O líder histórico do Partido Comunista Português, Álvaro Cunhal, faleceu esta madrugada.
Álvaro Cunhal nasceu em Coimbra no dia 10 de Novembro de 1913. Abraçou o Comunismo aos 17 anos, quando entrou para a Faculdade de Direito de Lisboa, em 1931. Pouco tempo depois, em 1935 entrava na cladestinidade, sendo obrigado a viver em várias casas secretas em Portugal. Um ano depois, integra o Comité Central do PCP.
Ao longo dos anos de fuga, Cunhal foi preso várias vezes. O período mais longo aconteceu entre 1949 e 1960. Durante este período, ficou incomunicável durante 14 meses, e passou oito em total isolamento. O cárcere termina com a famosa fuga do forte de Peniche.
Foi eleito secretário-geral do Partido Comunista Português em 1961, e um ano depois vai para o exílio, primeiro em Moscovo e depois em Paris. O regresso só aconteceria oito anos depois, nos dias que se seguiram à Revolução. Chegou a Lisboa no dia 30 de Abril de 1974.
Em 12 de Novembro de 1992, com, 89 anos, anunciou que deixava a liderança do comité central. Liberto das funções como dirigente político, Cunhal assume-se como artista plástico e revela ter escrito três romances – «Até Amanhã Camaradas», «Cinco dias, Cinco Noites» e «A Estrela de Seis Pontas» - sob o pseudónimo de Manuel Tiago.
Vão desaparecendo os que de certa forma foram as nossas referências na luta por um mundo melhor.
13 junho 2005
Álvaro Cunhal 1913 - 2005
Marcadores: Primo de Amarante (compadre Esteves-JBM)
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5 comentários:
Compadre:
Este texto é um obituário. Simples e jornalisticamente correcto. Mas, a si, pedia-lhe outra coisa: um depoimento sobre o homem no seu tempo, pessoal e intransmissível.
Será pedir muito?
Pela minha parte, antes de arranjar tempo para tentar escrever mais alguma coisa e ainda com a distância ideológica que é enorme, no espaço e no tempo, deixo como homenagem ao idealismo e ao romantismo de uma ideia, um poema de Jean Ferrat que ouvido com a música é um programa.
É de 1969 e chama-se
Camarade
C'est un joli nom Camarade
C'est un joli nom tu sais
Qui marie cerise et grenade
Aux cent fleurs du mois de mai
Pendant des années Camarade
Pendant des années tu sais
Avec ton seul nom comme aubade
Les lèvres s'épanouissaient
Camarade Camarade
C'est un nom terrible Camarade
C'est un nom terrible à dire
Quand, le temps d'une mascarade
Il ne fait plus que frémir
Que venez-vous faire Camarade
Que venez-vous faire ici
Ce fut à cinq heures dans Prague
Que le mois d'août s'obscurcit
Camarade Camarade
C'est un joli nom Camarade
C'est un joli nom tu sais
Dans mon cœur battant la chamade
Pour qu'il revive à jamais
Se marient cerise et grenade
Aux cent fleurs du mois de mai
Não sendo comunista que nunca fui, ao ler isto até sinto a nostalgia do nunca!
josé
Caro amigo: quando morre um pai (neste caso, uma Grande Referência)tudo o que se possa dizer deixa sempre o sentimento de nada ter dito.
Quem costuma saber tudo dos políticos de esquerda são os "arrependidos", aqueles que passaram a fazer revisões da história e relatam os "factos", sem precisarem de os contextualizar. E relatam tudo "direitinha". Eu nunca fui do PC, nem pertenci a nehum grupo estalinista. So soube na minha vida admirar e respeitar aqueles que se bateram pelas suas convicções.
Presto também as minhas homenagens à memória de Álvaro Cunhal. Ao intelectual e ao combatente anti-fascista. Nunca fui comunista, mas reconheço-lhe a coragem e a tenacidade que suportou a luta de uma vida.
Artigo de Vasco Pulido Valente no Público - copy paste de O insurgente
"Parece que Álvaro Cunhal foi uma figura "importante, "central", "ímpar" do século XX português. Muito bem. Estaline não foi uma figura "importante", "central", "ímpar" do século XX? Parece que Álvaro Cunhal foi "determinado" e "coerente". Hitler não foi? Parece que Álvaro Cunhal era "desinteressado", "dedicado" e "espartano". Salazar não era? Parece que Álvaro Cunhal era "inteligente". Hitler e Salazar não eram? Parece que Álvaro Cunhal sofreu a prisão e o exílio. Lenine e Estaline não sofreram? As virtudes pessoais de Álvaro Cunhal não estão em causa, como não estão as de Hitler, de Estaline, de Lenine ou de Salazar. O que está em causa é o uso que ele fez dessas virtudes, nomeadamente o de promover e defender a vida inteira um regime abjecto e assassino. Álvaro Cunhal nunca por um instante estremeceu com os 20 milhões de mortos, que apuradamente custou o comunismo soviético, nem com a escravidão e o genocídio dos povos do império, nem sequer com a miséria indesculpável e visível do "sol da terra". Para ele, o "ideal", a religião leninista e estalinista, justificava tudo.
Dizem também que o "grande resistente" Álvaro Cunhal contribuiu decisivamente para o "25 de Abril" e a democracia portuguesa. Pese embora à tradição romântica da oposição, a resistência comunista, como a outra, em nada contribuiu para o fim da ditadura. A ditadura morreu em parte por si própria e em parte por efeito directo da guerra de África. Em França, a descolonização trouxe De Gaulle; aqui, desgraçadamente, o MFA. Só depois, como é clássico, Álvaro Cunhal aproveitou o vácuo do poder para a "sua" revolução. Com isso, ia provocando uma guerra civil e arrasou a economia (o que ainda hoje nos custa caro). Por causa do PREC, o país perdeu, pelo menos, 15 anos. Nenhum democrata lhe tem de agradecer coisa nenhuma.
Toda a gente sabe, ou devia saber, isto. O extraordinário é que as televisões tratassem a morte de Cunhal como a de um benemérito da pátria. E o impensável é que o sr. Presidente da República, o sr. presidente da Assembleia da República, o sr. primeiro-ministro e dezenas de "notáveis" resolvessem homenagear Cunhal, em nome do Estado democrático, que ele sempre odiou e sempre se esforçou por destruir e perverter. A originalidade indígena, desta vez, passou os limites da decência. Obviamente, Portugal não se respeita."
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