27 maio 2004

Em defesa do Carolina Michaelis

Crónica de J. B. Magalhães, no JN de 23-5-2004, ainda a propósito da Escola Secundária Carolina Michaelis:

A centralidade histórica da cidade do Porto não pode ser revitalizada apenas com programas de reabilitação do parque imobiliário degradado. É também necessário estimular tradicionais ritmos urbanos, mantendo os pólos estratégicos de fixação e atracção dos agregados familiares. E neste quadro, as escolas do ensino secundário são fundamentais. Há um orgulho geracional em referir que uma determinada escola foi frequentada pela mesma família e é sempre um estímulo para aquisição de habitação saber que a mesma fica junto a uma escola de referência, onde se possa colocar os filhos.
Por tudo isto e, sobretudo, porque a Escola Secundária Carolina Michaelis é uma escola de sucesso e com a lotação completa, a sua Associação de Pais, os seus antigos e actuais alunos, professores e funcionários defendem a necessidade de nela preservar o ensino secundário como forma de manter o prestígio desta instituição e a dinamização da vida urbana na zona ocidental do Porto. Não pensa, assim, a DREN que teima, obsessivamente, em encerrar o Carolina para aqui instalar o Conservatório do Porto.
Entretanto, na Praça da Batalha, que não dista muito da Casa da Música, estão vazias e a degradar-se as instalações do antigo ISCAP. Instalado ali o Conservatório, dar-se-ía um passo fundamental para resolver o problema de revitalização desta zona, criavam-se novas dinâmicas para o Teatro S. João e para o antigo Cinema Batalha.
Não se compreende a teimosia da DREN. À luz do interesse público e pedagógico é um colossal erro encerrar o Carolina. E quando o director da DREN, no seu estilo, refere o exemplo de “sucesso” da fusão das Escolas Alexandre Herculano e Rainha Santa Isabel deveria fazê-lo depois de ouvir os professores, alunos e funcionários. Ouvi-los em condições de poderem expressar livremente o que dizem nos corredores.
O encerramento das escolas de referência no centro da Cidade só beneficiará o ensino privado e não é descabido suspeitar-se que haverá quem esteja interessado nessa situação. Muitos professores pensam que não demorará muito tempo que, pela concentração de alunos, as poucas escolas públicas que restarão sejam “escolas-problema” para onde só irá quem não tiver possibilidades para ingressar no ensino privado.
Será que a C.M.P alinha num tal desvario?!...

JBM.

2 comentários:

Anónimo disse...

O ME quer poupar 6 milhões de contos com a reformulação da rede escolar. Este economicismo vai trazer prejuízos enormes para a Cidade,nomeadamente com a desertificação ainda maior das suas zonas históricas. Falar em reabilitação da cidade e fechar escolas é um disparate. As escolas tradicionais precisavam de novos cursos e não de serem fechadas. Criar um Conservatório nas instalações do Carolina é conversa fiada.Será que alguém duvida que adaptar o Carolina a uma escola de música seria um remedeio que ficava mais caro do que construir uma de raíz?!...
Quem sentir o Porto como a sua Terra deve ficar indignado. Depois dos mamarrachos, só faltava isto!

Primo de Amarante disse...

Em vez de fechar escolas, porque não se criam novos cursos. O Conservatório, como curso politécnico, necessita de ter outros cursos a montante. Porque é que o Director da DREN e a Câmara do Porto não pensam promover esses cursos no Carolina, em vez de fecharem este estabelecimento de ensino?!... Dizem que vão poupar com a remodelação da rede escolar cerca de 6 milhões de contos. Mas, quanto se desperdicará com a degradação dessa zona da Cidade, com o abandono escolar, a desmotivação dos professores que acreditaram que valia apena empenharem-se num projecto educativo, etc., etc.. etc?!... Será que tudo isto não tem preço!...
A crise de sentido de interesse público, de confiança no valor do capital humano é uma característica deste "desgoverno". Será que há dúvidas?!...