03 janeiro 2005

ORIGENS ou RAÍZES?

“Outros que não eu teriam falado de “raízes” … Não emprego esse vocabulário. Não gosto da palavra “raízes” e da imagem ainda menos. As raízes enfiam-se na terra, contorcem-se na lama, crescem nas trevas; mantêm a árvore cativa desde o seu nascimento e alimentam-na graças a uma chantagem: “Se te libertas, morres!”.
As árvores têm de se resignar, precisam das suas raízes; os homens não. Respiramos a luz, cobiçamos o céu e quando nos metemos na terra é para apodrecer. A seiva do solo natal não nos sobe pelos pés em direcção à cabeça, os pés só nos servem para andar. Para nós só as estradas contam. São elas que nos guiam – da pobreza à riqueza ou a outra pobreza, da servidão à liberdade ou à morte violenta. Elas fazem-nos promessas, levam-nos, empurram-nos e depois abandonam-nos. E então morremos, tal como nascemos, à beira de uma estrada que não escolhemos”.
Assim começa o mais recente livro de Amin Maalouf publicado em Portugal – ORIGENS.
Uma viagem pela história da sua família, que é simultaneamente uma visita ao Líbano, ao império otomano no Oriente e ao seu desmembramento após a 1ª Guerra Mundial, mas também a Cuba e aos Estados Unidos – “Nós, as almas nómadas, temos o culto dos vestígios e da peregrinação. Não construímos nada de durável, mas deixamos traços. E alguns ruídos que vão durando” (pag. 235).
Uma ilustração de que “o mais interessante no percurso de uma pessoa é a estrada, é o caminho” e de que “a identidade faz-se por acumulação, não por exclusão” (entrevista à “Actual”, Expresso de 20/10/04).

1 comentário:

Primo de Amarante disse...

Mas "terra" também significa mãe. Talvez, por isso, se fale em "terra natal". Devemos a nossa existência e sobrevivência á TERRA. E raiz também significa o germe, princípio, vínculo. E sem vínculos não temos história, somos desenraizados. Por tudo isto,não gostaria que "cortassem a raiz ao pensamento".