07 julho 2005

dois mundos em guerra

O que as absurdas imagens de 11 de Setembro nos Estados Unidos, mais tarde em Madrid e, agora, em Londres deixam claro, é que o sistema global, que submeteu o mundo e a vida de todos os povos ao lucro e ao predomínio da técnica, falhou.
As contradições entre países muito pobres e países muito ricos, entre oprimidos e opressores, entre crentes e não crentes, são demasiado chocantes para podermos encontrar na globalização alguma coerência.
As consequências de tal facto são claras: por um lado, a arrogância belicista do "quero, posso e mando" e, por outro, o desespero furioso dos traídos pela História.

Precisamos de uma outra ordem internacional que faça da solidariedade e do diálogo as componentes fundamentais da democracia e da relação entre os povos.

10 comentários:

Dr. Assur disse...

E Bali!!!

M.C.R. disse...

Ontem, num noticiário, Blair, dizia que é tempo de repensar a questão iraquiana. Depois de morrerem umas dezenas de ingleses e de emigrantes no metro, a frase tem um sabor desagradável.
Indo por partes, para não confundir tudo (como durante muito tempo foi feito pela virtuosa comunicação internacional):
1- o terrorismo é sempre uma infâmia.
2- o terrorismo não se justifica pelas canalhices perpetradas pela "vitima" ou pelo país da vítima
3- os ingleses no Iraque são, actualmente, e desde 1961, comparsas menores e subswervientes dos americanos
4- o Iraque não tinha armas de destruição maciça; não era a pátria do fundamentalismo (seja isso lá o que for) e foi o cúmplice e o pau mandado dos ocidentais na guerra contra o Irão
5- a guerra (a 2ª) contra o Iraque de que resultou o pandemónio a que se assiste transformou o Iraque num país pré industrial, provocou mais de um milhão de mortos directos e indirectos e na prática dividiu o país de novo nas antigas províncias otomanas de Mossul, Bagdad e Bassorah, correspondentes respectivamente às populações curdas, sunitas e chiitas.
É isto que querem?
6- a guerra contra o Iraque foi feita com a promessa de resolver a questão palestiniana, candente desde 1948. O que é que foi feito nesse capítulo?
7- as armas de destruição maciça existem no médio oriente: Israel tem 200 bombas atómicas. Quando é que elas são destruídas? Ou será que, apesar de existirem, não ameaçam nenhum vizinho?
8- Será que patife do Saddam Hussein também vai ser julgado pelos crimes de guerra contra o Irão? E, nesse caso, julgar-se-ão igualmente os que o apoiaram e lhe deram armas?
9- Alguém em seu perfeito juízo pode estabelecer uma conexão, por mínima que seja, entre o regime do partido Baas (ímpio aos olhos dos chiitas) e a al-qaeda?
10- Agora que o Iraque está feito num oito qual é país que vai ser bombardeado? E se for, terá petróleo? E se o tiver, para quem reverterão as concessões petrolíferas, uma vez reduzido a cisco e ocupado por ocidentais?
E a ONU, olha para o lado ou deixa-se mais uma vez manipular?

em tempo: não é preciso nenhuma nova ordem internacional. Basta que se cumpram as pobres regras que existem e que só são respeitadas pelos fracos e desvalidos. O resto é treta e mais umas centenas de cadáveres calcinados num metro
londrino ou em Ramallah.
Comentário pessoal: porra!

Amélia disse...
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Amélia disse...

Digam o que disserem, por mim nada justifica estes actos de barbárie.Ao terrorismo bushiano e de outros não se responde matando inocentes, cegamente, gente humilde que se dirige apenas ao seu trabalho.Os ricos, ersses, estavam em Edimburgo.
Recordo:

Excerto de uma entrevista publicada em Abril de 2004, na revista "Pública", entrevista a Omar Bakri Mohammed, autoproclado
“Teórico da Al-Qaeda na Europa"

P. Mas o que pode justificar matar deliberadamente milhares de civis inocentes?
R. Nós não fazemos a distinção entre civis e não civis, inocentes e não inocentes. Apenas entre muçulmanos e descrentes. E a vida de um descrente não tem qualquer valor. Não tem santidade.
P. Mas havia muçulmanos entre as vítimas.
R. Isso está previsto. Segundo o Islão, os muçulmanos que morrerem num ataque serão aceites imediatamente no paraíso como mártires. Quanto aos outros, o problema é deles. Deus mandou-lhes mensagens, os muçulmanos levaram-lhes mensagens, eles não acreditaram. Deus disse: “Quando os descrentes estão vivos, guia-os, persuade-os, faz o teu melhor. Mas quando morrem, não tenhas pena deles, nem que seja o teu pai ou mãe, porque o fogo do Inferno é o único lugar para eles".(…)

8/7/05
Nas cruzadas, pelo menos, os inimigos tinham rosto visível...

Primo de Amarante disse...

Nas cruzadas, os inimigos eram os infieis. Só havia dois tipos de pessoas: os fieis e os infieis. Não será o que acontece, hoje, quer para os Estados Unidos quer para os muculmanos?!...

Amélia disse...

Será...só que aqui - e no que respeita aos fundamentalistas islâmicos - o rosto do inimigo não é visível...o outro tem nome e cara:-Bush e seus muchachos ou capangas.Um deles preside à Comissão Europeia e estava em Edimburgo...E não foram estes os atacados, mas gente comum, entre os quais muitos de religião islâmica.

Nada, mesmo nada, pode desculpar ou minimizar ou mesmo tentar «compreender» a barbárie, venha de onde vier.

Um abraço, compadre.

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Subscrevo, mais uma vez, o que aqui escreveu MCR. O terrorismo é uma ignomínia e não deixa ninguém indiferente perante a morte de pessoas inocentes.
Contudo, é tempo das potências ocidentais meterem a mão à consciência e reconhecerem que a nossa sociedade não se pode basear no desrespeito e na subjugação dos mais fracos e dos que professam uma religião diferente. Do mesmo modo, a geoestratégia não pode basear-se na propriedade e no acesso às reservas de petróleo e às jazidas de gás.

Gomez disse...

Prezado Compadre Esteves,
As críticas à "globalização", por mais pertinentes e respeitáveis que sejam, surgidas nesta oportunidade e contexto, soam sempre a relativização de algo que só deve merecer uma condenação incondicional e absoluta.
Nada - mesmo nada - pode justificar este tipo de actos de terrorismo contra inocentes.
Já agora, permita-me um outro tipo de relativismo. As raízes do fundamentalismo islâmico não se alimentam apenas da globalização, dos imperialismos ou da actual ordem económica mundial, que em mundos casos apenas lhe servem de pretexto. E não esqueçamos que outras comunidades, vítimas dos mesmos factores, não enveredam pela prática destes indesculpáveis crimes contra a humanidade.
Creia que não questiono a razão do seu post e estou certo que condena o terrorismo a as raízes fundas do fundamentalismo.
Mas já não consigo deixar passar em silêncio a oportunidade de certos pronunciamentos que, objectivamente, relativizam um mal que tenho por absoluto. Só isso.
Cumprimento-o com estima,
Gomez

Primo de Amarante disse...

Agradeço o seu cumprimento e com o mesmo apreço retribuo. Para mim a guerra é sempre o pior dos males. A guerra gera guerra e assim foi em todos os tempos. Só há uma resposta para a guerra é ser contra a guerra e defender o diálogo e a solidariedade entre os povos.

Amélia disse...

Sei que há muitos tipos de guerra -no caso vertente, e após terem ajudado Bin Laden e Saddham Hussein, quando isso lhes serviu,recordo que foi depois do 11 de setembro que a guerra foi a resposta(errada)no Afeganistão (mas seria possível assistir passivamente ao modo como os talibans tratavam os homens e principalmente as mulheres?) e no Iraque?
Eu não tenho certezas de quase nada, mas, em todo o caso, se condeno a guerra, admito-a como último recurso contra os despotis-
mos ( Santo Agostinho admitia o tiranocídio) - e abomino todas as guerras, sobretudo as ditas «san-
tas»-vindas de onde vierem-neste caso de Bush, Blair e seus capangas como as dos fundamentalis-
tas islâmicos (ou outros).Neste momento estamos perante uma guerra «santa» de duas civiliza-
ções e modos de encarar as coisas -a islâmica e a ocidental.
E não me parece que a noção de direitos do homem tenha nascido com o islão-ou em todo o caso seja assim lida pelos líderes-ou alguns deles -muçulmanos -como se pode ver da tal entrevista de Omar Bakri Mohammed que recordei...e data de abril 2004.
E, sim, desculpem o desabafo, acho,
sinceramente, que eticamente a civilização ocidental, pelo menos no que respeita aos direitos humanos, é superior.Mesmo que em demasiados lados não sejam respei-
tados e vingue a lei do mais forte.
Não há qualquer desculpa, acho, que justifique, ainda qwe minima-
mente, o terror que toma por víti-
mas inocentes e gente que apenas vai para o seu trabalho.
Um abraço ao compadre e a todos.