19 março 2009

A PARTIR DE HOJE ESTAMOS NO SAPO

No ano em que completa cinco anos de existência, o Incursões decidiu mudar de casa: deixámos o blogspot e aderimos ao Sapo, graças à amabilidade da Maria João Nogueira e ao engenho do Pedro Neves, que nos presenteia com um belo figurino. Obrigada aos dois, pela disponibilidade e pela simpatia com que aceitaram as nossas sugestões, nem sempre coincidentes, porque num blogue colectivo a unanimidade é quase impossível.

Ao longo destes quase cinco anos, muitas coisas mudaram no Incursões. Começou por ser um blogue quase essencialmente virado para o Direito e é, agora, um blogue generalista. Para tal mudança contribuiu decisivamente o facto de também se ter alterado o seu leque de autores.

Sentimos falta dos que já não estão e sentimos falta dos que, por um ou outro motivo, têm colaborado menos. Acreditamos, contudo, que esta mudança poderá ser o pretexto para que todos (alguns, pelo menos) voltem a empenhar-se nesta já longa aventura que acabou por se transformar este blogue numa reunião de amigos.

A partir de agora, visitem-nos, pois, no endereço
http://incursoes.blogs.sapo.pt/

E deixem as vossas opiniões. E sugestões. Gostam?

A Equipa do Incursões

18 março 2009

Diário Político 104


Vou-me embora para Pasárgada….

Não vou. Também não sou o Manuel Bandeira embora, enquanto leitor dele desde os longínquos anos sessenta (primeiros anos sessenta…) me sinta um pouco parte dele. Os amadores de poesia transformam-se, com a leitura, no poeta, chegam a acreditar que que foram eles que escreveram aqueles versos magníficos que não se cansaram de ler.
Não vou para Pasárgada mas mais simplesmente para o SAPO, com a restante “companha” desta nau incursionista. Dizem-me que nem vou dar pela diferença, logo eu que só viajo para encontrar a diferença…
A coisa está por dias, quiçá por horas. E é isso que dá urgência a este último diário no google. Não queria ir sem me despedir desta paisagem etérea que provavelmente nem difere da próxima onde aportaremos em breve. Mas que querem? A gente apega-se aos sítios, ás casas, a um clima, ás mínimas coisas…
Estava mesmo com vontade de acabar aqui este bilhete não fora dar-se o caso de um outro viajante bem mais importante e muito mais responsável andar pelas áfricas a pregar a boa (e a má) palavra. Eu não tenho nada a ver com o Vaticano, não sou crente, muito menos católico, mas as palavras do Papa Bento XVI são no mínimo perigosas. E injustas.
Sei que a Igreja é contra a libertinagem ou o que ela define como tal. Sei que condena o uso do preservativo (como antes se fartou de condenar coisas que agora tolera ou até aprova). Mas sei também, e o Papa deveria sabê-lo que a SIDA se ceva em África na carne, na vida de milhões de africanos. De demasiados africanos. Que por serem pobres e terem outros estilos de vida e outras concepções da sexualidade estão ainda mais expostos que os ocidentais europeus e americanos. Acresce que em muitas, extensíssimas, zonas de África não há informação suficiente, sequer informação deficiente. E é aí que a SIDA penetra com mais intensidade. E nos bidonvilles gigantescos das grandes metrópoles africanas, nesses depósitos de gente miserável e ignorante.
Aqui a estratégia tem de ser diametralmente oposta ao apelo da Igreja. (Duma Igreja que não está nem nunca esteve isenta de cumplicidade com os dramas históricos que abalaram as sociedades africanas, convém esclarecer). Aqui impera a urgência! Aqui não pode haver apelos pomposos nem imposição de diktats religiosos que não têm possibilidade de obter êxito. Nem sequer de ser compreendidos. Condenar o uso de preservativos é, ou pode ser, pura e simplesmente, propor o seu não uso nas relações sexuais. Porque de uma coisa o Papa pode ter a certeza: os “damnés de la terre” (para usar uma expressão de Franz Fanon) não vão deixar de usar o sexo. É mesmo a única (ou uma das pouquíssimas) coisa que lhes resta. O apelo á castidade, a que ninguém na Europa ou nas Américas, liga, sequer ouve, é algo de tão anti-natural, de tão anti-humano que forçosamente numa sociedade bem mais genesíaca do que a europeia judaico-cristã, causa escândalo. E em África, a palavra de um dirigente branco por muito religioso que ele seja, é a palavra de um “branco”. Com tudo o peso negativo que isso implica.
Já disse que o Vaticano é uma das minhas preocupações menores. Todavia faz parte do sistema em que vivo, em que me reconheço e, quer eu queira quer não, influencia tudo à minha volta. Ora, se isso é assim, e é exactamente assim, causa-me perturbação e mal-estar a declaração imprudente sobre o uso de preservativos. Mais uma vez, uma declaração do Papa, põe em causa não só o que ele representa e dirige mas o que a Europa é e o que ela representa. E é aí que bate o ponto. Hoje os telejornais das televisões europeias abriram todos com esta notícia. E com as reacções das pessoas. Depois da confusão com a guerra das civilizações, do convite á reintegração dos integristas mesmo quando eles eram ou negacionistas ou tontos de atar (como o ex-futuro bispo auxiliar de Linz que achava o desastre de Nova Orleães um castigo de deus por via dos pecados dos habitantes da cidade) esta declaração que o Ministro dos Negócios Estrangeiros da França considerou “inoportuna” e “sanitariamente imprudente” não augura nada de bom ou de exaltante.
Mesmo sabendo perfeitamente que a César o que é de César e a Deus o que é de Deus tenho por seguro que nunca os planos estiveram separados nem sequer o podem estar. É aborrecido mas é mesmo assim.
Comecei por referir uma viagem meramente virtual que iremos fazer e afinal acabo com outra feita por outrem. Não é virtual e as suas consequências são, decerto, muito mais duradouras e importantes.
Esperemos que, doravante, ambas corram bem.



Politicometro

Teste à posição política pode ser feito aqui.

O meu resultado foi centro-esquerda liberal!

Crise exige bom senso e flexibilidade

A propósito da notícia publicada sobre uma conceituada consultora, espanta-me as reacções dos advogados, da Administração do Trabalho e de muitos especialistas em matéria de direito laboral e de emprego.

A mim, parece-me que a manutenção do emprego e das qualificações profissionais, mediante a redução do tempo de trabalho e do salário, é uma medida inteligente e necessária. A empresa mantém os seus quadros, num período de previsível diminuição da actividade, e a sua capacidade de gerar negócio e prestar serviço de qualidade, permitindo aos seus colaboradores mais tenpo livre para a formação e a vida pessoal.

Neste país, assobiamos todos para o ar e fazemos de conta que não há crise. Para certos "fazedores" de opinião, era bem melhor o despedimento das pessoas (num contexto em que não há emprego qualificado) para poderem acusar politicos e patrões de todas as desgraças.

Falta em Portugal bom senso e flexibilidade. Invocar o Direito, por tudo e por nada, conduz-nos à inviabilidade de empresas que garantem emprego de qualidade para os nossos jovens talentos.

17 março 2009

Justiça! Justiça!

Alberto Castro explica o porquê da reforma da Justiça ser “a mãe de todas as reformas”. Muita outra gente tem reflectido sobre a lentidão da Justiça; os custos directos e indirectos que a ineficiência do sistema judicial acarreta para o país e para os particulares; a diferenciação no acesso à justiça, que leva a qualificar uma justiça para os ricos e poderosos e outra para os pobres.


Alberto Castro vai na linha do bastonário da Ordem dos Advogados, num tom mais cordato, talvez, mas nem por isso menos acutilante. A grande questão e que constitui o factor mais preocupante é que apesar de especialistas de áreas tão diversas criticarem e desesperarem por uma Justiça mais célere e sã, não se sente nem pressente que os poderes políticos ou quem domina o aparelho judicial mostre vontade de mudar. Pelo contrário, o que transmitem é a permanente justificação da ineficácia e os jogos de bastidores como o que corre há mais de um ano para a nomeação do Provedor de Justiça. Não é extraordinário?

Entretanto, como escreve Alberto Castro, “A Justiça não funciona! Vai daí, regressa-se à barbárie, ao ajuste de contas directo, ao recrutamento de cobradores mais ou menos violentos. Métodos que se tornam tanto mais populares quanto mais casos, em especial os que envolvem ricos e poderosos, se eternizam e acabam em nada. Qualifica-se a expressão anterior: o não funcionamento da Justiça aproveita a alguns. Passa um cheque sem cobertura? Se for pobre, vai parar à cadeia! Faz uma falência fraudulenta? Desde que possa pagar a bons advogados (a culpa não é deles!), é provável que nada lhe aconteça! (lembra-se de alguém condenado por essa razão?).

… a situação caótica a que chegou a Justiça portuguesa está a dar lastro a um processo subterrâneo, feito de mal-estar, que mina os próprios alicerces da democracia. Não adianta ao poder político culpabilizar o poder judicial. Ou vice-versa. Ambos são parte do problema. Ambos terão de ser parte da solução.
Enquanto duvidarmos da Justiça, duvidaremos uns dos outros. Não haverá desenvolvimento enquanto não tivermos um sistema judicial expedito, acessível a todos e justo com todos
.”

Diário Político 103


“Presente!”

Facetta nera
Bell’abissina
Aspeta e spera
Che già l’ora s’avvicina


Corre com insistência entre alguns pequenos génios provinciais uma ideia peregrina: os deputados são do partido e tudo devem ao partido. Sobretudo obediência, muita e cega obediência. Porque é o partido que os escolhe, é o partido que os propõe sempre numa ranchada, é o partido que eventualmente os elege com os votos de “muito povo” que, provavelmente, também pertencerá ao partido. Os deputados sentam o sim senhor no parlamento para dizerem “sim senhor” a toda e qualquer bojarda que passe pela cabecinha louca que manda no partido. Não o fazerem é colaborar objectivamente com a oposição, seja nas grandes como nas pequenas questões. Como nos saudosos tempos do senhor Enver Hodja, ou de qualquer dos seus santos iluminadores chame-se ele Lenin, Stalin ou Brejnev. Também aí o partido, confundido com o Estado, com a polícia politica, com a nomenklatura e outras aberrações que deram no que deram, era tudo e os seus deputados nada.
Pratiquemos um pouco nesta elucubração : se os deputados estão ali para levantar e sentar o dito cujo ao estalido de dedos ou do knut da direcção parlamentar, se só falam a favor da proposta do partido que os pariu, para que é que são necessários tantos? Não bastaria, digamos, uma dúzia, dúzia e meia, vá lá um quarteirão de criaturas divididas consoante a percentagem de votos? E poupava-se um dinheirão (que até poderia ser dividido pelos deputados remanescentes… em vez de depois se ter que lhes arranjar prebendas compensatórias como acontece amiúde) e até se poupava em espaço. Que um deputado é muito espaço perdido: ele é gabinetes, sala grande para todos, passos perdidos, parking enfim um horror! Um horror!
Aliás, só não se percebe uma coisa: se os deputados são do partido e não da populaça votante, por que é que os dividem por distritos? Assim como assim já é uma maçada identificar os deputados, já não digo de Lisboa ou do Porto, mas tão só os de Braga, Coimbra ou Aveiro. A gente vai e lê a lista desses presuntivos ínclitos filhos da Nação: conhece o primeiro, talvez o segundo, com dificuldade o terceiro e depois é o deserto dos tártaros. Uma multidão de criaturas desconhecidas, absolutamente fungíveis e, a la rigueur, desnecessárias.
Fazia-se uma lista nacional com fins meramente informativos e a gente votava nas setas, na estrelinha, na foice, na rosa e nos restantes depauperados signos. Ou, em vez disso, aparecia à votação o candidato a primeiro ministro e, depois de eleito, arranjava não só os ministros e secretários de Estado mas também os deputados necessários indicados a dedo (como aliás agora ocorre) sem a tonta despesa da mediação de uma eleição que só promete aos eleitores uma coisa: os deputados nunca se responsabilizarão perante eles.
E, convenhamos, está bem. Os eleitores não percebem patavina dos negócios de Estado, das subtilezas das finança públicas ou da complicação que é o Serviço Nacional de Saúde. O eleitor quer é o papo cheio, o subsídio de desemprego, a escola a funcionar vinte e quatro horas sobre vinte quatro horas que é preciso arrumar os filhos em qualquer parte, o hospital à porta de casa e menos impostos.
Se o eleitor se junta a outros e protesta, é porque está feito com um sindicato que está infiltrado pelos bolchevistas, pelos anarco-sindicalistas, pelos corporativistas ou por outros istas desde que não sejam os meros arrivistas que esses não protestam, não querem votos em deputados independentes, sobretudo em deputados dependentes da vontade dita popular.
Aqui estamos, aqui chegámos. Como noutras épocas, e à sombra de eleições cada vez mais restritas, se chegou aos gauleiters, aos kapos, aos gulags e a outras coisas de menor importância. Que se saiba a maioria do povo punha a pata no ar de mão estendida ou punho cerrado e aí vai disto: longa vida ao pai dos povos, heil, heil chefe bem amado, Salazar estás nos nossos corações. E para quem protestar bastam uns safanões dados a tempo…

D’oliveira fecit

Ano 120º do nascimento do nosso “António”, do igualmente nosso Adolph, 130º ano do nascimento do Yossip Djugatchivilli , pai dos povos que está vivo nos nossos corações, e 116º ano do nascimento de Benito, o abençoado, o “canibal dos padres”, o “verdadeiro herético”.

* este texto deveria ser iniciado com uma citação dos deveres do bom filiado da Mocidade Portuguesa que se não encontrou. Em troca – e para melhor – aqui fica o estribilho de “Facetta nera” hino italiano dos anos de Benito

Au Bonheur des Dames 176


O dia está magnífico, sobretudo para quem, como eu, se pode dar ao pequeno grande luxo de vir ler os jornais (o de hoje e os suplementos literários atrasados de uma série de jornais espanhóis e franceses) nesta esplanada frente ao jardim. O diligente Senhor Américo ja me trouxe a bica em chávena fria, o copo de água e o troco, que eu pago sempre adiantado.
Vem-me de longe, de muito longe, esta mania de pagar logo no momento da entrega do meu pedido. Foi o João Quintela, querido e desaparecido amigo, quem me meteu esta mania no coco. O João pretendia que, assim, se podia fugir mais depressa da policia que eventualmente entrasse no café onde estávamos. Se juntarmos a essa ideia, um tanto ou quanto fixa, estoutra que era a de ficar sempre de costas para a parede como se, em vez de inofensivos estudantes a fazer tirocínio para conspiradores, fôssemos pistoleiros de um imaginário far-west lusitano está feito um retrato a la minuta do que éramos ou do que julgávamos ser. Hábitos da clandestinidade diria alguém mais propenso a tirar-nos a bissectriz com dados de há quarenta e tal anos como, por exemplo, o Jorge Conceição emergido de um longínquo ano de 64, no Mandarim, sob a égide de Orlando de Carvalho, homem de muitos saberes que a azia ou outra maleita canalha haveria de converter estranhíssimamente em ogre e carrasco de gerações de estudantes de Direito! (Olá Jorge, a malta tem se encontrar um dia destes, manda-me o teu mail para ver numa das próximas descidas á capital te ponho a vista em cima: havemos de ter muita conversa atrasada…).
Mas eu estava na esplanada, sob um sol madrugador mas quente, a ver passar uma avó de muito bom ver maila filha e a neta bebé… Até isso alegrava o dia. Ou melhor: isso alegrava definitivamente o dia! Eu sei, leitoras, eu sei, que não devia olhar com concupiscência as avós engraçadonas que me passam á distancia de tiro, mas que querem? Deus, ou a mãe natureza, deu-me um par de lúzios que se comprazem em provocar o chamado pecado menor, que é aquele só de pensamentos (se é que esta distinção útil e desculpabilizante, tem valor canónico e/ou teológico). Portanto passava a avó, acenava um fugaz cumprimento, passavam dois cães alucinados pela manhã e pela pequena liberdade que os donos lhes tinham concedido ao retirar-lhes as coleiras, passavam apressados para os escritórios dois ou três que ainda têm muito que penar até poderem refastelar-se como eu numa esplanada a ler os jornais da manhã.
Estava a metade do jornal quando me apercebi que uma coisinha vermelha e redonda trepava animosamente o copo de água. Era uma joaninha, a primeira do ano… De súbito apercebi-me que a primavera estava a rondar. Uma joaninha! E o sol. E mulheres bonitas. E cães estonteados numa corrida sem sentido, só felicidade pura, pelo jardim. E a bebé a ensaiar inseguros mas determinados passos.

Joaninha “avoa”, “avoa”
Que o teu pai está em Lisboa
Com um saco de broa…

N
um repente é toda a minha infância que regressa a galope, o avô comigo pela mão, o meu irmão ao colo dele, um rancho de tias e tios muito novos, a minha mãe, lindíssima!, a minha avó gordinha (gordinha é favor, goooorda!) a contar histórias mirabolantes, a avó Aldina, a Velha Senhora, o meu pai, jovem médico a regressar dos Açores para onde fora mobilizado: um estranho para nós, meninos a espreitar aquele homem que beijava e abraçava a Mãe. Felizmente a “guerra” dos Açores ensinara-o: ao ver que o mirávamos desconfiados, tirou sei lá de onde dois brinquedos, julgo que eram duas camionetas de madeira, enormes, e aí quebrou-se o gelo todo e só se viu dois meninos a deixar-se abraçar por um pai desconhecido ou esquecido enquanto abraçavam duas camionetas de madeira quase do tamanho deles…
O pai, os avós, alguns tios já não estão entre nós. Permanece deles, como um velho aroma entre roupas guardadas numa arca, uma memoria fanada uma dor mansa, um aviso da morte que nos há-de irmanar. Mas eles é que não estão. Mas a joaninha, essa, está. E continua a subir no seu passo miudinho o copo. Quererá beber-me a água? Ou, mensageira alada e vermelha, veio tão só lembrar a primavera que está a chegar, mensageira benévola que vem cumprir a tarefa de comer umas bichezas que estragam as plantas. A esta joaninha entregaram-lhe este jardim, o Jardim Machado de Assis, homenagem simpática a um dos maiores escritores da nossa língua. Sozinha? Espero bem que lhe mandem umas colegas que o jardim é apesar de tudo grande e a joaninha demasiado pequena para tanto trabalho.
Ai amigas e leitoras, isto hoje saiu ainda pior do que o costume. É este vício de escrever de carreirinha, quem vier atrás que feche a porta... Ai mcr, mcr… É a primavera que me está a perturbar o juízo e a escrita. A primavera, o calor anormal para a época, os fantasmas familiares, as mulheres que passam e um ror de memórias que me assolam desde Moçambique até Coimbra, viajem sem regresso, no regresso desta viajem pela solidão amável da lembrança.





15 março 2009

Au Bonheur des Dames 175

O passado a bater à porta com fragor.

Sou um mau leitor de blogs. Por junto vou a três ou quatro no máximo e nem sempre diariamente. Todavia, é raro deixar escapar o agualisa do João Tunes por várias razões que não vem ao caso. E hoje, a propósito de um texto sobre as elites e o maoísmo dos anos 60 e 70 aparece uma fotografia da crise académica de Coimbra de 1969. Trata-se de uma fotografia da ocupação da sala 17 de Abril no edifício das Matemáticas nesse dia inaugurado com escândalo e desordem notórios por um presidente da república enxovalhado pela estudantada. A fotografia retrata um momento já posterior à saída precipitada das autoridades. Ora descubro, quarenta anos depois, com a nostalgia que calculam, o meu rosto sorridente. Confesso que não conhecia esta fotografia (ou não me lembrava dela) que, mais tarde, foi-me dito pela policia, era uma das provas que a policia encarregada dos processos de 69 contra os “agitadores” estudantis.
Quarenta anos depois, convém explicar que sou o rapazola que está á direita do estudante cuja cabeça parece aguentar o pau direito do cartaz “reintegração dos professores e alunos expulsos”.Se repararem bem eu ostento barba e bigode e sorrio. E não era para menos que aquele dia foi glorioso. Depois, as coisas complicaram-se um bocado, sobretudo a partir de Junho e da greve vitoriosa aos exames. Mas isso é outra história que alguma vez será eventualmente contada.
Mas esta fotografia ressuscitada, sei lá donde, por um blogger com quem me dou bem mas não conheço (!!!) pessoalmente perturba-me e comove-me. Quarenta anos! Foi mesmo há quarenta anos?

.

Recomenda-se

Há já algum tempo que não passava pela Afurada para ir para a praia da Madalena. Fui hoje e fiquei agradavelmente surpreendida com os arranjos na marginal desta terra de pescadores. Ficou muito bonita. Além disso, fecha o circuito de bicicleta que eu tanto gosto de fazer nesta zona. Andar de bicicleta com o mar mesmo ao lado, passar pela zona da foz, onde a calma do rio se junta à força do mar, é algo que nos faz sentir privilegiados.

Quando se passa na ponte da Arrábida, não no sentido que Rui Veloso fala na canção Porto Sentido mas no sentido contrário, vê-se uma das paisagens de que eu mais gosto: a Afurada do lado esquerdo, o rio Douro na sua entrada no mar, e do outro lado o Porto. Não consigo passar por lá sem parar lá o meu olhar. Nem a rotina me consegue arrancar esse prazer. Dessa panorâmica já se conseguia perceber que aquela marginal estava de se lhe tirar o chapéu. Confirmou-se. Recomendo vivamente um passeio por esta zona.

Na foto, uma belíssima foto de um pôr-do-sol na praia da Madalena, da autoria de António S. Pereira, retirada do site de fotografia Olhares

Estes dias que passam 146



puxando a corda ou
isto é como as cerejas


Já por aqui de falou da candidatura de Elisa Ferreira à Câmara do Porto. E também na altura se apontou que Elisa fragilizava essa candidatura ao concorrer simultaneamente ao Parlamento Europeu. Isto ainda na altura em que ainda não havia exactamente uma candidatura aprovada pelo PS mas apenas essa intenção. Todavia, agora a candidatura é um facto. E perante isso convém começar a tentar perceber.
Em primeiro lugar, desconhece-se absolutamente o programa da candidata. O pouco que se apura de declarações avulsas não chega sequer para adivinhar o que virá depois. Mau começo, portanto. Com se Elisa começasse a seguir o estilo de Sócrates. Uma figura providencial e já está. É pouco, convenhamos. Muito pouco. E é ainda menos se, como tudo indica, do outro lado voltar a aparecer Rui Rio. Quem me lê sabe o nulo apreço que tenho pela personagem. Nem sequer sei se foi aqui que já lhe chamei Rui rícino. Mas se não foi fica agora.
Não gostar de Rio significa, no meu caso, não votar nele, dê lá por onde der. Mas não significa menosprezá-lo, achá-lo tonto ou incapaz. Rio não é nem uma coisa nem a outra. O que o torna um candidato perigoso para os adversários como já por duas vezes se viu.
Elisa, se quer ganhar a Câmara ou, mais plausivelmente perder por pouco, já deveria ter dito ao que vinha, já devia ter tornado clara a opção Câmara ou Parlamento, para evitar o que esta semana ocorreu,
De facto, numa reunião à porta fechada, a “concelhia” socialista do Porto, deu esta semana o primeiro e efusivo sinal que as coisas não estão a correr bem. Em primeiro lugar lembraram-se os presentes do problema da dupla candidatura e descobriram tardiamente que isso enfraquece a candidata. Teria sido mais interessante tê-lo descoberto há meses mas regista-se o esforço daquelas meninges alvoraçadas.
Depois começou a discussão de mercearia: quantos candidatos seriam propostos e por quem. E daí passou-se à falta de programa convincente. Ao que dizem os bem informados (e estas reuniões são ainda mais frágeis do que os inquéritos do ministério público e o seu escasso segredo de justiça) as coisas chegaram a azedar.
Os jornais, sempre a pau com a escrita e alucinados pela campanha negra, contaram tudo. Hoje, a “concelhia” portuense vem molemente defender-se queixando-se dos que, de dentro, informam para for a. Ou seja: a “concelhia” nem se dá ao trabalho de negar a evidência. Alguns comentadores, que partilham a minha ojeriza anti-Rio, acham que o PS gosta de “dar tiros nos pés”. É verdade. Então ultimamente tem sido um verdadeiro vê se te avias. E sempre com protagonistas nortenhos. O dr. Santos Silva, cujos tiques estalinistas vão em crescendo, gosta de malhar. E não gosta da imprensa sobretudo da independente. De todo o modo, o seu discurso tem lógica e alguma argúcia. Já o mesmo não se pode dizer da criatura José Lello. José Lello, de que se desconhece sequer uma ideia, quanto mais uma ideologia ou um passado de combate pela liberdade, entendeu eructar qualquer coisa sobre a falta de carácter de Alegre. Lello, homem de todas as maiorias, entende que no PS não há lugar para quem “mija for a do penico”. Nisto vê-se que, além de não saber o que diz, também não tem memoria. O PS (mesmo este mais recente) teve sempre correntes (aliás permitidas pelos Estatutos) e bastaria lembrar algumas declarações passadas de, por exemplo, Jaime Gama, a quem Lello transportava, pressuroso e serviçal, a pasta, para perceber que Alegre quanto muito está nessa mesma onda de proclamações de que todos os tenores do PS usaram e abusaram. Parece que agora se reduziu o número de solistas, deixando os restantes reduzidos a fazer de coro bem afinado. Quem conhece a história da música sabe bem onde é que isso acaba.
Não sendo militante do PS preocupa-me escassamente o ensimesmamento dos seus militantes e dirigentes. Todavia, fui durante todos estes anos um votante resignado no PS. Não era sedutor mas, apesar de tudo, garantia um espaço de respiração. Agora parece que até disso desistiu. O problema é que os votantes perante tal desistência podem também lembrar-se de desistir do PS. Deste PS…..


* na gravura: um fantasma desconhecido de Lello: Pierre-Joseph Proudhon

14 março 2009

13 março 2009

Au Bonheur des Dames 174


Emigrante da terceira idade

Ai leitorinhas, isto está que ferve! Então não querem lá ver que deu a louca nas nossas comandantes e vai daí parece que vamos todos para o Sapo. Eu não tenho nada contra estes amáveis anfíbios terrestres. Mesmo quando eles se transformam em príncipes por via de um beijo de uma princesa. Há-de ter sido um beijo e peras! Se é que foi só um beijo e não algo mais íntimo: é sabido que nas histórias infantis o beijo substitui outras actividades libidinosas de maior vulto e condenação garantida pelas igrejas.
Mas a verdade é que estamos de malas aviadas para o Sapo. Porquê?, perguntarão as mais atrevidas de vocês. Pois, se querem que vos diga a verdade, não sei. Coisas de mulheres, em especial de “o meu olhar” que agora é a almirante em chefe, visto a Kami ser a almirante resignatária e a Sílvia a nossa almirante in partibus. O pessoal masculino ouviu as ordens, bradou presente!, bateu tacões, pôs-se em sentido e depois de ouvir a arenga da comandante em chefe, voltou a bater tacões, fez a continência e destroçou. Se perceberam ou não, desconheço. Obedeceram como é devido e pronto. Às ordens, minha comandante!, foi o brado uníssono. “E que Deus nos ajude!”, terá sussurrado in imo pectoris o nosso Mocho Atento.
E por aí vamos. Ou iremos. Enfim, está para breve.
Claro que vocês já terão adivinhado o drama que isso representa para um analfabeto informático como este que estas vai dedilhando. Felizmente, o Sapo delegou num amabilíssimo Pedro a tarefa mil vezes ingrata, de conduzir esta ovelha tresmalhada ao bom caminho. O desinfeliz deve já rogar pragas quando recebe um mail meu a perguntar o que devo fazer a cada passo do processo de transferência. Ganhará o céu só com o que tem penado, e vai penar ainda, com este filho pródigo da internet.
Estou a até a pensar se não valeria a pena criar um novo tipo de castigo (divino ou humano) para quem se portar mal: vais aturar o mcr e outros da mesma laia em questões de internet! Vai uma apostinha em que os pobres além de pedirem misericórdia, ainda propõem uma pena de substituição, estilo prisão efectiva ou coisa idêntica ? só para se safarem de um brutinho coriáceo que não sabe o que é uma “URL”?
Voltando à vaca fria: vamos embora. De todo o modo isto, este incursões do google fica aqui parado no tempo, como uma mosca varejeira dentro do âmbar: e com uma nota, suponho, a dizer onde é que doravante (daqui a uns dias…) nos encontram.
Confesso que vou ter saudades. De quê?, não sei bem ao certo. Mas uma mudança é sempre uma mudança et quand on a soixante sept berges partir c’est finir un peu. Ou beaucoup! On va voir ce qu’on va voir. Isto em franciú tem outra pinta. E com argot pelo meio, ainda mais.
Vamos embora. Espero que em boa hora. Como dantes se dizia às parturientes: tenha uma boa hora. Que Nª Sr.ª do Ó nos acompanhe e proteja. E, claro que a Sr.ª da Encarnação, tão de Buarcos, nos deite uma mãozinha. E, já agora, que nunca é demais, que Santa Rita de Cássia, padroeira das mulheres vítimas de maus tratos e dos impossíveis vele por nós, ou por mim, que durante anos fui seu especial romeiro em Moledo (ou melhor em Caminha) assistindo com devoção e alguma surpresa à procissão desta santa.
E aqui um desvio: a procissão de Santa Rita era um prodígio. Já não falo do grupo final de mulheres amortalhadas em trajes sombrios e descalças que eram, ao que sei, as mal tratadas já referidas e que desfilavam ali não sei se para implorar as graças da santa ou simplesmente para acusar maridos e familiares mal tratadores, mas apenas dos restantes figurantes onde não faltava a “Rainha do Mar”, a “Rainha das Sardinhas” e, espantem-se, o “Marquês de Pombal”!!! O marquês desfilava acompanhado, ou precedido de um pagem. E havia também um grupo de soldados romanos a quem o Joãozinho Simas chamava “os homens da luta” exigindo em alta grita ao pai, o nosso confrade Simas Santos um fato igual. Nunca o teve, ficou-se por uma farda de “Homem Aranha”, horrenda e comprada no Corte Inglês de Vigo que causou grande sensação entre os meninos banhistas de Moledo. Foram dias de glória para o minorca do Joãozinho que, ainda por cima – luxo dos luxos! – tinha uma verdadeira cabana construída com todo o esmero pelo escultor marceneiro Manuel Sousa Pereira . Uma cabana, com porta e janela! Ai a criançada moledense morria de inveja… (aqui muito à puridade, a cabana serviu para muita coisa, coisas de adultos está bem de ver coisas que o João ainda não percebia…).
Mas vamos emigrar. Para o Sapo. Esperando que desta vez seja ele a parir uma montanha chamada incursões, melhor e mais participada do que esta que ora vai esmorecendo nas vascas da agonia da partida.
Celebremos pois a viagem, ò “amigas soo aquestas avelaneiras frolidas” e imaginemo-nos por uma vez na bela praia da Polana, num Maputo que se chamava Lourenço Marques em anos que não voltam. E, nostalgia exceptuada, ainda bem! Aí fica a imagem, outra imagem dessa praia de prodígios e primeiros amores. Passem um bom fim de semana.

* praia da Polana e rampa da Polana. em primeiro plano o Pavilhão de Chá e, mais ao fundo, as instalações do Club Naval. E a baía. A imensa baía que os ingleses chamaram "Delagoa Bay". quem primeiro nela teria navegado seria um certo Lourenço Marques, marinheiro e comerciante estabelecido em Sofala e que, uma vez por ano, aqui vinha "ao resgate". Trocava panos por presas de elefante e rodelas de cobre. Eventualmente também compraria escravos aos régulos Maputo e Catembe (estes régulos são epónimos respectivamente de um rio e de uma vila ou cidade).

11 março 2009

missanga a pataco 69



As fotografias nunca são inocentes

O meu caro Manuel Sousa Pereira mandou-me uma série de fotografias de Moçambique. Fotografias antigas, mais antigas do que eu, ou quase. Esta que se mostra relembra a praia da Polana tal qual a conheci em 54. Tratava-se de uma praia com protecção contra tubarões cercada como eventualmente se poderá ver por uma ampla barreira de arame. Ao meio havia uma torre de saltos. Entre a torre e a margem havia uma corda, recurso para quem se cansasse.
A praia era servida por um Pavilhão (era aliás assim que se chamava) onde havia, se bem me recordo vestiários, instalações sanitárias, um amplo restaurante com esplanada na varanda e(provavelmente) mais serviços de que só recordo um rudimentar posto de enfermagem.
Para alem da natural nostalgia, cumpre espreitar melhor a fotografia e reparar na ausência de crianças negras. Parece-me mesmo que nem mulatas aparecem. Em primeiro plano talvez haja uma menina indiana: está vestida com algo que é bem mais recatado do que os recatadíssimos fatos de banho femininos da altura.
A impressão que tenho é que esta fotografia é dos anos quarenta. Ou seja vinte e poucos anos antes de rebentar a guerra colonial.
Porventura está também aqui uma referência à origem da insurreição: quando a maioria dos cidadãos é invisível mesmo numa pequena praia gradeada por via dos tubarões, algo está mal. Claro que se poderá sempre dizer que os meninos negros não gostavam de mar; não gostavam de praias contra tubarões; não gostavam de se misturar com brancos; preferiam outros locais menos multitudinários; preferiam o mar livre e aberto e a aventura que isso necessariamente implicava.
Todavia, para o comum dos mortais fica a ideia de que talvez aqui funcionasse essa regra não escrita: proibido aos não brancos. Como na África do Sul vizinha, a do apartheid.
Só que os brandos costumes lusitanos ou luso-tropicais detestavam essa afirmação tão torpe e substituíam-na por um silêncio tão prenhe de negação que “até mesmo um rapazinho negro a percebia”.


Au Bonheur des Dames 173








mcr
em Lisboa bavardando e cervejando com jcp e jvc

Dizem por aí que, quando não há onde meter o dente, se inventa um bey de Tunes a quem ferrar na canela. Não, leitorinhas, nada disso, desta vez a crónica tem substância, quanto mais não seja porque permite explicar o “bavardando” e o resto. Comecemos por esse gerúndio esdrúxulo. Ouvi-o com estas que a terra há-de comer, em Paris, num hotelzinho da Rue de Saint Sulpice onde em tempos me instalava. Certo dia, esperava pela CG :os homens, e este em particular, tem este fado mofino: esperam – e desesperam – pelas mulheres. Preferivelmente pelas próprias mas conheço muito marau que acumula com as alheias como um certo cavalheiro que em tempos não demasiadamente longínquos subia o Chiado sussurrando às cidadãs desprevenidas, e sós!, duas simples palavrinhas: “tenho vícios!”. Ao que me consta a coisa não era tão descabida como à simples escrita parece, porquanto testemunhas idóneas garantem que aquele investimento rendia mais do que no BPP ou no BPN... e mais duradouramente.
Mas voltemos, ó amáveis criaturinhas, à vaca fria: estava eu como dizia, a ler um jornal de véspera enquanto esperava que a CG se decidisse a dar um ar de sua graça, descendo para a portaria do hotel quando vejo o meu vizinho, cavalheiro de bom ar levantar-se e dirigir-se a duas senhoras que surdiam do elevador: “com que então bavardando, bavardando, disse o meu companheiro de espera às damas que vinham embrenhadas numa conversa desatada, parando a cada passo, sorrindo e acotovelando-se. Só um brasileiro seria capaz desse prodígio de nacionalizar o francesíssimo “bavarder” que, se não estou em erro, vem do argot, e significa falar de coisas sem importância, preguiçosamente e sem intenção especial.
Pois foi exactamente, ou quase, o que aconteceu ontem num antro simpático, velhacouto do João Vasconcelos Costa. Depois de saber que eu viria a ares à capital, marcou reunião urgente no “beer’hunter” e convocou para o efeito o José Correia Pinto, um velho colega e amigo meu, animador dessa coisa excelente que se chama Politeia e que é um dos blogs fundamentais para quem pretende perceber o que se passa. Já não nos víamos desde os “Estados Gerais” essa gorada tentativa de Guterres para animar, com independentes, o P.S. Razões várias e vícios antigos daquele aparelho que não gosta de novidade fizeram com que o espírito “estados gerais” soçobrasse em pouco tempo.
Foi pois uma reunião de “antigos combatentes” (que não depuseram as armas...) e que ainda se conseguem surpreender e indignar com o espectáculo de “la misére en milieu politique” se me permitem citar e “desviar” um texto famoso de 68. Ou por outras palavras, como se verá, lá fomos conversando com o fito de “tornar a vergonha ainda mais vergonhosa expondo-a à luz do dia” (cito de memória). De facto, enquanto íamos aviando umas “boémias” fomos relembrando este presente hostil (tout en bavardant), passámos em revista o estado da nação e dos seus rastaquouères, dos seus “chiens de garde” (ah que falta faz o Nizan!) e demais ouropéis com que a república se vai alegremente afundando. En passant, relembrámos um rapaz do nosso tempo que aportou à Coimbra de lavados ares enroupado na direita preguiçosa e que quase no fim do curso deu um pinote para a esquerda moderada e cautelosa. Depois do 25 A alistou-se no “partido” e foi em breves anos uma vedeta parlamentar. Por fas ou por nefas saiu com estrondo e foi cortejando o P.S. até, prodígio maravilhoso, este o recompensar com um cargo sem importância mas muito bem pago. Tem graça: vinha da direita, deu a volta dos tristes ao bilhar grande, e ei-lo quase igual ao que era nos primeiros sessenta mas mais velho, mais “ajuizado, e notoriamente mais rico ou em vias de o ser. Que lhe preste!
Somos gente de uma geração que passou a inteira juventude e uma parte não negligenciável dos seus vinte anos sob o capote caserneiro do salazarismo, lutando abertamente contra isso, contra esse vício do pensamento e contra outros mais subtis e porventura mais profundos e que eram/são os preconceitos e as taras da obediência sacralizada, do escândalo privado, do soalheiro político e ético para não falar de alguns vícios menores propostos à beatificação. Por outras palavras, vivemos e continuamos a viver num mundo a que se aplica (e cito outra vez de memória) o verso de Nietzsche: “não o teres derrubado ídolos/ mas tê-los derrubado dentro de ti/eis a tua maior vitória”. De facto, estávamos, e estamos, cercados de “revolucionários” sem revolução (e sem revolta) que pensam que a simples substituição dos santos nos altares muda o estado da igreja.
Estávamos, e estamos, cercados de pequenos merceeiros que encaram a vida como deve-haver e que solicitam as atenções da clientela potencial como as “meninas” da Rue de Saint Denis solicitavam os peregrinos de Santiago.
Estávamos e estamos rodeados de velhos jovens cheios de empáfia que se tomam por monumentos mesmo quando à primeira vista ninguém os leve mais a sério do que um desses antigos, úteis e esquecidos urinóis públicos. E de jovens velhos (nasceram assim) que fazem tábua rasa de tudo, porque não viveram, não aprenderam, não erraram nem criaram. Uns e outros mandaram a política às malvas e pensam que os partidos mais não são do que máquinas distribuidoras de empregos, sinecuras, aposentadorias e caixas de esmolas. Não deixa de ter graça (duvidosa graça) verificar que para isso precisam de tornar os pobres ajuntamentos partidários em organizações monolíticas onde não se tolera a critica e muito menos o debate de ideias.
E disso falámos, melhor dizendo bavardámos, porque sabemos que não vale a pena levar muito a sério estas aves de arribação. De galinhas que querem ser águias mas que não passam de urubus. É pr’ó que estamos....
Quando nos despedimos, achei que lhes poderia dizer em guisa de consolo: malta ainda estamos vivos.

* este texto foi escrito no dia 4, pp, mas o autor esqueceu-se de o postar. A coisa explica-se: tinha acabado de adquirir num alfarrabista um exemplar do Tôkaidô de Hiroshige e uma edição facsimilada do Linschotten, editada pela Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. A beleza das ilustrações de ambos pregaram-me a um maple até altas horas. Esqueci-me do pobre prato que tinha no forno e o post ficou em águas de bacalhau. Segue agora, com um abraço para os dois amigos citados. E para os leitores que me aturam ficam as duas belas gravuras. Numa delas, a da fusta, vão dois portugas em busca da árvore das patacas...
** Itinerário, Viagem ou Navegação de Jan Huygen van Linschoten para as Índias Orientais ou Portuguesas, Lisboa 1987
Tôkaidô, Hiroshige, ed. sp. pour le Cercle des Amis du Crédit Lyonais, Paris, ed. du Chéne, 1960

A vírgula entre dentes

Face às críticas do PGR relativas à proposta de lei do Governo para o crime de violência doméstica, nas quais terá focado, entre outros aspectos, alguns erros de redacção (“Tirem lá a vírgula entre o sujeito e o predicado") alguns deputados, entre dentes, fizeram questão de dizer que se trata de uma "proposta de lei". Ora, da autoria do governo, sendo que a redacção final será mais cuidada - ( notícia do DN e foto RTP).

A ter acontecido, esse desabafo nada abona a favor dos deputados. Costuma-se dizer que pior que um erro é tentar remedia-lo com outro erro. Há que assumir e a questão da qualidade das leis, quer no conteúdo quer na forma, parece que acompanha o poder legislativo há muito tempo. Neste domínio, como noutros, o mínimo que se pede é que o português utilizado seja correcto. Pedir transparência e acessibilidade nos conteúdos já seria voar muito alto.

Alegre caminho

A saga de Manuel Alegre continua e a entrevista de sábado passado ao "Expresso" foi a cereja no topo do bolo. Aí revelou a habitual acidez, o queixume por não ter sido eleito presidente da Assembleia da República em 2005, o reconhecimento de que esticou a corda até ao limite, a vontade de concorrer como independente, logo contra o PS, em próximas eleições, o desdém pelo congresso cuja Comissão de Honra aceitou integrar.

Se juntarmos a isto as constantes votações contra o partido, colocando em risco opções estratégicas do Governo, e as festas com o Bloco de Esquerda, adversário declarado do PS, parece evidente que Alegre pretende seguir outro caminho, provavelmente alinhado pelo meridiano de Belém. É livre de o fazer.

Contudo, como alguém já escreveu, Alegre faz este discurso mas não prescinde do lugar de deputado do PS (nem das sinecuras de vice-presidente do parlamento), porque essa é uma das razões da sua força - estar dentro, embora com os dois pés (quase) de fora. Seria melhor para ele e para o PS que fizesse o seu caminho. Negociar com Alegre e a sua "plataforma" como se se tratasse de um subpartido dentro do PS seria um erro tremendo. Era ficar refém dentro da própria casa.

10 março 2009

Novas facetas da crise

aqui dei conta do alastrar da pobreza na classe média e sugerido a intervenção do Banco Alimentar. Manuel António Pina traz hoje novos casos, que deveriam merecer profunda reflexão das autoridades.

Seria muito interessante conhecer a quebra nos rendimentos dos Administradores executivos e não executivos dos grandes grupos, designadamente das ex-empresas públicas, tipo EDP, PT e outras. De igual modo seria curioso conhecer as “senhas de presença” pagas aos membros dos Conselhos Gerais ou Assembleias Gerais de grandes empresas e grupos económicos. É que, diz-se, que muita dessa gente recebe mais por participar numa reunião anual (a que aprova as contas e distribui resultados) do que muitos quadros dessas empresas recebem durante o ano.

Claro que a crise veio levantar o véu e para mostrar quanto estão solidários e disponíveis para colaborar no apertar do cinto. É assim que decidem reduzir, significativamente, remunerações e mordomias. Contudo, quando se olha para os novos números, que dizem que passaram a receber, continuam a ser escandalosos face ao desemprego crescente e face à realidade do país.

Contudo, salvo algumas colunas que aparecem os jornais, como a do MAP, a comunicação social não dá relevo a estas situações escandalosas, preferindo fazer manchetes com reformas da função pública, qualificando de milionária qualquer reforma acima dos 4 mil euros. Claro que não são os funcionários públicos que ustentam a publicidade para os órgãos de comunicação social. Entenda-se!

"O espectáculo da Cruz"

Na Mesa de Palavras, blog de D. António Couto, Bispo Auxiliar de Braga, um dos homens mais cultos e sábios da Igreja Portuguesa, escreve-se sobre o "espectáculo da Cruz". Vale a pena ler!

Queda de elevador

Ontem, apanhei um susto. Estava numa reunião, quando ouvi bater à porta da rua. Resolvi descer ao rés-do-chão. Tomei o elevador. Só que não parou e continuou o movimento de encontro aos amortecedores no fim do túnel. A adrenalina subiu, mas não quero repetir a experiência. Felizmente, o porteiro ouviu, desceu à à cave e conseguiu abrir a porta por onde pude saltar para fora. Trata-se de um elevador antigo (anos 30 / 40), muito bonito. Mas de futuro não volto a utilizá-lo. Mesmo que tenha afixada certificação de inspecção!

Excomunhão

No "anónimo", discute-se a excomunhão de criança de 9 anos que praticou aborto de bébé gerado por estupro do padastro.

A excomunhão é uma sanção automática estabelecida no direito canónico para a situação de aborto. Tal excomunhão é latae sententiae, isto é, decorre do próprio direito e não precisa de ser declarada. É o que dispõe o cânone 1398 do Código de Direito Canónico:"Quem procurar o aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae". Na mesma pena incorrem os cúmplices, se sem o seu concurso o delito não teria sido perpretado (c. 1329, § 2).

A censura pode ser objecto de revogação pela autoridade eclesiástica (cc.1356-1358), pelo que compete ao excomungado expor as razões que lhe assistem, com recurso para os competentes órgãos da Santa Sé.

Esta é a lei da Igreja (a que pertencem os que nela querem permanecer), que se aplica com a "equidade canónica e tendo-se sempre diante dos olhos a salvação das almas, que deve ser sempre a lei suprema na Igreja" (c. 1752)

Entretanto

Enquanto a crise da economia dita real avança, as decisões sobre a regulação do sistema financeiro ficam-se pela fase da análise. De acordo com notícia no Diário Económico o presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos, afirmou que a “recuperação económica permanece fora do alcance” e apelou a uma reestruturação da regulação do sistema financeiro norte-americano, de modo a reduzir os efeitos das crises que ocorrem ciclicamente nos mercados.
No mesmo jornal pode ler-se que a Comissão Europeia (CE) vai avançar com novas medidas legislativas na supervisão do sector dos serviços financeiros até Outono deste ano.

Entretanto, enquanto estudam sobre a melhor forma de regular o sistema financeiro continuam a injectar nele dinheiro do Estado, ou seja, dos contribuintes.

Entretanto, até os Simpsons são vítimas do 'subprime'.

09 março 2009

Miguel Bombarda - um must do Porto

Estive no último sábado no programa de inaugurações das galerias de arte instaladas na zona da Rua Miguel Bombarda, no Porto. Aquilo que já era um must da cidade, conheceu neste dia um revigoramento com a inauguração do troço pedonal daquela rua, com desenho de Ângelo de Sousa. Rui Rio e o ministro da Cultura, Pinto Ribeiro, associaram-se a esta jornada

Foram milhares de pessoas a circular na zona, a visitar as galerias, as lojas de mobiliário retro, de design, de moda e até de vinhos. Muitos jovens e também gestores e quadros de relevo da cidade. Por ali andavam, por exemplo, Rui Moreira, presidente da Associação Comercial, Ângelo Paupério, presidente da Sonaecom, Carlos Moreira da Silva, presidente da Barbosa & Almeida, ou Joaquim Azevedo, director da Universidade Católica. Disseram-me que também Elisa Ferreira andou por ali.

Senti o Porto a mexer e isso conforta-me, porque é sinal de que há massa crítica disposta a (fazer) viver a cidade. Neste caso concreto, regozijo-me que um dos principais impulsionadores deste movimento em torno de Miguel Bombarda tenha sido o meu particular amigo Fernando Santos, cuja galeria tem patente a obra de Gerardo Burmester e Manuel Botelho, para além de outros artistas em exposição colectiva.

Um lamento: vindo de Miguel Bombarda passei pela baixa, por volta das 20H00, e o que se via era "meia-dúzia de gatos pingados". Há que trazer as pessoas para a baixa e essa parece-me uma equação de difícil resolução se não houver uma estratégia concertada entre todos os agentes, públicos e privados.

08 março 2009

Dia da mulher


Não gosto especialmente do dia da mulher. Assim como não gosto quando dizem, com ar condoído, “especialmente idosos, crianças, deficientes e mulheres”. Nunca, mas nunca mesmo, me senti discriminada. Sei que isso também se conquista, mas não basta. Sei também que essa não é a realidade que vive a grande maioria das mulheres, muito pelo contrário. E por isso, quase só por isso, acabo sempre por concordar que é importante que haja um dia que lembre o é forçoso lembrar.


Além disso, fiquei recentemente a saber que nos países de Leste é feriado no dia 8 de Março. Neste dia, as mulheres não fazem nada. Nada mesmo. Os homens cuidam dos filhos, da casa, de tudo. No final fazem uma festa em conjunto, homens e mulheres. Por sinal, no dia 9 também não trabalham porque a festa é mesmo farra e dura até às tantas. Parece-me bem. No caso dos trabalhos domésticos um dia de estágio pode ser salutar e uma ponte para algo mais. Quanto aos festejos em conjunto são muito melhores que a moda que se instaurou entre algumas mulheres ocidentais que festejam esse dia com um jantar só de mulheres, o que me pareceu sempre uma sensaboria.

06 março 2009

Águas de Março - Tom Jobim e Elis Regina

UM ESTADO QUE TOME CONTA DE NÓS

Os dias têm andado tristes, enfadonhos, mortiços, sem nada que nos anime ou transponha para dias claros. Acabaram-se os amanhãs que cantam e mesmo o Sol tende a não aquecer igualmente. Aproxima-se o tempo das flores silvestres. O rosmaninho vai cobrir montes e vales, tal como a carqueja formarão mantos imensos de cor intensa. Mesmo assim não há cor para estes dias. Nem o anúncio do volume de lucros jamais alcançado pela EDP ("3 milhões de euros por dia em 2008" in Público) tem o condão de nos despertar. Tão-pouco nos anima os progressivos lucros, acabados de anunciar, da GALP. Trata-se de fogachos em noite de santos populares animados por um exército (em formação) de desempregados. Ainda ontem a televisão dizia que a classe média está a começar tomar banho nos balneários públicos. Num outro dia, um outro canal, dizia que muitas famílias da classe média estão a recorrer ao Banco Alimentar. E uma rádio alertava para o facto da mesma classe média estar a deixar de pagar as mensalidades dos colégios dos filhos. Mais triste ainda, famílias há que estão a forçar os filhos e irem de lancheira para os colégios. Tudo notícias bárbaras, que nos entristecem ainda mais. Segundo os jornais de hoje os accionistas da ZON vão ver reduzida a sua participação nos lucros da empresa. Ora aí está, mais gente a perder poder de compra. Lá vai ter que se reforçar o abastecimento do Banco Alimentar e as autarquias terão que lançar um plano de remodelação e reforço dos balneários públicos. A exemplo do que muitas já estão a fazer no apoio aos que não pagam a renda da casa. É preciso estender este movimento a todas as rendas: a renda (prestação) do carro, do plasma, das últimas férias, etc.
Enfim, é preciso um Estado que tome conta de nós!

05 março 2009

o verão

Embaraçada pelo tempo de afastamento sem nada ter avisado aos meus companheiros e companheiras de blog eu me desculpo. Conto com a tolerância de todos.
Estava com tantas saudades... Mas meu tempo tem andado curto. E o cansaço tem me vencido com frequência ao final de cada dia. Enfim, são as circunstâncias. Espero que me perdoem.
Deixo um abraço grande a cada um de vocês e um especial para a Guilhermina e a Kamikaze.
Vocês têm me feito falta.

Fica um poema que eu não havia ainda posto na net. Escrito ainda no início do verão, mas só hoje acabado ( eu me esquecera dele) .

Hoje desde um calor infernal recebam o meu carinho,

Silvia
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o verão

chove ainda,
o verão se aproxima lentamente.

a cidade se agarra às cores,
respira-as;
cola-se aos azuis, verdes,
vermelhos.
pega nas cores com cuidado,
vida a depender delas.

o verão é um dos poemas da cidade.
o povo bebe de má vontade
esta chuva fina a molhar-lhe os pés
e o olhar.

espera pela canção das cores e do sol,
dos risos alagados pelo mar,
do suor a fazer brilharem os corpos
e o desejo,

naturalmente.


silvia chueire

03 março 2009

Justiça Insegura

Segundo se lê aqui e aqui Carolina Salgado foi agredida, hoje, quando abandonava o Tribunal de Gaia, o que teve como consequência o adiamento do julgamento e a abertura de um novo processo judicial contra a presumível agressora. Esta passou a ser a notícia.

Quando o exemplo não vem de cima

Esta notícia do JN do passado domingo deu conta de uma realidade por muitos desconhecida - a sistemática ausência de alguns presidentes de Câmara às sessões das respectivas Assembleias Municipais, o órgão deliberativo e fiscalizador da actividade dos executivos autárquicos. A Lei diz que a Câmara se deve fazer representar pelo presidente nas sessões da Assembleia e que só em caso de justo impedimento este se pode fazer representar pelo substituto legal. Contudo não é isso que acontece designadamente com Luís Filipe Menezes e Valentim Loureiro, em Gaia e Gondomar respectivamente. Rui Rio também costuma faltar bastante.

Os presidentes usam de todos os expedientes para se furtarem ao debate político com as oposições, sempre mais vivo e acutilante nas Assembleias do que no próprio executivo. Em Gaia, vê-se que até o vice-presidente Marco António Costa falta sempre que pode, como se tal fosse um incómodo que convém evitar à melhor oportunidade. É verdade que muitas vezes a qualificação dos membros das Assembleias Municipais, presidentes de Junta de Freguesia e eleitos directos, não é a melhor, mas não se pode aceitar este menosprezo pelo principal órgão autárquico em favor de um crescente presidencialismo. Convivi de perto com esta realidade em Marco de Canaveses, onde muitas vezes Avelino Ferreira Torres faltava às Assembleias Municipais por motivos fúteis, e nunca me resignei com esse facto.

02 março 2009

Estes dias que passam 145


Uma maçada!....

Isto de missas é uma maçada!”, costumava dizer o senhor duque de Orleans em privado. “Mas também se despacha em três tempos e depois pode-se almoçar tranquilamente. E as missas são boas para o povo".
E Sua Excelência acrescentava, para consumo de amigos ou sócios políticos e financeiros, que bastava convidar o padre celebrante para ter a certeza que os seus mal contidos bocejos eram perdoados. E esquecidos. E aplaudidos!
Ora, desculparão as leitoras, foi esta a impressão que me ficou do congresso socialista. Uma maçada! Eu ia a dizer que o magno evento tinha marcado o fim de semana mas nem disso sou capaz. O empate consentido pelo Futebol Clube do Porto no seu próprio estádio deu azo a mais comentários e desatou mais paixões do que a morna reunião de Espinho.
Está visto que as praias, mesmo com casino, só valem a pena no Verão.
Então vejamos o que se retira daquelas longas horas de discursata desatada. Pouco ou nada. Nem sequer a derrota anunciada do pequeno grupo de opositores internos, “esmagados” segundo um jornal de referência, dá lugar a comentários. De resto, os “vencedores” também não se mostraram entusiasmados. Aquilo, eram favas contadas desde há meses e a verdadeira guerra é outra: há que provar ao país eleitoral que ainda vale a pena apostar em José Sócrates e na bondade das suas extraordinárias capacidades políticas.
Aqui um aparte: dizem-me que Sócrates tem o hábito (que me escuso de comentar...) de entrar ao som de uma balivérnia chamada “Gladiator”. Independentemente do escasso valor musical da peça em questão, conviria lembrar aos adeptos desta música triunfal o triste destino dos gladiadores romanos, mesmo descontando a aventura trágica de Espártaco. Como, provavelmente (não) saberão os gladiadores eram carne para arena e mesmo os mais felizes acabavam normalmente por encontrar um fim pouco feliz para a sua breve e duvidosamente gloriosa carreira. A menos que a escolha da música seja também ela obra dos fautores da campanha negra...
Omitindo a habitual série de pequenos discursos permitidos à plebe partidária, e fazendo tábua rasa das proclamações da excelência do Governo, o que fica?
Pois nada, ou quase. A rara substância de meia dúzia de intervenções foi olimpicamente ignorada pelo público escasso que não estava para essa maçada de questionar o “admirável mundo novo”, não de Huxley mas tão só de Sócrates.
O grande acontecimento, o frisson do congresso foi durante umas horas a espera por Godot, perdão, por Alegre. Havia apostas, conciliábulos, segredinhos, sussurros, vem não vem, porque sim, porque não... Mas nem essa pequena aura de voluptuoso mistério durou: um seco aviso advertia que Alegre comunicara a sua indisponibilidade ao dr. Almeida Santos, esse fantasma recorrente e gasto que é usado nestas alturas como forma de lembrar um passado de que ele foi uma das figuras menores. Mas figura, quand-même, sobretudo agora onde entre figurinhas e figurões não se alcança uma personagem marcante, interessante e...socialista.
O resto foi o discurso do amado líder, também ele um resumo de anteriores discursos, mesmo se eivado de santa impaciência e brandos queixumes perante os ataques de que se sente vítima e que ele atribui a uma central infame orquestradora da campanha negra.
Depois uma enxurrada de repolhudas personalidades, deputados, ministros, ex-ministros & similares repegou o tema da campanha maldosa e da impoluta virtude do excelso secretario geral, vítima de maldizentes que se acoitam no jornal “Público” e na TVI. É curioso mas, ao que sei, houve mais meios de comunicação social que desancaram o primeiro ministro por causa do “fripór”, do inglês técnico, dos projectos camarários, do apartamento comprado a preços de saldo e por aí fora. Esses deverão fazer parte de uma próxima denúncia, porventura a campanha amarela, verde ou quiçá vermelha (esta com sede nos “parasitas” do Bloco e no Partido Comunista).
É penoso ver (ouvir) alguns patéticos defensores a debitar tais banalidades. E espera-se que sejam só isso, banalidades, e não ameaças veladas a um vulgar direito reconhecido em todo o mundo dito democrático. Arons de Carvalho veio juntar-se, aliás, à lista dos malhadores (ou caceteiros de serviço). A personagem é medíocre e provou-o à saciedade quando exerceu funções governativas. Agora, porém, tentou mostrar-se forte e foi como se a montanha parisse o habitual rato. Vê-se que nasceu e cresceu num ambiente de censura e que, pese a todas as posteriores andanças, ainda não percebeu que a censura é má mesmo quando somos nós que a tentamos exercer e que a liberdade é sempre boa mesmo se somos nós quem paga algumas favas. Arons com o seu ar murcho de irmão leigo numa reunião de adventistas dissidentes disse alto o que outros mais precavidos ou mais inteligentes pensavam baixo.
No meio do Congresso terá havido um apagão. Faltou a luz, para sermos mais claros. Foi só isso. Mais grave mas menos notada pelos congressistas foi a falta de ideias, de políticas novas, de socialismo democrático e de humildade. Mas tudo isso é supérfluo quando se tem um Sócrates ao leme. O mau é se lhe aparece um Adamastor. Não creio que nessa eventualidade seja capaz de citar e viver o famoso poema de Fernando Pessoa: aqui ao leme sou mais do que eu: sou um povo que quer o mar que é teu... etc.. Mas provavelmente também não o leu. Ou leu dele uma fotocópia em português técnico, o que vem a dar no mesmo, infelizmente.

* para cúmulo do azar, Nino Vieira foi hoje assassinado. Amanhã, provavelmente, os jornais dedicar-lhe-ão as páginas nobres e o congresso passará mansamente para o caixote dos refugos jornalísticos e noticiosos. Também não valia a pena gastar muita cera com tão ruim defunto.

** a gravura pretende mostrar um congresso de bichinhos selvagens. convenhamos que antes eles do que os banhistas espinhenses do último fim de semana...

As Cores da Justiça


O Tribunal da Relação do Porto desancou numa juíza de Ovar, por esta não ter aceite um requerimento em papel de cor verde e ter, ainda, multado o requerente em 192 euros.

Apesar da manifesta porrada que deu, a Relação não deixa de tratar a autora do despacho por “meretíssima juíza”, tratamento que deve corresponder a um modelo cordato de repreender alguém do meio da justiça.

Uma outra notícia – JN e Correio da Manhã – a merecer acompanhamento é a do julgamento de um pilha galinhas, marcado para 20 de Abril de 2009, que terá roubado duas galinhas em 26 de Outubro de 2007.

Não sei porquê mas acho que estas notícias têm alguma coisa em comum.

28 fevereiro 2009

Au Bonheur des Dames 172


Eiswein ou Jeropiga,
that's the question

Tenho um amigo de há mais de quarenta anos que é a coisa mais parecida com um original que conheço: desistiu de guiar há cerca de vinte anos e portanto usa transportes públicos e táxis de noite ou quando não consegue fazer os seus percursos a pé. Abandonou o velho casarão familiar, logo que se divorciou, comprou um T1 espaçoso que lhe funciona de biblioteca. Vive num hotel onde além de lhe fazerem preços escandalosamente baixos ainda lhe tratam da roupa. Também lhe fazem óptimos descontos ao jantar visto que almoça sempre fora. Contas feitas, garantiu-me que nunca viveu tão bem e com tanto dinheiro disponível. “E também tenho desconto no bar”, acrescentou num sorriso malicioso.
Nada predispunha este abencerragem a tão extraordinária vida. Nem a família, classe média abastada, moderadamente conservadora, nem o seu percurso que foi aliás o percurso de quase toda a geração ainda que em allegro moderato. Fez as greves da praxe enquanto estudante, ajudou alguns amigos mais conspirativos, trocou o Direito pela consultadoria (o que lhe permitiu viajar bem mais do que a maioria dos amigos), casou e descasou duas vezes, tem um filho gerado em terras estranhas que é actor mimo, músico ambulante e veterinário (!!!) ou seja, é mesmo mimo, toca em pequenos grupos de jazz e ostenta um título de veterinário que lhe permite dar consulta aos cães e gatos das numerosas amigas. Pai e filho reúnem-se duas vezes por ano, na Primavera (lá) e no Outono (cá). Cumpre acrescentar que o filho vive numa roulotte nos terrenos de uma quinta da mãe.
Tudo isto para situar a carta que há dias recebi (eu já disse que K. é um original, não disse?, pois ainda escreve cartas num papel espesso e creme, num elegante cursivo que a caneta Aurora -sempre canetas Aurora, italianas e caras, vício que me transmitiu – acentua numa tinta entre o castanho e o azul que ele jura ser também italiana de uma pequena loja de Milão) onde ele me perguntava pelo P.S.
Depois de referir os nomes de vários contemporâneos nossos (cumpre dizer que ele fez grande parte do curso em Lisboa com um intervalo de dois anos estroinas em Coimbra), diz-me “... e esses gajos eram tão, tão esquerdistas, tão dogmáticos, tão cheios de nove horas e agora estão às palmadinhas ao José Sócrates? Então, naquele tempo, diziam-me as últimas por eu achar o sistema sueco uma coisa maravilhosa com a sua social-democracia, o seu Ingmar Bergman e o rei a passear de bicicleta entre o povo e agora essa social democracia, o rei, a princesa que vai casar com um plebeu e o fantasma do Ingmar estão a milhas à esquerda deles?
... Lembras-te que me quiseram forçar a ler o George Politzer, “O Materialismo e o empirocriticismo” e uns romances horrendos do Amado (os subterrâneos da liberdade, a seara vermelha e o cavaleiro da esperança!!!, credo que atentado ao pudor!,) e que me chateavam por eu usar umas gravatas herdadas do meu tio e que além de inglesas eram lindíssimas? E o que me criticavam por eu usar blaser azul escuro, pago e oferecido, de resto pela minha mãe quando descobriu que eu desviava o dinheiro para comprar roupa em livros, copos e cinema usando e abusando de uma coisa informe que em tempos teria sido casaco mas que até puído na bainha das mangas estava?
Estás a vê-los agora, no parlamento, todos enfatiotados, engravatados (convenhamos que com escasso gosto, escassíssimo até...) a trocarem banalidades com a oposição ou em infindáveis e insubstanciais berreiros que soam a falsete? E foram eles quem me exprobaram o facto de logo depois do 25 A eu votar socialista? Votar, nota bem, que não caí na asneira de me filiar... Para esta gentinha eu estava à direita, quase mancumonado com o Freitas do Amaral (que agora é um dos compagnons de route deles!..., ministro e tudo!) e com o ELP...
Quando apoiei (foste tu que me meteste nessa) o Bochecha Mimosa para Belém andavam eles todos enfrascados no pintasilguismo. Ouvi poucas mas boas, como tu também terás ouvido. E por aí fora. Agora estão unha com carne – ou isso parece – com a moção vitoriosa do querido líder proto-coreano que exerce de secretario geral do P.S.. Eu poderia pensar que neles a ideologia se transmutou na palha da mangedoura política. Quem quer bolota “atrepa” e quem quer benesses e vida parlamentar, mete a viola no saco e canta missa com os outros. Se calhar com mais força para que se veja bem a profundidade da conversão.
...Custa-me isso, apesar de tudo. E sinto-me incómodo nesta posição de crítico. É que tenho medo de ser confundido com o bloco de esquerda ou até, sabe-se lá, com o partidão. Logo eu que nunca dei para tais peditórios! E agora, em quem voto? Já sei que me vais falar do papelinho branco mas eu, caríssimo M., tenho uma certa fobia ao vazio. E branco só em paredes. Para poder pendurar quadros ou rechear de estantes com livros. Ou em certos vinhos, de preferência do Reno para não falar de um certo Eiswein que recordarás o velho Prum JJWehler que agora deve andar pelos 900 eurinhos a garrafa, se os preços que tenho ainda são os mesmos.
...Os rapazes da esquerda do nosso tempo meteram a viola no saco e politicamente em vez de vinho branco inclinam-se para a jeropiga. Lá terão as suas (deles) razões. Que lhes aproveite.

De vez em quando um blogger tem de descansar. Sobretudo se, de entre um vasto leque de amigos, puder pescar algo que lhe aproveite. O que é o caso. Resta-me apenas situar o "Eiswein" citado, um JJ Prum que bebemos num dia memorável na Alemanha, à conta de uma namorada dele e de uma garrafa de Porto (Alcino Corrêa Ribeiro, 1946, uma pomada de que o Fernando Assis Pacheco dizia valer um inteiro livro de poemas) por mim trazida para um tio de um amigo nosso que, além de Junker era um notabilissimo vinicultor. Os vinhos de gelo são colheitas ultra-tardias estilo Sauternes que valem o que pesam em metais raros e nobres. São feitos com uvas colhidas á mão, antes do sol raiar, uma a uma, ou quase e o deus que rege estas coisa do vinho dá-lhes um toque, uma cor, um perfume que trinta anos depois ainda recordo com intensa emoção. Como K que obviamente não se chama K. mas que é, garanto, um gajo porreiro. Saravah, mano!

27 fevereiro 2009

Diário Político 102


Muito barulho para nada
ou
o congresso de berlin(de)


congresso (s. m.): reunião de pessoas
que deliberam sobre interesses comuns



O título shakespeareano que dá entrada a esta conversa tenta traduzir não só a leveza do acontecimento mas também é uma piscadela de olho a um par de amigos que, desde há anos, me acompanha no apoio discreto mas regular ao ps. É que, apesar de tudo,tenho pelo partido da rosa uma opinião idêntica à de Alexandre O'Neil: ele não merece mas voto ps.

Reparo agora que ao utilizar a palavra leveza poderei suscitar nalgum leitor mais sarcástico (são poucos os que me lêem mas muito dados à ironia...) o imorredoiro título de Kundera A insustentável leveza... ou mais comesinhamente alguém poderá tomar leveza por leviandade coisas que eu, claro, não quereria suscitar...

Eu venho, como o sr eng Guterres já afirmou, falar de política que é uma arte nobre e não tenciono perder-me por essas azinhagas do diz-se que diz que faz a glória e o lucro de tanta revista semanal. Não referirei portanto a performance de um jovem presidente de junta que para uns foi a estrela do congresso e para outros o motivo parvo para rir. Esse esforçado congressista disse alto e sem papas na língua o que quase todos calaram.

Passemos pois à parte substantiva do ajuntamento socialista. E em primeiro lugar há que tirar o chapéu ao joker eleitoral do secretário geral: candidatar Mário Soares ao parlamento europeu é conseguir, à cabeça, reforçar extraordináriamente, a lista. Para efeito interno é um golpe de génio. Externamente só terá consequências interessantes para Portugal se houver uma maioria no parlamento que leve Soares à sua presidência. Resta saber por que razão corre Soares. O parlamento europeu tem sido até hoje uma espécie simpática de verbo de encher: enche os deputados de dinheiro e os governos nacionais de conselhos. A comissão europeia tem ligado pouco a este babélico grupo de preopinantes: irão as coisas inverter-se agora? Só assim se compreende que um velho leão da política aceite ir para Estrasburgo ouvir discursatas chatíssimas em flamengo ou norueguês...

A segunda grande questão do congresso era a da participação das mulheres socialistas nos órgãos nacionais do partido. Convenhamos que aquí a solução tem consequências pesadas tal a leviandade com que se construiu: havia que meter 25% de mulheres e, ao mesmo tempo, não ofender os cavalheiros que desde sempre pastavam naqueles viçosos secretariado, comissão política e outras instâncias. Aumentou-se o número de lugares até caber toda a gente. Como malabarismo é grosseiro e como reconhecimento do direito das mulheres é infantil. Ainda tive a esperança de ver alguma militante recusar o bodo aos pobres. Nada disso: numa coisa as mulheres do ps já são iguais aos homens: aceitam tudo e depressa...

Foi de resto comovedor contabilizar as intervenções femininas no congresso: nem dez por cento...Continuem assim, companheiras que o futuro é vosso!

Um congresso sem confronto não é congresso nem é nada. Não que eu proponha a instauração da bagunça generalizada como método de discussão política mas convém sempre para efeitos externos contar com dois ou três frissons e um par de gritos para não parecer que se está num congresso do pc onde já tudo está convenientemente decidido graças ao centralismo dito democrático e a outras balivérnias do mesmo teor.

Havia porém um problema: a moção do secretário geral já tinha ganho tudo o que havia a ganhar pelo que tudo concorria para um duvidoso unanimismo que o governar sem oposição mais e mais suscitava. Sem discussão um congresso não tem direito de antena ou, tendo-o, arrisca-se ao zapping velocíssimo dos espectadores. Pediu-se pois aos militantes o sacrifício de uma oposição. Coube a Manuel Alegre o papel de contrincante na festa do Coliseu.

Nasceu assim a moção "Falar é preciso" muito embora se ignore qual o sentido a atribuir à última palavra: quereriam os subscritores dizer "necessário" ou subitamente desconfiados do parlapié da moção abrangente do secretário geral propuham ao ps reunido "rigor sóbrio de linguagem"? Ou finalmente queriam significar "urgência, necessidade"? Isto porque, apesar da cada vez maior langue de bois dos próceres socialistas, ainda não chegámos à "carência do que é necessário ou útil". A língua portuguesa é muito traiçoeira, dizem, e um poeta como Alegre pode usar as palavras só para confundir o pagode.

Com a entrega de mais esta moção esfregaram as mãos todos quantos se sentiam responsáveis: finalmente uma discussão, votos, vencedores e vencidos, separar das águas etc...Esfregaram depressa demais que logo alguém avisou contra os perigos temíveis de aquilo se transformar num duelo direita-esquerda, insensatez absoluta tendo em vista os próximos actos eleitorais, a penosa conquista do centro e mais quantos solecismos políticos se lembraram.

Unidade bradaram, unidade é o que é preciso neste momento crucial da vida nacional. Ai querem unidade respondeu-lhes o engenhoso secretário geral: pois assinam-se a duas moções e votam-se não uma contra a outra mas uma mais a outra. O partido é assim: muito plural de ideias e verdadeiramente singular na maneira como resolve as suas contradições internas!

No dia grande aconteceu o que se previa: Guterres abriu os trabalhos debitando para as massas não o discurso da sua moção mas sim o da contrária que aliás já não era contrária mas complementar. Alegre diria a seguir que, se na moção, Guterres tivesse defendido o mesmo que agora defendia sempre lhe teriam poupado a maçada de apresentar a sua moção. O povo socialista presente uivou de alegria pois entendeu as palavras de Alegre como um certificado de esquerdismo passado a Guterres. Guterres abraçou Alegre, Alegre abraçou Guterres, Vitorino abraçou Coelho, Sócrates acenou a Carrilho, este amuou e um anónimo das bases apalpou uma menina da JS que não se deu por achada.

Faltava ainda votar mas Almeida Santos achou que estavam todos numa boa pelo que despachou a maioria das votações com uma íntima convicção de que todos estavam de acordo com tudo. Parece que ninguém protestou pelo que, no que me toca, também não protesto.

As moções ditas sectoriais foram deixadas para melhor oportunidade, mais concretamente, para uma reunião da comissão nacional onde finalmente se votarão. A pergunta que se faz é se sequer os senhores conselheiros as discutirão ou se esfogueados pelo entusiasmo e pela vitória próxima que se adivinha as passarão directamente para o rol das inutilidades que se ignorou com o congresso. Assim, pelo menos, terão tempo para uma partida de matraquilhos ou, se preferirem, por um jogo de berlinde. Berlin(de) que como sabem todos é uma cidadde onde em 1884-1885 se realizou um célebre congresso a dividir África. Assim se prova que nos congressos há sempre qualquer coisa a dividir por quem se porta bem: continentes ou jobs for the boys... And for the girls, digo eu que também falo inglês.


“ Não trocem das minhas contradições: o homem é por natureza inconstante..."
(“Muito barulho para nada”, acto Vº, cena IVª)




* o cronista sabe que já ninguém se lembra deste congresso do PS realizado em pleno tempo da governação de Guterres. Todavia, o estado actual dessa formação política e as perspectivas que o seu congresso próximo futuro trazem são de tal modo desinteressantes (para não utilizar uma palavra mais apropriada e necessáriamente contundente) que ressuscitou esta crónica do desgraçado limbo onde jazia e resolveu publicá-la: como se fosse um comentário... a uma realidade que é, como de costume bem pior do que a que se descreve.


d'Oliveira