18 setembro 2005

Educação e cidadania

A importância do diálogo

Pelo nosso compadre JBM
crónica de domingo no JN de 18/09/2005

A democracia é o regime do direito ao exercício da palavra. Górgias, que viveu a primeira forma de democracia na Grécia antiga, escreveu no “Elogio de Helena”: «com as palavras se fundam as cidades, se fazem portos, se comanda exércitos e se governa o Estado». No seu entender, o exercício da palavra justifica-se pela necessidade de agir e construir o progresso. Mas porque não se pode pensar a democracia sem ter em conta os diferentes pontos de vista (não há democracia sem cidadania), Aristóteles, na Política, definiu cidadão como aquele “a quem é concedido o direito a tomar a palavra nas deliberações.” Isto é, o cidadão tem o direito de manifestar as suas exigências de justiça e de aspirar, pela partilha de ideias, a desempenhar um papel relevante na construção de um pais melhor. A partilha das palavras tem duas funções: permitir a refutação, servindo de profilaxia contra erros, e desenvolver a energia participativa que compromete os cidadãos com o sentido de um destino comum.
A responsabilidade democrática reside precisamente na disposição para aceitar erros e corrigi-los, em vez de os encobrir. E é esta forma de estar na política que manifesta uma ética pública.
Esperava-se que este Governo tivesse como horizonte da gestão pública esta postura, demarcando-se, assim, dos anteriores governos; esperava-se que este Governo fizesse acompanhar as necessárias reformas com a preocupação de envolver os diferentes sectores profissionais no sentido das mesmas, promovendo um capital de confiança nas instituições e de esperança no futuro. Mas todas estas iniciativas vão sendo frustradas. O diálogo com regras e gerador de um “pathos” de confiança está perdido e a confusão despudorada entre o que é do Estado e o que deve ser dos partidos vai acentuando a ideia de que, no governo, todos os diferentes se tornam iguais. O regresso à lógica dos “jobs for the boys” é, claramente, o sintoma do desinvestimento na tão apregoada ética republicana e só serve para criar um “cinturão de protecção” à incompetência, falta de rigor e sentido de Estado. A retórica governativa já gera uma fadiga insuportável e, nesta circunstância, não será de espantar que o PS apanhe um “banho” nas próximas eleições.

JBM

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