07 fevereiro 2005

Tralhas

António Guterres foi a estrela do início da campanha eleitoral do PS, em Castelo Branco. Ou os portugueses têm memória curta, ou, então, não percebo o que anda a fazer Guerres na campanha socialista. Um lugar comum: Guterres fugiu de continuar a ser primeiro-ministro. Desistiu. Abdicou. Derivou. A pretexto de um mau resultado nas autárquicas de 2001, explicou que o país estava no pântano e que não queria continuar. Bem persistiu Sampaio para que continuasse. Não resultou...
Outro lugar comum: Durão Barroso desistiu de ser primeiro-ministro. E entregou o poder a Santana Lopes. Mas, aqui, leio algumas diferenças: Barroso - mesmo que eu não concorde com o que fez - tem o pretexto de ter sido convidado para presidente da Comissão Europeia. Mal ou bem, é um cargo que prestigia o país. Saiba ele prestigiar o cargo...
Com Guterres foi diferente. O homem saíu porque não estava para nos aturar. Nem a nós, nem à "tralha" em que se apoiou para chegar ao poder e para exercer o poder. Estava no seu direito. Qualquer um de nós tem o direito de abdicar.
O que é estranho, é que Guterres consiga ser ainda uma estrela. E mais estranho é que continue a ser levado ao "colo" - não estou a falar de outros colos... - como candidato presidencial.
No PSD há também coisas estranhas. E também em Castelo Branco. O que andam por lá a fazer pessoas como Alberto João Jardim e Mário Montalvão Machado? E Eurico de Melo? Caramba! Santana Lopes tem mesmo necessidade de ir ao fundo do PSD profundo para ter um "colo"...

6 comentários:

Mocho Atento disse...

António Guterres não fugiu ! Teve dignidade, valor que não conta para os opinion makers. Memória curta é esquecer os ataques ferozes de que António Guterres foi alvo, que tornaram impossivel a manutenção no Governo, designadmente porque ninguém com credibilidade aceitava ser Ministro das Finanças. Aliás, parece que os sucessores fizeram pior do que António Guterres e que os rácios actuais da divida pública e deficit são bem piores do que no tempo do último Governo socialista. Amtónio Guterres teve a coragem de deixar o poder para que o povo escolhesse e respeitou essa escolha. Essa atitude incomoda muita gente !!!

Kamikaze (L.P.) disse...

Apoiado, mocho atento!

jcp (José Carlos Pereira) disse...

O papel de Guterres nos seis anos de governação ainda não foi devidamente avaliado. Aliás, os portugueses deram uma votação ao PS de Ferro Rofrigues em 2002 que não envergonha Guterres. Cometeu muitos erros, é certo, adiou decisões, escolheu mal algumas pessoas, mas teve uma intervenção social de enorme repercussão no país. Não tem nada que se esconder dos portugueses e, obviamente, deve ajudar Sócrates nas eleições. Aquilo que Cavaco não fez com Fernando Nogueira em 1995. Já agora, Cavaco também não se foi embora?

Mocho Atento disse...

Há certos mitos que são intocáveis.

Mocho Atento disse...

Cavaco Silva é um deles. Cavaco tinha virtudes e defeitos. Fez coisas boas e algumas nem por isso...
Não vejo nenhuma diferença entre Cavaco e Guterres, que permita que o primeiro seja santo e o segundo nem por isso ...

Kamikaze (L.P.) disse...

Do artigo de opinião assinado por Francisco José Viegas no JN de hoje e intitulado Resignação:
(...)
"Guterres descobriu o pântano tarde de mais, quando tinha já sido absorvido e fazia parte dele. Pessoalmente, estou convencido de que os anos de Guterres foram, em boa parte, anos perdidos. Houve um sinal político dessa perdição um célebre comício em Esposende, no final do Verão, onde se esperava que o então primeiro-ministro assumisse o seu governo: o pântano estava ali mesmo (nas nomeações partidárias, na crise do queijo Limiano, na Fundação para a Segurança Rodoviária - lembram-se?). O pântano era mais visível, estava ali. Nessa altura, Guterres preferiu contemporizar. Não se pode contemporizar com o pântano. Infelizmente, a nossa memória tem espaços vazios. Isso nota-se bastante em campanha eleitoral." (...)
ainda assim termina:
" Em determinadas circunstâncias históricas, não há nada mais prático do que a teoria. Não se vislumbra nenhuma em Santana Lopes. Apenas imediatismos e habilidades. O seu staff vai desenterrar artigos de jornal para descortinar uma incoerência de Sócrates ou um desvario de Sampaio. O problema é que o eleitorado, que não é parvo, até essas incoerências prefere.
Não. Ele não tem jeito e não tem emenda. E, infelizmente, só muito depois de Fevereiro a Direita poderá reorganizar-se e pagar pelas asneiras de dois dos seus líderes, Santana e Barroso.
Até lá, teremos de confiar em que José Sócrates tenha as condições necessárias para exercer o cargo com a dignidade que todos nós merecemos. Isto anda uma miséria. Resignemo-nos."