Tabagismo

A notícia (Expresso/Economia, de Sábado) passado passou mais ou menos incógnita e resume-se a coisa pouca: o Governo prepara-se para aumentar brutalmente o preço do tabaco. Economistas e fiscalistas ouvidos pelo Expresso admitem - e não se chocam - que um Marlboro (custa agora € 2,35) possa vir a custar € 5. Presumo que, por um mero acaso, todos estes fiscalistas e economistas sejam não fumadores ou, em alternativa, sejam gestores de topo de empresas públicas ou privadas ou assessores de membros do Governo. Só assim se compreende que não fiquem chocados com este aumento brutal do tabaco.
Confesso: desde há muito que me sinto um criminoso por fumar. Criminoso, porque me mato e criminoso, porque eu bem vejo os fundamentalistas que me olham com olhar assassino quando tiro umas fumaças nos locais onde janto. Sinto-me, nessas vezes, completamente ostracizado. Às vezes, é um olhar tão assassino que me leva a apagar o cigarro de imediato.
Se aumentarem o preço dos cigarros para €5, eu vou continuar a fumar. Só que serei ainda mais criminoso. Obviamente, vou entrar no "mercado negro" e estarei apto para comprar cigarros de contrabando. Aliás, estou mesmo convencido que o tráfico de tabaco vai passar a ser um negócio mais rentável do que o da droga. Talvez a revolta faça de mim um traficante de tabaco. E, se muitos fumadores seguirem este caminho, talvez o Estado acabe por receber menos de impostos do que recebe agora, gorando-se, assim, o objectivo de aumentar os preços.
Posso seguir outra via: em vez de fumar, talvez me dedique a inalar umas linhas de coca. Assim, só faço mal a mim mesmo. E vingo-me do Estado que, no negócio da coca, não cobra impostos. E há mais: como drogado, sou um doente, dão-me metadona de borla; como fumador, sou um criminoso e, por isso, tenho que financiar o Estado.
Como se já não bastasse ser fumador e andar a fazer mal a mim mesmo, o Estado sente-se no direito de ganhar dinheiro à custa do meu vício.

(hei-de continuar este post)