É o tema da crónica do nosso mestre João Baptista Magalhães no JN de hoje:
Mais de metade da riqueza que os portugueses produzem vai para os impostos. Por isso, seria de esperar que este esforço fosse compensado por políticas de serviço público. Mas não é isso que acontece. O Estado não só está fragmentado por interesses particulares (como bem demonstra o conceito de deslocação, importado da lógica das empresas para as secretarias de Estado), como também vai privando de bens públicos essenciais as classes sociais mais desfavorecidas. A justiça, pilar fundamental de um Estado de Direito, é, hoje, um bem caro e banalizado por uma profunda crise de credibilidade. O ensino tornou-se numa máquina desmoralizadora dos professores, de desapontamento dos pais e de insucesso dos alunos. A saúde, sujeita à lógica fria da contabilidade empresarial, perdeu humanismo e tornou-se num negócio como outro qualquer. Faltam ao país líderes que saibam galvanizar as energias cívicas necessárias a um desígnio nacional. Os sistemas partidários, detentores do monopólio da representação política, fecharam-se em lógicas de grupos de interesse. Por alguma razão, as mulheres socialistas parecem estar mais preocupadas com a cota da sua representação num futuro governo do que com as políticas da boa governação. E para ganhar os seus votos já há quem lhes dê ouvidos, esquecendo que, por analogia, também se pode promover os deficientes ou outros grupos sociais, (mais marginalizados que as mulheres) a semelhante categoria de identidade e reivindicar para tais grupos o mesmo critério de representatividade por cotas. Mas este não parece ser o caminho que leve a uma boa governação. Sempre que se procura satisfazer interesses de grupos, como é próprio do espírito aparelhista, quem sai prejudicado é o interesse comum. O PS, se quer ser a alternativa, tem de combater a degradação da vida política. A candidatura de Manuel Alegre manifesta esta preocupação. É impossível harmonizar o melhor que há nos partidos com o melhor que há na sociedade através de lógicas aparelhistas. Só a afirmação do carácter ideológico de um partido pode gerar confiança nos eleitores e isso é incompatível com as prebendas do poder exigidas pelos activistas dos aparelhos partidários.
1 comentário:
Gostei (lido no DN, 2ª f)
Trinta anos após o 25 de Abril, «há medo, hoje, no Partido Socialista. Há constrangimentos, o que é inaceitável!», denunciou Manuel Alegre no sábado à noite, em Faro. Foi isso que disse ter constatado horas antes em Beja, na campanha para a liderança do PS.
Em Faro, perante mais de centena e meia de militantes e independentes reunidos na Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve, o candidato esclareceu: «Tive uma reunião em que camaradas de várias zonas disseram, como muitos de outras partes do País, que vão votar em mim, mas têm medo de dar a cara. Como é isto possível dentro do Partido Socialista?! É pela maneira como funciona e não devia funcionar.»
Para Alegre, «se o presidente de uma comissão política concelhia é, por acaso, presidente da câmara ou vereador, em terras pequenas isso gera uma rede clientelar e as pessoas têm medo de que os filhos não vão para a câmara, ou que não dêem empregos aos afilhados, ou de qualquer coisa do género. Não quero um PS assim!». Para contrariar tal situação, Alegre defende eleições primárias por voto secreto no PS para escolher deputados ou candidatos a cargos autárquicos.
Num recado a José Sócrates, seu principal adversário na corrida a secretário-geral do PS, Manuel Alegre disse «compreender que é mais complicado» para o ex-ministro «debater comigo do que ir a monólogos com Santana Lopes», numa alusão aos encontros televisivos. Confessando-se «surpreendido» pelo facto de «nenhum outro candidato encher as salas como a nossa candidatura» e apesar de Sócrates contar com «95 por cento do apoio da máquina partidária», aposta «numa grande surpresa» se os «77 mil militantes inscritos» no PS votarem, pois «ninguém é dono da consciência de ninguém» e, «pela primeira vez, o voto é secreto».(...)
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