20 agosto 2005

3 comentários:

Primo de Amarante disse...

Hoje fui à caça do pombo e da rola. Cheguei à serra da Aboboreira às 7h. No fundo havia um fumo ligeiro. Falei com algumas pessoas que me disseram que os bombeiros tinham estado lá toda noite e foram embora porque consideraram que o incêndio tinha acabado. Disse-lhes que aquele fumo era sinal de que ardiam "tocos" das àrvores (depois de se cortar os pinheiros ou outras árvores fica o toco que vai apodrecendo com as raizes enfiado na terra) e que era necessário apagar aqueles resquicios dos incêndios, pois caso contrário com o vento reacendiam-se. Responderam que os bombeiros (que sabem tudo) tinham dito que não valia a pena.
Passei nesse sitio eram 20h. Um enorme incêncio tinha-se desenvolvido e as labaredas começavam a ameaçar lamber casas. Quem quiser que tire,agora, a conclusão.
Para quem gosta da natureza, de andar nos montes, sente com o negro dos incêndios uma profunda tristeze, uma espécie de depressão.
Parece que é um pouco de nós mesmos que desapareceu.
Já fiz, noutras considerações, o meu juizo sobre os bombeiros, ditos voluntários. Penso que o problema dos incêndios só terá resposta, quando foram os engenheiros (florestais)a tutelarem a prevençao (ordenamento do território também)e ataque aos mesmos.
Compreende-se o caudal de gabanços que levam os bombeiros pelo nosso Primeiro, pelo P.R e todas as altas individualidades que precisam de votos. Não se pode criar polémicas. E é assim que este País vai ficando à espera de não sei o quê.
Apetece-me dizer P.Q.os P.

josé disse...

Compadre:

Os incêndios que têm assolado o Alto Minho, com destque para a área do litoral e do monte de Santa Luzia em particular, podem muito bem ter acontecido devido a esse pormenor circunstancial que referiu: as pessoas dos locais onde arderam áreas importantes viram os bombeiros a actuar; as tarefas de apagamento são árduas, extenuantes e exigem força física e capacidade técnica e além disso, conhecimentos e...bom senso.

Os chamados "tocos" e o "restolho" que fica após as chamas passarem, com um bocado de vento que ainda por cima tem aparecido, são naturalmente a causa imediata e exclusiva do reacendimento de novos incêndiso ainda mais devastadores se o terreno permitir, ou seja se tiver parado antes um pouco de áreas importantes de arborização.

Parece-me bem que nestes úmtimos três dias foi exactamente o que sucedeu nos locais que referi.

Uma incêndio sucedeu a outro cada vez mais violento e que acabou por tornar a atmosfera quase irrespirável.

Verifiquei pessoalmente uma situação dessas em que os bombeiros, exaustos, com fome ( ninguém do serviço de protecção civil lhes leva comida, parece-me...)e após muitas horas de operações, deparando com novos focos de incêncido, apagam-nos- ,mas apagam-nos mal.
COmo diz o Compadre que disto percebe mais do que eu e do que muitos, é essa falta de trabalho acabado; esse "deixa para lá que isto assim já está bom" ´é que leva à maior parte dos reacendimentos, no meu modesto entender.
Os fogos são tantos que a ilusão de deitar umas mangueiradas e apagar um pouco os focos mais vivos, leva à ilusão de que o fogo fivou apagado. Mas não ficou, como se poderia concluir pela opinião de quem anda no "mato" e conhece as veredas.

Mas, caro Comadre, o que me espanta é ver aquilo que costumo chamar como uma maleita que me afecta em muitas matérias: diletantismo!

Tenho ouvido cada teoria sobre a origem dos incêndios que só posso pensar que ninguém sabe nada de nada sobre os mesmos.
Lembra-me logo aqueles juizes que vão para a PJ mandar nos departamentos e ao fim de alguns meses já dão entrevistas como se fossem peritos nas matérias de que se ocupam os subordinados...
Há muito disso, caro compadre! Diletância a mais e humildade em défice.
NO governo será também assim?!
Temo bem que sim: basta ver a prestação do ministro António Costa.

Primo de Amarante disse...

Caro compadre e amigo: ninguém imagina a dor que sinto com o negro da natureza. Ontem até encontrei um javali morto pelo fogo.
Se pesquizassemos sobre o que diz a retórica dos governantes e dos políticos acerca dos incêndios iriamos concluir que, conforme a posição (a governar ou na oposição) t~em para as respectivas situações a mesma conversa e nada é feito para resolver este flagelo. E, porquê?!... Na política as ideias são ocas e são despejadas conforme as modas. Mas uma ideia só tem interesse quando serve para orientar uma prática, quando guia a acção. Os nossos políticos nunca fizeram nada nem sabem fazer outra coisa que não seja dizer o que está na moda e o senso-comum gosta de ouvir. O Pais vai-se adiando, porque falta gente com sentido de responsabilidade e de de acção. Os incêndis não são uma fatalidade, têm causas que já foram definidas: a desorganização do território, a desertificação das aldeias, a intensificação da exploração do eucaliptico, a falta de limpesa das matas, a impreparação dos bombeiros, a sedução do horrivel pelas taras dos pirómenos, etc. Corrigir estes factores é impor directivas e responsabilidades.
Lembro que, p ex, o Regedor do Marco só não perdeu o mandato por desvarios nos planos directores, porque a lei está feita para proteger os autarcas. Assim; é urgente que o artº 61º da lei 98/97 de 26 de Agosto ( lei Orgânica do Tribunal de Contas), seja revisto (sobretudo no seu ponto 5º) por forma a responsabilizar não só os técnicos que dão informações, mas também os autarcas que as executam. Ainda ontem reparei no descalabro da organização do território. Na encosta da serra da Aboboreira tinham construidao casas, junto a pinheirais. Perguntei de quem eram. Disseram-me que estavam em nome de um tal Faria que tentou o suicidio há dias, mas que pertenciam ao regedor do Marco que quer "reger" Amarante. E à questão por que contruíu ali aquelas vivendas, em zonas agricolas, responderam-me que eram vendidas como segunda habitação na aldeia.
Neste País, a ganhuça tornou-se na única lei e há uma justiça para os poderosos e outra para os pindéricos. Não resisto ao seguinte desabafo: Há anos denunciei casos de prepotência e corrupção (como julgava ser meu dever no exercicio da cidadania). Sem serem investigadas as denuncias, fui acusado de difamação agravada e que "sabia que não era verdade o que dizia". Nunca esquecerei esta acusação. Não foram investigadas as minhas denuncias, mas tive de as provar em Tribunal.Ver Jornal "Público" de Público 22/08/2005. Entretanto, passei a humilhação de ser arguido. E durante o julgamento F.T. insultou-me, ao ponto de dizer que não "tinha cabedal para levar duas lambadas." Contra isto apenas a censura dos magistrados. Fomos três a serem julgados. Nas alegações finais um deles disse o que estava no subconsciente dos presentes: "enquanto que aqui, no Marco, estiver Ferreira Torres, eu não acredito que o Tribunal faça Justiça". Foi o único condenado e por dizer o que disse. Eu e um outro fomos absolvidos, mas entretanto gastamos muito dinheiro e fomos humailhados. A conclusão é óbvia.
Este País está mais próximo dos sistemas africanos do que da Europa.