Assim se intitula a crónica de Artur Costa no JN de hoje:
As praxes académicas converteram-se, nos dias de hoje, numa grande parte dos casos, numa forma intolerável de agressão. Tendo saído do reduto coimbrão, essas praxes, que um dos nossos maiores escritores - Eça de Queirós - considerava caducas já no século XIX, invadiram o país de lés a lés, como uma praga que tem acompanhado a disseminação do ensino superior ou assim considerado por tudo quanto é cidade e aspira a ter a sua importanciazinha local à sombra de um qualquer estabelecimento de ensino que lhe dê créditos académicos. Paradoxalmente, a generalização do ensino superior, longe de acabar com a nossa psicose do doutorismo, tem-na agravado e, correlativamente, tem espalhado pelo país inteiro a versão mais pacóvia e brutal do chamado "espírito académico", quando era suposto que tal espírito se diluísse com a democratização e mesmo a vulgarização do ensino a todos os níveis. Que é hoje ser estudante e que é hoje ser doutor, senão uma vulgaridade? Pois as praxes, que Eça considerava caducas no seu tempo, em vez de acabarem, exacerbaram-se, transformaram-se num tique nacional da "estudantada" em pleno século XXI. E com uma agravante abrutalharam-se por completo. Não lhes correspondendo actualmente nenhuma tradição a que se arreigarem, seja ela decadente ou não, as actuais praxes descambaram em práticas criminosas: violências, agressões físicas e morais, "torturas", na expressão de uma das vítimas recentes, revestindo às vezes aspectos de gravidade considerável, senão mesmo extrema. Como tal, esses actos violentos têm de ser perseguidos criminalmente. Mas o que espanta é que certos responsáveis escolares lhes queiram passar por cima uma esponja de complacência.
1 comentário:
Dr. Artur Costa, parabéns pela cónica certeira e sem papas na língua, sobre um tema de que se tem falado apenas pontualmente, quando transpira para a comunicação social alguma denúncia. Tema bem merecedor, creio, de investigação e estudo sociológico.
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