25 setembro 2004

Uma história de amor

JN on line, de hoje. Amante do ciclismo e amante do amor, não resisti a trazer aqui o texto de Rui Farinha sobre Santiago Pérez, neste momento em 2º lugar na Volta a Espanha em Bicicleta, ainda a tempo de bater o líder Roberto Heras.

"Memória de Vanessa nas pernas de Santi Pérez

Chovia muito naquela noite de Novembro. A estrada estava perigosa. Numa curva, Vanessa perde o controlo do carro que, por sua vez, capota. A jovem morreu aí, de imediato, na estrada entre Grado (Astúrias) e Sarón (Cantabria).
Estávamos em 2002. Já a dormir, um ciclista espanhol chamado Santiago Pérez recebe um telefonema que lhe mudaria a vida para sempre. "Santi, a tua namorada faleceu, há pouco, num acidente de viação". A suas pernas cederam, o coração abrandou perigosamente e a sua cabeça desligou-se do mundo.
Durante dois anos, o ciclista - a quem muitos chamavam de "novo Miguel Induráin"- caiu numa negra depressão. Embora a imprensa espanhola o incentivasse a ganhar motivação, nada havia a fazer por ele: infelizmente, o seu corpo tinha também ficado naquela estrada, ao lado da mulher que amava. Nessa altura, fazia a mesma pergunta a todos os psiquiatras que o acolhiam no consultório. "Porquê ela, meu Deus? Eu é que devia ter morrido", dizia, revoltado. A tragédia não lhe saia da cabeça até porque, no dia do acidente, ela tinha ido visitá-lo a Grado, a sua terra natal. Antes do trágico acontecimento, todos se entusiasmavam com aquele rapaz que subia montanhas quase sem respirar.
Em 2001, integrado na equipa portuguesa Barbot-Torrié, venceu a etapa da Torre da Volta a Portugal, à frente de Joaquim Gomes.
Três anos depois, Pérez chegou à conclusão de que estava a cometer um erro. A sua atitude, abatida e indiferente, não honrava a memória de Vanessa. E, a partir daí, tornou-se obsessivo: queria correr, correr, correr em honra dela. Em cima da bicicleta, com olhos hipnotizados e alheios à dores próprias de uma duríssima etapa de montanha, ganhou, no último sábado, a 14.ª tirada da Vuelta. Na meta, em Granada, beijou a medalha de Vanessa e chorou. "Esteja ela onde estiver, deverá estar feliz". No dia a seguir, desprezou o feito da véspera e voltou a vencer, desta vez, um crono-escalada na Serra Nevada. Embora o abraçassem, a namorada, sempre ela, percorria o seu olhar triste.
Apesar de ser o segundo classificado na Vuelta e possuir ainda legítimas esperanças de ganhar a prova, Pérez não quer falar muito do futuro. Nem sequer da hipótese de lutar pelo triunfo no Tour de 2005. Apenas fala de uma coisa: comprar flores e depositá-la na campa de Vanessa."
Rui Farinha

2 comentários:

Silvia Chueire disse...

O amor também é isso...

Anónimo disse...

Será que está tudo de férias)