03 março 2005

A eleição do Presidente do STJ (II)

No post com este título publicado no Cum Grano Salis por ALM, é tal a oportunidade e riqueza das reflexões efectuadas e sugeridas - para mais com notável ponderação mas, simultâneamente, fina ironia - que não resisto a divulgá-lo na íntegra aqui no Incursões. Com a devida vénia...

«Mesmo sobre os factos – a “quente” há sempre o risco de precipitação (bem era precisa mas da outra) – não resisto a mais um breve comentário sobre as eleições no Supremo Tribunal de Justiça.
Dois pontos positivos: o colégio apresentou-se em peso a votar; e desta vez já houve um começo de discussão pública sobre as candidaturas. É certo que se falou das pessoas e não dos programas, mas pode ser que na próxima já se discutam as ideias.

No entanto, são cada vez mais frequentes os apelos à mudança do sistema.
Como é possível que um magistrado eleito por 37, num colégio de 75 Colegas, detenha a legitimidade de 4.ª figura do Estado? Como se entende que vá agora presidir ao Conselho Superior da Magistratura, onde é Vice-Presidente alguém que foi eleito por várias centenas de magistrados num colégio de cerca de 1800 juízes?

As observações sobre a validade das candidaturas, que antes se fizeram, sempre subjectivas como é óbvio, estão teoricamente ultrapassadas pelo funcionamento da escolha democrática, ainda que no uso de uma má lei eleitoral.
Sempre defendi, como creio ser a opinião de muitos, que o Presidente do STJ tem de ser uma figura interveniente e respeitada nas suas posições. Por isso duvido da eficácia do “Presidente discreto”, título aposto a um artigo do Prof. Germano Marques da Silva e que aliás suponho ser contraditório com o texto que encabeça. Se discreto significa não se pôr em bicos de pés para ser ouvido, não tornar triviais as suas intervenções, não arranjar quezílias inúteis, evitar polémicas desnecessárias – aí a minha adesão. Mas se discreto quer dizer silêncio de chumbo, só falar depois de tudo ser dito, “estar” anos sem que o público dê por ele, passar ao lado das grandes questões da justiça para se preocupar prioritariamente com a cor das passadeiras do Supremo e a colocação dos quadros ou com o protocolo do cerimonial da abertura do Ano Judicial, arrenego de tal discrição.
O grande risco é que se encha a cadeira mas o cargo fique vazio.

Também para o Presidente do Supremo será de bom-tom que goze de um período de graça.
Fico, porém, receoso de que assim não vá suceder, depois das duas arremetidas já feitas, uma sobre os advogados, antes da eleição, a outra sobre os juízes, logo a seguir à eleição.
Se a contenção verbal andar por este padrão, aconselha-se (uma petulância sendo o visado um conselheiro) o regresso rápido ao escrito, e aqui “discreto”.
»

ALM

2 comentários:

josé disse...

Depois das arremetidas contra os advogados e juizes, sem grano salis, fico à espera da próxima e que suspeito onde assestará...

Mas fico à espera de uma grande entrevista onde o novel presidente fale abertamente das suas concepções sobre o cargo que ocupa; sobre a ideia de Justiça que certamente terá; sobre o relacionamento entre o poder judicial e os demais do Estado; sobre o CSM e a sua composição; sobre o acesso ao STJ e a escolha de pares; sobre a formação de magistrados; sobre a organização da magistratura e o papel do SIndicato; sobre a técnica jurídica de decidir e escrever sentenças e acórdãos que todos percebam e sejam coerentes na lógica jurisprudencial que os antecede; sobre a produtividade e os problemas que a condicionam; sobre a organização dos tribunais e modo de funcionamento; sobre o fuincionamento interno do CSM na apreciação e decisão de procedimentos disciplinares, etc. etc.

Serão pregos a mais para essa Cruz?!

josé disse...

À laia de coroa de espinhos, fica mais esta que repesquei de um comentário anónimo, no sítio que me acolhe como escriba:

"Santos Bernardino festeja com o provável futuro governador civil de Leiria (homem do Partido Socialista, Medeiros), na sede do PS, e na noite das eleições, envergando um cachecol com o logotipo do PS e as letras "PS". Trata-se indiscutívelmente de uma manifestação poítica/oartidária pública. Não estamos perante uma sessão de esclarecimento ou um comício onde o cidadão compareça para ser esclarecido.Não. S. Bernardino participa activamente e devidamente ataviado, como actor, em acção pública /partidária do PS.
Confirme-se esta situação em fotografia publicada no Jornal de Leiria de edição seguinte às eleições de 20/2.
Estaríamos no melhor dos mundos se o nosso "Cândido" não fosse o VICE PRESIDENTE DO CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA - ÓRGÃO SUPERIOR DE GESTÃO DOS JUÍZES.
O seu estatuto veda-lhe essas actividades e a sua conduta viola a proibição estatutária. Ou não será? Ou o que parece não é? Ou alguém já se anda a pôr a jeito para servir e se servir do novo poder que aÍ vem?
Vai o CSM agir? Como? Disciplinarmente ou por qualquer outro tipo de condecoração. Ou por lá cada uma usa o cahecol adequado? "

Se isto é verdade - e poderá provar-se pela fotografia publicada no jornal se ela retratar o que está escrito- a vergonha anda mesmo pelas ruas da amargura, neste caso nos corredores do CSM.