O “arrastão” de Carcavelos foi um aviso que deve ser tido em conta. É preciso pensar o problema da violência urbana nas suas causas. Não basta esperar que mais polícias e mais câmaras de vigilância resolvam a questão. É certo que não podemos dispensar, de imediato, a segurança. É um direito de cidadania. Sem segurança não há liberdade nem respeito pelas leis. Além disso, a insegurança é um factor de desmotivação do investimento, um entrave à geração de emprego e representa um aumento de despesas para o próprio Estado. Nenhum empreendedor gosta de pôr em risco a segurança do seu investimento ou dos seus colaboradores. O exemplo mais evidente está na penalização do sector do turismo. Para o próprio Estado, a violência representa dispêndios significativos no policiamento, no apoio à vítima e, também, perda de receitas. Há, por isso, muitas razões para procurar as causas da formação de gangs violentos e corrigi-las. E se a violência é urbana, uma das causas tem de ser a forma como as cidades crescem. Os espaços urbanos degradados tornaram-se espaços segregados, onde se refugiam os deserdados da história: imigrantes, desempregados ou de emprego precário. Esta situação favorece a impessoalização e, onde a convivência não promove relações de afectos, torna-se muito provável que a pressão do consumismo conjugada com a ausência de inserção no mercado de trabalho atinja a auto-estima de muitos adolescentes e os lance para o crime, como a única saída para uma afirmação.
Não compreender que a violência urbana tem conexões com a degradação dos espaços urbanos, com o desemprego, a desestruturação das famílias pobres e a ausência de auto-estima de muitos jovens é abrir caminho à xenofobia e ao racismo. Para enfrentar estas causas, é necessário responsabilizar os autarcas pela gestão dos espaços urbanos, estabelecer cotas de imigração que evitem uma imigração para a miséria ou para o crime, promover a criação de escolas de aproximação, com turmas pequenas e abertas durante o fim de semana, e instituir um policiamento de proximidade.
Não se pense que a violência urbana se resolve apenas com medidas securitárias: é preciso corrigir os problemas sociais que estão na sua origem. Não há outro caminho!
JBM, in: Jornal de Noticias
26 junho 2005
Violência urbana
Marcadores: Primo de Amarante (compadre Esteves-JBM)
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4 comentários:
Segundo a Ana Drago o arrastão não existiu. Em que ficamos?
Quem é a Ana Drago?!...
Concordo consigo, caro compadre. Não podemos tapar o sol com a peneira, ocultando a existência desses focos de violência urbana. Devemos, antes, centrar as atenções sobre as causas que, a montante, estão na origem desses comportamentos.
Além das palavras simpáticas dos compadres, nomeadamente do nicodemos (que escreveu um post excelente, ao qual já fiz um comentário),hoje o "Público" referenciou-me e isso significa, para mim, que vale a pena intervir. Tenho andado muito pessimista em relação à intervenção civica. Um dia explicar-me-ei melhor.
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