26 fevereiro 2005

O caso do apartamento

"É um verdadeiro ultimato que o chefe do Governo francês, Jean-Pierre Raffarin, lançou ontem, ao fim do dia, ao seu ministro da Economia: Hervé Gaymard tem até ao fim da semana para explicar claramente o "caso do apartamento" - um daqueles escândalos que só existem em França, mas que ameaça o futuro deste político de 42 anos e começa a abalar a autoridade do Executivo.
No entanto, nenhum acto ilegal foi cometido.
(...) Percebendo o potencial mortífero deste caso, Raffarin agiu rapidamente. Na primeira fase, e em menos de 12 horas, Gaymard teve de anunciar que mudava de casa ainda naquela semana e que iria reembolsar pessoalmente as despesas das obras. Por seu lado, o primeiro-ministro decretou regras muito claras quanto aos apartamentos alugados por ministros: o Estado paga só 80 metros quadrados por cada um, e mais 20 metros quadrados por criança a cargo. Se quiserem uma superfície maior, pagam a diferença do seu bolso."

A ler na íntegra no Público .

"um daqueles escândalos que só existem em França" , diz Ana Navarro Pedro, articulista do Público.
Esta observação intriga-me: será que a articulista presume que só em França há políticos pouco escrupulosos? Ou com tantos filhos? Ou que só em França "o caso" assumiria as consequências descritas? E porquê? Por não ser de molde a desencadear críticas da opinião pública dado ter sido tudo legal ? Ou pela reacção do primeiro-ministro, face a tal legalidade?

Bem, pelo menos em Portugal, não estamos de facto habituados a que uma situação tida por legal, ainda que iníqua, seja objecto de tais reacções institucionais...

2 comentários:

M.C.R. disse...

Tenho seguido este caso no Le Monde e na TV5. Não li o texto do Público por isso mesmo. O escândalo referido pela jornalista prender-se-á porventura com os seguintes factos :
1) O Ministro H.G. foi a pessoa escolhida por Chirac para suceder ao delfim e seu rival Sarkozy.
2) Entrou a matar np monistério da economia com um discurso sobre a moralidade e a necessidade de fazer sacrifícios.
3) Ao descobrir-se que solicitara para si uma casa
com 6oo m2, à custa dos pagantes franceses a coisa ficou feia.
4) Não contente com esta burrice veio defender-se dizendo que era pobre e filho de um sapateiro e que não tinha casa própria em parte alguma e muito menos em Paris.
5) Veio a saber-se que tinha um apartamento no boulevard de S Michel e, pior, que o alugava ( ele entretanto já dissera que o tinha emprestado gratuitamente a um amigo).
6) Soube-se depois que tinha mais umas casitas aqui e ali.
Foi devido a esta serie santanesca de erros e aldrabices que teve de ser posto na rua.
Já agora dois pontos a reter: esta crise durou apenas uma semana. O ministro foi para a rua sem depois vir recriminar os jornais e a televisão, dizendo tão só que cometera um erro. Ninguém desde Chirac a Raffarin veio defendê-lo a outrance.
É isto que torna, malgré tout, a França um país diferente do nosso. Ou não ?
m.c.r.

Kamikaze (L.P.) disse...

"esta crise durou apenas uma semana. O ministro foi para a rua sem depois vir recriminar os jornais e a televisão, dizendo tão só que cometera um erro. Ninguém desde Chirac a Raffarin veio defendê-lo a outrance.
É isto que torna, malgré tout, a França um país diferente do nosso. Ou não ?"

Pois sim, é exactamente isso que pretendi dizer no meu post(pensava que tinha sido clara).
Mas continuo intrigada perante a afirmação da jornalista: "um daqueles escândalos que só existem em França" (sic)!