A palavra fez o homem, segundo a religião e a própria antropologia. E, por alguma razão, se diz que uma pessoa honrada é um homem de palavra; isto é, «não falta à verdade».
A importância da verdade nas relações intercomunicacionais é decisiva para o bom funcionamento das relações sociais. Toleramos o engano, aceita-se a verosimilhança, mas toda a gente repudia a mentira.
A moral religiosa radicaliza o conceito de verdade: não o coloca numa mera relação entre o pensamento e as palavras, mas num testemunho de vida. "Eu sou a verdade e a vida", afirma a Bíblia que o próprio Deus, acerca de si próprio, assim falou. Segundo o ponto de vista religioso, o testemunho de autenticidade de vida é o valor fundamental da verdade.
Na moral filosófica, o valor da verdade está, para o positivismo, na adequação do juízo à realidade. Se o que eu digo corresponde ao que a realidade é, então falo verdade. A filosofia da linguagem considera que a verdade resulta do melhor denominador comum entre as melhores argumentações. Temos, neste caso, a verdade-consenso. Habermas fala, a propósito, de uma comunidade de diálogo, onde o paradigma da consciência é substituído pelo paradigma da linguagem E diz que toda a argumentação se deve pautar pelas seguintes regras: 1º- amor à verdade (procurando que o conteúdo do que digo seja verdadeiro e que os outros acreditem); 2º- dever de sinceridade (só devo falar do que eu próprio acredito); 3º- dever de justeza (a minha enunciação deve harmonizar-se com o que é justo sob o ponto de vista da minha crença); 4º- o que eu digo deve ter um sentido (toda a discussão deve constituir uma partilha de pontos de vista, com a intenção sincera de respeitar a livre adesão ou rejeição de pontos de vista contrários.),5º- o princípio da não-contradição deve guiar toda a discussão.
Tanto sob o ponto de vista religioso, como sob o ponto de vista filosófico, o silêncio não é imoral. É talvez, por isso, que o povo (no sentido romântico - homens bons e de bons costumes) diz: «o silêncio é de ouro».
08 dezembro 2004
A palavra e o silêncio
Marcadores: Primo de Amarante (compadre Esteves-JBM)
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