10 janeiro 2005

Eutanásia

Depois de ter ficado tetraplégico aos 29 anos de idade, Ramón Sampedro tornou-se no primeiro espanhol a recorrer aos tribunais para reclamar o direito a uma morte digna. Volvidos cinco anos de pleitos infrutíferos, Sampedro morreu no dia 12 de Janeiro de 1998 após ingestão de cianeto. Antes, porém, no dia 28 de Dezembro de 1997, escreveu com a boca 15 pedaços de papel a denunciar a apatia da sociedade ante a eutanásia.
A pessoa mais próxima de Sampedro, Ramona Maneiro, foi "acusada" de colaborar na sua morte - Ramón não pôde tomar o veneno sem ajuda de alguém. A investigação judicial para descobrir quem colaborou no suicídio, foi arquivada dois anos depois, não sem que 13 000 pessoas se tenham apresentado a autoinculpar-se.
Numa entrevista hoje publicada no El País, Ramona Maneiro admite, pela primeira vez, que foi ela quem deu o veneno ao tetraplégico Ramón Sampredro.
Leia a entrevista aqui.

3 comentários:

jcp (José Carlos Pereira) disse...

O drama de Ramón Sampedro sempre me angustiou e deixou dividido. Por um lado, a incapacidade de determinar a sua vida e a total dependência de terceiros faziam germinar em nós uma forte solidariedade com este desafortunado galego, sentimento que também terá impulsionado aqueles que o “ajudaram” no momento final. Por outro lado, a renúncia à vida – um valor inalienável – de alguém que, embora limitado fisicamente, está na plena posse das suas capacidades intelectuais, deixa-nos perplexos e leva a que nos interroguemos sobre esse “direito à morte”. Compreendo e aceito a eutanásia em situações de doença terminal, de grande sofrimento e dor, mas tenho dificuldade em aceitar que uma pessoa, inconformada com as circunstâncias da sua vida, possa decidir-se unilateralmente pela morte. Terá havido aqui uma demissão da comunidade que envolvia Ramón Sampedro (familiares, amigos, colegas, etc.)?

Primo de Amarante disse...

Nos "Contos da Montanha", Miguel Torga faz aparecer este debate com a história de uma espécie de anjo da morte que acaba por ser assassinado pelo moribundo que resistiu à "morte acompanhada". Lembram-se?!...

Primo de Amarante disse...

Do que ninguém fala é da eutanásia social: quem é pobre, ficou desempregado ou não conseguiu emprego, não tem direito a nada e se tornou para o sistema numa espécie de "lixo social" tem que morrer o mais cedo possível.