Hoje, talvez por causa de Zeca Afonso ou talvez não, tive uma enorme saudade de Coimbra, aquela saudade que só conhece quem lá viveu e, sobretudo, quem viveu intensamente a cidade encantada. Lembrei-me das coisas más e acima de tudo das coisas boas, dos irrepetíveis tempos da quase inimputabilidade, dos tempos em que todos os sonhos eram possíveis e as dificuldades não passavam de meros acidentes de percurso que tornavam a vida mais apetecível. Curiosamente, raramente me apetece voltar lá, agora, que os tempos são outros. Talvez seja medo. O medo de encontrar tudo diferente. Ou o medo de que os meus olhos estejam diferentes. E que o encanto se perca.
01 agosto 2004
Coimbra
Marcadores: carteiro (Coutinho Ribeiro)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
11 comentários:
Gostei muito do post (na linha intimista em que o carteiro é exímio).
E achei o coment. de Marinquieto muito interessante e bom ponto de partida para mais coment. (que não meus, que Coimbra para mim é quase "estrangeiro");um bom mote para se falar de Coimbra, para além do tradicional sentimentalismo com que, habitualmente, se fala da cidade e que pode bem ter sido/ser um grande responsável pelo marasmo em que dizem ter-se esta atolado durante demasiado tempo. Não vi no coment. nenhuma ironia em relação ao post ou aos sentimentos expressos pelo Carteiro, mas talvez tivesse sentido diferente se o tivesse escrito eu... sobretudo se estivesse mais fargilizada, como por vezes acontece.
Em todo o caso, tenho pena que neste blog, em que tanto se apelou a uma "abertura" e em que alguns têm procurado lançar efectivos debates (sem grande sucesso), se reaja por regra com enorme desconfiança a tudo que não esteja ainda suficientemente "identificado-catalogado".
(Coment. escrito enquanto escuto e vejo o Zeca na RTP1.)
Há lugares que não devem ser revisitados, ou pelo menos não quando as recordações demasiado vivas. Acreditas que há anos que não assisto a um cortejo da Queima? Quando fui e me deu um ataque de saudades, fugi e nunca mais voltei. Não me apetece, já não é comigo. Mas Coimbra continua a ter coisas boas. Amigos, por exemplo.
Continuando:
também se pode dar o caso de estar a ser pouco objectiva relativamente a Marinquieto, pois não escondi, desde as suas primeiras "incurssões", que me agradava ter maiss uma incursionista no debate...
na verdade Marinquieto parece querer "chegar à fala", mas em geral tem-se escudado em judiciosas citações que, à falta de enquadranmento, têm, por vezes sido entendidas como provocações (no mau sentido). Será por isso, quiçá, que aos olhos do Carteiro a misteriosa senhora aparece como alguém arrogante e sem fraquezas e só Marinquieto nos poderá esclarecer se não se tratará, ao invés, de excessiva timidez em desvendar-se a ela própria...
Uma coisa é certa: o "estilo" não deixa ninguém indiferente e parece haver bastante mais, com interesse para este blog, para além do estilo. Por isso, aqui deixo um apelo: Marinquieto, se está a ser incompreendida neste blog, não desista, mostre-nos é mais de si!
Cara Kamikaze,
Dou-lhe razão na sua apreciação sobre Coimbra, de que se fala com as saudades do tempo de estudante, como uma memória dos bons anos da juventude, e não como a cidade viva que esteve atolada de facto num marasmo aflitivo durante muito tempo. Nos últimos anos alguma coisa tem mudado, felizmente.
De alguma forma, a universidade é uma faca de dois gumes. Pesa demasiadamente na vida da cidade. Na imagem que os que de cá não são têm de Coimbra, mas também na imagem que a cidade tem de si.
Caro carteiro,
escrevi o último coment. antes de ler os seus que o precedem. Excedi-me, parece-me, em incursões para-psicológicas sobre a misteriosa Marinquito. Chega, portanto.
Quanto ao seu post e coment.- compreendo muito os sentimentos que expressa, já os vivi, ou vivo, relativamente a lugares e até pessoas.
Outra coisa é querer/desejar que tudo permanece como é na nossa memória. E não se deve confundir tamanho com marasmo. É que para além dos que passaram por Coimbra e guardam recordações, há os que lá vivem...
Ao contrário de ti, fui estudante vivendo aqui. Tenho consciência de ter perdido algo, apesar de também então se terem criado amizades imensas e duradouras. Coimbra não tem de ser uma cidade grande, de facto - mas tem de ser mais do que uma cidade de estudantes.
Coimbra tem uma capela ( transformada em museu ) da qual não me esqueço.Todos temos direito aos nossos sentimentalismos, ou chamem como quiserem. Nada disso é pecado, num ridiculo. É apenas humano. e mais: tem valor. Siga em frente, Sr. Carteiro. Na verdade gostaria de dizer que: talvez os olhos mudados criem outros encantos, não é necessariamente uma perda, mudar.
Abraços.
Não sei se o Carteiro tem mel, Néscio. Sei que, para além da amizade que a ele me liga, aprecio a sua forma de escrever e o lado muito humano que revela. No caso concreto, fala da minha cidade, o que naturalmente me interessa.
As memórias dos tempos de estudante pouco me assaltam, de um modo geral, apesar de aqui continuar a viver. Mas basta ouvir um fado de Coimbra, e sobretudo os Verdes Anos do Carlos Paredes, e regresso a esse tempo. Por isso, caro Carteiro, atrevo-me a pensar que a memória de Coimbra que conservas nunca se apagará: essa vive em ti. Podes cá vir, ver tudo diferente em teu redor, podes até nada sentir ao percorrer os mesmos lugares, mas a lembrança permanece, intacta, tua, em ti.
Já não sei manuscrever, detesto as palavras manuscritas. Teclo em hcesar mecânico ou no qwerty computacional. Todos temos um mar inquieto, nem que esse mar se chame Mondego. As mulheres precisam de pretextos para irem de férias. Quando voltam, já não se lembram do que prometeram. O L.C. vai ter de esperar uma eternidade pelos manuscritos da dita. Claro está que o Director-Executivo do Incursões precisa de ser paciente.
O comentário não foi para mim, mas porque é que as mulheres precisam de pretextos para ir de férias? E acha mesmo, caro Anónimo avesso a manuscrever, que se esquecem das promessas que fazem? Não é generalizar em excesso? Ou fui eu que nada entendi?
Cara Marinquieto, também eu ando a ficar preocupada com a qualidade da minha letra manuscrita; ainda há bocado tomei uns apontamentosque não consigo decifrar, eu que me gabo de até ser capaz de ler qualquer letra de médico (ou advogado...). Mas não deixo o computador por causa disso. Um beijinho para si, e boas férias informáticas.
Volte sempre, Marinquieto!
Enviar um comentário