Por JOÃO BAPTISTA MAGALHÃES, no JN de hoje:
O abandono a que Santana Lopes foi votado pelos aliados naturais do PSD, empresários e economistas, tem um significado que ultrapassa a própria queda do Governo. Bateu no fundo a política kit moldada aos jogos de simulação das conveniências de momento que tem como seu melhor representante Santana Lopes. Precisamos de um movimento de regeneração (mais que de salvadores da pátria) que reabilite os partidos, promova a credibilidade pública das instituições, dê esperança ao Futuro e crie um ambiente favorável ao desenvolvimento económico. Já não restam dúvidas que um país não se desenvolve sem a definição de objectivos, avaliação de meios e organização de projectos. Políticos populistas, que nunca fizeram outra coisa senão política, que nunca se sujeitaram à avaliação de competências e que trepam na vida apenas pelo verbo fácil, não são capazes de fazer obra. E é, por isso, que o mundo de negócios parece preferir uma esquerda com objectivos, estratégias e planos do que a deriva da instabilidade e do descrédito promovida pelo populismo. É, agora, necessário que a esquerda, particularmente o PS, não continue a frustrar expectativas. Mas, para isso, terá de se demarcar do espírito neo-conservador de um centrão, onde uma espécie de cartel de pseudo-notáveis, alternadamente, divide, entre si, autarquias, lugares de deputados, ministérios, empresas públicas, etc., promovendo a mediocridade, desprestigiando as instituições e abrindo as portas à revolta que se expressa pelo desejo de um D. Sebastião. A resposta à ilusão de um "desejado" tem de ser encontrada numa esquerda que se credibilize pelo rigor, que marque a diferença pelo sentido do bem-comum e se abra a um movimento regenerador, capaz de promover lideranças de mérito e integrar, num desígnio nacional, os sectores da sociedade civil mais generosos e mais capazes de desempenharem um papel relevante na construção de um País melhor. De contrário, não faltarão "sebastiões" que, à sua maneira, procurarão pôr cobro à irracionalidade da política kit que justifica erros com os erros do passado, que tudo psicologiza (dito na primeira pessoa e expresso em emoções) e condiciona apoios pela vitimização e por um espectáculo de ilusões.
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