18 dezembro 2004

Rio, Pinto da Costa e o resto

Rui Rio, Pinto da Costa e o PS. Tenho legitimidade para falar sobre este assunto, porque, em 2001, quando Rui Rio foi anunciado como candidato do PSD à Câmara do Porto, saltei em sua defesa, a propósito de um violento artigo que Pedro da Vinha Costa escrevera sobre ele em "O Comércio do Porto". Numa carta aberta a Pedro da Vinha Costa sublinhei as virtualidades da candidatura de Rio e centrei-me numa ideia: Para se ser um bom presidente da Câmara do Porto, não é preciso andar a gritar todos os dias "eu só quero ver Lisboa a arder", nem ir de 15 em 15 dias sentar-se ao lado de Pinto da Costa no camarote Vip da Antas.
Tal como Rui Rio, nunca vi com bons olhos uma excessiva proximidade entre a política e o futebol, proximidade essa que, quase sempre dá maus resultados. No mesmo dia em que a carta aberta foi publicada, Rui Rio telefonou-me e trocámos algumas ideias sobre o assunto.
Recordemos que, já em 2001, Pinto da Costa esteve declaradamente ao lado de Fernando Gomes contra Rui Rio. Rio ganhou contra Gomes e Pinto da Costa, no que terá sido uma das maiores surpresas das autárquicas de 2001.
Até aqui, tudo bem. Todavia, entendo, hoje, que Rio - por si e por interpostas pessoas - levou longe de mais a sua hostilidade contra Pinto da Costa. Queiramos ou não, o FC Porto é uma das maiores instituições da cidade e uma das suas imagens de marca. Eu sei, porque conheço Rio há muitos anos, que o edil não muda facilmente de opinião nem é de esquecer afrontas. Uma prova de verticalidade. Mas Rui Rio não pode ser tão inflexível enquanto presidente da Câmara do Porto. Não se lhe pede que seja amigo de Pinto da Costa, nem que vá sentar-se ao lado de Pinto da Costa no "Dragão". Mas pode-se pedir-lhe que, institucionalmente, esteja ao lado do FC Porto. Mais não seja, porque no entre o discurso e a prática de Rio tem havido algumas divergências de tomo: é que o autarca portuense, apesar de dizer o que diz de PC e da promiscuidade entre o futebol e a política, quando teve de optar entre Luís Filipe Menezes e Valentim Loureiro, optou pelo segundo... Contraditório, no mínimo.
Nos últimos dias, Rio terá ido longe de mais. Para ter razão, não hesitou em falar do "Apito Dourado" e fazer comparações entre este processo e o que "vitimou" Tappie e Gil y Gil. Foi longe de mais. E, com isto, acicatou Pinto da Costa, que, em resposta, já anunciou que Rio vai ter de contar com ele na oposição nas autárquicas de 2005 (e, provavelmente, nas legislativas de Fevereiro).
A ameaça de Pinto da Costa vale o que vale e, a avaliar pelo que valeu em 2001, não chega para fazer ganhar ou perder eleições. Só que, com este tipo de conflitos, Rui Rio torna cada vez mais frágil a sua base de apoio, o que não lhe augura nada de bom para a sua reeleição, num escrutínio que, vaticino, vai ser disputado ao milímetro.
Tal como se esperava, o PS veio de imediato a correr, a flanquear as portas a Pinto da Costa, aceitando o seu apoio contra Rio sem qualquer reserva. Mais: até já quer que PC seja candidato a deputado.
Pelo meio, há personalidades do centro-direita que surgem publicamente a estreitar o caminho de Rio. É o caso de Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto, que também já se "ofereceu" para ser candidato contra Rui Rio, seja como candidato do PS, seja como líder de um projecto independente.
A insistir neste caminho, Rio torna cada vez mais espinhosa a sua missão. E se o PSD perceber que a sua candidatura está condenada ao fracasso, não hesitará em deixá-lo caír. E, se tal acontecer, nem espantará que os dirigentes social-democratas visitem o outro lado do Rio para bater à porta de Menezes...
As reuniões no estrangeiro entre alguns protagonistas desta história, a propósito dos jogos internacionais do FC Porto, podem ter muito pouco a ver com futebol e muito com a presidência da Câmara do Porto...

7 comentários:

Manuel disse...

E o maior drama é que o maior, senão o único, inimigo do Rui Rio é ele próprio. Em circunstâncias normais o ronronar do Pinto da Costa ao PS, e a súbita disponibilidade de Rui Moreira, o qual sejamso claros não passa de um pavão, seriam factores de regojizo nas hostes laranjas. Infelizmemte, as coisas são o que são.

Kamikaze (L.P.) disse...

Parece-me uma excelente análise, a que faz o nosso carteiro. Conheço Rui Rio apenas da comunicação social :) e, pelo que fui lendo, ganhei por ele consideração, logo desde o processo de refiliação no PSD, que conduziu, por aquilo que me parteceu ser uma demonstração de carácter e firmeza face às pressões sofridas dos interesses instalados. Assim continuou a ser. Mas, também desde há algum tempo, por vezes me interroguei se essa firmeza não estaria a ser usada em situações menos adequadas, ou seja, se não roçaria já a inflexibilidade-falta de sensibilidade política. E sentia curiosidade em saber como estaria a reagir o seu próprio eleitorado. O "inquérito" que fiz não tem significaado, de tão reduzido o leque de "sondados" mas retive que o saldo não era nada positivo.
Lamentável, como diz o Manuel (se é que bem o entendi), é que, dada a actual conjuntura política, já nem o

Kamikaze (L.P.) disse...

ups! continuando e rectificando:
Lamentável, como diz o Manuel (se é que bem o entendi), é que, dada a actual conjuntura política, a recepção entusiástica do PS (ou de certo PS-Porto?) ao apoio de PC não terá, provavelmente, consequências negativas para aquele partido socrático. Pois: se já não as teve o apoio a Fátima Felgueiras, numa época em que já muitos dos "podres" estavam a descoberto e PSL ainda nem tinha entrado em cena! Os tempos não estão de feição para os que andam na política e não querem fazer concessões, para mais tratando-se de concessões que se prendem com o apoio a ídolos representativos de tantas glórias bairristas...
Terá Rui Rio outros trunfos, quais sejam, a consolidação/aumento da sua base eleitoral, por via do trabalho efectuado na CMP, para além das questões relacionadas com um amior ou menor apoio instiitucional ao FCP? Tenho perguntado por aí, mas as respostas são tão contraditórias ou inconclusivas...
Enfim, em todo o caso é óbvio que não são só os socráticos que precisam ler Anaximandro...

Mocho Atento disse...

Em política, o que devia ser não é. E como hoje não há política, nem políticos, mas sim "palhaços" e "marionetas", assistimos ao degradar do exercício de cargos públicos. Os políticos são queimados todos os dias na praça pública por uma Comunicação Social que não informa, nem forma, dada a sua total ignorância dos problemas da vida e da sociedade. Hoje apenas há espectáculo.
Rui Rio é um indivíduo que não reune condições para ser Presidente da Câmara, porque não tem capacidade de analisar os problemas, nem é capaz de estabelecer qualquer diálogo com a sociedade. È teimoso e não sabe ver para além do próprio umbigo. E até acredita que o povo votou nele !!! Todos sabem que votaram contra o Fernando Gomes e comandita !!!
A cidade do Porto está sem estratégia, navegando ao sabor do dia a dia. O objectivo parece apenas não fazer nada ... E ninguém consegue trabalhar nesta cidade. A desconfiança e os conflitos que Rui Rio provocou nos serviços camarários (já de si ineficientes e burocráticos) levaram à total paralisia.
A Cidade precisa de uma ideia renovadora, de capacidade de projectar serviços para a comunidade, de resolver o problema de circulação na cidade, de criar empregos e fomentar actividade económica, de recuperar habitaçao no Centro Histórico, de melhorar a segurança, de implementar o sistema educativo, desportivo e cultural. Nada disto é possível com Rui Rio. Qualquer outra solução será melhor.
E o futebal apenas é um pretexto para desviar as atenções dos problemas. O Futebol Club do Porto é uma instituição desportiva que prestigia a cidade. è uma mais-valia que deve ser aproveitada e utilizada em favor da comunidade. O Plano de Pormenor das Antas não foi feito para o FCP. Ele era necessário para renovar aquela área da cidade. E quem fala contra não sabe do que fala. Eu nascio naquela zona e entendo a renovação urbana que o Plano permite. E não quero saber se houve alguma irregularidade formal. Quero é que o projecto seja executado. Como muitos outros que a miopia e o autismo de Rui Rio impedem!!! Enfim, oxalá este sofrimento acabe depressa. Vamos acordar deste pesadelo.

Mocho Atento disse...
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Primo de Amarante disse...

Eu sou dos que acham que os políticos de hoje são muito diferentes dos políticos do século passado. Enquanto que

Primo de Amarante disse...

Não sei o que é que aconteceu, pois o "aparelho" deu como terminado o meu comentário, quando ainda escrevia. Dizia eu que os políticos de hoje são muito diferentes dos do séc. passado. Estes eram cultos e tinham sentido de Estado, os do nosso tempo, são pacóbios.Por isso, não acredito na dignifiação da acção política sem as reformas que promovam a melhoria da qualidade dos políticos. Vejo o Sócrates no Porto acompanhado por aqueles emplastros (Gomes,Lage,Lelo, Assis, etc) e desconfio que Rui Rio vai voltar a ganhar as eleições. O que se diz dele está muito falaciado. Ruo Rio não fez comparações entre o processo de Pinto da Costa e o que "vitimou" Tappie e Gil y Gil. Citou estas personalidades num contexto das consequências da promiscuidade entre a política e o futebol e não para dizer que o caso Pinto da Costa era semelhante ao de Tappie e Gil y Gil. Basta ouvir as declaracões que fez. E eu concordo com esse ponto de vista. A política nada tem a ver com as emoções futebolisticas. Pinto da Costa tem o seu mérito como dirigente do futebol, mas não pode querer, como acontecia anteriormente, que o Presidente da Câmara seja uma espécie de seu "sevidor", sempre às ordens. Rui Rio ao ter colocado ponto final nesta situação tem a minha admiração. Até pela coragem que isso significou. Naturalmente, para branquear a promiscuidade entre o futebol e a política nada melhor do que puxar Rui Rio para o lado da paranóia.