07 maio 2005

Frida

Já antes de ver o filme Frida, a pintura de Frida Kahlo (e o que por alto sabia da sua vida) exerciam sobre mim um forte fascínio.
Tive, há pouco, a oportunidade de ver algumas das suas obras e obras de outros importantes pintores que se cruzaram de forma determinante na sua vida. Falo sobretudo de Diego Rivera e Siqueiros (*). À época muito mais conhecidos do que Kahlo, boa parte das suas obras, prisioneiras de concepções sociais e políticas, não tiveram para mim o impacto das de Frida, onde se reflecte a força de carácter com que enfrentou o sofrimento de toda uma vida sem que, ainda assim, faltem testemunhos da sua enorme sensibilidade. Sinto-as intemporais, para além do seu contexto histórico e artístico.

Image hosted by Photobucket.comO quadro cuja fotografia está abaixo - La Columna Rota - está no Museo Dolores Olmedo , em Xochimilco, zona adjacente à cidade do México e que vale a pena visitar também para usufruir de um passeio pelos inesperados canais de uma vasta zona de protecção ecológica à beira da grande cidade . Olmedo, que fazia parte do grupo de intelectuais e artistas que rodeava Kahlo e o seu marido D. Rivera, foi amante deste. E neste museu podem ver-se muitas obras de Diego.
Curiosamente, no Museu Frida Kahlo são poucas as obras expostas de Diego Rivera (ainda que de grande beleza, especialmente os retratos).

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Quase imobilizada por longos períodos, Frida pintava deitada na cama do seu quarto da Casa Azul (hoje museu Frida Kahlo), situada no encantador, animado e simultaneamente tradicional bairro de Coyoacan, na zona sul da Cidade do México, onde passara a infância e depois viveu com Diego Rivera. Pintava com a ajuda de uma parafernália de engenhos a ela acoplados e do grande espelho sob o dossel.(**) Nesta casa receberia, em refúgio, Trostsky, que aí acabaria por ser assassinado.

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A poucos quarteirões de distância, a modestíssima casa (hoje Museu Trostky) na qual, no inicio do seu exílio mexicano, Trostky viveu com a mulher e o neto e onde o tempo parece ter-se imobilizado naquele longínquo momento em que Siqueiros e os seus apaniguados disparavam as balas a que apenas escapou pelo instinto que o fez atirar-se ao chão, antes de se cravarem na cama onde dormia. Outras ficaram nas paredes. Ainda estão lá. Como está, num anexo do outro lado do jardim, uma interessantíssima exposição documental e fotográfica sobre a vida de Trostsky no exílio mexicano e sobre os seus antecedentes e contexto histórico-político.

Também perto de Coyoacan, no tradicional e muito exclusivo bairro de San Angel (***), dois prédios modernistas, de linhas semelhantes, partilham o mesmo terreno e, próximos, unem-se pelo passadiço da varanda, enquanto uma cerca de esguios cactos parece protegê-los de indesejadas investidas do mundo exterior. Foram os ateliers, respectivamente, de Diego Rivera e Frida Kahlo, onde algumas (poucas) das suas obras e peças de colecção podem também ser vistas.

(*) No centro histórico da cidade do México - Museu Nacional de Belas Artes (também com excelente murais de Orozco) e Palácio Nacional (no Museu Diego Rivera, já nos arredores da Cidade do México, pode ver-se, sobretudo, um grande acervo de peças de arte índia e africana colecionadas pelo muralista).
(**) Proibido fotografar.
(***) A não perder a oportunidade de, logo ali ao lado, tomar ao menos una copa no encantador pátio da antiga hacienda (agora restaurante ) San Angel Inn.

7 comentários:

Silvia Chueire disse...

Admiro as obras de Frida Kahlo. Também assisti ao filme. Suponho que ver as obras dela com calma e mais de perto, conhecer sua terra , coloca uma perspectiva um pouco mais nítida desta mulher notável. Do seu sofrimento, sua angústia , sua criatividade, sua vida.

Obrigada por trazê-la.

Abraços,

Silvia

Primo de Amarante disse...

Impressionante! Um abraço de reconhecimento pelo que me fez conhecer e pelo que me fez lembrar de outras leituras. Não vou perder o filme

Kamikaze (L.P.) disse...

Muito obrigada pelas suas palavras, compadre. São um agradável estímulo para quem tem sempre enorme pudor em deixar, aqui no Incursões, registo das suas pessoalíssimas "andanças".

Obrigada também, Sílvia, pelo que escreveu aqui e no post anterior.

Kamikaze (L.P.) disse...

Coloquei hoje no post um novo link, muito interessante, sobre a casa e o propriamente dito Museu Trotsy.

As fotografias, à excepção da última (ateliers de Frida e Diego) são minhas. Também tirei fotografias dos ateliers, mas com máquina não digital e ainda não as mandei passar a cd. Se, quando o fizer, resultar alguma "publicável", farei a substituição.

Primo de Amarante disse...

O Trotsky sempre me fascinou. Quando usava uns óculos redondos chamavam-meTrotsky. Talvez pelo facto daquele que veio a ser meu cunhado ser tokskista, resisti a assumir essa designação, mas isso não me valeu de nada, uma vez que sempre repudiei o estalinismo.

M.C.R. disse...

A Frida Kahlo, por defeito meu - seguramente - diz-me pouco. Ao contrário de Siqueiros, Orozco e restantes.
Sobre o tema Trotsky no México não resisto a propôr dois livros: "A 2ª morte de Ramon Mercader" de Jorge Semprum e "A quatro mãos" de Paco Inácio Taibo II ( a tradução é péssima mas se o não conseguirem ler em espanhol não o percam). Este último, então é uma surpresa extraordinária porque o Paco é quase um desconhecido em Portugal.
Nesta altura do campeonato convém, porém dizer que a apresentação da nossa Kamikaze é excelente se me permite esta incursão no seu pudor que não, e com que pena, nas suas andanças.

Kamikaze (L.P.) disse...

Para o mcr um sorriso. Aliás, vários... :)

Expectante, aguardo(amos) as suas mezinhas, com ou sem sabor veneziano, para felicidade de damas e cavalheiros!