A ser verdade - e nada leva a pensar o contrário - o que se lê na imprensa de hoje sobre os motivos que levaram à demissão de Adelino Salvado da direcção nacional da PJ, estamos perante um caso de enorme gravidade. Com a curiosidade de ser o segundo director da PJ consecutivo que cai por motivos idênticos - eventual violação do segredo de justiça.
Devo reiterar que não sou do PS e que não tenho especial simpatia por Ferro Rodrigues nem pelo seu círculo mais próximo. Em todas as intervenções públicas que tive a propósito da Casa Pia, assumi claramente o papel de quem não acreditava minimamente na tese da cabala e da urdidura que os socialistas pretendiam fazer passar. Não acreditava, nem acredito.
Mas não é isso que agora está em causa. O que se salienta, é que tudo indica que o responsável máximo da PJ terá usado o seu cargo para, junto de alguns jornalistas, tentar envolver o líder do maior partido da oposição num processo que não pode ser mais infamante para os seus protagonistas.
Adelino Salvado demitiu-se e tudo volta a normalidade? Seria mau que assim acontecesse. Os portugueses - e os directamente envolvidos - têm o direito de ser esclarecidos sobre tudo o que se passou. Espera-se, por isso, que o PGR cumpra os seus deveres para que este caso seja completamente esclarecido, nas suas múltiplas vertentes.
Mas há mais: este caso permite as mais diversas especulações. Permite especular - agora com mais consistência - sobre as motivações que estiveram na base da substituição dos responsáveis pela investigação do "Apito Dourado". E permite também especular sobre a lisura de comportamentos na investigação de outros casos, mediáticos ou não, que envolvem personalidades do poder político.
Vou mais longe: Adelino Salvado, agora, por certo vai regressar ao seu lugar de Desembargador da Relação de Lisboa. Continuará, no âmbito das suas funções, a deter o imenso poder de decidir sobre a liberdade ou o património das pessoas. E eu questiono, ainda partindo do pressuposto de que é verdade o que se lê: terá Adelino Salvado credibilidade para continuar a exercer a nobre missão de juiz? Não seria melhor pedir uma licença sem vencimento, à espera de uma cargo político - ministro, talvez - onde a credibilidade não é requisito essencial?
P.S.: Em Itália, houve um momento em que a República de juízes era uma esperança. Em Portugal nem essa esperança podemos ter...
11 agosto 2004
Que credibilidade?
Marcadores: carteiro (Coutinho Ribeiro)
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3 comentários:
Amigo Carteiro
Estive fora. Não vi as notícias. Mas parece que se confirma a orquestração e a sua exploração. O procurador-geral não aparece nas gravações, mas é culpado na mesma. Culpado porque é, pronto.
A lavagem, pelos media e comentadores de confiança, das acusações de pedofilia feitas por 3 jovens a Ferro Rodrigues - que só não foi pronunciado porque o jovem não apresentou queixa no prazo que a lei previa - é uma das maiores vergonhas da política portuguesa deste início de milénio.
O Watergate, a Moderna, a P-2, são conspirações amadoras ao pé do controlo do Estado português pela rede pedófila nas últimas décadas.
Não tendo havido queixa, no caso concreto o MP não tinha legitimidade para investigar as alegações contra Ferro Rodrigues (eram crimes semi-públicos).
Daí que não tenha sido possível apurar da plausibilidade das denúncias e apurar da existência de indícios suficientes para deduzir acusação.
Por outro lado, tais denúncias constam de processo em segredo de justiça.
Assim sendo - como é, de facto - deveriam os jornalistas ter avançado com as notícias, como defende???????????
"O que se salienta, é que tudo indica que o responsável máximo da PJ terá usado o seu cargo para, junto de alguns jornalistas, tentar envolver o líder do maior partido da oposição num processo que não pode ser mais infamante para os seus protagonistas."
Como?! Aonde ?! O quê ?!
Era bom que se medissem melhor as palavras e se fosse mais preciso no uso destas... Não foi o Salvado que "envolveu", ou o "tentou", o Ferro na coisa, não foi o Salvado que prestou depoiamentos que indiciariam um envolvimento de Ferro Rodrigues. Salvado fez muitas outras coisas, pouco edificantes, mas isso não fez... O diabo são os detalhes.
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