEIS!!! Eles nem percebem que a
lâmpada se
queimou! Eles podem ficar em casa no escuro durante três dias
antes de
notar que a porcaria da lâmpada se queimou! E quando eles notarem,
vão
passar mais cinco dias esperando que EU troque a lâmpada, porque
eles acham
que eu sou a ESCRAVA deles!!! E quando eles se derem conta de que
eu não
vou trocar a lâmpada, eles ainda vão ficar mais dois dias no
escuro porque
não sabem que as lâmpadas novas ficam dentro da porcaria da
despensa! E se,
por algum milagre, eles encontrarem as lâmpadas novas, vão
arrastar a
poltrona da sala até o lugar onde está a lâmpada queimada e vão
arranhar o
chão todo, porque são INCAPAZES de saber onde a escada está
guardada! É
inútil esperar que eles troquem a lâmpada, então sou eu mesmo quem
vai
trocá-la! E como eu sou uma mulher independente, vou lá e
troco!... E SAI
DA MINHA FRENTE!!!

20 novembro 2007




há no bailado dos teus gestos
a luz louca do gênio
a luz derramadamente mansa
da voz colada ao vocábulo
do vocábulo agarrado às idéias
das idéias postas a girar
numa roda que não pára

há nos teus gestos a minha falta
a ausência da minha voz
a te acalmar as dúvidas
nessa tempestade furiosa
em que te metes
a fugir
de mim

mas eu
sempre estou


silvia chueire