26 fevereiro 2005

é noite


é noite de pequenas ondas que marulham
iluminadas pela lua cheia
que escorre pelo mar como um afago;
de silêncio amplo cobre-se a areia.

só os meus olhos mudos observam o mar
na noite tátil dessa tua ausência.

talvez mesmo eu me ausente
quando assim líquida me calo
o corpo abraçado por espantos,
a alma um fio que mal se pressente.

ah, se te pudesse tocar
a pele a voz.
se me tocasses.


silvia chueire

3 comentários:

Primo de Amarante disse...

Lindo poema, cheio de imagens que provocam admirabilidade e tocam a nossa sensibilidade. Aliás, vem confirmar a tese que noutro comentário defendi: o poeta convive com os deuses e, por isso, está na vida de forma superior. Este superior nada tem a ver com o elitismo, mas com a a qualidade estética do saber viver.

Silvia Chueire disse...

Obrigada, compadre, pelas suas palavras.
Esta que escreveu o poema, pretende, terreníssima, um dia saber viver. Vai aprendendo o possível enquanto isso. : )

Grande abraço,
Silvia

Primo de Amarante disse...

Reparo que "saber viver" é um conceito equívoco. Não o uso no sentido burguês do termo, mas naquilo que os filósofos designavam por sageza; isto é, um saber que se harmoniza com a autenticidade de vida. E essa autenticidade não significa apenas coerência,nem uma espécie de correspondência (fotocopiada)entre o pensamento e a acção. Mas, dada a condição humana de insatisfação e intranquilidade, viver de harmonia com a tendência para ir (ser) mais longe: viver de harmonia com o sonho, a utopia, o ideal. Coisa dificil, mas que constitui a procura poética.