30 abril 2008

A Corrupção no Diário da República

O Diário da República deu à estampa mais um diploma que tem por objecto o combate à corrupção. Agora, Portugal está em linha com as directivas comunitárias nesta matéria.

Do ponto de vista normativo o modelo está perfeito. Estranha-se, por isso, que ainda se encontre quem pense que agora apenas falte dar combate à corrupção.

Diário Político 83

Lá vamos marchando e rindo

O Senhor Presidente da República parece preocupado com a ignorância dos jovens quanto ao 25 de Abril. Que aquilo é uma maçada, que eles não sabem o quanto custa a democracia, como era a vida antes etc... etc...
Jornais e políticos pegaram-lhe gozosamente na palavra e glosaram-na sempre em tom afirmativo. Que sim, sim senhor!; que era preciso dizer à juventude como é que as coisas eram, são ou devem ser; que patati, patata!
Lamento mas não dou para esse peditório. E não dou porque o que os jornais, Sª Ex.ª e os senhores deputados, ministros et alia deveriam ter já dito e reconhecido era esta coisa simples e fácil: a miudagem não sabe porque ninguém a ensinou. E ninguém a ensinou porque na Escola é a balda que se vê. Ninguém ensina coisas que possam prejudicar a memória das criancinhas. A história pátria passa-lhes leve, leve levemente como a neve do Augusto Gil (que os meninos também não conhecem).
Dir-se-á que Gil não é exactamente Camões, o que é verdade. Mas os meninos de Camões também têm uma ideia nebulosa. E que lhes não perguntem o século, o rei, ou sequer as endechas à Bárbara escrava.
A literatura em uso nesses horrendos “Stalag-läger” a que chamam “Escolas” sejam básicas, secundárias, terciárias, universitárias, ou sempre ordinárias, é uma treta. Como a Geografia. Perguntem-lhes que terras são banhadas pelo Mondego que já vêem...
Trinta anos de reformas e reformecas, encavalitadas umas sobre as outras destroçaram professores e alunos. A Escola em uso por cá é uma coisa aberrante que nem sequer ensina ortografia. Nem a velha nem a nova, de mau agouro. Tentem perguntar a um rapazinho de 14 anos algo sobre as guerras fernandinas! Ou sobre a Restauração. Ou sobre a implantação da República. Peçam-lhe dois mil caracteres sobre a aventura colonial ou a orografia portuguesa. Pior do que isso é só pedir-lhes o telemóvel, ou apenas que o desliguem, que estejam sentados nas carteiras, que não gritem, que não agridam os colegas. Não se pede aqui que respeitem as professoras porque isso seria realmente pedir demais.
Sª Ex.ª pode discursar mais vinte vezes sobre a data que, garanto, obterá os mesmos aplausos, as mesmas vénias, as mesmas citações, e a mesmíssima inércia.
A menos que uma lei constitucional garanta que reformas da educação só de doze em doze anos e por maioria de três quartos do total dos deputados.
O que o Senhor Presidente deveria ter dito é apenas isto: Portugal à falta de marinha mercante, agricultura, indústria moderna, bons serviços, produz leis, decretos, regulamentos, posturas e outras cabronadas em número tal que dava para vinte países. Um partido chega ao poder e a primeira coisa que faz é novas leis orgânicas para ministérios e serviços. Ministérios e serviços que mudam mais vezes de nome do que de funções. Já calcularam quanto isso custa? Já perceberam o que é viver sobre a permanente ameaça de um novo quadro orgânico que demora um, dois ou mais anos a sair? Já perceberam que esse novo quadro se destina as mais das vezes a criar condições para correr com uns tantos funcionários com cargos dirigentes e a meter em seu lugar outros mais fieis e mais do serralho político do novel responsável?
E depois queixam-se da “funçanata” pública? Ponham-se na pele desses desgraçados a quem, agora, deram a possibilidade (???!!!) de “contratualizar” tarefas e objectivos. E o SIADAP! E mais três merdas que tiram tempo, fora cursos de formação dados pelos amigotes do novo poder, cursos que se frequentam mas de que não há posterior avaliação (!!!), reuniões para tudo e para nada, mais para nada, claro.
É neste quadro sinistro que caiem as palavrinhas do Augusto Chefe de Estado, como dantes se dizia. E do Venerável Presidente do Conselho de Ministros como depressa se voltará a dizer. E das Excelências todas que em magote ruidoso vão ao beija-mão do Paço e se queixam da juventude ignorante. Como se não fossem responsáveis primeiros e quase únicos do Estado A Que Isto Chegou” (EsAquiChe, fixem esta sigla.)
Esta terra, que é a nossa, a minha (e daqui não saio senão morto ou em perigo de morte) não merecia esta diarreia legislativa, esta verborreia inútil, este sacudir de responsabilidades, este desperdício de dinheiros públicos, nossos, pagos por todos quantos não conseguem escapar ao fisco, à ASAE (que tem de proceder a X prisões, N autos, Y multas, tintim por tintim para cumprir os objectivos fixados por um senhor que deve pensar-nos como um rebanho fora do redil, a balir por autoridade e erva fresca), aos concursos imbecilizantes da televisão, à deputadagem voraz, ao patronato envelhecido que só pede desregulamentação, aos bancos que coitados são obrigados a ganhar menos e a levar-nos mais por piores serviços.
No meio disto tudo, um comentador político de um jornal de referência vem hoje dizer que não lhe repugna dar o direito de voto aos maiores de 16 ou 17 anos que o requeiram. Que os jovens (e o diabo da criatura enche a boca com isso) até mostram muito interesse pela vida em sociedade, que são mais participantes, menos insatisfeitos com a política etc...blá, blá, blá... Mas em que mundo se moverá esta aventesma? Que óculos ideológicos usará (não vou falar de antolhos, credo!) para ver o invisível, dizer o indizível e concluir o incrível?
Concluamos com mais uma digna do guiness: uma das mais antigas Ordens profissionais portuguesas entendeu, em Conselho Geral, proibir que os candidatos à profissão que ela tutela a situação de empregados por conta alheia. A Ordem acha que depois de 12 anos de borrada básica, secundária e terciária, de 5 de indiscência (isso exactamente) universitária, os estagiários deverão aturar mais dois anos de aulas inúteis e repetitivas e de trabalho não remunerado. Ou seja, o Governo faz o que pode para que os adultos através de exames ad hoc entrem para as universidades para se valorizarem, e as (des)Ordens ameaçam qualquer jovem estagiário se este tiver um pequeno emprego que o habitue a ser menos dependente da família e a trabalhar!
Uma pessoa inocente e ingénua ao ver isto pergunta-se se o 25 A existiu, e em caso afirmativo, se serviu, e para quê. E pergunta se o Presidente da República se queria referir a isto e, novamente em caso afirmativo, porque é que o não disse em quatro palavras bem puxadas e simples.
E já agora: será que os tais jovens, vendo o que vêem, apanhando no lombo com o desemprego, dito qualificado, com as Ordens profissionais e com esta gente, terão algum interesse em saber do 25 de Abril, do 5 de Outubro , do 1 de Dezembro ou sequer do 28 de Maio. Responda quem souber (e não tiver pecado).
De um Primeiro de Maio luminoso, o vosso correspondente em Sírius
d’ Oliveira

* o título roubei-o à inditosa Marcha da MP
** a fotografia é a de uma mulher lixada pelo establishment e fica aqui melhor do que uma fotografia de uma pasionaria qualquer.

29 abril 2008

AU Bonheur des Dames 121


Respeitinho

- Neste país em diminuitivo...
- Respeitinho é que é preciso!
Alexandre O’ Neil (“poemas com endereço”)


Excepção feita à Eng.ª Lurdes Pintasilgo e à Dr.ª Manuela Eanes, raras foram (e são) as mulheres que conseguiram protagonizar alguma espécie de liderança política. E mesmo no caso da segunda poder-se-ia pensar que agia em representação do marido, manietado pela Presidência da República e pelos deveres de reserva que isso implicava ou que ele julgava que implicava.
É, pois, inspirador e digno de realce, a ousadia da Dr.ª Manuela Ferreira Leite que se apresenta numa arena carregada de feras e perigos, diante de um público mais dado ao prazer de ver sangue do que ao do aplauso.
A democracia faz-se com cidadãos e isso significa as mulheres e os homens com direito a voto e dever de a defender. Já o finado presidente Mao Zedong afirmava que as mulheres eram metade do céu. Claro que isso, nele, era mais uma metáfora, um arroubo poético, do que um verdadeiro voto. O Mao adulto estava-se nas tintas para as mulheres e para os homens da China. Tinha um sonho que se transformou num pesadelo para os que sobreviveram ao “Grande Salto em Frente” e à “Grande Revolução Cultural Proletária”.
Voltemos porém à senhora Ferreira Leite. E desde já um aviso: não a conheço, não a votarei nunca, não gosto do partido dela, dos amigos dela e muito menos dos adversários dela. Isso não implica que a não considere inteligente (é-o e muito), desassombrada (idem), persistente (talvez até teimosa) e combativa. Também me consta que é competente. Razões suficientes para vir incomodar as minhas amáveis e furtivas leitoras a quem me encomendo.
A Dr.ª Ferreira Leite apresentou-se ontem, segunda-feira, perante as suas gentes (e eram muitas...) com a sua habitual convicção e com o seu reconhecido e seco rigor. Do que leio no jornal, ela terá afirmado, que, as palavras são minhas, “andam a perder respeito pelo PSD” ou “a faltar ao respeito ao PSD”.
É facto! O pópulo, a paisanagem, a malta, a peonagem, anda aí pelas esquinas a rir-se dos caricatos Santana e Jardim (talvez devesse antes chorar porque aquelas criaturas acabam, de algum modo, por representar alguns de nós), sem saudades do Meneses choramingas e nortista, basista e imprudente, e ligando pouco, ou nada, a dois inconspícuos cavalheiros que anunciaram estar na mesma corrida. Ou seja, o vale-tudo em que o PPD/PSD se transformou (por culpas próprias, há que insistir) é mais Parque Mayer do que S. Carlos ou D. Maria II. Estamos no domínio da revista boçal e à portuguesa se é que a coisa não entrou já pelo delírio absoluto com direito a garraiada estilo Queima das fitas (como a época sugere).
A Dr.ª Ferreira Leite tem fortes razões para se queixar. O pântano deixado pelo Eng.º Guterres engoliu todos os sucessores que, verdade seja dita, tudo fizeram para se deixar atolar. E se é verdade que Guterres não ultrapassava a mediania como político, não menos verdade é que os três pastorinhos que se lhe seguiram (incluindo a actual luminária que nos governa) lhe são prodigiosamente inferiores. Com diferenças, claro. Durão, dos verdores mrpp, passou para a direita mole sem dúvidas nem remorsos. Santana era, é e será, cada vez mais, uma espécie de girassol populista e direitista, do género de criaturas educadas no antes 25 A e a quem este nada diz. O Engenheiro é apenas o cavalheiro que viu a luz crua do autoritarismo no fundo já rosa pálido de um socialismo democrático incapaz de se reinventar. É Blair em mais conservador, Schroeder em menos pragmático. Com uma diferença: conquistou por dentro um PS atordoado pela defecção de um primeiro ministro, pelos escândalos e pela cega vontade de poder a todo o custo manifestada por boa (esmagadora) parte dos seus notáveis. Sócrates garantia jobs for the boys em troca de silêncio e amnésia ideológica.
A Dr.ª Ferreira Leite está pois na posição de quem tem de limpar as estrebarias de Augias, tarefa que não pode ser levada a cabo pelo Dr. Marques Mendes. Aceitar este trabalho hercúleo já é um ponto a seu favor. Aceitá-lo quando já se tem um par de anos é admirável num país que idolatra babado a juventude, sem perceber que esta é uma doença que passa com a idade. E velozmente. Aceitá-lo quando sabe que o poço está cheio de víboras revela carácter e coragem. Porém numa coisa não tem razão: não anda ninguém a faltar ao respeito ao PSD/PPD.
É o PSD/PPD quem nos anda a faltar ao respeito. Apesar de tudo os portugueses mereciam mais. Este partido foi governo durante dez anos fora os tempos da Aliança Democrática e do centrão sob Soares e Mota Pinto. Quando não governa é o maior partido da oposição e o único que tem possibilidades de inflectir as políticas do adversário. Os seus dirigentes recrutam-se maioritariamente entre as elites portuguesas, na universidade, na banca nas grandes profissões liberais ou no patronato. Tem um forte apoio sindical, porventura maior do que o PS e entre os seus pais fundadores não faltaram democratas insignes que se opuseram a Salazar e Caetano.
Eu não gosto do PPD, nunca gostei e temo bem que já não mude de ideias. Contudo, mais do que não gostar de um partido, não gosto de adversários ridículos, de segunda categoria para não dizer de refugo. Os adversários valorosos alegram a nossa vitória, adoçam as nossas derrotas, merecem respeito.
E é isso que o actual PSD/PPD não merece, ou está em vias de não merecer. E é isso que a gente que o corrói por dentro está a fazer. Andam a rir-se de nós, como cómicos de televisão, portuguesa, claro.
Dr.ª Manuela Ferreira Leite ponha ordem nessa organização, acabe com a barafunda, corte a direito. Respeite-nos. Em troca também a respeitaremos.


Get ready 'cause here I come !

(este não é um poema, é um bilhete aos amigos)

Levo nas mãos o calor do trópico,
o sorriso a acalentar as palavras.
Mais que tudo levo o afeto pelos amigos,
com quem espero partilhar um almoço
com muito vinho, muitas idéias, risos,
sem formalidades, mas cheio de espírito.
Dessas refeições nas quais o tempo
é apenas continente para as aproximações.


Meu carinho a todos,
Silvia

estarei por aí a partir de 16/05 . : )

26 abril 2008

Estes dias que passam 106

Eu não sei o que é o nemátodo do pinheiro mas sei que não é um insecto. Como o senhor ministro o definiu! Não sei nem sabia donde ele vinha mas parece que não vem do norte de África, como o senhor ministro afirma. Também não sabia que se trata de uma doença e não de uma praga, como o senhor ministro estranhamente esclareceu. Finalmente porque não é um insecto, não há insecticidas cujo aparecimento o senhor ministro exuberantemente deseja.
Refiro-me a um senhor ministro da agricultura, que suponho chamar-se Jaime Silva, nome que, de per si, já deveria inculcar no público uma associação à terra e ao seu coberto vegetal. Todavia, dadas as afirmações do político muito me temo que o senhor Silve tenha tratado o assunto muito pela rama. Demasiadamente!
Parece que nesse ministério, que num ápice despediu mil e muitos funcionários, se abre agora concurso para duzentos novos elementos. Esperemos que os muitos dispensados (dispensado é um modo envergonhado de dizer semi-despedidos. E semi-despedidos é um modo estranho de dizer que o Estado não respeita os contratos que livremente celebrou...) não tenham as mesmíssimas competências dos futuros admitidos. Esperemos... ainda que com alguma desconfiança. Já se viu em outros sítios despedirem-se fulanos para depois se apadrinharem cicranos, se é que me faço entender.
Voltando todavia à ministerial criatura temos que em vez de chamar insecto ao nemátodo, poderia, com idêntica imprecisão mas com mais audácia ter-lhe chamado “bicheza”. E neste termo iria toda uma carga metafórica que insecto não tem. Por um lado é um substantivo colectivo. Depois implica uma vaga ideia de vício feio e anti-português. E, ainda por cima, acanalhado. Com uma outra vantagem: insecto é palavra muito precisa enquanto bicheza poderia passar por um repentino toque de humor com que o senhor ministro, campeão dos disponíveis, da mobilidade especial, agraciava o pópulo, especialmente o rural.
É que já não bastavam os incêndios que hão-de vir, ou que entretanto com estes repentinos calores podem ter ocorrido, para dar mais uma machadada na floresta para a eles se juntar o insidioso nemátodo para o qual Sª Ex.ª confessa não ter solução. Se Sª Ex.ª acha que não tem solução para a “praga” sugiro-lhe uma: arreie!
Vá dar uma volta ao bilhar grande, vá governar uma empresa, um banco, uma agência governamental e peça ao senhor engenheiro em chefe que pesquise pelas escolas agrícolas um recém-licenciado que distinga um peixe dum mamífero e ambos de um insecto e entregue-lhe a pasta, enquanto o senhor Jaime Silva apara o bigode e o míldio que por força pode atacar o mesmo.
E já agora: compre uns tampões para as orelhinhas mimosas porque pela Europa fora vai um coro de gargalhadas tonitruante. E o caso não é para menos.

botanicamente vosso,
mcr

* eventual aspecto do bicharoco mau chamado nematodus silvensis lusitanus.

25 abril 2008

A B R I L

A lista que se segue foi recolhida nos anos de 1975/76/77, para um trabalho académico. São palavras de ordem, pichagens, que mostram as diferentes opções políticas, a guerra verbal e ideológica entre as organizações em combate pelo poder político e pela conquista da rua (espaço público).

As palavras de ordem e de luta desses tempos são muito, muito mais. Estas foram retiradas, essencialmente, das manif.s, das paredes e dos muros do Porto. A criatividade era imensa, maior que o país, em cada cidade ou lugar, a rua era o espaço para semear palavras de ordem e anseios

PALAVRAS DE ABRIL

A luta continua, A Vitória é certa!
A terra a quem a trabalha
A terra a quem a trabalha, os patrões que comam palha (FUR)
A classe operária deve ousar lutar, ousar vencer (MRPP)
A reacção não passou, a reacção não passará
Abaixo a reacção
A esquerda unida jamais será vencida (PC)
Abaixo a exploração capitalista
Abaixo a subaluga
Abaixo a vida cara classe operária deve ousar lutar, ousar vencer (MRPP)
Abaixo os camaleões
Abaixo o odor corporal
Abaixo a Guerra Colonial
Álvaro Cunhal para o Governo
Avante! Avante! Rumo ao Socialismo
Avante! Avante! UEC de massas
Assassinos, Assassinos
Aqui só vai um o PS e mais nenhum
A Arma é o Voto do Povo
Aliança só há uma com o povo e mais nenhuma (PS)
Assim se vê a força do PC
Assim se reconhece a força do PS
Apoio aos 9
A Europa está connosco! (PS)
Alternativa 76 (CDS)
Avançar! Avançar! Movimento Popular
Avançar! Avançar! Poder Popular (MES)
Arnaldo Matos é do Povo o Povo libertá-lo-á (MRPP)
Arnaldo de Matos Educador da Classe Operária (MRPP)
Avante pelo Poder Popular (MES)
Armas para o Povo, Já!
A Câmara é do Povo
A Câmara é do Povo, não é do Veloso
A foice e o martelo na cabeça do Otelo (PPD)
A Banca é do Povo
A Chuva é do povo, abaixo os telhados
A China vai de Mao a Pior
Abaixo a foice e o martelo, viva o Black and Decker
Abaixo os ovos estrelados, os pintainhos têm direito a nascer
Abaixo a reacção! Viva o motor a hélice
Abaixo o sabão amarelo! Abaixo a tinta da China! Independência Nacional
Anarquia sim mas nem tanta
A Madeira tem caruncho!


Basta! Fim da Guerra Colonial (MDP)
Basta! Não ao açambarcamento (MDP)
O Boato é uma arma da reacção


Corporativismo = Fascismo
Contra o fascismo, contra o Capital, Unidade Popular
Contra o Fascismo, Contra o Capital, Ofensiva Popular
CICAP é do povo, não é do Veloso
CICAP! RASP! A mesma Luta
CDS! Dissolução
Contra Cunhal! Vote AOC
Cunhal, traidor da classe operária
Contra o Fascismo! Unidade Popular
Corvacho Voltará
Cristo foi quem mais Lutou pelas Liberdades – Vota CDS
Chile Vencerá!
Carneiro só há um, assado e mais nenhum (PS)
Com a classe operária, liberdade e socialismo (UEC)
Controlo de produção e os preços baixarão (LCI)
Cimbalino ao poder, abaixo o café de saco, morte à cevada reaccionária
Contra os Traidores: Armar Poder Popular (BASE)

Desarmamento imediato da GNR e PSP
Dá mais força à Liberdade – Vota PCP
Dissolução da Constituinte
Dissolução da Constituinte, Já!
Democracia para o povo, ditadura para os ricos (OCMLP)
Direita, esquerda recuar, o centro avançar
Deixa o passeio e vem, a luta é tua também
Deixemo-nos de Barreirinhas, vamos ao salto em altura

Em frente, sem medo, Pinheiro de Azevedo (PS, PPD)
Em frente pela organização autónoma dos soldados
Europa vermelha, operários ao poder
É Boa, é boa e continua o povo pôs os fascistas na rua
É Boa, é boa e continua o PS pôs o Vasco na rua
Estudantes ao lado do povo, sempre (OCMLP)
Eleições nas Autarquias, Já!
Está na Hora, Contratos Colectivos cá para Fora
Europa, Portugal, a luta é igual
É feio, é feio ficar no passeio
Em frente pela reconstrução do Partido (OCMLP+CMLP)
Em frente pela destruição do capitalismo
Eu Adoro o CDS
Em frente pelo Congresso (CMLP+OCMLP)
Em frente pela unificação dos comunistas (OCMLP + CMLP)
Em frente pela grande via marginal até Cascais

Freitas do Amaral é sensacional (CDS)
Força, Força Companheiro Vasco (PCP, MDP)
Força, Força Companheiro Vasco nos somos a muralha d’aço
Fascista, escuta, o Povo está em luta (PCP)
Fascistas fora das escolas
Fim à Guerra Colonial
Fora com a canalha o poder a quem trabalha (PRP)
Frente Unida da Classe Operária (LCI)
Fascistas pró Campo Pequeno
Fascistas prá Prisão
Fim aos despedimentos
Fim aos despejos
Fim às colmeias humanas
Fora com os mortos, a terra a quem a trabalha

Galvão amigo o povo está contigo (CDS)
Galvão, tem paciência, tens de ir à Presidência
Governo só há um, o 6.º e mais nenhum

Imperialistas e social-iImperialistas, fora de Portugal
Imperialismo só há um, o Americano e mais nenhum
Isto não é canalha, é o povo que trabalha (PPD)
Intersindical não interessa a Portugal
Inter 2 Sindical 0
Intersindical é um tacho do Cunhal
Intersindical só interessa ao Cunhal
Intersindical só serve ao Cunhal
Independência das Colónias, Já!
Independência Nacional
Imperialistas tirem as patas de Portugal
Imperialistas go home
Imperialistas fora da nossa Pátria (OCMLP

Justiça, Justiça (CDS)
Justiça, Justiça, Partido Socialista

Liberdade, Justiça, Partido Socialista
Lutar, Vencer, operários ao poder (LCI, PRP)
Lutar, Vencer, social democracia ao poder (PPD)
Libertação imediata dos antifascistas presos
Libertação imediata dos presos políticos do zoo

MFA! MFA!
Morte à PIDE
Marcelo, fascista, assassino
Morte ao ELP e a quem o apoiar
Morte à CIA
Morte à CIA e ao KGB
Morte ao revisionismo
Morte ao social fascismo
Morte ao reformismo
Morte ao fascismo
Morte ao Careca
Marx, Engels, Lenine Staline, MaoTse Tung
Mudar o Governo, Já! (CDS)
Mulheres unidas jamais serão vencidas (MDP, PCP)
MFA com bolacha baunilha!
Mortos da vala comum ocupai os jazigos de família
Mais vale uma na mão que duas no soutien

Ninguém nos comprou, viemos livremente
Nem Soares, nem Cunhal, Independência Nacional
Nem Soares, Nem Guerreiro, Nem Cunhal
Nem fascismo nem social fascismo
Ninguém arreda pé
Nem Marcelo nem foice e martelo
Nem socialismo sem liberdade, nem liberdade sem socialismo (PS)
Nem mais um embarque
Nem Kissinger nem Brejnev
Na hora de votar vota PPM
Ninguém nos pagou
Não à violência fascista
Não aos saneamentos à esquerda
Nem Carneiro nem Amaral
Ninguém há-de calar a voz da classe operária (MRPP)
Nem CIA nem KGB
Nem PIDE nem COPCOM (MRPP)
Nem mais um chaimite para o Copcom
Nem Deus nem chefes
Nem madeira nem social madeira, governo de plástico!
Não há eleições. D. Sebastião volta para a semana
Nem mais um anticiclone para os Açores
Nem mais um faroleiro para as Berlengas


Operários, camponeses, soldados, marinheiros unidos venceremos (SUV)
O povo unido jamais será vencido
O povo não quer fascistas no poder (PCP, FUR)
O povo diz não, diz não à reacção (PCP)
O povo diz não, diz não à paralisação (PS)
Onde está o PS que não aparece?
Onde está o PPD que não se vê? Em casa a ver TV
Otelo para Presidente
Organizar, armar, poder popular (PRP)
Outro Presidente, já! (PPD)
O mundo é belo com Galvão de Melo (CDS)
O povo merece um Governo CDS
O Centro vencerá e a vida não acabará (CDS)
Os operários não têm pátria (PRP)
O povo está com o MFA
O voto é a arma do povo
O voto é uma arma do povo
O povo já se vê vota PCP
O voto do povo é MDP/CDE
O povo rural também é Portugal
O povo votou, o CDS ganhou
O povo em armas jamais será vencido (PRP)
O povo sem jantar vai a Serra do Pilar (SUV)
Os Galos pedem a Nacionalização dos Ovos
O Governo é uma merda. De quem é a culpa, da merda ou do Governo?
O socialismo está em construção, visite o andar modelo

Pinheiro de Azevedo, o povo não tem medo
Pão, paz, terra, liberdade, independência nacional
Pão, paz, terra, leberdade, independência, democracia popular
Pão, Paz, democracia (PPD)
Povos das colónias, operários portugueses, a mesma luta
Por um congresso democrático de todos os sindicatos
Por um governo operário e camponês
Por uma escola ao serviço do povo
Portugal unido jamais será vencido (CDS)
Portugal já escolheu – PPD
Portugal está connosco (PPD)
Por uma maioria de esquerda, vota PCP
Por uma escola nova (MRPP)
Por um ensino ao serviço do povo (CMLP)
PPD não pára, PPD não parará
Pedimos desculpa, a ditadura segue dentro de dias
Pela Quaresma e até à Páscoa
Promoção imediata do Leitão a porco

Que viva, que viva, o marxismo-leninismo (FEC m-l)
Que viva, que viva a classe operária
Quanto mais a luta aquece mais se vê a força do PS
Queremos dormir com as nossas mulheres

Trabalho igual salário igual
Todo o apoio a tudo que for provisório

Unidade! Unidade!
Unidos venceremos
Unir, Organizar, armar (PRP)
Unidade estudantil com o povo trabalhador (pró-UNEP)
Unidade sindical
Unicidade sindical (PCP, MDP, MES, LCI)
Unidade sim unicidade não (PPD, PS)
Unir o povo contra o fascismo, a miséria e o imperialismo (UDP)
Unicidade sindical na lei, Já!
Uma só via, social democracia (PPD)

Regresso dos soldados, já!
Regresso dos soldados para o ultramar
Reforma agrária
República é do povo não é de Moscovo (PS)
Reaccionários fora dos quartéis
Rádio Renascença a funcionar, já!

Soldados são filhos do povo
Soldado, amigo, o povo está contigo
Soldados sempre, sempre ao lado do povo
Social democracia só interessa à burguesia (PCP)
Só os parasitas têm medo dos comunistas (PCP)
Só há uma via, social democracia (PPD)
Soares, Zenha, não há quem os detenha (PS)
Só! Só! Só! PS
Socialismo em liberdade (PS)
Socialismo só há um, o do povo e mais nenhum (PCP)
Socialismo sim, vigarice não (FSP)
Se Cristo cá viesse votava CDS
Se quer boas colheitas, vote Freitas
Se isto não é o povo então o que é o povo?
Staline está vivo nos nossos corações (FEC m-l)
Socialismo sim, ditadura não
Se Deus existe porque não se recenseou?
Se o Estado é o patrão, quem nos defende dele


Viva o poder popular
Viva a classe operária
Viva o socialismo em liberdade
Viva a social democracia
Viva a Foice, o Martelo e a Estrela de 5 Pontas (FEC m-l)
Voto aos 18 anos
Vasco voltará
Vasco, Otelo, Costa Gomes
Vasco só há um, o Lourenço e mais nenhum
Veloso actua, põe a canalha na rua
Veloso, soldado corajoso
Vota no Castelo
Viva o Magalhães pasta, ministro sem Mota

Zenha, não há quem o detenha
Zenha, amigo, o PS está contigo

24 abril 2008

Diário Político 82


Os cemitérios de ideias


Estava eu muito descansado a tentar escrever um texto sobre algumas ocorrências nacionais, mormente a morte do Francisco Martins Rodrigues quando me cai em cima a descrição jornalística do último (e pelos vistos se não é o último há-de ser dos últimos que aquilo está mais para fechar por desespero do que para continuar a espernear) Conselho Nacional do PSD.
Uma prevenção: a política sem um pouco de fantasia não tem graça nenhuma. Pode até ser uma fantasia ruidosa (do género a que o dr. Alberto Martins costumava chamar “tremendista”, mesmo que, como suspeito, ele não saiba exactamente o que é o “tremendismo” –azares de quem não lê os Nobel espanhóis...) e tonitruante.
Contudo (melhor diria: sem nada) est modus in rebus! Aquele conclave excedeu-se pelo que se lê: parece que houve quem quisesse alçar o carnaval da Madeira a presidente do partido e putativo candidato a primeiro ministro; quem suspirasse pelo regresso da criaturinha guerreira como se não se lhes tivesse bastado a abada das últimas legislativas. Um dr. Mira Amaral veio, com a sua consabida juventude, dizer que a drª Ferreira Leite era velha! Como se o seu apadrinhado, o eterno rapaz Passos Coelho fosse uma vestal virgem e tenra!!! Passos Coelho é jovem há quarenta anos, ou tenta passar por isso muito embora ao ouvi-lo qualquer um fique com vontade de lhe perguntar pelo senhor duque de Ávila e Bolama, seu colega de gamão.
Começo a ter a firme convicção que houve uma OPA secreta sobre o PPD feita pelo senhor Sócrates com o apoio do dr. José Miguel Júdice como já pareceu perceber-se num artigo deste último. Registem a OPA, por amor de Deus! Ou então transformem-na em graçola de mau gosto que o país aguenta tudo. A malta anda a safar-se há oitocentos anos e não é mais um naufrágio que nos atira pela borda fora. Eia avante, portugueses, como se canta na “Maria da Fonte”, outro equívoco da nossa esquerda que confunde o mulherio beato e ignaro do Minho com uma revolução popular. Ai se o Padre Casimiro ouvisse isto!
Evacue-se rapidamente o ataque de malária, dengue, tifo, ou febre amarela que deu naqueles repolhudos conselheiros do PPD/PSD antes que nos atinja e pensemos que se porventura o dr. Luís Filipe Meneses entendia que “apres lui le déluge” estava pela primeira vez da sua pouco excitante vida certo, certíssimo. A criatura bateu com a porta de uma casa que nem paredes tem!
E depois disto força é passar à morte de Francisco Martins Rodrigues.
Eu deveria, tirar o chapéu e dizer reverentemente que FMR era um grande revolucionário, uma pessoa coerente e mais um par de baboseiras. Não digo. E não digo porque não acho que fosse nem uma coisa nem outra. Francisco Martins Rodrigues era teimoso, fanático e não percebeu nunca o mundo em que vivia. Sequer perceber o mundo comunista onde viveu a maior parte da sua vida. Não era um teórico, nunca o foi. Nem quando era um alto quadro do PCP nem depois quando fundou a Frente de Acção Popular (primeiro) e o Comité Marxista-Leninista Português (depois). Até nisto meteu os pés pelas mãos. A peregrina ideia de fundar uma frente ampla de massas antes de um partido contradiz todo o seu apregoado e rigoroso marxismo-leninismo. Vê-se que lera pouco e pensara menos. Nada disto destrói o militante que alguma vez foi ou os sacrifícios duma vida. Mesmo a sua “queda” nos últimos interrogatórios de que foi alvo, a confissão que lhe extorquiram, os autos que assinou, mesmo isso seria de somenos não fosse dar-se o caso de FMR ser muito mais do que um Vichinsky à portuguesa. Ele distribuía as boas e más notas, condenava a torto e a direito, chamou ou permitiu que se chamasse “rachados” a muitos e muitos outros presos, na mesma prisão onde penou.
Pior: ainda não estava seco o pobre papel dos estatutos da FAP e do CMLP e já Rodrigues cometia o irreparável: o assassinato de Mateus, o pide infiltrado que terá levado à prisão de João Pulido Valente. Esta façanha revolucionária além de terrorista foi de um aventureirismo risível e fez “cair” um pequeno edifício sem apelo nem agravo. O maoísmo português foi débil sempre mas, a partir deste momento, foi ainda mais fraco. Depois do 25 A se é verdade que Rodrigues percebeu que os erros passados o impediam de aparecer publicamente à frente do PCP (r) também não deixa de ser verdade que ele tentou controlá-lo da sombra. Com o êxito que se conhece: a história tem destas ironias terríveis.
FMR manteve sempre o tom das suas opiniões parecendo que nada o perturbava. Nem mesmo o fim trágico da Albânia, a deriva sinistra da República Popular da China, a monstruosidade dos Kmeres Vermelhos ou a infâmia do Sendero Luminoso.
Quem estas escreve, com mágoa confessa que durante algum tempo pensou que a FAP e o CMLP poderiam ser um ponto de partida. Durou pouco tal ilusão. Mesmo assim, deu apoio variado, como mero compagnon de route critico e desconfiado, aos rapazes que na universidade enfrentavam a polícia, sendo advogado de muitos deles. À conta disso foi uma vez preso porque os patetas dos seus defendidos ou alguém mais responsável por eles entendeu brindá-lo com a prosa inenarrável de “O Grito do Povo” que lhe enviavam pelo correio!!!
Para quem não saiba este guincho português pretendia citar o admirável jornal de Jules Valés durante a comuna de Paris. Esqueciam-se estes jovens renovadores do pensamento revolucionário que, mais próximo no tempo, outro Grito do Povo se ouvira em França: o odioso jornal de Doriot durante a ocupação alemã da França.
E se é verdade que a organização responsável pelo “grito...” não estava sob a alçada de FMR não menos verdade é que era sua directa filha... ou pelo menos afilhada. Paz á sua alma. E paz também a FMR que conseguiu enganar-se sempre e com admirável constância. Mas não façam dele um herói!

Apesar de tudo o 25 A valeu a pena. Até porque nem FMR nem este PSD puderam estragá-lo.

d'Oliveira

O leitor (im)penitente 37


O 25 A já o comemorei: de facto os encontros literários de Matosinhos com o nome de “Literatura em Viagem” realizam-se precisamente nesta altura para ficarem (como diz o Presidente da Câmara, Guilherme Pinto) encostados à data. Ora aqui está uma ideia interessante. E participada, como se comprovou pelos magotes de gente que apareceu durante os quatro dias de discussão, apresentação de livros e actividades conexas.
Este ano a chuva baralhou um pouco as coisas, convenhamos. Parece que o Vereador do pelouro do Ambiente ainda não conseguiu chegar a acordo com o boletim meteorológico e, pasme-se - que falta de qualidade! -, com o grande Manitu senhor das chuvas e dos ventos. Pelo menos pareceu-me ser isto o que ouvi ao Fernando Rocha, Vereador do pelouro da Cultura.
Intrigas municipais à parte, inventadas por quem não consegue encontrar um defeito naquela impecável organização, há que dizer, pela terceira vez, que foram quatro dias muito bem passados.
À uma, isto de umas dezenas de maduros se reunirem para falar de livros já tem muito que se lhe diga. E se lhes juntarmos, como é de inteira justiça, umas centenas de leitores que acorreram para ouvir e interpelar a rapaziada então parece que a aposta de Matosinhos está ganha e com futuro.
Este ano foi dado mais um passo: começou a publicar-se a revista do LeV. Chama-se “Itinerâncias” promete um belo número por ano e a CMM entra com os cacaus. Conhecendo como se conhece a política cultural da maioria das câmaras municipais um cristão fica de cara à banda. Será que Matosinhos está no mesmo pais que, por exemplo, o Porto do dr. Rio?
Como acima já deveria ter dito mas não disse, isto foi um reencontro com um largo par de amigos de há muitos anos alguns, recentes outros, mas todos tocados pelo feio vício solitário da escrita ou da leitura. Alguma vez contarei como aos nove ou dez anos de idade, na confissão que precedia a comunhão, à pergunta se praticava o “vicio solitário”, confessei a leitura às escondidas, e durante as intermináveis horas de sesta que me eram impostas pela minha mãe, de inúmeros Salgaris, Walter Scott, Verne, London, Twain e assimilados. E de como o senhor prior de Buarcos, ao fim de um acidentado percurso de perguntas oblíquas, se convenceu que eu, fremente de piedade e de reino dos céus, o estava a gozar, coisa que retrospectivamente me enche de alegria mas que, na altura, me mortificou terrivelmente. E, aqui para nós, muito à puridade, o verdadeiro e perigoso vício solitário não está essa inocente e juvenil libertação de algum esperma buliçoso, e consequente apaziguação, mas estoutro de ler sabe-se lá o quê.
Mas, regressando ao tema, foi bom reencontrar Fernando António Almeida que veio apresentar o seu “Fernão Mendes Pinto” digressão erudita mas ao alcance de qualquer um da vida e obra do grande viajeiro; o Luis Carlos Patraquim, poeta e critico talentoso, de quem aqui já falei; o António Cabrita que lançou nestes dias de festa “Tormentas de Mandrake e Tintim no Congo” (Teorema); a Isabel da Nóbrega, autora inolvidável de “Viver com os Outros” que já vai em 6ª edição; o Bandeira de Faria que no ano passado aqui apresentou “As Sete Estradinhas de Catete” que me impressionou vivamente; o Nuno Júdice de que também já por aqui falei e que é indubitavelmente uma das mais inovadoras vozes da poesia que se vem fazendo desde os anos sessenta (uma leitora censurou-me há meses por não ter lido o seu “Salomé” – Teorema – que ela entendia ser o melhor romance publicado em 2007. Não garanto que o seja pois faltaram-me muitos mas é definitivamente um excelente texto que não fica atrás da sua obra poética); Jorge Sousa Braga, já por cá citado.
Fora estes quatro primeiros contactos que me encheram de satisfação: conheci o Villa Matas de que sou habitual leitor e que veio apresentar (sempre na Teorema, isto parece publicidade!) “Exploradores do Abismo”, a Adriana Lisboa, o Mempo Giardinelli e o Pedro Mota (autor de "quatro ventos e sete mares" (corre meio mundo, pinta-se de cores esquisitas e trás fotografias e recolhas de histórias e tradições de toda a parte) : Nem sempre se devem conhecer ao vivo os autores que lemos e apreciamos mas com estes quatro não se corre nenhum risco. Espero que voltem mais vezes e que rapidamente se publiquem cá mais livros dos três últimos. Tinha cá em casa, à espera de vez, “Final de novela en Patagónia” e não resisti: estou a lê-lo a meias com as Tormentas de Mandrake... esperando que a cabeça não expluda pelo gozo que ambos me estão a proporcionar.
Nota final desta reportagem atrasada: o perigoso Vereador da Cultura de Matosinhos proporcionou-me uma visita às caves da Biblioteca Municipal para vermos como se tratavam as reservas e os espólios. Já pouca coisa me impressiona mas desta vez tenho de dar o braço a torcer: há ali muito trabalho, excelente trabalho!, gente que gosta do que faz e uma coisa absolutamente essencial para quem quer que lhe prestem um bom serviço público: há ali excelentes, quase únicas, condições de trabalho. Tenho sérias dúvidas que haja cinco bibliotecas melhores do que esta pelo pais fora. E digo cinco porque estou bem disposto e pronto a dizer aos meus camaradas de blog “o meu olhar” e JSC que em Portugal nem tudo é mau, medíocre ou, vá lá, sofrível. E, já agora, dizer ao José Carlos Pereira (JCP) que encontrei uma câmara socialista que fora eu seu munícipe teria sempre o meu voto. Sempre ou quase, depende de quem lá está e de quem lá continuará... É que às vezes a história repete-se e, como dizia Marx (ou como diria eu), nem sempre com bons resultados... E as autárquicas estão à porta coisa que remexe com muitos cavalheiros a quem ficaria melhor ficarem quietos no seu cantinho e perceberem que o seu tempo passou.
Verifico que comecei a falar de livros e acabei a falar de outra coisa: Os leitores contumazes são assim: viciosos e com a mania da política.
Termine-se todavia de modo mais alegre: Manuel Alberto Valente, um dos grandes editores deste país (D. Quixote e depois ASA) fartou-se de aturar as criaturas do grupo LEYA e bateu com a porta. Os amigos gabaram-lhe o gesto mas afligiram-se. Depois dos sessenta anos de idade estes arreganhos têm custos. No caso concreto, o desemprego de MAV durou pouco: é o novo editor literário da Porto Editora. Se isto não é uma boa nova então não há novidades boas em parte alguma. Os da Leya que se ponham a pau que a concorrência dos editores que gostam de livros começa a crescer.

* a belíssima fotografia de cima representa Matosinhos e foi pilhada à Starmoon. Uma beijoca ó Estrela da Lua, quem quer se sejas e onde quer que estejas...

o sol

elevamo-nos solares
algum dia,
em alguma terra habitada pelas oliveiras.

tinhas as mãos cheias de mim,
aproximavas teus lábios dos meus cabelos
e me dizias tudo,
depois depositava-os nos meus ombros.

éramos o sol ,
a exaltação da vida.


silvia chueire

22 abril 2008

O PRÉ-ANÚNCIO DE FERREIRA LEITE

MANUELA FERREIRA LEITE AVANÇA PARA A LIDERANÇA DO PSD – Diário Económico, 22-04

A DAMA DE FERRO DO PSD – Diário Económico, 22-04

FERREIRA LEITE É CANDIDATA A LÍDER DO PSD - Diário Económico, 22-04

MANUELA FERREIRA LEITE É CANDIDATA – Correio da Manhã, 22-04

RUI RIO NÃO QUIS, MANUELA FERREIRA LEITE AVANÇA MESMO – Diário de Notícias, 22-04

MANUELA FERREIRA LEITE ADMITE CANDIDATAR-SE A LÍDER DO PSD – Diário do Minho, 22-04

MANUELA E PATINHO ANTÃO SÃO CANDIDATOS – Global Notícias, 22-04

FERREIRA LEITE ADMITE AVANÇAR PARA A LIDERANÇA DO PSD – Jornal de Negócios, 22-04

CATROGA APOIA FERREIRA LEITE E CULPA BARROSO PELA CRISE NO PSD – Jornal de Negócios, 22-04

MANUELA FERREIRA LEITE QUASE CERTA NA CORRIDA À LIDERANÇA COM RUI RIO AO LADO – Meia Hora, 22-04-2008

MANUELA FERREIRA LEITE «OFUSCA» APRESENTAÇÃO DE PATINHA ANTÃO – Notícias da Manhã, 22-04

FERREIRA LEITE PREPARA-SE PARA DAR O "SIM" COM O APOIO DE RIO – Público, 22-04

FIGURA DO DIA, MANUELA FERREIRA LEITE – Jornal de Notícias, 22-04

FERREIRA LEITE AVANÇA – Jornal de Notícias, 22-04

A VERSÃO PORTUGUESA DOS ´MARRETAS´ – Diário de Notícias, 22-04

Entretanto, pela tardinha, Manuela ferreira Leite confirma a sua candidatura

E Luís Filipe Meneses declara esperar que sussessor não seja um estorvo.

Mercado do Bolhão

No jantar do Rotary Club do Porto, falou sobre o "Mercado do Bolhão" o Dr. Lino Ferreira, Vereador do Urbanismo na Câmara Municipal do Porto.

Sem dúvida, trata-se de uma pessoa dedicada à causa pública, simpática, afável e de grande honestidade.

O actual edifício, que é classificado e corresponde a um marcos importantes da História da Arquitectura portuguesa, apresenta graves defeitos estruturais, dado que o betão em que foi construído não tinha a qualidade e fiabilidade que esse material actualmente possui. Parte do edifício apresenta risco de ruína e está escorado. Por sua vez, o comércio do interior não reúne os requisitos de higiene e segurança que hoje são indispensáveis numa sociedade moderna.

Parece que todos estão de acordo que isto tem de mudar.

O Arqº Massena há uns anos elaborou um projecto de recuperação do edificado, que lhe foi integralmente pago pela Câmara Municipal de então, mas que nunca foi executado (alegadamente por ser financeiramente inviável.

A actual Câmara Municipal (de que quem não sou apoiante) lançou um concurso internacional de ideias para a revitalização do edificado e da função comercial do Mercado. Apareceram dois candidatos, tendo um deles sido seleccionado. Prevê-se a construção de pisos no interior do Mercado, com novas áreas comerciais e de estacionamento, sendo o piso superior reservado para o comércio tradicional a céu aberto (embora com cobertura prevista para os dias de chuva). Durante a execução das obras, os actuais comerciantes exercerá o comércio em local provisório a construir no Campo 24 de Agosto, de modo a manter a actividade e preservar a clientela.

Parece que nada a opor ao projecto. E, no entanto, a Câmara não consegue passar a mensagem. è incrível que 50.000 pessoas do país e do estrangeiro tenham assinado petição contra a demolição do Bolhão (se bem que nunca tenha sido prevista a demolição do Bolhão!).
O Dr. Rui Rio tem o mau vicio de nada comunicar e de achar que não se deve dar ao trabalho de explicar à cidade o que anda a fazer (embora não tenho qualquer dúvida de que vai ser reeleito; o povo do Porto é mesmo assim: contestário, complicado, confuso, ...)

A única certeza que tenho é que o único líder que o Porto tem é Pinto da Costa. Deitou abaixo o estádio das Antas, construiu o Estádio do Dragão, que é uma obra-prima da cidade, e não houve contestação ( a não ser de Rui Rio! ... quem com ferros mata, com ferros morre!!!)

21 abril 2008

O que ficou por dizer

A visita de Cavaco Silva à Madeira foi um permanente jogo de faz-de-conta. Sem coragem. Com submissão aos tiranetes locais. O programa terá sido antecipadamente delineado pelos gabinetes, mas era escusado tanto cuidado em fazer passar a ideia de que tudo corria na paz do Senhor, descontando uns raspanetes efectuados em segredo, que ninguém sabe se, de facto, existiram.

Os acentuados elogios de Cavaco à obra feita eram desnecessários. Ao fim de 30 anos, não era de esperar que houvesse (muita) obra feita? Claro que sim. Não vou lá há muitos anos, mas dizem-me que a ilha está irreconhecível face à realidade que conheci nos inícios de 90. E por cá, não assistimos também a enormes transformações em muitos municípios e cidades? E nos Açores? Haja dinheiro!

O Presidente da República não deveria ter transigido e exigia-se-lhe que afirmasse bem alto que, na Madeira, têm de vigorar os mesmos princípios e valores democráticos do resto do país. Sem concessões. Um Presidente não existe apenas para ser simpático e acenar às criancinhas. Pede-se-lhe que exerça a sua função em defesa das instituições democráticas e de uma cultura de convivência sã e leal entre todos os agentes políticos. Perdeu-se uma oportunidade excelente e, mais uma vez, Jardim ficou a rir-se no fim.

18 abril 2008

Diário Político 81


Defenestração em parte incerta ou
Uma derrota para Sócrates

Convenhamos: o dr. Meneses defenestrou-se. Atirou-se para o vazio como aqueles estimáveis bichinhos, os lemmings, se atiram pela beira do fiorde que os viu nascer, crescer e multiplicar-se. Parece que não há consenso entre os etólogos sobre as causas desse fenómeno.
Por cá também ninguém se entendia sobre as razões do aparente sucesso do dr. Meneses. O tal que era nortista, basista e repentista. Como é que um partido com trinta e tal anos de idade eleva esta criatura ao pódio pouco reluzente de líder em momentos de oposição, ninguém entende. Mesmo em tempo de vacas magras, em tempo de negrume e aflição, entregar ao dr. Meneses sequer uma concelhia já era demais. O dr. Meneses era uma ventarola de ideias e confusões cada qual mais estranha, surpreendente, abstrusa.
Já imaginaram, sequer num momento de delírio, este cavalheiro, porventura amável no civil, a governar esta desgraçada pátria? Aposto singelo contra dobrado que o país inteiro iria em procissão solene e penitente pedir ao dr. Santana Lopes para voltar. E só Deus sabe quanto o dr. Santana foi detestado, atacado (e com razão, há que dizê-lo) e alvo de risota.
Seis meses! Seis meses (ou seja cinco meses e meio a mais) bastaram para pôr o pais de sobreaviso. Até os jornalistas se mostravam cansados e sem entusiasmo. Meneses como filão era excessivo e contraproducente. Havia gente, dizia-se, que já não comprava o jornal sem ter a garantia que nem uma linha havia com declarações de Meneses. É obra.
Claro que o dr. Meneses não é o inteiro culpado da triste situação em que se vê. Houve uns cavalheiros, e não dos de menor importância dentro do PSD, que o terão apoiado e entusiasmado a cobiçar um posto político para o qual ele manifestamente não tinha estatura. O sr. engenheiro Ângelo Correia, que tão tarde saltou do barco em perdição, o dr. Mota Amaral também fez parte do inner circle de apoiantes respeitáveis. E mais houve, mesmo entre os que se remeteram a um prudente (demasiadamente prudente) silêncio desde os inícios da saga menesiana.
Temos depois, o concurso de um grupo de incendiários entre os quais esta derradeira fornada comandada pelo dr Gomes da Silva, que já se distinguira (enfim: se tornara notado) noutros tempos de igual desnorte. Esteve igual a si próprio o que não é pouco. Quando se pensa que se atingiu o fundo, aí aparece esta perturbante novidade: com políticos como gomes da silva é sempre possível ir mais longe.
O resto é história conhecida: na vertiginosa corrida para as profundezas abissais a que assistimos, só o PS parecia satisfeito: as travessuras de Meneses, o seu estonteante percurso em zig-zag confortavam o partido do governo. Fizesse o que fizesse, e só Deus sabe quanto fez e quanto desfez, o protesto público seria sempre inferior ao sucesso dos auto-golos de Meneses. O PS apenas precisava de ir seguindo a sua rota de um passo em frente, dois atrás, para garantir uma vitória nas próximas legislativas, desde que Meneses fosse debitando as estarrecedoras propostas que ouvimos.
Agora, suceda o que suceder (ou quase: sempre podem ir buscar um líder a Rilhafoles!...) o partido da oposição irá dar alguma luta. Ou mesmo que a não dê: baste que fale pouco e baixinho, deixando o PS e Sócrates o seu profeta continuarem o seu penoso caminho.
Persegue-me, porém, um pensamento maligno: será que Meneses teve ontem, em Sintra, um relance de lucidez e, ao demitir-se, resolveu tirar o tapete aos socialistas? É que se o PSD conseguir encontrar entre o escasso lote de pretendentes que seguramente vão começar a aparecer alguém de respeitável, com duas ou três ideias, capaz de provar ao país que pode fazer as coisas melhor e com menos custo que Sócrates (o que não parece ser de grande complexidade) corre-se o risco (se é que entre um PS agónico e conservador e um PSD renovado ainda há alguma diferença) se risco há de entregar a pátria farta deste espectáculo à direita.

Vosso,
d'Oliveira

17 abril 2008

o leitor (im)penitente 36

Amado pelos deuses escuros, pela voz do tambor, pelos animais que povoam uma floresta de sonhos, uma savana francesa e marítima, era o homem que representava a ligação possível da francofonia.
Aimé Césaire morre aos 94 anos depois de uma vida intensa de combates, de glória e de reconhecimento nacional e internacional.
Por cá, e como de costume, pouco, ou nada, há dele. Tenho aqui um exemplar do “Discurso sobre o Colonialismo” editado em 1971, por uns “Cadernos para o diálogo” (Porto), coisa que tresanda a clandestino, claro. Por essa altura, também a “D. Quixote” da Snu Abecassis (e do Nelson de Matos se bem recordo) tinha publicado uma “antologia poética”. Gente boa, gente culta, gente séria aquela gente quixotesca. Agora o que resta é uma coisa chamada “Leya” que, posso estar enganado –e se estiver aqui darei a mão à palmatória – não publicaria de certeza um poeta da negritude, subversivo e da Martinica. Feitios!...
Leitoras e leitores, gentis e amáveis, leiam-me o Césaire, por favor. Está todo (ou quase...) na Gallimard, na prestigiosa colecção “Poésie”. E digo quase todo porque, também á minha frente, está uma bela edição do “cahier d’un retour au pays natal” (bilingue, francês e inglês) com um prefácio sumamente elogioso de André Breton (e o “Velho” podia ter muitos defeitos mas sabia ler bem, muito bem, mesmo) que traz a chancela da “Présence Africaine”. Também é verdade que esta edição (edição definitiva!) é de 1971 (ai que velho que estou!...)
Deixo em baixo um pequeno excerto desse espantoso poema. Ainda pensei em traduzi-lo mas vocês sabem de certeza o francês suficiente para o ler. E as palavras que vos faltarem, tentem dizê-las alto que a sua própria, intrínseca, música vos mostrará o caminho. Boa leitura!

Hoje, 17 de Abril faz 39 anos que um escasso milhar de estudantes de Coimbra (depois haveriam de ser muitos, muitos mais), mostrou à cidade e ao país que é possível resistir ao autoritarismo e à violência institucional. A greve universitária de Coimbra de 1969 durou meses e, pela primeira vez ma história do movimento estudantil português, redundou numa vitória: ministro para a rua (um tal Saraiva que papagueia na televisão), Reitor para rua, épocas especiais de exames, regresso a Coimbra e à Universidade de todos os estudantes suspensos e chamados para a tropa, arquivamento dos processos levantados pela polícia. Para os meus camaradas desse tempo (alguns deles leitores sofridos destas crónicas) um abraço e a certeza de que o Aimé Césaire teria apreciado o nosso esforço. E isso, para mim, é suficiente.

voz alheia 3


fragmentos de poemas no dia da morte do seu autor






1 (..................)
« l'homme-famine, l'homme-insulte, l'homme-torture

on pouvait à n'importe quel moment le saisir le rouer

de coups, le tuer - parfaitement le tuer - sans avoir

de compte à rendre à personne sans avoir d'excuses à présenter à personne

un homme-juif

un homme-pogrom

un chiot

un mendigot »
(...................)

2. (...............)
"ò lumiére amicale
ò fraiche source de la lumiére
ceux que non inventé ni la poudre ni la bousolle
ceux qu inon jamais su dompter la vapeur ni l'electricité
ceux qui non exploré ni le mers ni le ciel
mais ceux sans qui la terre ne serait pas la terre"

Aimé Césaire

*este textos são excertos do longo poema "Cahier d'un retour au pays natal" (Présense Africaine, 1956) e são retirados da edição de 1971, considerada a edição definitiva do poema. Todavia, e em abono da verdade, optou-se por trazer o primeiro directamente da internet. Está, porém cotejado com a edição de 1971, acima referida e que me pertence desde essa longínqua data (Paris, Dezembro de 1971)
mcr

A gravura: fotografia dos participantes do 1º congresso dos artistas e escritores negros em 1956. Esta fotografia servirá de convite para as comemorações do cinquentenário desse congresso.

A Arte da Economia

O Governo acaba de aprovar um novo prazo máximo para os créditos bonificados na compra de habitação, que passa a ser de 50 anos.

A comunicação social, em bloco e com o rigor que a caracteriza, desatou logo a anunciar a poupança que o novo regime vem trazer para os portugueses endividados com a habitação. O próprio Ministro das Finanças induziu essa leitura ao dar o exemplo de que quem paga 197 euros mensais vai passar a pagar 140 euros, o que determina uma poupança de 57 euros mensais, cito de cor.

Sem por em causa a importância e oportunidade da medida, face à crise no mercado imobiliário (que não é referida), o que me surpreende é que se fale em poupança, quando o que se trata é de diferir o pagamento da dívida e, consequentemente, com mais encargos. Ou estou muito enganado ou não há qualquer poupança neste processo de chutar para a frente a amortização da dívida.

Contudo, não restam dúvidas que quem optar por alongar o prazo do empréstimo vai ver reduzida a sua prestação mensal e talvez pense que está a poupar o que não paga agora, mas vai pagar mais adiante. A verdade é que vai ficar com mais dinheiro disponível para afectar a outros gastos, por isso a provável ilusão de que está a poupar.

A economia tem destas coisas e até pode levar as pessoas a pensar que poupam o que verdadeiramente não poupam.

16 abril 2008

Maio, maduro Maio 1


En Mai fait ce qu’il te plait.


Eu não sei se era assim a frase, se sequer havia uma frase destas mas prometi ao meu antiquíssimo e pacientíssimo leitor José escrever sobre aquele Maio de há quarenta anos, aquele Maio pai de todos os Maios seguintes, ou de alguns apenas, se quisermos. Todavia, e em obediência aos preceitos desse Maio de 68, aos da minha preguiça e a esta maneira anárquica de sentir e viver o mundo em que vagueio, irei escrevendo o que me recordar.
E comecemos por algo que hoje em dia não dirá nada a ninguém com, digamos, menos de quarenta ou até cinquenta anos.
Maio de 68 é praticamente o ano do fim de uma das mais persistentes ilusões revolucionárias dessa década de ouro: refiro-me, claro está à teoria do foco guerrilheiro que de certo modo foi exaltada por um jovem universitário francês (sempre eles) ex-aluno da “École Normale Superieure” (sempre essa “grande escola”) viveiro de revolucionários desde sempre.
A obra de Regis Debray, pois é dele que falamos, causou uma impressão fortíssima entre a comunidade esquerdista e leitora (as coisas nem sempre vão juntas, aliás, raramente vão juntas). As teses de Debray, que esteve por várias vezes em Cuba e que posteriormente foi aprisionado na selva latino-americana e acusado de prática guerrilheira estão vertidas neste livro que é hoje uma antiguidade varrida pela história consistem num confuso somatório de conversas com um Fidel de Castro ainda pouco sintonizado com os partidos comunistas clássicos e empolgado pela sua própria história revolucionária. A rapaziada jovem viu nisto uma critica ao comunismo estático e conservador da União Soviética o que, somado ao romantismo ainda vivo da “revolución de los barbudos”, ao facto de no Vietnam se travar uma guerra de guerrilhas duplicada por outra mais convencional, deu a Debray uma exagerada e imerecida fama de teorizador revolucionário. Não o era, como Fidel também não. O facto de em Cuba a guerrilha ter vencido Baptista não torna o “foco guerrilheiro” mais credível do que outras tácticas revolucionárias. Aliás se alguma verdade se pode extrair das conversas Debray Castro é apenas esta: o êxito cubano pôs de sobreaviso as ditaduras latino americanas que fizeram o possível por frustrar qualquer futuro foco guerrilheiro nos respectivos países.
Ora, o mundo é pequeno, é aqui que entra em cena mais outro ícone revolucionário: Ernesto Guevara, o “Che”. O Che, morto num obscuro barranco boliviano, por um “soldadito” como se diz na canção, a 7 de Outubro de 1967. A morte do Che é também a morte dessa teoria sem substância nem base, mero repositório de experiências avulsas a que a loucura da sorte sorriu, uma vez sem exemplo. Não se põe aqui em causa a honradez pessoal, a coragem, o idealismo da personagem mas apenas a crença cega na teoria do foco, na ideologia de implantação “exemplar” da revolução num meio atrasado com o pretexto de que nesses países do terceiro mundo ou não há proletariado ou hsvendo-o este está feito com o conservadorismo e com a inoperância dos partidos comunistas clássicos.
O “Diário del Che en Bolívia” na hipótese de estar publicado sem cortes nem arranjos, é um documento terrível mais pelo que se adivinha do que pelo que diz.
Juntemos-lhe agora, do mesmo ano, 1968, um coisa patética, ingénua, chamada “Journal d’un Guerillero”: nele um suposto jovem comandante das FARC (Colômbia) conta as suas aventuras no então jovem mundo da guerrilha na selva colombiana. Na badana de apresentação (ah, ano prodigioso!!!) escreve-se que este texto é apenas o primeiro duma série resplendente e vitoriosa de crónicas de uma gueerilha que abrasará toda a América Latina. A futurologia é uma arte difícil e em 68, ano de todos os prodígios até a poderosa Seuil apostava na revolução.
Todavia, nem toda a gente de esquerda ia à missa de Castro e Debray. Na mesma altura (68) e em França, uma outra editora provavelmente com os mesmos intuitos revolucionários (Robert Laffont) editava um panfleto ácido de Antoine G. Petit com um título incandescente: “Castro, Debray contre le marxisme-leninisme”.
Com este panfleto acabava o que aliás só existira na cabecinha pensadora de uns europeus ricos e cansados: a aliança entre as teses maoístas e o castrismo. Não existira nunca qualquer convergência de posições excepto o facto de haver umas centenas de jovens que inconformados com o velho comunismo do papá, queriam mais acção, mais emoção, quiçá reviver os tempos heróicos da resistência francesa ou os ainda mais mitificados dias de Outubro de 17.
Dirão os leitores que penosamente aqui chegaram que isto é já conhecido (coisa de que duvido, desculpem lá), que é velho (que novidade!) e que é passado. Aqui enganam-se redondamente. Esta mitologia revolucionária, esta “revolucionarização da revolução”, este continuo anuncio de amanhãs que cantam, não está morto e muito menos enterrado. No México para não ir mais longe, em Chiapas, alguns embuçados ressuscitaram alguns dos mitos do foco, edição melhorada, que hoje mesmo no Público era esboçada por um cavalheiro adepto do Open Marxism e da sua versão zapatista.
Herança de 68? Nem por isso. Todavia, e porque 68 foi muito mais do que uma mera guerrilha ideológica entre grupos minoritários, estamos arriscados durante todo este ano comemorativo, a apanhar com vinho novo e aldrabado em odres antigos veneráveis.

Obras citadas “Révolution dans la révolution?R. Debray, Maspero, 1967; "Castro Debray contre Le marxisme-leninismeAntoine G. Petit, Laffont, 1968; “Journal d’un Guerillero”, Seuil, 1968; “El diário de Che en Bolívia", Instituto del Libro, La Habana, 1967, ainda devem andar por aí. Poderão todavia ser substituídos com vantagem pelo texto desigual, combativo e generoso de René Dumont: “Cuba est-il socialiste?", col Points, Seuil, 1970

* o "incursões" está prestes a entrar no seu 4º ano de estratosfera, três dos quais com a minha imprestável colaboração. Esta é a minha série comemorativa do aniversário.

14 abril 2008

Insanidade?

O Presidente da República iniciou hoje uma visita oficial à Madeira e já começou com os elogios à autonomia logo à sua chegada. Depois das leviandades de Jaime Gama, que claramente “se passou” nos elogios a Alberto João Jardim, chega agora a vez de Cavaco Silva ir visitar o arquipélago e passar por cima (tudo o indica…) das afrontas que Jardim fez aos deputados regionais e à instituição parlamentar regional no seu todo.
Recorde-se que Jardim se referiu aos deputados da oposição como um “bando de loucos”, particularizando nas suas críticas "o fascista do PND”, “o padre Edgar" e “aqueles tipos do PS", eleitos pelos madeirenses e, naturalmente, detentores da mesma legitimidade democrática que reivindicam Jardim e os seus correligionários. O notável presidente do parlamento regional, Miguel Mendonça, considera por seu turno que Alberto João Jardim não quis atingir a "honorabilidade e respeito" do parlamento regional.
De insulto em insulto, de condescendência em condescendência, de desagravo em desagravo, Jardim vai dizendo o que quer e lhe apetece e os (mais altos) poderes vão-se encolhendo, envergonhados. Estaremos no limiar da inimputabilidade individual ou perto da insanidade geral?

13 abril 2008

domingo

domingo os meus olhos dormem de ti
e as horas andam lentamente sob a chuva.

adormecida a urgência,
o mundo descansa pacífico

(quase não respira).


silvia chueire

11 abril 2008

Au Bonheur des Dames 120


Meu caro Zé Miguel

Resolveste hoje tomar a defesa de Jorge Coelho, putativo futuro administrador da Mota-Engil. E logo no “Público”, jornal de referência, como agora se diz.
Só te fica bem esse sentimento de Galahad em defesa da honra e bom nome de Coelho, que, segundo as tuas palavras anda pelas ruas da amargura.
Conviria porém ler com mais vagar o que escreves porquanto, vê lá ao que se chegou, o leitor comum perde-se nos meandros subtis do teu discurso. De facto, é preciso estar atento não vá a gente perder-se entre a defesa de Coelho, o alvo duma desenfreada caça de jornais, blogues e não sei que mais, e a defesa da tua própria pessoa que, pelos vistos também está com a cabeça a prémio.
Eu, no teu caso, Zé Miguel, não me poria em paralelo com Coelho. À uma. tu tens desde sempre uma vida de paisano, interessado na política, claro, mas digamos, de fora dos aparelhos. É verdade que durante algum tempo alimentaste uma tendência no PSD mas disso já ninguém se lembra, ou lembram-se com algum espanto, os que na altura te leram e agora o continuam a fazer. Grande viagem, Zé Miguel, grande viagem desde, hás-de convir, uma direita inteligente até a esta espécie de compagnon de route do PS. Nota que não te critico. Gosto de te ver aí e gostaria mesmo de ver o PS a fazer-se ao caminho sob a bandeira de Antero e do socialismo democrático. Não é assim que as coisas se passam, agora distingue-se mal, se é que se distingue, o PS do PSD (mesmo com Menezes!!!) e até isso torna mais natural a tua convergência com o partido do governo.
Todavia, tendo por certo que não é isso que te faz vir à estacada, mas tão só a reflexão sobre o direito de qualquer cidadão a levar a vida que muito bem quer, conviria, talvez, retirar-te do retrato e falar apenas de Coelho. Fizeram-te umas traquinices? Tu sabes defender-te bem. Deixa essa guerra e não metas nas tamanquinhas de Coelho. Porque o caso é diferente, Zé, substancialmente diferente.
Enquanto tu fizeste a tua inteira vida na advocacia, cá fora, ele Coelho, é de há vinte e tal anos (trinta, talvez?...) a esta parte um político a tempo inteiro. Ou seja que, devendo ele ter à volta de cinquenta e poucos anos, a sua vida adulta foi consumida sempre ou quase, nos corredores do poder e do aparelho partidário. Isto não tem nada de mal e, no caso em apreço, até podemos dizer que seria bom que houvesse mais um par de políticos assim, laboriosos, diligentes, interessados e “bombeiros para todo o serviço”. Como Jorge Coelho. Suponho que é titular de um curso de gestão de empresas e que terá, quando jovem trabalhado na Carris. Todavia, e insisto, a sua vida de adulto, passou-a não nos meandros da empresa mas nos da política, coisa apeasr de tudo bem diferente.
Está cansado? Farto do aparelho do PS? Terá sido (não me parece) corrido pelo engenheiro Sócrates? Quer reformar-se mas não se vê como pescador à linha, ou jogador de sueca ali para os lados do Príncipe Real, juntamente com outros reformados? Perfeito! Eu mesmo não pesco senão no prato, não jogo a sueca (e infelizmente tenho dificuldade em juntar mais três parceiros para o bridge, ainda agora me morreu mais um...) e também vou fazendo pela vida. Leio, traduzo, vou às compras que a minha mulher ainda trabalha, tomo conta das gatas, escrevinho neste blog, enfim vou sobrevivendo sem sobressalto e, imagina, sem tempo!
Não me apetece gerir a Mota Engil, eles também não parecem convencidos dos meus muitos méritos, sequer uma pequena empresa dessas que constroem casas segundo traço e cálculo do já citado engenheiro Sócrates. Por junto, em matéria de construção civil, prego algum quadro na parede ou invento mais uma maneira de subir uma estante dois centímetros para lá caber um livro maior. Se estiveres interessado, passa cá por casa que te ensino isso num instante.
Mas regressemos a Coelho. A Coelho que, sem especiais referencias profissionais (experiência anteriores bons resultados em empresas do ramo, ou em empresas tout court ) que se conheçam, vai assumir pesadas responsabilidades (e logo nesta altura pré-recessiva!!! Que coragem!) num dos gigantes da construção em Portugal. Claro que tem a seu favor o conhecer esse mundo opaco e pesado. Foi Ministro das Obras Públicas e isso, só isso, permitiu-lhe perceber como é que esta gente se move e trabalha. Estou certo que não foi a pensar numa futura relação de trabalho que Coelho ministro contratou com Mota empresa. Nem ele é omnisciente a esse ponto nem consta que seja um malfeitor, um aproveitador, um carreirista. Porem....
Porém, nesta Europa Ocidental, são raros estes casos de transumância entre a política os negócios. Os políticos, sobretudo os políticos tipo Coelho, gente de aparelho e de altas responsabilidades costumam estar fora do território de caça dos angariadores de trabalhadores de alto coturno. Se saem do Governo, do Parlamento e da direcção do Partido, poderão aterrar na direcção de uma empresa pública (o que, enfim, também não é exactamente saudável mas que se explica pelo interesse que há no controle estrito dessas empresas), de um banco participado, numa embaixada política ou numa agência estatal.
A transferência pura e dura para o Privado, puro e duro, costuma ser rara e, convenhamos, não é bem vista. Há mesmo países que prevêem certas proibições (algumas vezes temporárias) de modo a que não caia sobre a classe política mais lodo do que já vai sendo hábito.
Coelho, dizes, é o alvo de uma caça feroz. É verdade. Também é verdade que Coelho nunca foi meigo com os seus adversários e que ficaram famosas algumas das suas frases. Buldozzer, premonitória palavra, chamavam-lhe. Convenhamos que foi incendiário, que semeou ventos suficientes que agora eventualmente o chamuscam.
Por outras palavras: quem não quer ser coelho não lhe veste a pele.
Ninguém, caro Zé Miguel, toma Coelho, ou a maioria dos ministros de hoje e de ontem, por uns cretinos catatónicos bons só para a chicana no Parlamento. Isso são leituras apressadas de Eça, o magnífico, ou dos anti-democratas, anti-parlamentaristas, anti-modernos que, à imagem de Caetano, eram contra a democracia representativa. Em Coimbra, nos nossos anos juvenis, bem os vimos em acção, lembras-te? A rapaziada do Jovem Portugal, os leitores do “Agora”, os meninos da “Acção Académica” e de outras envelhecidas fascistices de moda entre uma certa oisive jeunesse. Mas isso passou, está nas catacumbas da história.
Voltemos a Coelho. Se me espanta moderadamente esta apetência pelo mundo empresarial, não deixa também de me surpreender a apetência da Mota-Engil por este singular e futuro ex-político. Que diabo, o homem já tem cinquenta e vários! A idade em que mandam para a reforma administradores com muito mais louros e nome! Não que eu pense que a empresa queira influenciar o Estado, mesmo este, de hoje, apesar de tudo transitório, pese embora o esforço de Meneses para o tornar definitivo. Nada disso. Outras serão as intenções do empregador, porventura inocentes, estou quase certo. Seguro mas intrigado.
Voltemos ao teu caso. Parece que pões em paralelo uma participação gratuita tua na resolução de um problema de Lisboa, onde vives, com o contrato remunerado de Coelho. Francamente! Que diabo de mosca te mordeu? Tu, um advogado de sucesso, ex-bastonário, sem grandes problemas de dinheiro, cidadão que já mostrou compromissos cidadãos (a tua acção como benfeitor da Biblioteca Nacional) vais dar algum do teu tempo à cidade. De borla! A que vem a história do teu filho (és tu que a citas) que parece um miúdo esperto e desembaraçado? Então tu pensas que alguém acredita que em troca dos teus leais serviços se vá fazer um favor ao rapaz? Que diabo! Que visão tão arrevesada das coisas!
Terminemos com o teu artigo. Tu não fazes prisioneiros, Zé Miguel! Então achas que é mesmo toda a gente que se une a conspirar contra Coelho e contra ti? Não te parece delirante uma tese tão peregrina? E todos, todos, quantos acham que seria mais curial Coelho não se meter com o patronato de choque, estão assim tão de má fé?
Coelho, uma vez, do alto de uma tribuna partidária, lançou um célebre slogan ameaçando quem se metesse com o PS. De um certo modo, Coelho, voltava à carga assumindo o partido a conhecida posição de fortaleza cercada. Não era o caso. Agora ainda não é o caso, em relação a Coelho. Mas com defesas como a tua, pode ser que de tanto chamar pelo lobo...
Vale*
mcr

*como em tempos se dizia lá por Coimbra.


Literatura em Viagem


Aí vem o LeV /08 Começa já para a semana:

Dia 19/04/08
11,00h — Salão Nobre: Conferência de Abertura por Maria Barroso

15,15h — Inauguração das Exposições
"Peregrinaçam", de Maria Leal da Costa
"Quatro ventos , Sete mares", de Pedro Mota
"Expo-total", de Daniel Mordzinski

16,00h — Galeria Municipal: 1ª Mesa " Viajar É Perder Países "
Gonçalo Cadilhe, Pedro Mota, Isabel da Nóbreg, Jorge Sousa Braga
Mod: Marcelo Correia Ribeiro

Lançamento de livros - Biblioteca Municipal Florbela Espanca
17h00 - "Memórias das notícias de um jornal", de Frederico MartinsMendes


17,30h – Galeria Municipal: 2ª Mesa " África: os Imaginários por Descobrir "
António Cabrita, Luís Carlos Patraquim (Moçambique), Karla Suarez (Cuba) e Victor Andresco (Espanha)
Mod: Carlos Quiroga (Espanha)


Dia 20/04/08 11,00h — Salão Nobre da Câmara Municipal de Matosinhos
Ensemble Carl Orff — " Todas as manhãs do Mundo" (em torno de.Bach, S. Colombe eVermeer)


15,30h — Galeria Municipal: 3ª Mesa "Orientes e Ocidentes: a Cultura"
Cláudio Torres, Christian Garcin (França), Fernando António Almeida e José Medeiros Ferreira
Mod: Carlos Vaz Marques




Lançamento de livros - Biblioteca Municipal Florbela Espanca
17h00 - "Tormentas de Mandrake e de Tintin no Congo", de AntónioCabrita, Teorema


18,00h — Galeria Municipal: 4ª Mesa - " A Viagem Começa Aqui "
Rui Reininho, John Lantigua (EUA), Rhys Hughes (País de Gales) e Fernando Pinto do Amaral
Mod: José Carlos de Vasconcelos

22,00h — Salão Nobre Câmara Municipal de Matosinhos: " De António a Salomé", espectáculo com Vitorino (voz), João Paulo Esteves da Silva (piano) e Daniel Salomé (clarinete)

Dia 21/04/08
10,30h — Biblioteca Anexa de S. Mamede de Infesta: " Do Livro à Ilustração ", oficina com Cristina Valadas

10,30h — Escola Secundária de Matosinhos - "Da Escrita sem Fitas à Escrita das Fitas ", oficina com António Cabrita (1ª sessão)

Lançamento de livros - Biblioteca Municipal Florbela Espanca, 15h00 - "Retornados: um amor que nunca se esquece", de Júlio Magalhães . Apresentação de Manuel Serrão


15,30h — Galeria Municipal: 5ª Mesa " A Viagem do Gosto"
Francisco José Viegas, José Manuel Fajardo (Espanha), Carlos do Carmo e José Pedro Lima-Reis

Mod: Helena Vasconcelos


Lançamento de livros - Biblioteca Municipal Florbela Espanca
17h00 - "Exploradores do abismo", de Enrique Vila Matas, apresentação de Nuno Júdice
"O que resta de Deus: uma história de desencantos", de António M.Oliveira. Apresentação de João Paulo Meneses

17,30h — Galeria Municipal: 6ª Mesa " (Re)encontro-me Viajando "
Enrique Vila Matas, Nuno Júdice, José Riço Direitinho, Cristina Ali Farah (Itália)
Mod: Laurinda Alves


Dia 22/04/08. 10,30h — Escola Secundária de Matosinhos - " Da Escrita sem Fitas àEscrita das Fitas ", oficina com António Cabrita (2ª sessão)

Lançamento de livros - - Biblioteca Municipal Florbela Espanca, 15h00 -
"Algumas notas para a história da alimentação em Portugal", de José Pedro Lima-Reis,
"As agruras de Beiraldo Alma", de José Carlos Amaral de Oliveira

15,30h – Galeria Municipal: 7ª Mesa "Em Perseguição do Sol"
EBRawson (Argentina), José Carlos Amaral de Oliveira, Tessa de Loo (Holanda) e João Paulo Cuenca (Brasil)
Mod: Vitor Quelhas


17,30h 8ª Mesa – Galeria Municipal: "A Viagem ou a Inquietude da Solidão"
Mempo Giardinelli (Argentina), Adriana Lisboa (Brasil), José Luís Peixoto
Mod: M. Sobrinho Simões

quatro dias de livralhada, muito blá,blá,blá, muita má língua (ou boa, consoante), muito humor (a julgar pelos anos anteriores), algumas surpresas, boas, geralmente, reencontro com velhos amigos, enfim uma festa em que mais uma vez Matosinhos, á semelhança da Póvoa do Varzim, mostra como é que é possível a cultura, a boa disposição, a descontração tudo apimentado com excelentes escritores e (pelo que se tem visto) com forte participação do público. E o dedinho organizador de Francisco Guedes, um tipo gordo e bem disposto que gosta de ler (muito) comer (devagar), beber, conversar e juntar gente.

estes dias que passam 105


Onde está o galgo doido?

Começou a primavera que agora, como os meses, se deve escrever com letra pequena, pelo menos pelo que manda essa aberração a que chamam acordo ortográfico.
Convenhamos que isto de dizer mal do acordo não condiz com o vago retrato deste vago esquerdista envelhecido e cansado. Eu devia achar que o acordo é um progresso e que não somos donos da língua e que o Brasil é dezoito vezes maior do que nós e que a na concorrência internacional não "acordar" é perder pontos. Será que esta gente acredita mesmo nisso? Que uma grafia em constante deriva (como se tem visto desde o primeiro acordo...) nos vai pôr ao lado do espanhol, do chinês, do russo, para já não falar do inglês? E que vamos vender muitos livros para o Brasil e que vamos ser importantes porque esta língua vale quase trezentos milhões de falantes?
Eu não tenho nada contra os linguistas, excepto quando eles se tentam apropriar da língua de que não são mais do que guardas ajuramentados, nada mais. Mas já tenho tudo quando, armados em donos, eles se metem a mudar a grafia sem darem cavaco à malta. Eles e os governos que são supostos tratar doutras coisas mais imediatas e obvias.
Esta discussão sobre hífens, maiúsculas, cês que caem, parece uma mania dos “anti-acordo” mas não é exactamente o que parece. É que este pôr-se sistematicamente de cócoras diante dos nossos amigos brasileiros sobre questões de grafia esconde outra pior e mais estranha coisa. Não é a grafia que nos divide, é a semântica, são as palavras a que damos sentidos diferentes. Escreva-se renda cá e lá que o significado é diferente. Ou rapariga. E contra isso népia.
O resto, a grafia (de que nem sequer o inglês se salva: experimentem a palavra teatro dos dois lados do atlântico...) não adianta nem atrasa. A importância do português de Portugal ou do Brasil está nesta simples coisa: para um estrangeiro é mais fácil aprendê-lo via Brasil do que via Portugal. Porque nós emudecemos as vogais e tornamos a língua ainda mais arrevesada para os estudantes estrangeiros que, por isso, preferem o brasileiro.
E contra isto não há acordo que nos salve. Ou melhor: basta mudarmos o sentido de umas centenas (muitas centenas) de palavras, a pronúncia e já está. Para gáudio do senhor Malaca Casteleiro, e do historiador da última página do “público”. E para perda de uma das poucas coisas que nos restam, a identidade. Valha a verdade que serve para pouco. Viva o acordo.
Eu ia escrever sobre dois desaparecimentos e nenhum deles era a pobre grafia onde consigo dar alguns poucos erros. Ia falar do João Gama e do galgo doido e brincalhão que assombravam com a sua alegria este jardim. Fica para outra ocasião.

09 abril 2008

noticiário avulso


A esta hora (11.00) estou a ver pela BBC e pela CNN alternadamente a passagem da tocha olímpica por S Francisco. O quadro é grotesco. Uma coisa amarela sobre rodas com todo o ar de blindado precede o portador cercado dos tais polícias chineses vestidos como atletas olimpicos. Antes um batalhão de carros e de motociclistas da polícia abria caminho e esvasiava as ruas. Duas filas compactas de polícias armados virados para fora ameaçam os poucos peões que conseguem ficar na rua. Atrás dezenas de carros da polícia. E polícia a cavalo!...
Os comentadores da CNN anunciam mais uma mudança inesperada de itinerário.
Os candidatos democratas apoiam a não ida de Gordon Brown a Pequim.
Neste momento (11.09) aparecem vários chineses americanos brandindo bandeiras chinesas e vitoreando o cotrtejo. Se fosse a eles tinha cuidado, não vá a polícia pensar que são manifestantes pro-Tibet...
Se a ideia dos génios do COI é fazer propaganda contra Pequim e a favor do Tibet este passeio da tocha é de facto o mais indicado para se conseguir tal fim...
Mas se não é (como suspeito...) então estamos perante um bando de tolos desses de amarrar fortemente não vá convencerem-se que são fogões a gás e comecem por aí a explodir...

* a cerimónia final do percurso da tocha em S Francisco acaba de ser cancelada (11.28). que pena...