30 novembro 2008

Diário Político 92




368 anos depois...


Terá sido no ano de 1963, em Coimbra, que a “latada” de Letras ditou o fim de todas as latadas. Entendamo-nos: as latadas, que começaram por ser uma festa exclusiva dos estudantes de Direito que celebravam o fim dos exames, passaram, em data incerta, mas já no século XX, a realizar-se no inicio do ano lectivo e serviam para os quartanistas de cada faculdade usarem definitivamente o grelo, a fita estreita que prenunciava um próximo fim de curso. Nesses cortejos, os caloiros mobilizados e vestidos de maneira estapafúrdia levavam cartazes maliciosos e/ou de charge política. Era nos anos sessenta uma das maneiras de mostrar que a Academia coimbrã cortara relações com o regime (que se não nascera em Coimbra, tivera nesta cidade e na sua universidade alguns dos principais teóricos para já não falar no alfobre de governantes em que a Faculdade de Direito se tornara). As faculdades competiam entre si por se mostrarem mais ousadas, mais inventivas e mais contestarias. A velha praxe coimbrã cobria com o seu espesso véu estas audácias juvenis e, de certo modo, protegia-as.
Todavia, depois da fortíssima (e mal conhecida) participação coimbrã na crise académica de 62, as autoridades estavam já mais atentas e pouco dispostas a aceitar a “irreverência da mocidade estudiosa”.
Ora, a latada de “Letras” (uma das primeira a ter um argumento único) era, do primeiro ao último cartaz, uma fortíssima manifestação política que aliás começava pelo título geral patente no primeiro cartaz: “Os velhos não devem governar”, piscadela de olhos ao texto teatral “Os velhos não devem namorar”, de Castelao, um dos pais do independentismo galego. Dentre os cartazes, quase todos notáveis e engraçados destacava-se um mais violento: “Há governos que caem pela força. Este cairá pelo ridículo”.
A reacção das autoridades foi rápida e dura: os responsáveis pela “latada” (que só recordo o António Luis Landeira) foram detidos pela PIDE e passaram umas semanas nos calabouços da delegação coimbrã. Recordo com ternura e emoção as muitas manifestações de solidariedade de que foram alvo e lembro-me que o Landeira recebeu não só muitos maços de tabaco mas um belíssimo isqueiro enviado por uma querida amiga nossa, perita em abrir latas de atum como, tantos anos depois, ela se retrata.
O governo não caiu, claro. Demorou ainda 11 longos anos, como se sabe. Demorou o governo mas a esse sobreviveu-lhe um certo espírito que ainda hoje anima muito governante. E não caiu pelo ridículo mas quase, porquanto bastaram umas escassas tropas mal armadas e uma rajada de metralhadora no quartel do Carmo.
Contudo, o ridículo continuou a sua triunfante caminhada (basta ver as declarações de vários lideres políticos com especial referencia a Jerónimo de Sousa, Santana Lopes e Maria de Lurdes Rodrigues, para não citar outros, muitos! Que se acotovelam na praça pública. Abramos ainda um pequeno espaço para a inerme Juventude Socialista, um ajuntamento de rapazinhos de que normalmente não se ouve falar a menos que entendam, a contra-corrente, aviar uma proposta “fracturante” que depois não defendem. Não defendem porque não acreditam, diga-se de passagem. E de que se esquecem logo que se apanham com uma sinecura com que habitualmente se calam os vagos opositores e os meninos bem comportados.
Eu não quero que o governo caia pelo ridículo nem creio que isso possa ocorrer. Infelizmente, governo e regime estão ameaçados por algo bem mais grave e maior: a democracia, flor frágil, necessita de ar puro, coisa que com estes sucessivos casos financeiros vai escasseando. Parece que, e até nisso o engenheiro Sócrates tem sorte, o escândalo está a ser habilidosamente circunscrito ao BPN e a Dias Loureiro. Vozes autorizadas fazem o possível por dizer que a avalanche que ameaça engolir o BPP tem causas diferentes. Terá. Mas ninguém me convence que a impossibilidade de continuar tem a ver com gestão desastrada, com ambições desmesuradas, com imprudência, com má avaliação da conjuntura. Também ninguém me convence que o plano salvífico que mete vários bancos ao barulho não vai custar nada aos cidadãos, como eu e como quem me lê. Porque é que o Banco de Portugal, tão distraído quanto às carências gritantes de supervisores capazes no seu quadro, se mostra tão atento ao plano de salvar uma centena de fortunas de cavalheiros que só acorreram aos balcões do BPP porque havia extraordinárias e miraculosas retribuições dos depósitos. Será que estes senhores não achavam que essa fartura poderia ter pés de barro? Convenhamos: se os outros bancos, mesmo na função private banking não davam tanto juro como é que este pequeno banco gestor de fortunas oferecia tanta remuneração? Será que o dr. Rendeiro era o moderno Laffite da banca nacional? E se era, porque é que agora tem de ser afastado da solução do problema? De um problema que, por força ele conhece melhor do que ninguém?
Passemos adiante. Há por aí alguém que me possa garantir, modestíssimo depositante de poucos centos de euros que mais nenhuma instituição financeira está em risco? Que não há mais políticos do bloco central a viver de benesses derivadas do seu ziguezaguear entre governo e privado, num entra e sai suspeito, em que cada entrada parece uma promessa de melhor saída e cada saída um prémio de favores passados, presentes ou mesmo futuros?
O país, pelo menos aquele que se interessa e não é ainda totalmente analfabeto, vê diariamente esta trasfega de interesses e pessoas, de pessoas e interesses, este toma lá dá cá, tudo no mais escrupuloso respeito de uma auto-denominada “ética republicana” que nenhuma lei acolhe e que na generalidade do mundo é considerada inaceitável. Alguém acredita que em França um Conselheiro de Estado venha de motu próprio dizer um par de banalidades que rapidamente são desmentidas e não seja substituído? Alguém acredita que nos Estados Unidos (país onde se recrutam governantes na elite dos negócios e das financeiras) se passe assim, de um pé para a mão do público para o privado, sem rede nem garantias especiais?
Alguém acredita que um cavalheiro de modesto rendimento e situação financeira condizente apareça meia dúzia de anos depois com um pecúlio notável, fruto de “muita economia, muito tino, muita sorte e incomparável inteligência”? Então as criaturas andavam por aí a beber, com conta peso e medida, um café com cheirinho – e só aos domingos e dias santos de guarda! – e agora passam as noites nos restaurantes e bares da moda a aviar whiskies escoceses de nomes impossíveis, vindos de ilhas desconhecidas e preços extravagantes? E pendurados em charutos de meio metro que fariam empalidecer de inveja um dos meus respeitáveis confrades de blog (que paga do bolsinho, e com o suor do rosto, o charuto que fuma)? E que passam subitamente das férias de oito dias em campismo para os fins de semana na neve, o verão nas Maldivas e os cruzeiros em Bora-bora? Que substituem o Corsa a prestações pelo BMW, série 5 (isto quando são modestos...)?
Amanhã, daqui a menos de uma hora, aliás, faz anos que um duque de Bragança convocado pelo Rei Filipe IV para fazer a guerra na Catalunha insubmissa, entendeu restaurar a independência pátria, coisa que, soit-disant, conseguiu ao fim de vinte e oito anos de guerra de fronteiras e de alianças espúrias com ingleses cobiçosos que ainda hoje nos fazem pagar esse favor. Trezentos e sessenta e oito anos!
Eu não sou iberista. Não que não gostasse mas, realista, sei bem que os espanhóis não estão para nos aturar. Muito menos para pagar os nossos pecados, a nossa incúria, o nosso eterno sentimento de frustração. Ainda por cima conseguem impingir-nos os seus produtos, as suas Zaras, a sua imprensa cor de rosa, as suas praias e o seu Corte Inglês sem a maçada de ter de nos governar.


PS que não tem nada a ver (ou terá?): o PCP está em congresso. E resolveu homenagear o “imortal” partido comunista cubano, o único que teve o direito a discursar. E alguém, Jerónimo?, teve direito a receber uma fotografia dos manos Castro! É obra! E uma fotografia de Stalin? E outra de Mao? Ou do Enver Hodja? Não servem? E do Ulbricht esse génio? Ou do Gomulka? Força, malta, força que nós somos a muralha de aço...

d’Oliveira fecit

Au Bonheur des Dames 152


Carta dos antípodas

Sra Ministra, partilhe um bom momento.
"Uma carta que recebi de um menino que recebeu um computador para ter em casa, (...), e escreveu-me a dizer: 'Quando for grande, vou inscrever-me no PS.' É tocante."


Tinha prometido a mim mesmo que nunca mais falava da senhora Ministra de Educação. Por razões várias, aliás expostas em posts anteriores e por uma especial que se resume, custa dizê-lo, a um mero acto de higiene mental. De facto, o discurso quer fui ouvindo ( e sou apenas um português já com um valente par de anos em cima, sem qualquer ligação –directa ou indirecta – à educação, sem filhos nem cadilhos, com os familiares mais jovens já livres “daquilo”) pareceu-me sempre repugnante pelo que continha de anti-democrático (e meço as minhas palavras), de populista (idem, aspas) e de profundamente falso. Nas premissas, no arrazoado, nas conclusões. Em tudo. Vi ministros do “fascismo” menos reaccionários e com mais pudor. E sei do que falo porque, ao contrario da Senhora em causa (que terá “militado” no jornal anarquista “A Batalha” -!!!???...- já em plena democracia) e dos seus acólitos, dei o corpinho ao manifesto e passei por maus bocados. Na rua e na escola, coisa que, pelos vistos, não ocorreu com eles. Ou porque não tinham idade (!!!) ou porque não estiveram para se maçar. Ou, eventualmente, porque estavam de acordo. Muita, mas muita gente, hoje do P.S. ou até mais à esquerda, passou estes anos caladinha e respeitadora quando não conivente... Muitíssima gente, deputados e ministros incluídos. O passado não é virtude mas também não pode ser defeito e muito menos deve ser branqueado.
Ora este meu silêncio auto-imposto foi estilhaçado pela frase que serve de epígrafe e que consta de uma entrevista que a D. Maria de Lurdes entendeu conceder ao jornal “Público” de 28 pp.
Pratiquemos sobre este mimo. Mesmo que seja verdade haver um menino ladino que tendo recebido um Magalhães lhe escreveu uma burrice grotesca como a que se lê (e aqui incluo, o paisinho acéfalo que ditou a epístola à pobre e inocente criança, se a carta tiver existido) devia haver um pouco de pudor e de bom senso político que impedisse a divulgação de tão abstruso documento. Mas pior que a divulgação, escorregadela política que mostra bem o grau zero a que ela se pratica e é entendida por uma política que é doutorada (valha-me Deus!), é o comentário final: é tocante. Nem o “saudoso” almirante Américo Thomaz seria capaz de uma destas! Eu,nestes últimos tempos, tenho-me debruçado sobre as flores que alguns próceres do salazarismo emitiram nos anos desvairados da “Ditadura Nacional” (finais de vinte, todos os trinta e alguns dos quarenta). Arrepia saber que sobre Salazar, Carmona (“vela bujarrona da nau da ditadura”, sic, apud Pereira, Capitão A.J., “Grandezas de Portugal, 1941) e alguns outros se bolsaram louvores que fariam corar Hitler ou Mussolini, gente pouco dada a tomar cores avermelhadas.
Em pleno século XXI, aparecer uma ministra a achar tocante uma historieta destas é, perdoem, pedir urgentemente um inteiro frasco de comprimidos para as dores de cabeça ou ligar para o 112 para efeitos de internamento imediato. Alguém está doido, nesta história. Provavelmente serei eu que imaginei um pais, uma ministra, uma entrevista, um jornal, quando nada disso é verdade. Sou um pacifico cidadão do Lesotho, membro honrado da poderosa tribu Kwena, também falo xhosa e inglês e dedico-me à cultura do milho e à criação de zebras: tenho doze, todas com nomes bíblicos (apóstolos e reis de Israel) mas pertenço à igreja reformada holandesa além de fazer uma perninha em honra dos antepassados e dos deuses tradicionais... vivo em Maseru e de Portugal só conheço histórias de jovens moçambicanos que vinham trabalhar para o Rand para ganhar o suficiente para comprar mulher quando regressassem à terra deles. É pouco mas é muito mais do que muito sociólogo português sabe sobre esta minha actual terra....

* na gravura:"Marat-Sade" pela Virginia Commonwealth University Shaffer Street Playhouse, encenação de Gary Hopper, 1977- Oferece-se esta bela gravura como compensação pelo tempo que fiz perder aos leitores que me aturam

28 novembro 2008

Muito disponível

O Primeiro Ministro acaba de declarar que o Governo está muito disponível para ajudar o Banco Privado Português. Esta declaração deve ter deixado os cerca de 3 mil investidores do Banco muito tranquilos.

Os Pequenos e médios empresários é que devem ficar intranquilos porque o dinheiro que vai salvar as cerca de 3 mil fortunas, que o BPP gere, vai faltar para os financiar as pequenas e médias empresas, que se vão queixando por todos os lados, mas que não têm pedalada para mais.

Quem também se sentiu incomodado com o gesto de boa vontade do Governo, relativamente aos afortunados do BPP, foi Joe Berardo, que acaba de declarar que também é filho de bom pai e que também merece ser ajudado, tal como os demais empresários em dificuldades, dizendo ainda que não percebe porque razão um banco que gere fortunas tem de ser ajudado pelo Governo.

Eu também não percebo. Nem acredito, Deus me livre, que o PM esteja a fazer isto porque há meia dúzia de pessoas muito influentes metidas no BPP, como Berardo parece ter insinuado. Como não percebo porque ninguém pergunta qual a razão para o João Rendeiro, que tanto dinheiro parece ter dado a ganhar aos cerca de 3 mil afortunados, ter de abandonar agora, exactamente agora, o BPP. Espanta-me que o próprio Joe Berardo não tivesse aflorado o tema.

O que não me espanta, de todo, é a disponibilidade do Governo para ajudar o reduzido grupo BPP. E mesmo que o Primeiro Ministro diga que os contribuintes vão ser ressarcidos do dinheiro que agora é garantido pelo Estado ao BPP, confesso-me descrente, muito descrente, até porque quando forem prestar contas, o actual PM já será gestor de top numa grande empresa, seguindo o trajecto natural dos sábios da política.

Os contribuintes, coitados, lá terão de ir contribuindo para o esforço que a permanente contenção orçamental obriga. Contenção que jamais afectará o sistema financeiro. Este pode gastar à vontade, arriscar, fazer negócios claros e escuros, distorcer resultados e esconder lucros, porque no momento da crise, em nome da superior tranquilidade da população, o Governo – este ou o que vier – lá estará para salvar quem sempre viveu em abastança. E nessa altura, com a maior das bonomias, os donos da banca vão declarar estar sempre disponíveis para ajudar o país.
Que nos resta fazer? Talvez mostrar compreensão. Talvez não!

Sarah Brightman - Time to Say Goodbye feat. Andrea Bocelli

Hipotecas Afortunadas

Um dos aspectos inovadores da crise foi o aparecer de novos conceitos para caracterizar o lado negro da coisa. Foi assim que se começou a falar em “activos extravagantes”, em “activos tóxicos”. Agora aparecem as “hipotecas afortunadas”.

Ontem um administrador do BES resumiu bem a moral dos dias actuais. Quando o jornalista lhe perguntou se o BES estava disponível para ajudar o BPP, o Senhor administrador respondeu: o BES está sempre disponível para ajudar o país.

A notícia aqui colada mostra os porquês.

27 novembro 2008

Fiel ao Norte

Esta crónica traz-nos verdades duras e cruas sobre o Norte, com a subtileza (!) da pena de Jorge Fiel. O Norte está em perda permanente e não se vê como recuperar deste estado. Ainda há dias também aqui escrevi sobre alguns outros indicadores preocupantes, relativos sobretudo ao interior do distrito do Porto.

A recessão que bateu à porta, o encerramento de muitas e muitas indústrias de mão-de-obra intensiva e pouco qualificada, com a consequente perda de emprego, os elevados índices de abandono e insucesso escolar, a quebra dos rendimentos e do poder de compra exigem acção por parte do Governo, através de medidas activas que permitam atenuar esta realidade e alavancar um futuro diferente.

Carlos Lage, presidente da CCDRN, dizia esta semana que há um problema de governabilidade na região. É um facto, que se traduz numa factura pesada. Aqui e no resto do país que está à margem de Lisboa. Contudo, como nunca fui maoista, não creio que o poder deva estar na ponta da espingarda, mas sim na força da palavra e da razão. Porque urge lutar contra o centralismo que asfixia o país.

EDUCAÇÃO - novas escolhas!

A guerra no sector público da educação está a endurecer. O caso está a tornar-se tão agudo que até (não sei se a propósito) Vital Moreira já escreveu que o melhor é pensar em acabar com os serviços públicos. (A descrença que por aí vai…)

Os problemas da educação têm muitos responsáveis. De um lado os políticos, do outro, os professores e as respectivas organizações representativas. Entre os dois lados, as Associações de pais e os filhos (alunos).

Coloco aqui o Quadro de Honra dos políticos que nas últimas décadas lideraram a Educação e que, por uma ou outra razão, acabaram por ir embora sem honra nem glória pública.

Uma vez que tão elevado número de personalidades, muitas de reconhecido mérito, não foram capazes de elevar o ainda Sector Público da Educação para níveis de eficácia e eficiência aceitáveis, porque não tentar uma outra via de escolha dos respectivos titulares do ministério?

Por exemplo, nomear o Presidente da FNE para Ministro da Educação; o Presidente da Associação de Pais para Secretário de Estado Adjunto e o Presidente do SINAPE para Secretário de Estado da Educação.

A sobrevivência dos sistemas passa por absorver os que se lhe opõem. Porque não aplicar a receita na Educação?

26 novembro 2008

O leitor (im)penitente 42


A Byblos foi-se?
Deixá-la ir...


N’ O leitor (im)penitente nº 28 (Dezembro de 2007) eu falava da Byblos e da fraca impressão que me ficara de uma visita feita dias depois (um mês?...) da abertura.
Voltei lá mais uma vez, corri de novo aquilo tudo à procura de um livro, eu bem sei que sou um leitor chato, chatíssimo, que compro livros há cinquenta anos, que conheço uma boa dúzia de cidades só de as percorrer de livraria em livraria, o que quiserem, mas a livraria anunciada como a maior, estava longe, longíssimo, cu de Judas, cornos da lua, da promessa inicial. Os famosos 150.000 livros não eram, quanto mais 150.000 títulos...
Entretanto, a “Leitura, books and living” (nome tonto...), citada no mesmo texto ia crescendo, devagar. Os proprietários tiveram o bom senso de ir buscar muitos antigos empregados da Leitura, todos com o tirocínio do Fernando Fernandes, livreiro de mão cheia, culto e inteligente.
Eu não sei quais eram as qualificações do proprietário da Byblos para se lançar nesta empreitada. Que era o antigo dono da ASA não há dúvidas. Mas tinha um editor de altíssima qualidade: o Manuel Valente (alguém daí pensará que digo isto por amizade mas engana-se. O Valente provou por onde passou que tem olho, garra, audácia. Se não fosse assim não teria batido com a porta aos da Leya e rapidamente contratado pela Porto Editora...) que, além do mais, sabe rodear-se de gente que trabalha, que dá o litro, que acredita no livro e nos livros.
Tudo o que se leu antes e depois do anúncio da Byblos flutuava numa “no man’s land” imprecisa em que os projectos tinham muita retórica e pouca substância.
O fim de uma livraria não me alegra. Nunca me alegrou. Algumas que morreram de pé (a velha Atlântida de Coimbra, a Figueirinhas, a primeira morte da Divulgação, as duas no Porto a Opinião lisboeta ou algumas parisienses começando pela La Joie de Lire e acabando na Librairie Globe com passagem pela Diwan (que o Eduardo adorava...) e pela Les Yeux Fertiles, (paragem certa do José Leal Loureiro) que de lutos que vivi. Todavia, estas casas, estas minhas casas, morreram no campo da honra, de armas na mão ou quase. Houve eventualmente erros de gestão, não digo que não, mas mesmo no caso tremendo da Joie de Lire, vítima do roubo desenfreado de livros, cometido com desculpas infames e a armar ao revolucionário, perdoado por um François Maspero que não se sentia confortável na pele de proprietário de uma livraria como se tudo aquilo não fosse o seu honrado trabalho transformado em estantes e livros, mesmo nesse caso, dizia eu, a morte não se deve a uma indigestão de asneiras, de farroncas de anúncios incumpríveis.
Desculpem-me os responsáveis da Byblos, os trabalhadores que por lá se viam, mas aquilo estava na cara. Naufrágio irremediável e anunciado. Nem o sítio era especialmente sedutor. E pelo preço que deviam pagar pelo arrendamento daquele espaço penso que poderiam ter metido a livraria perto de outras, as livrarias são seres eminentemente sociáveis, gostam de pairar em grupo à espreita de leitores omnívoros e distraídos que não querem senão ser caçados pela subtil, mágica, atmosfera livreira.
Faltou uma ideia ao projecto onde sobrava sobranceria. E é por isso que não vou ao enterro. Mesmo sabendo que uma livraria a menos são dez projectos pequenos que se abandonam ou se adiam.

* na fotografia: a Joie de Lire, nos anos 60 ou 70, que me foi mostrada pelo Jorge Delgado, visitante assíduo e comprador irremediável. O homem lia tudo, tinha tudo, sabia tudo e era inteligente, generoso e culto.

Au Bonheur des Dames 151


Sebastião


Sebastião come tudo, tudo,
come tudo sem colher
come tudo, tudo, tudo
e depois bate na mulher.


Lembrei-me destes versinhos infantis, oh há quantos anos isso foi...., a propósito do que se vai passando na pátria madrasta. Obviamente, começando pelo fim, e isso é a parte mais séria, já nem vale a pena falar na cobarde infâmia que é a violência de género. Eu, não querendo desculpá-los pelo silêncio, atrevo-me a pensar que esses homens além de desprezíveis, são bem pouco homens. Aquelas virilidades devem andar por baixo, ao nível da sarjeta ou ainda menos.

Mas deixemos esse grupo de sevandijas (que hão de ter morto pelo menos quarenta mulheres, no ano que corre!!!...) e dediquemo-nos aos Sebastiões. Os que comem tudo e os que  são varados por setas ignominiosas. De vez em quando são os mesmos, graças a Deus.
Refiro-me a essa rapaziada que passou os últimos anos a ganhar rios de dinheiro e que agora, quando a roda desandou, ai Jesus!, e recorrem ao Estado, ao Estado que eles abominaram, ao Estado castrador, ao Estado que não deixava a vida económica fluir harmoniosamente, como eles diziam.
A América abana, atascada como está nos sub-primes, outra gorda negociata, mas já lá iremos, e o resto do mundo, põe-se a estertorar (bonito verbo!). E os reis da finança, os magos das contas, os artistas do investimento reprodutivo, os audaciosos da banca, corre que corre ao Banco de Portugal (presidido por um S Sebastião varadinho de setas horríveis) por um aval, coisa pouca, quinhentos milhões, mil milhões, enfim uma dessas somas que nem eu nem vocês, leitorinhas estouvadas, sabemos o que significa. Eu, se calhar, nem a um milhão dava destino rápido, quanto mais a esses balúrdios estonteantes.
Sei, contudo, que a quadra pré-natalícia aconselharia uns arroubos de misericórdia e generosidade face ao drama dos banqueiros em perda, dos seus (já não tão) ricos clientes que perdem euros à pazada por cada dia que passa. Mas nasci canhoto, um anjo torto (o de Drummond) mandou-me por esse mundo chatear essas vítimas dos acasos da Fortuna, deusa volúvel e esperpêntica que faz negaças a todos, audazes incluídos.
Por isso, desculpem lá, camaradas ricos, mas desta vez, por mim, são vocês quem pagará parte (uma pequena parte) da crise. É para saberem como a malta se sente quando falta o cacau, quando o desemprego ameaça, quando as contas aumentam, quando os preços disparam.
O Banco Privado está a tinir? Bon débarras! Que vá buscar o que lhe falta aos sumptuosos lucros de anos anteriores. Não há? Quem não tem competência não se estabelece!
Um outro Sebastião apresentou-se nas televisões com o ar e o gesto de quem ia pôr a boca no trombone. Ia contar tudo. Mostrar tudo. Que desde os não tão longínquos tempos de Coimbra, onde remava como nós, com fraca maré, até aos rosados domingos dos últimos anos, ele, apesar de cavalgar as ondas da sofisticação banqueira, continuava na mesma. Que os anos ministeriais, meia dúzia, pouco mais, apenas lhe tinham aberto uma porta (eu diria uns portões...) mas que ele até viera, sans peur et sans reproche, falar do banco a que estava ocasionalmente ligado por via de uma sociedade e pimba, repimba, toma lá que já bebes. Patético. Patético no momento e, mais ainda, depois. Ninguém corroborou as suas palavras testemunhais. Pior: negaram-nas. Negaram-nas mesmo antes do galo cantar. Parecia um remake do filme “quem quer tramar Roger Rabbit?” Aqui o título seria “quem quer tramar o dr Marta?”
Agora os jornais, sempre eles, contam que o dr Loureiro esteve até há muito pouco tempo como vogal da sociedade que de certo modo controla o banco. É assim? E se assim for, então como é que se explica a rotunda negativa do dr. Loureiro sobre o mesmo ponto?
Convenhamos. O dr. Loureiro interessa-me pouco, muito pouco. Como governante pareceu-me medíocre, como pessoa tem falta de graça e é tonitruante, com um vago toque de caspa no bigode e, definitivamente, veste-se como um parvenu (que, aliás, é.). Foi, porém, deputado, ministro, é Conselheiro de Estado. Provavelmente trará na lapela uma condecoração das boas, das honrosas, e tudo isso faz com ele me embarace. Que diabo sou português, vivo aqui e não gosto deste faduncho mal cantado e pior acompanhado.
O dr Loureiro pensa que o queremos cravejar de flechas. Porque é bonito, rico, alto e loiro. Ou porque é inteligente e bom conversador. Ou porque tem sorte e trabalha muito, tanto que ganhou uma fortuna. E que por isso estamos invejosos.
Está enganado. De inveja nicles, raspas de nada. E do resto, as leitoras julgarão. Conviria entretanto, parar e pensar. Olhar, parar e escutar, como se faz nas passagens de nível. Ou por outras palavras: só se deve ir à televisão se houver algo para dizer. Algo credível. Algo que se possa provar. Algo que não corra o risco de ser desmentido.
É por isso que ele tem a incómoda sensação que anda por aí alguém a querer zagunchá-lo. Não anda. é a imaginação dele a trabalhar. Que belo romance teríamos aqui se ao dr Loureiro, em vez de negócios, lhe desse para as belas letras.
O último Sebastião enganou-se. Vítima como se sente, faz mas é jus ao seu nome. Vejamos: dois ou três papas, mártires, uma vintena de outros do mesmo nome e igualmente mártires e o patrono de Marselha, também ele mártir. Com um carregamento destes, o dr Vítor Constâncio não precisa de se travestir. De resto, sebastiões, entre santos e beatos, só há oito enquanto os S. Vítor são, precisamente 42, sem contar com os Vitorinos que são, ao todo, quinze. Sem flechas mas mártires na maioria. como ele, claro...


o S Sebastião aí em cima é do Grão Vasco. E não passa de uma pintura. De uma grande pintura. Mas apenas de uma pintura.

24 novembro 2008

As Más Escolhas da Assembleia

A Assembleia da República vai levar a cabo um inquérito ao BPN, a coberto do qual muita gente irá à A.R. prestar declarações. Entretanto, prosseguem as investigações judiciais à situação do BPN, de que já resultou a prisão preventiva do ex- presidente do Banco

A Assembleia da República decidiu ouvir, proximamente, o Procurador-Geral da República sobre o BPN. Entretanto, o PGR prossegue com as investigações sobre o Banco na Procuradoria-Geral da República.

Estas notícias têm sido profusamente glosadas pela comunicação social. Em versões partidárias e de “analistas de política nacional”. As mesmas concorrem com as do processo Casa Pia - cujo fim agora se anuncia (como se isso fosse verdade) - mais que revisitado e requentado, mas que ainda vende audiências.

O resultado será um fim de ano bem animado e com grande visibilidade para a AR, mas não passará disso mesmo. Ou seja, para além do dinheiro gasto nesse inquérito, nada de nada acontecerá. A única consequência do inquérito é fazer passar para segundo plano, na agenda política, o que verdadeiramente interessa ao país. Enquanto o Parlamento e as TV.s se ocupam das quezílias (mente/não mente, disse/não disse) em redor do BPN, não se fala do destino dos recursos públicos alocados à banca; do preço dos combustíveis; das opções orçamentais para 2009, designadamente no que toca ao investimento público e às previstas parcerias público privadas.

Mas se os senhores deputados da Assembleia da República querem mesmo tratar de inquéritos sérios, porque não eleger aquele que é apontado como o maior problema do país, com impacto no desenvolvimento económico e na vida das pessoas e fazem um inquérito ao processo de aplicação da Justiça. Para tanto poderiam começar por estudar as causas que determinam o arrastamento dos processos. E até poderiam partir de casos concretos: Operação Furacão, Casa Pia ou descer a coisas mais comezinhas: simples casos de polícia ou de quezília entre particulares.

Mas no estado em que se encontra o país, o que interessa é o folclore político, a parte da festa que esconde a raiz dos problemas e quem mais beneficia dos problemas


Nota: Catalina Pestana acabou de dizer, na RTP, que fora do processo Casa Pia estão mais de 80% dos envolvidos e que esses ficaram de fora porque os casos em que estavam envolvidos já estavam prescritos.

A (des)Ordem

A Ordem dos Advogados morreu?!

Não sei se terá cura ou se serve para alguma coisa, mas entristece-me a polémica interna e o tom da discussão.

22 novembro 2008

Um exemplo

Notícia no JN de hoje:

Escola da Póvoa de Varzim olhada como a "fura-greves"

ANA TORCADO MARQUES

Na Escola EB 2,3 de Beiriz, na Póvoa de Varzim, o processo de avaliação decorre com normalidade e dentro dos prazos.

Não há manifestações de professores, nem protestos de pais. Aos alunos, o caso quase passa ao lado. Mas aqui ser "diferente" dá direito ao olhar "reprovador" dos vizinhos e, por isso, a escola prefere agora o silêncio.

"Se uma consegue, por que é que as outras não conseguem?", questiona o presidente da Associação de Pais do Agrupamento Campo Aberto, que abrange oito escolas, do Pré-escolar ao 3.º Ciclo, num total de 1280 alunos.

Mário Ferreira não tem dúvidas de que o "segredo" assenta numa "óptima relação entre pais, Conselho Executivo e corpo docente". Cooperação, diálogo e trabalho, "sempre a pensar nos alunos", são palavras de ordem. "Trabalhámos juntos na procura de soluções que tornassem o processo mais funcional", afirma.

A escola, lembra Mário Ferreira, é "reconhecida": tem uma "orgulhosa" taxa de abandono escolar de 0,1% e uma "baixíssima" taxa de insucesso, assentes, em grande medida, na diversidade de oferta educativa e em vários programas destinados, em cada nível de ensino, a "adaptar" a escola às necessidades de cada um. Os exemplos servem para explicar que é a trabalhar "muito", "em silêncio" e "nos órgãos próprios" que a escola responde aos problemas. A avaliação de professores não foi excepção. "Os conselhos executivos têm de encontrar formas de tornar o processo menos burocrático. Às vezes, não se procura encontrar uma solução", diz Mário Ferreira.

O presidente da Associação de Pais admite que o modelo "tem coisas que podiam ser melhoradas", mas "meter a cabeça na areia não resolve". Com auto-avaliação de docentes há vários anos e avaliação externa, a definição de objectivos individuais já é prática corrente na escola e a observação das aulas não é problema.

A escola tem 115 professores, 24 dos quais titulares. Destes, dez são avaliadores. Contas feitas, haverá um máximo de nove "Excelente" e 23 "Muito Bom".

Beiriz até podia ser um exemplo a seguir, mas o facto é que o "diferente" trouxe a escola para a praça pública e, agora, são os "vizinhos" de outras escolas que a olham como a "fura-greve". Por isso, o Conselho Executivo da escola prefere o silêncio, como forma de "proteger" o seu corpo docente.

21 novembro 2008

Au Bonheur des Dames, 150


Em verdade, em verdade vos digo...

Ai leitoras que soo aquestas avelaneiras frolidas vejo bailar, o mundo não para de me surpreender. A gente aqui, no blog, a dar ao remo, puxa que puxa, a ver se o mar dá peixe que se veja (ai ele hoje está tão de Buarcos!...) e as excelentíssimas autoridades civis, militares e religiosas a darem baldas do tamanho de uma casa.
Ora vejamos:
A “dama de ferro” da Educação Nacional (eu escrevi “educação nacional”) desceu do seu Olimpo de cartolina para angelicamente dizer diante das câmaras de televisão que havia no seu projecto aspectos complicativos, burocratizantes, injustos e/ou mal fundamentados.
Eu bem gostaria de vos dar mais umas citações da senhora Ministra mas só tenho à mão o “Público”, não estou com paciência para voltar a ouvir os noticiários televisivos (basta-me o da manhã para ficar agoniado todo o dia) porque houve palavras fortes contra um projecto que até há dias era irrecusável.
Dir-me-ão que arrepiar caminho quando se não tem razão é uma boa prática. É. Mas só é se nesse passo atrás se perceber um sinal de dialogo de esforço, de humildade. Ora esta celestial criatura caída no monstro horrível da educação, sabe-se lá porque mistério, não se apresentou nesse papel. Ninguém lhe pedia uma corda ao pescoço, que ela não é, oh quem dera, da craveira de Egas Moniz.
Nem ela nem nenhum dos seus pares governamentais, excepção feita ao cavalheiro que gere a Cultura. Esse, graças a Deus é um mero erro de telefonema: o Primeiro Ministro ia por um homónimo dele, com obra feita no capítulo da cultura e acertou neste brilhante advogado que durante anos se apresentou ao público sob as vestes de um fórum direito e liberdades, ou algo do género, que pelos vistos se reduzia a ele próprio. Se isto é sinal de um forte ego não discuto. Não chega é para a pasta da Cultura. Daí que a cada declaração do dr Pinto Ribeiro, este, se sucedam perplexidades incontáveis. Agora é a Cinemateca do Porto que se adivinha em três locais, com Serralves à mistura (porquê?) com a Casa das Artes (fechada há anos juntamente com a Delegação Regional de Cultura que foi atirada pelo violinista Santana Lopes para uma cave com serventia de retrete em Vila Real e onde prosperam uns pobres diabos – ou diabas – com cartão partidário do governo de turno) e Casa Manuel de Oliveira. Antes, já fora a acusação aos antecessores ministeriais de que não tinham usado as verbas ao seu dispor. Eu ainda não vi uma medida, uma, com sentido e alcance cultural, vinda deste homem admirável que provavelmente todos os dias se mira ao espelho e se pergunta se há alguém tão inteligente quanto ele.
Voltemos à inflexível ministra que ainda há dias, a segura distância de uma manifestação monstra, dizia que a maioria das escolas e dos profissionais estava com ela. Patético! E voltemos também aos seus apoiantes, se os há sinceros. Ou melhor, haver há. Há o dr. Pacheco Pereira, historiador interessante e amante de paradoxos. Convenhamos que o dr. Pacheco Pereira, conselheiro ao que se diz da drª Ferreira Leite, é um presente envenenado para a srª Ministra. Por várias razões a menor das quais é esta: o dr. Pacheco Pereira é um dos opinion makers do PSD. Está do outro lado da barricada, bem à direita como convém a um ex-stalinista (coisa em que aliás não está só: os neo-cons lusitanos não saíram das magras fileiras trotskistas como os confrades americanos mas dessa avalancha de gropúsculos m-l que se alimentavam de “Stalin está vivo nos nossos corações”, de um exacerbado amor a Mao e a Enver Hodja, e de muita leitura das Martas Harneckers que eles tomavam pela vera voz dos clássicos.
Deixemos este soturno espectáculo de circo pobre e passemos à notícia do dia. O Dr Oliveira e Costa está já a ser interrogado pelas competentes autoridades. Tardou mas foi. Acusam-no de burla agravada, branqueamento de capitais, fraude fiscal. A estas horas ignoro se já dorme num calabouço ou se foi para o conforto de uma das suas casas.
As leitoras (e os leitores) permitirão, todavia, que eu cite Brecht (perguntas de um operário leitor):
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Ele sozinho?
César bateu os Gálios.
Não teria consigo um cozinheiro ao menos?

Ou, em português básico: foi o dr. Costa sozinho que fez tudo aquilo de que é acusado? E que atirou um banco para o fundo? E que nos vai fazer pagar um balúrdio? Porque de uma coisa não há dúvidas. Somos nós, os paisanos, quem vai pagar a crise. A do banco, a do país e a que se importar.
Deixando o dr. Costa entregue ao primeiro cabo de esquadra que lhe deitar a mão, passemos a um tema delicado: o dr. Vítor Constâncio. Eu lamento muito não partilhar de uma ideia justa e generosa mas desajustada e desinformada. E que é a seguinte: andamos todos a bater no dr. Constâncio sem cuidar de acertar as contas com o criminoso. Andamos a criticar o polícia por incumprimento, ou insuficiente cumprimento deixando folgadas as costas que deveriam levar a competente carga de varapau.
Lamento muito mas isto não é bem assim. O criminoso estava apontado e era mera questão de tempo pô-lo a bom recato, se possível numa prisão vulgar para ele ver como é que é o povo. O que me parece imoral é que aquele a quem competiam os especiais deveres de polícia se tivesse mostrado tão lento, tão lerdo, tão fora deste mundo. Eu não quero escrever “A importância de se chamar Constâncio”. Já há uma peça teatral de assinalável mérito com um título semelhante. Porém, o dr. Constâncio não é um menino de coro. Não nasceu ontem. É um cavalheiro com uma idade próxima da minha. Foi ministro. Foi secretario geral do P.S. Foi deputado. Foi candidato (com o meu aval, pobre de mim, sempre tonto) a Primeiro Ministro e é Governador do Banco de Portugal. Provavelmente tem o peito constelado de comendas por altos serviços à Pátria e seguramente recebe um ordenado chorudo. Não vos parece que a um cavalheiro destes devam ser exigidas explicações, muitas? E em alta grita? E provavelmente devam ser-lhe ditas algumas verdades desagradáveis?
Então não vos parece desfaçatez vir agora dizer que o BdP não tem técnicos suficientes para controlar as empresas? Só agora é que o dr. Constâncio descobriu esse “gap”, essa deficiência, essa desastrada desorganização do BdP? E pode ele garantir-nos que não há mais bancos na corda bamba? Mesmo sem crime, apenas por manifesto erro de previsão, por exemplo. É que se fala de um Banco, um tal BPP, que ninguém quer comprar e que precisa de liquidez urgentemente. É assim? Então não houve quem lhe vigiasse as contas, os famosos ratios e restante parafernália e dissesse: alto e para o baile?
E querem vocês que uma pessoa vá para o fim de semana descansadinho da silva, enquanto a tv debita desgraças que infelizmente não são (cito de memória) o pé desmanchado da Luisinha Carneiro?

a ilustração é de Georg Grosz, um grande pintor e um grande ilustrador de tempos dificeis e admiráveis

20 novembro 2008

Atraso no Aviso de Recepção

O Caso BPN tem meses ou mesmo anos. Oliveira e Costa deixou a presidência do Banco há vários meses. Desde então, com muita insistência, se aludiram a casos e mais casos. Vários meses depois é anunciada a busca pela polícia. De que é que estiveram tanto tempo à espera. Provavelmente, ocorreu algum atraso na chegada do “Aviso de Recepção” à busca previamente anunciada.

Oleitor (im)penitente 41




Juizinho malta,
juizinho e tento na bola!


Declaração de interesses: sou um leitor avulso e pagante da “Colóquio Letras”. Desde o primeiro número ou quase. Nunca privei com nenhum director nem isso me foi necessário para gozar a magnifica revista.
Conheci a Drª Joana Varela em casa do meu amigo João Rodrigues mas, a falar verdade, não recordo nada e se a vir na rua não a reconhecerei. Ter-me-ei cruzado com ela nos lúgubres corredores da Secretaria de Estado da Cultura quando fui oficial desse ofício (na Delegação Regional do Norte, que um poder imbecil transferiu para Vila Real e um poder ainda mais totó lá manteve).
Sei da actividade de Joana Varela por lhe ler o nome na revista primeiro com especial colaboradora do Director David Mourão Ferreira e depois como directora.

Dito isto passemos ao que interessa: o pequeno círculo de leitores entusiastas da Colóquio entrou em parafuso: ao que parece Joana Varela é actualmente alvo de um processo disciplinar presumindo-se que, como vem sendo (mau e triste) hábito seja afastada da direcção da revista porque isto de processos disciplinares (mesmo na veneranda Gulbenkian...) acaba as mais das vezes mal.
E acaba mal porque, mesmo quando o processo morre na praia, o processado fica numa situação difícil. Sobretudo nesse mundo “feutré” das gulbenkians et alia. Ora, ao que parece, os motivos contra Joana assentam em pouco ou quase nada. Não a acusam de ouvir vozes mas apenas de desprezar o público. O público que em carradas e carretas se precipitava para comprar a revista mas que perante o revoltante aspecto elitista da mesma fugia a sete pés e se punha a ler furiosamente a Lux e a Gente.
Ora a Gulbenkian, a quem devo umas bolsas simpáticas para uma inutilidade elitista que em seu tempo se chamou Curso Superior de Direito Comparado, quer ser popular, pipolar, bipolar e não sei que mais. A Gulbenkian parece estar a tentar redescobrir outros mundos que não os que fizeram a sua merecida fama. Vai daí resolveu mostrar à cidade e ao mundo que os seus novos colóquios irão ser os dos simples (e não me refiro ao Garcia da Horta, nada disso), a vulgata. Ou seja, a Gulbenkian nivela por baixo. E nesse nivelar revolucionário lá se vai a cabeça de Joana. Antes isso que um fogo purificador como sucedeu à outra, a da história, a que ouvia as vozes. Antes isso que a queima de livros que antecipou outras queimas mais sinistras.
Já disse que não conheço a Dr.ª Joana Varela de parte alguma. Não sou amigo dela, duvido que alguma vez o venha a ser, vivendo como vivo noutra cidade, mas tenho pela personagem a moderada simpatia que costumamos ter pelos editores dos jornais e revistas que nos vão acompanhando. E a duzia de belos volumes que aqui conservo desde 1996 e que são da responsabilidade directa dela obrigam-me a tomar posição numa guerra que só é minha por motivos de interesse público, cívico e cultural.
Tentei saber se atrás dos pecadilhos veniais, demasiado veniais, que se apontavam outros existiam, mais fortes e mais sérios. Da Gulbenkian apenas surde um espesso e inquietante silêncio e de gente que conheço de nome, de escrita ou pessoalmente e por quem tenho (pelo menos) consideração vou lendo uma forte solidariedade com Varela.
Vou dar o nome para um abaixo assinado que por aí corre mas, macaco velho e de rabo pelado, entendo que desta modesta mas honrada trincheira também se pode disparar uma salva de mero aviso. À Gulbenkian para que não perca a sua alma. A quem de direito para pensar bem no que deve e não deve fazer. Ao público para que este saiba o que se passa no mundillo cultural. aos meus amigos para, querendo, juntarem a sua limpa voz à minha. O que se faz.

As leitoras e leitores interessados podem consultar “joanavarela.blogspot.com” e saber mais do que se passa. E já agora saber se de facto ela insultou aquela extraordinária criatura que assola a Educação Nacional e dá por Marçal Grilo

Baixa Expectativa

A política portuguesa está um espanto. O PS (e o Governo) anda em bolandas com as “corporações profissionais”. É a guerra aberta dos professores. É a guerrilha surda dos Juízes, agora reunidos em Congresso sindical. São as corporações militares, etc. Hoje, por estranho que pareça, apenas banqueiros e administradores da banca estão razoavelmente satisfeitos com a acção do governo.

O PSD agita-se com o “novo” pensamento de Manuela Ferreira Leite, que hoje já aparece qualificada como o “activo tóxico do PSD”. Passos Coelho, sem grande alarido, vai reunindo as tropas em almoços com muita gente e visitas cirúrgicas pelo país. Ou seja, enquanto Meneses fustiga a líder, Passos Coelho mina o terreno para recolher o descontentamento e preparar-se para ser a alternativa. (Será que Passos Coelho ainda mantém como prioridade a privatização da CGD?)

E os outros partidos da oposição, que é feito deles? Qual o seu plano? Bom, os demais partidos da oposição – CDS, BE, PCP – em conjunto, mais coisa, menos coisa, clamam pelo mesmo. Pouco os distingue na agenda política. Com mais palco ou menos palco, todos gritam contra ministros, pedem a presença na Assembleia da República ou nas Comissões deste e daquele, de quem quer que seja, desde que possa introduzir ruído no sistema.

Esta prática, nada gratuita e bastante ruidosa, revela o quanto esta oposição não acredita na Justiça, razão para transformar o Parlamento numa Sala de Audição Pública, cujo resultado não vale pelo que “os intimados a depor” dizem, mas pelas perguntas que os “inquiridores, de olhos nos olhos, fazem (para se ver na TV).

Entretanto, o Governo lá vai levando a água ao seu moinho. O elefante branco chamado TGV vai palmilhando e absorvendo recursos. O megalómano aeroporto satisfaz a banca e imobiliárias. As novas auto-estradas e outras obras públicas de grande dimensão vão ajudar a agravar as contas públicas, sem grande retorno. Ajoelhemo-nos ao regresso da política do betão.

Que mais podemos esperar? A expectativa não é grande!

18 novembro 2008

Au Bonheur des Dames 149


Os trabalhos e os dias

Ora aqui está um título do melhor que há. Um título baril, diria o Aranha, um título fiúza retorquiria o Joca Tripé, outro que a maligna levou. Mas foi de papo cheio, voltaria o Aranha, invejoso duma figa. O “Tripé” era assim chamado não porque usasse bengala, longe disso, era perfeito, ou quase que o nome apanhou-o no colégio (num dos muitos colégios que de má vontade me albergaram e que asinha, asinha, me deram carta de prego) onde se tornou notada uma característica física que deixava assombrados os colegas. Anos mais tarde emparceirava com o Beto “Tubo” e com um o Chip, outro revolucionário angolano que também já passou para o outro lado. Não lhe digo o nome porque isto aqui funciona assim: alcunhas e diminutivos que não estou a escrever para a Lux ou para outra cor de rosice qualquer.
Antes estivesse que era sinal que enchia a bolsa que aquilo parece que paga bem. A “jet” local compra e a gentinha adora (e compra também): parece que saber da vida das notabilidades televisivas e adjacências dá um prazer incomensurável.
Bem, voltando à vaca fria, isto é ao título, cumpre esclarecer quem de direito que foi usurpado a um cavalheiro grego já falecido (isto hoje parece um cemitério!) chamado Hesíodo. Por acaso, um homem de bom senso que deixou textos sensatos e conselhos óptimos:
convida para a tua festa quem te ama(...)
e (...) sobretudo quem mora perto de ti.
Se te acontecer alguma coisa na tua terra,
Os vizinhos acodem sem apertar o cinto, os parentes têm de o fazer. ...
(R
ecorri à grande senhora que se chama Maria Helena da Rocha Pereira, uma estudiosa de grande gabarito que fez o possível por vulgarizar os clássicos. A tradução é obviamente dela)
Mas, retornando ao texto, eu apenas pretendia contar esta última semana de insanas tarefas bibliotecárias. Acho que já contei que, num gesto generoso e moscovita, a CG cedeu-me uma belíssima sala onde montara o seu estaminé. Achou que a antiga sala de estudo da Ana era mais que suficiente para servir de escritório para ela (e, hipótese do Manel Simas, nosso companheiro bloguista: mais quentinha porque virada a poente...) e entregou-me espaço para pelo menos oitenta de estantes! Um regabofe!
Corri rápido, à IKEA por estantes e toca de as montar. Bom, isto de montar estantes da Ikea não tem muito que se lhe diga valha a verdade. Eles vendem lá coisas bem mais difíceis, por exemplo uma cama enorme que me fez praguejar como um carroceiro além de me ter pelo menos criado um par de hérnias que aquilo pesava que se fartava.
Uma vez montadas as estantes, começaram os verdadeiros trabalhos. É que uma nova zona para livros não exige apenas a trasfega deles, e Deus sabe quão pesados são (sobretudo se caem num pé mimoso e desprevenido), quanto pó trazem, para já não falar do embevecimento do reencontro com volumes que já não tocava há anos. Ora deixa cá ver: e era mais um quarto de hora a ler uma que outra passagem, a recordar essa imensa alegria da primeira leitura, algumas conversas que ela suscitara (e vieram à fala os fantasmas amáveis do Feijó, do Namorado, do Delgado e de tantos outros que me ajudaram e me fizeram ser o leitor ( e não só) que hoje sou.
Uma sala inteira para encher de livros permite reorganizar a nossa biblioteca, e isso significa mudar também as outras, reorganizar tudo ou quase. E foi assim que pela primeira vez se juntaram todos os livros de cinema, de música, de arte (excepto catálogos que continuam a ocupar a zona da lareira) os de tema africano (oito metros finalmente juntos), boa parte das revistas de cariz literário, os surrealistas e anexos (dois metros e meio!) os volumes de crónicas, os livros de viagens, os guias das cidades favoritas (mas não consegui tirar Paris do escritório nº 1 porque além de serem muitos são “especiais” (eu se pudesse vivia boa parte do ano lá, aliás ainda não desisti, é só ganhar um euro-milhões e, ala que se faz tarde, directo à Rue Medicis em frente do Luxemburgo (há-de haver um apartamento para alugar, que diabo) para poder ficar bem próximo das casas de Athos e d’Artagnan, das livrarias favoritas, de algum passado meu e de boa parte dos meus mitos.) e finalmente um punhado de livros curiosos, divertidos ou brejeiros: “La belle captive” de Magritte e Robbe-Grillet, o “Catalogue des objects introuvables” de Carelman ou a “Semioologie du parapluie” de Noguez. E a “Arte de ponerse la corbata” de Mr. Émile, Baron de l’Empesè, um fac-simil de uma edição de 1832.
Quando se monta mais uma sala de livros há que ter em linha de conta que convém haver uma mesa, uma cadeira e já agora um sofá cómodo para se ler. Toca pois de comprar um sofá (já agora sofá cama, para o que der e vier e sobretudo para os amigos que quiserem dormir entre livros) que a gata Kiki de Montparnasse imediatamente estreou e adoptou. Pela manhã enquanto o sol entra pela janela, ei-la que se estica nas costas do sofá.
Tudo isto durou dias, pesou toneladas, provocou montes de pó, e ainda não acabou. Falta pendurar os estores para o que já ando a fazer o cerco à CG pelo menos para ajudar senão a coisa sai mal. E torta, que eu conheço-me, olá se me conheço.
Em suma, ando como um cuco, é o que é. A minha primeira mulher dizia que o pai gostava de brincar às bibliotecas, tira daqui, põe ali, sobe este livro, muda aquela estante, enfim, o habitual. Pois eu também: sobretudo se isso me faz, como me fez reler muitas páginas ao acaso, como por exemplo algumas da “Hélade, antologia de cultura grega” que já referi.

(neste afã de encontrar livros descubro agora El guarda ropa del perfecto caballero, uma oportuna e amável oferta do Francisco Bélard em Março de 92! Há dezasseis anos, obrigadinho Chico, vou reler umas páginas e as leitoras que se amanhem. )


A SOLUÇÃO

O mundo atravessa um momento complicado. O descontrolo do sistema bancário gerou uma crise de proporções ainda desconhecidas. Os gestores e consultores liberais e neoliberais das reengenharias foram pagos e bem pagos para sacarem abundantemente (para eles e para os accionistas), não cuidando das consequências. O povo era convidado a endividar-se e a endividar-se, sem que governo ou entidades, bem pagas para serem os reguladores, interviessem.

Com excepção da crise financeira, que assola Estados e famílias, não se ouvem grandes notícias de instabilidade social na maioria dos países europeus ou mesmo americanos.

Portugal é a excepção. Vejamos: no futebol é a vergonha das vergonhas, Enquanto uma minoria enriquece e faz manchete em capas de revistas e figura de vip em exposições e visitas ministeriais, os trabalhadores da bola, de muitos clubes, não recebem os seus vencimentos. Ano após ano o problema agrava-se. Os governos mudam mas os dirigentes desportivos ficam para manter o sistema. É estranho que ninguém ouse por ordem nesta balbúrdia que afecta muitos e que dá uma péssima imagem do país.

Se deixarmos o futebol e passarmos para Justiça, o caos não é menor, de uma outra natureza, mas não deixa de ser caótica (ou nem isso). Processos que se arrastam a perderem de vista. Investigações que não produzem prova reconhecida pelos Tribunais. Custos imensos para o Estado, para as empresas, para as pessoas. Decisões destemperadas e fora de tempo. Contradições ou lutas difusas entre investigadores e decisores. Freeport (que até faz perder a paciência à família real britânica). Apitos. Casa Pia. Portuscale. Operação Furacão, que leva mais de quatro anos, milhares e milhares de horas, recursos imensos afectos a investigar bancos – BCP, BES, BPN, Finibanco – e muitas empresas. Agora dizem-nos que se vai perder todo o trabalho realizado, porque o Tribunal decidiu levantar o segredo de justiça, o que leva o Diário de Notícias, a concluir que o Ministério Público sofreu mais uma derrota. O DN está errado porque a derrota não é do Ministério Público, a derrota é para a Justiça, para o país, para todos nós.

Na Educação, a algazarra que por aí não vai. Outro sistema caro, ineficiente, a caminho da ingovernabilidade. Até podemos deixar de lado o descontentamento que se diz alastrar no meio dos militares e das polícias. A saúde é outro sector em ebulição.

Enfim, Portugal vive dias bem complicados, até parece que a crise financeira nem é o mais relevante, tantos são os problemas e a falta de soluções à vista. É neste quadro de fundo que aparece a inovadora da ideia da líder do PSD: suspender a democracia por seis meses, até por tudo em ordem.

Como se vê, esperam-nos dias auspiciosos.

17 novembro 2008

A VOZ DO PODER

Ouvi uma parte da conversa, na RTP1, do comentador António Vitorino com a jornalista Judite de Sousa.

Professores, Educação, Crise, G20, Governador do Banco de Portugal. Palavras, muitas palavras para nada dizer. Expedita a forma como desculpou o Governador, que não podia saber, porque as burlas são assim, não se anunciam, que ficamos a saber que o Banco de Portugal até tem poucos recursos afectos à regulação e que tudo isto deve ser encarado como normal e até já há uma queixa contra incertos...

Não sei porquê mas toda aquela conversa fez-me lembrar ter lido algures uma citação de Pascal, que procurei e partilho:

Não convém que (o povo) sinta a verdade da usurpação: introduzida outrora sem razão, tornou-se razoável; convém que seja encarada como autêntica e eterna, ocultando-se-lhe a origem, se não quisermos que ela termine a curto prazo”.

16 novembro 2008

Educação


Acabei de ver um site a convocar os alunos para a 1ª greve nacional dos alunos contra o novo regime de faltas. Tem apenas uma página onde informa qual o dia proposto para a greve, tem um pedido para se passar a mensagem e acaba com “Ministra para a rua a Luta continua”. Apenas isto. Nada de informação, nada de fundamentação. Nada.

Tem apenas mais uma particularidade: possui um contador de visitas que, cada vez que se clica, avança consideravelmente a numeração. Sempre.

Eu acho que deveríamos estar todos preocupados com o que se está a passar. O decreto que aprova o novo regime de faltas dos alunos saiu há um ano. Nessa altura foi muito criticado pelo facilitismo que possibilitava. Dizia-se até que os alunos deixavam de reprovar por faltas.

Informei-me e verifiquei que não era bem assim. Pelo que percebi, o novo regime, se penaliza alguém, é ao professor que tem mais trabalho. De resto, todo ele é favorável ao aluno. Assim sendo, o porquê de todas estas manifestações e agora deste apelo à greve? Os alunos estão a receber emails e msg em força a divulgar esse apelo.

Não sei o que está por detrás de tudo isto, quais são os elementos desencadeadores. Sei apenas que é grave e que nos deveria estar a preocupar. Numa altura em que deveríamos estar centrados em trabalhar o melhor possível, em que deveríamos investir fortemente na qualidade da educação deste país, por estar mais que provado que é um dos seus elos mais fracos, eis que tudo se conjuga para a instabilidade total no ensino.


Tão perto do Porto e tão longe de tudo

A recente notícia do JN sobre o aumento do número de beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI), independentemente do que possamos julgar sobre a bondade do instrumento e as fraudes praticadas na sua atribuição – muitos de nós conheceremos por certo casos de atribuição indevida daquele subsídio – veio chamar mais uma vez a atenção para a realidade deprimente que se vive hoje no distrito do Porto. No conjunto dos seus 18 municípios reside mais de um terço dos beneficiários do RSI, totalizando 114.722 pessoas. Nos últimos quatro anos, o número de beneficiários neste distrito cresceu 42% e só nos últimos doze meses houve um aumento de 13%. O Porto tem mais do dobro de pessoas a receber o RSI do que Lisboa. Uma em cada 17 pessoas do distrito do Porto recebe RSI!

Este retrato, aliás, já tinha sido pré-anunciado quando a Rede Europeia Anti-Pobreza apresentou o estudo “O Impacto do (Des)emprego na Pobreza e Exclusão Social no Porto-Tâmega – Pistas de Acção Estratégicas”, que se debruçou sobre os oito concelhos do distrito do Porto que integram a NUT III (Tâmega): Amarante, Baião, Felgueiras, Lousada, Marco de Canavezes, Paços de Ferreira, Paredes e Penafiel.

A finalidade deste estudo visava analisar as dinâmicas de emprego/desemprego nesses oito concelhos do distrito do Porto e a sua correlação com as situações sociais relacionadas com a pobreza e a exclusão social. Perante os resultados encontrados, conclui-se que é urgente elaborar planos de intervenção estratégica adaptados às características de cada concelho, numa lógica de intervenção supra municipal. Isso mesmo tive oportunidade de defender nos órgãos autárquicos em que participo, a nível concelhio e intermunicipal.

Esta realidade deve também ser cruzada com as insuficientes verbas que o PIDDAC destina a esta sub-região para 2009. Não se compreende que os autarcas, os responsáveis partidários e os deputados do círculo do Porto permaneçam indiferentes à realidade que se vive no Tâmega e Sousa e não façam o trabalho de casa que lhes compete, de modo a porem de pé projectos que promovam a integração, o desenvolvimento económico e social, a qualificação dos recursos, o empreendedorismo. Só assim se pode almejar atrair investimentos, fixar quadros, fomentar a atractividade dos territórios. Em suma, virar a página e deixar de estar nas páginas dos jornais apenas por más razões.

12 novembro 2008

Farmácia de Serviço 46


O boticário anda relapso. E triste. Não passa um dia, vá lá uma semana, em que não lhe morra um amigo. Por exemplo o Tony Hillerman, autor de romances policiais delicadíssimos, belíssimos, todos ou quase passados nos territórios da tribo Navajo (Diné ou Dinah, como eles se apelidam) e os seus heróis são polícias tribais.
Cada um dos romances é parte de um tratado sobre a cosmogonia surpreendente deste povo, uma aventura, um despaísamento que valem a viagem. Quem quiser saber mais que vá pelos livrinhos que andam entre nós publicados pela Caminho. Com B Akunin ou Andrea Camilleri, Hillerman é uma nova e exaltante cara do novo romance policial.

E que dizer do passamento de Miriam Makeba, nome ocidentalizado de uma mulher sul africana que assinava em pelo menos dez linhas? Que com ela morre alguma da mais exaltante música que nos acompanha desde os anos sessenta? Que ela, e Hugh Masekela, com quem trabalhou, deram a conhecer a fascinante música sul-africana, a música de Spokes Mashiane, os kuela, o jazz sul-africano, os impressionantes coros da nação zulu enfim um mundo sonoro que agora anda subavaliado pela designação world music? Qual world qual quê? Música, grande música, ritmo e cor a dar por um pau, música para cantar, para dançar, para amar.
Miriam morreu no palco. Ou quase. O ataque fatal apanhou-a no camarim depois de uma actuação generosa e emocionada. E solidária! Cantava para apoiar um autor perseguido pela máfia, ou pela camorra. Ou pela n’dranghetta, vá-se lá saber. Cantava porque nessa terra ignota alguns pobres emigrantes africanos tinham sido alvo de violência. Cantava porque essa era a sua arma, a sua vida, a sua razão de ser.
Recomendam-se (meramente indicativos): “An Evening with Belafonte” (B000063RVN); “Her Essential recordings: The empress of África” B0000E1P334; “Miriam Makeba en concert” 2B00007BH7J.
(e não esqueçam o branco Johnny Clegg que também deu o litro quando isso significava risco, perigo).
Passam 20 anos sobre a morte de Jacques Brel. Tempo mais que oportuno para comprar “Les 100 plus belles chansons” uma caixa (de metal, se faz favor!!! de cinco discos por menos de 30 euros, enfim 29,98!
De Brel já se disse tudo. Eu acrescentarei que o “devo” (outra vez!) à Maria João Delgado e um pouco às manas Feijó que cometem este mês os respectivos aniversários. Como de costume esqueci-me mas elas já sabem do que a casa gasta. E são pacientes!
Hoje, aliás ontem, passaram 90 anos sobre o armistício que pôs fim (?) à 1ª Grande Guerra. Nunca mais!, dizia-se depois daquela sangueira. Nunca mais? Bastaram uns escassos vinte anos.
A Grande Guerra, esta, foi uma guerra miserável (como todas as guerras mas aqui mais) onde se fusilaram milhares e milhares de soldados “pour l’exemple”. Ainda hoje se reabilitam soldados e oficiais pelas infâmias que não cometeram mas que pagaram com a morte. Quem quiser saber mais vai já ao blog do João Tunes que aborda o assunto com a habitual honestidade e dignidade (agualisa6.blogs.sapo.pt) e onde já produzi um comentário.
Quem quer ir um pouco mais longr, compra o Figaro hors serie La Grande Guerre, 1918-2008) São oito euros, traz mapas, artigos e bibliografia e está nos quiosques.

Quem tiver uns cacausinhos para arejar vai para Paris ver uma bela exposição de Rouault (Pinacotheque) ou os desenhos de Durer e Leonardo (e muitos outros) na École des Beaux Arts, sob o título “figures du corps”.
Mais baratinho, Madrid no Thyssen: a guerra e as vanguardas: tudo sobre o futurismo e adjacências. Um regalo.
Os amadores de televisão e de policiais inteligentes têm na RAI 1 às segundas, pelas nove horas mais uma série de filmes da serie Montalbano: outro regalo. A Sicília, Camilleri, um punhado de bons actores e histórias bem contadas. Em italiano, previne-se já.
Ainda para conhecedores da bela língua: já saíram e estão à venda os 9 primeiros volumes de Tutto Dante, dito (magistralmente!) por Roberto Benigni. Calma aí, malta, que estes nove volumes são apenas os referentes ao Inferno. Benigni recita, explica, comove, entusiasma-se, gesticula, faz piruetas e restitui-nos um Dante tão próximo, tão familiar, tão nosso (tão de Buarcos, diria eu...) que a malta não despega.

A gravurinha do dia intitula-se Navajo constelations e é uma maneira simples de homenagear Tony Hillerman

11 novembro 2008

Diário Político 91


Cambalhotas, batotas,
petas e lorotas


O país viu cento e vinte mil professores manifestarem-se. Viu uma Ministra a uns prudentes 300 quilómetros dizer coisas surpreendentes (ou absurdas) desqualificando a manifestação. Viu o palavroso Primeiro Ministro dizer, avisar, ameaçar, que o governo tinha decidido e pronto. Era assim, Assim mesmo. Ou vai ou racha. Viu sessenta escolas darem o primeiro sinal de abandono do processo de avaliação. Hoje já devem ser seiscentas. Entretanto um Secretario de Estado, presume-se que subordinado da Ministra, já veio pôr água na fervura. A avaliação é só para daqui a um, dois, três ou mais anos (riscar o que não interessar). Outros responsáveis atiram-na mesmo para as calendas.
Em que ficamos? Em que não ficamos, para ser mais exactos?
O PS mexe-se. Sabem os socialistas menos desatentos que uma forte percentagem (quiçá a maioria...) dos professores é sua votante. Ou era. Ou será se... E vai daí, primeiro a esquerda, depois alguns, mais reguilas, lançam o alerta. Cuidado: os professores são votos. Muitos votos. Ou, pelo menos os suficientes para ganhar ou perder uma maioria, sobretudo absoluta.
Marcha atrás a todo o vapor! Tempus urgit.
E isto, esta procissão penitencial, ainda vai no adro. Os excelsos paisinhos de família, que andavam tão contentes com o milagre das rosas matemáticas, pedem serenidade. Eles também votam...
À hora em que escrevo, não sei se há ainda Ministra. Nem me interessa. Esta Ministra já caiu. Só que não sabe. Pode ser que só dê por isso daqui a meses mas politicamente é um zero. Porventura sempre o foi.
A propósito disto, desta fronda dos professores, há quem fale em corporações. Em privilégios corporativos defendidos a outrance. Nada mais errado. Se há coisa que nunca houve nesta democracia adolescente e frágil é corporações. Isso são coisas de país rico onde as profissões se defendem, onde o mínimo ataque ao status quo só acontece depois de pesados todos os prós e contras. Se os professores, ou os juízes, ou os funcionários públicos fossem efectivas corporações (ou seja, se tivessem interiorizada uma determinada situação, com os seus privilégios, os seus deveres e direitos, uma “consciência de classe”) onde o poder já não ia... É justamente porque as “corporações” não o são nem têm essa força que ,até agora, a bola tem estado do lado do poder. Deste poder.
Há em Portugal, conexo com um forte analfabetismo político e social, o sentimento que nomear uma coisa pela palavra que primeiro nos vier à cabeça transforma essa coisa no significado da palavra. É assim que se caracteriza uma situação anómala sob o termo de “surrealista”; é assim que o vago receio ou o desânimo são apodados de tremendismo; é assim que se confunde maioria absoluta com poder absoluto como se os povos, os paisanos só aqui andassem para votar de quatro em quatro anos num punhado de criaturas escolhidas a esmo entre os obedientes que levantam e baixam o cu à ordem da primeira fila da bancada parlamentar.
O facto de um governo ter legitimidade obtida nas urnas não significa nem pode significar que todos os seus actos são legítimos, justos ou se destinam a defender o bem comum. Um governo legítimo e legal pode, por razões as mais variadas, cometer autênticos crimes ou infâmias insondáveis. Assim foi com a guerra do Vietname, com a invasão do Iraque para citar dois exemplos inquestionáveis. Lamento não poder chamar à colação a Rússia mas não me parece que esse regime seja aquilo que nós entenderíamos como democrático (e por maioria de razão a China ou Cuba).
O folhetim continua ...
d'Oliveira

* entendi pôr um Signac a ilustrar este texto. É provável que as autoridades desconheçam o nome, a obra, a época ou a escola pictórica de Signac. Prova que são já obra do não ensino que propagandeiam...

Porque Não Baixam os Combustíveis?

1. O Preço do barril do petróleo já está nos 55,7 dólares, que corresponde ao valor que tinha há 20 meses. As expectativas apontam para novas quedas do preço, em consequência do fraco grau de confiança dos empresários e dos consumidores na retoma da economia.

2. O lucro líquido ajustado da Galp Energia terá subido 49,3% para 135,9 milhões de euros no terceiro trimestre de 2008, suportado numa melhoria das margens de refinação com a queda dos preços do petróleo.

3. Como foi tornado público a autoridade da concorrência está a estudar a evolução dos preços dos combustíveis no consumidor (tarefa morosa e complexa). Como já ninguém se lemgra do preço que os combustíveis tinham há dois anos, é de admitir que dentro de dias o preço da gasolina baixe um cêntimo e o gasóleo nem isso. Entretanto, as gasolineiras vão obtendo lucros anormais, para a conjuntura actual, que só não são ilícitos porque, de facto, não se vive num estado de direito.

08 novembro 2008

estes dias que passam 132

Eu não consigo perceber se a Srª Ministra da Educação está em seu perfeito juízo ou se já nasceu assim. Não gostaria de me pronunciar sobre a eventual inteligência da referida senhora se bem que me veja obrigado a pôr em dúvida essa capacidade quando a oiço dizer, com estas que a terra há-de comer, que uma manifestação que provavelmente reuniu 120.000 (cento e vinte mil!) professores é uma mera manobra de chantagem de uma minoria sobre a maioria dos professores que querem avaliar, ser avaliados, enfim que querem o mesmo que a Srª Ministra.
Dando de barato que os manifestantes serão mais ou menos oitenta por cento do total de efectivos da função magistral, verifico mesmo assim que o discurso da responsável ministerial é tontamente autista e reflecte a inabalável confiança dos cegos, para não dizer dos talibans, da Educação Nacional.
Esta Ministra, cuja carreira profissional assombra os mais calmos é a Miss Bush do ensino português. Creio, seriamente, que a pobre Senhora está convencida de que ouve vozes celestiais e eventualmente de que tem estigmas nas mãozinhas. A não ser assim, como seria possível pensar, estamos perante um caso grave de autismo já não político mas simplesmente social.
Não sou professor, nunca me passou pela cabeça sê-lo, reconheço que aqui como em todas as restantes profissões há malandros e preguiçosos (e lambe botas, claro...) mas tenho amigos que o são. Por sorte minha, trata-se geralmente de pessoas com grande prestígio entre os colegas, entre pais de alunos e, mais importante, entre estudantes. Falar com eles, desde os seus sonhos até às suas dificuldades, é uma dramática lição e uma viagem à mais abjecta burrice do sistema português. À mais incontrolada demagogia que passa pelas notas subitamente altas nas provas de matemática, ao patético "Magalhães", na realidade o internacionalmente conhecido Classemate, ou à arrogância dos quadros das DRE, local privilegiado da sabujice e da delação.É também uma viagem à desenfreada fuga para a aposentação, perdendo dinheiro, mesmo se os ordenados de base já não fossem famosos. Assistir a esta hecatombe do espírito faz relembrar outros e igualmente sombrios tempos que muitos de nós vivemos. Só que aí o poder não se refugiava em razões tão vazias como as actuais.



Estes dias que passam 131


Grandes manobras a Norte


No PS Porto discute-se já com alguma aspereza o nome do futuro candidato à câmara municipal. A maioria, pelos vistos inclina-se por Elisa Ferreira ou pelo menos é essa a preferência do senhor Renato Sampaio, líder reeleito da Federação.
A Dr.ª Elisa Ferreira goza, ao que parece, de grandes simpatias entre a os militantes socialistas nortenhos. Não se vislumbram razões especiais para tanto afecto mas também não se conhecem argumentos em contrário. Aqui mesmo, o meu camarada de blog, JCP, já deu a entender que esta senhora deputada europeia é a sua preferida.
Nada a opor, portanto tanto mais que, pela parte que me toca sou um mero eleitor e não quero ser nada mais do que isso. Tenho votado regularmente no PS, coisa que neste momento, e atentas as aventuras deste governo, está um pouco em questão. Aliás está bastante. Não o suficiente para ir votar noutros mas começa a ganhar alguma plausibilidade o refúgio na abstenção.
No caso da eleição local o PS nada tem feito para que os cidadãos do Porto o percebam como alternativa viável e capaz ao Dr. Rui Rio. Os vereadores que se passeiam pelos corredores da câmara municipal graças ao meu voto, não se ouvem nem se vêem. Estão, permitam-me, na fase “água destilada”, insípidos, incolores e inodoros. Politicamente insossos e já estou a ser simpático.
Todavia, e voltando ao caso Elisa Ferreira, o senhor Sampaio, diz a quem o quer ouvir (e o Público, vá-se lá saber porquê, foi ouvi-lo) que o facto da Dr.ª Elisa Ferreira se recandidatar ao Parlamento Europeu não impede que ela depois se candidate à Câmara. E que posteriormente a senhora escolherá (sic).
Ora é aqui que a tradicional porca torce o rabo. Então anda toda esta boa gente numa azáfama frenética, propagandeando as virtudes (seguramente muitas) da senhora eurodeputada e afiançando ser ela a melhor para o nosso sombrio futuro de habitantes da Invicta cidade, e corre-se o risco de a Senhora poder, sabe-se lá porque razões, preferir o cosmopolitismo bruxellois à triste e enfadonha realidade portuense?
E Sampaio, o líder, diz que tudo está a correr no melhor dos mundos? E então com quem ficamos se a eurodeputada desiste das maçadas portuenses? Mais: e se não for eleita? Fica na vereação, ou vai dar mais um giro pela Europa?
Eu, que sou apenas um eleitor, tenho por mim que um candidato é para todas as estações. E que duplas candidaturas não são sensatas nem recolhem a confiança dos cidadãos. E que sendo assim, o melhor é arranjar um candidato menos buliçoso mas mais caseiro que nos garanta que com bom ou mau vento vai continuar nesta pasmaceira a moer o juízo ao dr. Rio. Sim, porque do modo como as coisas estão, o presumível recandidato do PSD tem a Câmara garantida. Assim eu tivesse a certeza do euro-milhões!
Às vezes penso que estes cavalheiros do “aparelho” socialista são ingénuos demais. Ou tontinhos. Ou então querem comer-nos as papas na cabeça.

Passemos a um concelho mesmo ao lado: Matosinhos.
Matosinhos tem um presidente de Câmara, o Dr. Guilherme Pinto que, pelo que lhe conheço, sabe da poda. É eficaz, fala bem, tem ideias, faz coisas. Sucedeu ao senhor Narciso Miranda que, valha a verdade, também fez coisas e muitas delas boas. Por razões que se conhecem, o PS não o recandidatou à Câmara de Matosinhos, na última eleição. As cenas de pancadaria entre os seus apaniguados e os de um outro rapaz da terra ficaram famosas. Aquilo parecia a velha Fafe, do tempo do varapau. Valeu tudo, das injúrias até às vias de facto. Pelo meio, as comadres zangadas, puseram a boca no trombone e foi um ver que te avias: as histórias que se contaram de uns e de outros fazem um ateu persignar-se. E correr a benzer-se com água benta…
O Dr. Guilherme Pinto fazia parte da vereação do senhor Narciso Miranda. Pelos vistos, este prócere socialista habituou-se a considerar Matosinhos como o seu feudo. E vai daí, achou que quatro anos de abstinência chegavam e sobravam, E entendeu que devia voltar à Câmara de Matosinhos. Criou um movimento patusco, com um nome mais patusco ainda e ameaça concorrer como independente. Ao que se sabe continua militante do PS. O PS já terá dito que o seu candidato é Pinto. Miranda ameaça partir a loiça, candidatando-se. As pessoas mais sensatas prevêem que se isso suceder pode ocorrer que o PSD ganhe a Câmara não por mérito próprio mas por demérito alheio.
O senhor Miranda parece achar que não. Corre por aí, que garante ter muitos apoios entre a gente de influencia do PS nortenho. Diz-se igualmente, que no seu tempo, o prudente e precavido Miranda deu empregos de assessor a muitas personalidades socialistas sendo agora altura destas pagarem os favores prestados e o dinheirinho facilmente ganho. Por enquanto isto vem envolvido no habitual celofane do rumor público de mistura com criticas A silva por este não ser capaz de “desafiar o Governo”!
Ora, Matosinhos não desafia o governo pela boa e simples razão de não precisar dele. A terra é rica, a Câmara idem, e as obras que se fazem e se anunciam não revelam má vontade governamental. São muitos os cidadãos do Porto que de bom grado o trocariam por Matosinhos não por causa de Rio mas apenas por causa de Pinto. Então no capítulo cultural nem se fala.
O senhor Narciso Miranda poderia estar sossegado. Poderia até ter-se oferecido para uma dessas câmaras que há anos fazem negaças ao PS. Poderia ser deputado ou qualquer outra coisa. Mas embirrou com o seu sucessor. Parece temer que a acção deste oculte a sua. Parece pensar que tem lugar captivo na Câmara Municipal. Não se sabe se julga que vai ganhar ou se, sabendo que não ganha, não se importa de deitar tudo a perder. Morra Sansão e quantos aqui estão. Digamos que desde que saiu da Câmara saiu da realidade. É pena. Não pelo partido, não por silva mas apenas porque assim deita foraalegremente vinte anos do seu próprio passado.
O que faz correr Narciso? Ou melhor: quem é que o deixa correr? Porquê?
Responda quem sabe. Até Sampaio!








Missanga a pataco 63


Lady Day morreu na cama,
The Empress na rua

Escrevem-me dois leitores corrigindo, pensam eles, a minha crónica sobre Obama. De facto ambos afirmam ter lido no "Público" uma crónica de última página da autoria de Miguel Gaspar onde este respeitável jornalista afirma que foi Billie Holiday quem morreu na rua por não haver hospital que a aceitasse.
Não têm razão os leitores e muito menos o jornalista que tomam por fonte. Billie Holiday morreu num hospital aliás em circunstancias extrordinárias porquanto foi aí, no seu leito de morte que mais uma vez a polícia a inculpou de posse de drogas...
Bessie Smith, "The Empress of Blues", foi quem morreu no estado do Mississipi, perto de um hospital que se negou a recebê-la por negra. Esvaía-se em sangue depois de um brutal acidente rodoviário e morreu como um cão porque era negra e o hospital era para brancos.
Aprecio muito os textos de Miguel Gaspar e gostei de ler este de que agora falo mas que vem ferido por um erro grosseiro. Bessie é mais velha do que Billie, morreu vinte ou mais anos antes e os seus estilos musicais são profundamente diferentes, como se sabe. Não podem nem devem ser confundidas como não se deve nem se pode confundir o Público com a revista Caras ou Gaspar com a governadora Palin que não sabia que África era um continente com muitos países.
Os leitores não devem tomar tudo o que se imprime por absolutamente verdadeiro e o mesmo se aplica aos meus textos. Devo ter errado várias vezes e bem precisaria de quem me puxasse a orelhinha mouca. Mas neste caso sou eu e não Gaspar quem está no certo. Não é grande vitória nem afecta a qualidade dos escritos deste jornalista que me tem como fiel leitor. E apreciador. Assim ele me lesse e apreciasse mas isso era já pedir demais.

07 novembro 2008

Andamos a brincar com coisas sérias!

“Durante os dias 18 a 22 de Agosto de 1999, a arguida Maria de Fátima Felgueiras viajou para a Irlanda do Norte, no âmbito de uma visita de estudo realizada pela “VALSOUSA - Associação de Municípios do Vale do Sousa”, àquele país, sendo as despesas de alojamento referentes a tal viagem pagas por aquela associação de municípios. Porém, e apesar de saber que as despesas de alojamento e ajudas de custo referentes a tal viagem seriam suportadas por aquela associação de municípios, a arguida Maria de Fátima Felgueiras havia solicitado e recebido dos serviços da CMF (assinando a respectiva ordem) o pagamento antecipado de ajudas de custo completas (incluindo o alojamento), antes portanto da realização dessa viagem, no montante de Esc. 118.750$00, locupletando-se assim no montante de 35.620$00, correspondente a cerca de 30% das ajudas de custo adiantadas pela CMF (referentes a alojamento). Ora, no âmbito de tal viagem à Irlanda do Norte, a “Valsousa-AMVS”, em 29 de Setembro de 1999, portando depois de realizada a dita viagem, pagou à arguida Maria de Fátima Felgueiras, na sua qualidade de membro do conselho de administração e representante da AMVS, ajudas de custo (cerca de 70% do valor das ajudas completas), no valor de Esc. 83.130$00, deduzidas assim do valor correspondente ao alojamento (30%). Ainda em 29 de Setembro de 1999, por sua iniciativa, a arguida Maria de Fátima Felgueiras devolveu à CMF a quantia que recebera da AMVS nesse mesmo dia, no montante de Esc. 83.130$00. Porém, não devolveu à CMF a quantia de 35.620$00, correspondente a cerca de 30% das ajudas de custo que indevidamente lhe tinham sido adiantadas pela CMF, locupletando-se assim nesse montante, no que agiu de forma livre, voluntária e consciente, com a intenção de fazer sua a sobredita quantia, apesar de bem saber que tal conduta era proibida e punida por lei. “ - prática, em autoria material e na forma consumada, de um crime de peculato, p. e p. pelo artº 20º, nº 1, da Lei nº 34/87, de 16.07: pena de 3 (três anos de prisão); e 25 (vinte e cinco) dias de multa, à taxa diária de 50,00 (cinquenta euros, num total de 1.250,00 (mil, duzentos e cinquenta) euros.

“Com a autorização da arguida Maria de Fátima Felgueiras, aproveitando o facto do motorista da CMF, Manuel Ferreira Pinto, conduzindo a viatura da CMF, de marca BMW, matrícula 87-74-MR, ter de se deslocar a Lisboa para a trazer de volta no Domingo seguinte (aonde ela se deslocara no dia 04.05.99 em razões de serviço da CMF, só regressando no Domingo seguinte porquanto iria participar durante esse fim-de-semana no Congresso Nacional do PS), o dito motorista da CMF transportou no interior da mencionada viatura, no dia 05.02.99, os vereadores Edgar Silva e António Pereira e a solicitadora Conceição Rocha (militante do PS-Felgueiras), a fim dos mesmos também participarem no Congresso Nacional do Partido Socialista que decorreu em Lisboa, nos dias 06 e 07 de Fevereiro de 1999. Já na cidade de Lisboa, com a conivência e autorização da arguida Fátima, o mesmo motorista da CMF, naqueles dias 6 e 7 de Fevereiro de 1999, fazendo uso da dita viatura da marca “BMW”, transportou as referidas pessoas do hotel para o local do congresso e vice-versa. As despesas de portagens e combustíveis de tal deslocação, foram pagas pela CMF, mediante a utilização, no primeiro caso da “via verde” e no segundo caso através de um “fundo permanente” que o motorista Manuel Pinto possuía para o efeito, sendo o mesmo constituído por uma quantia em numerário disponibilizada mensalmente pela tesouraria da CMF, por indicação da arguida Maria de Fátima Felgueiras. Apesar de bem saber que tal lhe era interdito e que a sua conduta era proibida e punida pela lei, a arguida Maria de Fátima Felgueiras agiu de forma livre, voluntária e consciente, querendo utilizar para o uso particular de terceiros, uma das quais estranha a tal autarquia, na situação acima descrita, o veículo de marca “BMW”, propriedade da CMF, o qual se destinava prioritariamente ao uso do presidente da câmara para as funções que lhe estavam adstritas.” - prática, a título de autoria e na forma consumada, de 1 (um) crime de peculato de uso, p. e p. pelo artº 21º, nº 1, da Lei nº 34/87, de 16.07, (reportado ao ponto 1 do 10º capítulo da pronúncia): pena de 30 (trinta) dias de multa, à taxa diária de 50,00 (cinquenta) euros, num total de 1.500,00 (mil e quinhentos) euros.

“Apesar de ter conhecimento de que tinha interesses no referido terreno (desde pelo menos 1989), a arguida Maria de Fátima Felgueiras, quer como vereadora substituta do presidente da Câmara de Felgueiras, quer como presidente da autarquia de Felgueiras, com o intuito de obter vantagem patrimonial com a venda de lotes e com a construção num deles de uma habitação para nela habitar, participou em inúmeros actos administrativos relacionados com o referido processo de loteamento nº 173/90, nos quais estava directamente interessada, violando o dever de isenção, imparcialidade e lealdade, designadamente por omitir a verificação de circunstâncias impeditivas da sua participação em tais decisões” - prática, a título de autoria e na forma consumada, de 1 (um) crime de abuso de poderes, p. e p. pelo artº 26º, nº 1, da Lei nº 34/87, de 16.07: pena de 1 (um) ano de prisão.

Cúmulo jurídico:
- 3 (três) anos e 3 (três) meses de prisão, suspensa porém na sua execução pelo período de 3 (três) anos e 3 (três) meses, mas subordinada à obrigação de restituição à CMF - no período de 6 (seis) meses a contar do trânsito em julgado deste acórdão - da quantia de 177,67 euros (cento e setenta e sete euros e sessenta e sete cêntimos), bem como os respectivos juros de mora, contados à taxa legal desde o dia 18.08.99, até integral e efectivo pagamento.
- 40 (quarenta) dias de multa, à taxa diária de 50,00 (cinquenta) euros, num total de 2.000,00 (dois mil) euros.
Pena acessória de perda de mandato referente às funções de presidente da CMF.

Indemnização; 177, 67 euros (cento e setenta e sete euros e sessenta e sete cêntimos) ao Município de Felgueiras.

O Senhor >Procurador-Geral da república tem alguma coisa a explicar? Claro que não! Ninguém é responsável pelo mau funcionamento da investigação criminal neste país.

Quem me conhece sabe que sempre tive simpatia pela Dra. Fátima Felgueiras e, por isso, não sou imparcial.

Mas acho absolutamente parvo haver condenação porque se dá boleia a alguém no carro do Presidente da Cãmara ou que este se desloque ems erviço oficial e aproveite para ir ao Congresso do partido. É ridículo que isto seja crime!!! A imbecilidade do legislador português é soberba!!! Ser político é difícil!!!