Pelo nosso Mestre João Batista Magalhães, no Jornal de Notícias de hoje:
O que interessa aos eleitores não é saber se Paulo Portas ou Santana Lopes fazem tudo por Portugal, ou se Sócrates aceita ou não os debates que lhe propõem. O que interessa à maioria dos eleitores é conhecer as propostas que cada partido apresenta para tornar a justiça eficaz, dignificar a Escola Pública e contrariar o empobrecimento da classe média, o desemprego e a exclusão social. Todos querem reformas, mas é preciso avaliar o modelo que as orientará. Servirão para minorar o sofrimento dos que mais sofrem ou para tornar mais "felizes" os que já o são?!...
Foi publicado um relatório sobre a "Caracterização das Funções do Estado". Conclui-se que 65,8% do trabalho da administração pública destina-se a ela própria e 20,6% reverte para os cidadãos. Fica, em quem lê estes números, a sensação de que os funcionários públicos constituem uma legião de parasitas que vive dos impostos cobrados aos outros, os cidadãos. Esquece-se que tais funcionários também são cidadãos contribuintes (e sem fugas!) e utentes dos serviços que o Estado presta. A campanha contra o funcionário público tornou-se indecorosa. Não visa os "boys" que empanturram as autarquias e os ministérios com contratos escandalosos. Apenas atinge os profissionais que fazem carreira ao serviço do Estado. É a lógica neo-liberal que impera nas empresas a querer orientar as reformas da Função Pública. Este modelo reformista nada tem de imaginativo resume-se ao Estado "descartar-se" de todos aqueles e de tudo aquilo que não dão lucro. Eliminam-se serviços e privatiza-se o Ensino, a Saúde, etc. A classe média, que se desenvolveu com a expansão dos serviços públicos, sofre, com este modelo reformista, um profundo revés. Os excluídos já não são só os ciganos ou os negros, mas os próprios trabalhadores que não são rentáveis. O Estado deixa de ter um papel social e a demência que considera todos os que não são rentáveis como "vidas sem valor" é autofágica: acabará por tornar o Estado desnecessário, a política inútil e a democracia negativa.
Perante esta tendência, só há uma solução unir os descartáveis em torno de quem defenda o papel social do Estado. Será que isso vai acontecer ou o espectáculo das ilusões falará mais alto?!..
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