Pronto, acabou, Santana Lopes falhou como primeiro-ministro e Jorge Sampaio quer eleições antecipadas. Não fico surpreendido. O episódio Henrique Chaves, mesmo que desvalorizado pelo PR, não deixa de ter uma importância decisiva.
Sou militante do PSD e, nessa qualidade, passei vagamente pelo Congresso de Barcelos. Por entre juras de amor ao líder, pressenti - pressentimento de ex-jornalista - que o clima não era bom. O povo "laranja" não estava contente, o povo "laranja" também pressentia que as coisas não estavam bem.
Santana Lopes - sempre gostei de ouvir o homem nos congressos, mas nunca fui um "santanista" - não conseguiu impor-se como governante. A tarefa também não era fácil: o poder caíu-lhe no colo, inesperadamente, sob fogo cruzado da oposição e também dos seus adversários internos. Constituiu governo num exercício difícil de heterocomposição entre a herança barrosista e os seus amigos, provavelmente os únicos que estavam disponíveis para o efeito. Santana foi, desde o princípio, um primeiro-ministro sem aura e um primeiro-ministro ceifado pela má imprensa que, na sua generalidade, sempre achou que o PR deveria ter convocado eleições aquando da saída de Barroso.
Desde o princípio, Santana Lopes pareceu-me um advogado estagiário a contas com um grande processo.
Esperava mais de Santana. Ou talvez não. Fiquei na dúvida. Vivi na dúvida. E ainda estou na dúvida.
Vai haver eleições. Não sei se Santana Lopes será o candidato do PSD. Sei, apenas, que José Sócrates será o candidato do PS.
Tal como sugere Anaximandro, não sei se Sócrates será melhor do que Santana. Há apenas uma coisa que eu sei: Santana já ganhou mais eleições do que Sócrates. Por isso, Sócrates não pode cantar vitória antes do tempo. E há mais: Sócrates não me merece mais confiança do que Santana Lopes como primeiro-ministro. E também nada me garante que Sócrates consiga reunir à sua volta gente melhor do que os santanistas.
O panorama é, como já aqui disse muitas vezes, pouco animador. E, por isso, creio que, mais do que nunca, se justifica o meu post sobre Cavaco Silva...
P.S.: Nos últimos tempos, no PSD, notou-se uma disputa enorme entre dirigentes do partido para ver quem era mais santanista. Não me espanta que, nos próximos dias, a disputa seja entre os mesmos, mas desta feita para ver quem é menos santanista.
01 dezembro 2004
Crise
Marcadores: carteiro (Coutinho Ribeiro)
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