João Carlos Espada, José Manuel Fernandes e outros têm a chave para explicar a atitude dos jovens que ateiam incêndios na periferia de Paris: a sua falta de valores. Por uma vez, estamos de acordo. De facto, o que sucede é que os tais jovens, pobres e desempregados, não se mostram reverentes e obrigados.
O que falha no plano neo-liberal de fazer os ricos mais ricos e os pobres mais pobres é que estes não vão na conversa. Ao acabarem com as políticas sociais, ao aumentarem o desemprego, ao exibirem despudoradamente que o Estado trabalha para o enriquecimento de uma minoria, como sucede às claras nos Estados Unidos, o novo farol desta rapaziada, abrem a porta para a violência mais descontrolada. É um aviso.
Tal como nos incêndios florestais, também aqui é fácil culpar os incendiários. Sem dúvida, os incêndios são lamentáveis e reprováveis, mas a questão não acaba aqui. Alguém, os governos neo-liberais, que dominam a União Europeia os empurrou para isto. Será que existem hoje formas legais, pacíficas e institucionais, dentro do poder de Estado, para os excluídos fazerem ouvir a sua voz? Não creio.
Será que as televisões, os parlamentos, os governantes, os presidentes da República ficariam sensibilizados com marchas pacíficas e ordeiras destes jovens em Paris? Tanto como a Marie-Antoinette, nas vésperas de 1789.
Só agora, iluminado pelas chamas, é que o governo francês desenterra planos e mais planos, bem guardados na gaveta, de combate à exclusão, ao desemprego, prometendo até um novo urbanismo na periferia. Antes do fogo, a solução milagrosa era a do costume: a polícia.
Não seria de também cá se ir pensando nas consequências políticas e sociais da exclusão, agravada pelo plano em curso de desmantelamento do Estado Social e pelo público e notório abandalhamento de um sistema político-partidário, minado pela corrupção, em que ninguém acredita?
É que o povo não é sereno e na nossa história temos bastantes exemplos disso.
O que falha no plano neo-liberal de fazer os ricos mais ricos e os pobres mais pobres é que estes não vão na conversa. Ao acabarem com as políticas sociais, ao aumentarem o desemprego, ao exibirem despudoradamente que o Estado trabalha para o enriquecimento de uma minoria, como sucede às claras nos Estados Unidos, o novo farol desta rapaziada, abrem a porta para a violência mais descontrolada. É um aviso.
Tal como nos incêndios florestais, também aqui é fácil culpar os incendiários. Sem dúvida, os incêndios são lamentáveis e reprováveis, mas a questão não acaba aqui. Alguém, os governos neo-liberais, que dominam a União Europeia os empurrou para isto. Será que existem hoje formas legais, pacíficas e institucionais, dentro do poder de Estado, para os excluídos fazerem ouvir a sua voz? Não creio.
Será que as televisões, os parlamentos, os governantes, os presidentes da República ficariam sensibilizados com marchas pacíficas e ordeiras destes jovens em Paris? Tanto como a Marie-Antoinette, nas vésperas de 1789.
Só agora, iluminado pelas chamas, é que o governo francês desenterra planos e mais planos, bem guardados na gaveta, de combate à exclusão, ao desemprego, prometendo até um novo urbanismo na periferia. Antes do fogo, a solução milagrosa era a do costume: a polícia.
Não seria de também cá se ir pensando nas consequências políticas e sociais da exclusão, agravada pelo plano em curso de desmantelamento do Estado Social e pelo público e notório abandalhamento de um sistema político-partidário, minado pela corrupção, em que ninguém acredita?
É que o povo não é sereno e na nossa história temos bastantes exemplos disso.
6 comentários:
São quase oito da noite e o noticiário da "ARTE" fala de uma noite a de ontem, sábado para domingo, com 1300 carros incendiados, mesmo dentro de Paris(!!!). um prprietário, de ar pouco endinheirado queixava-se olhando para o carro: "eles escreveram "Sarkozy nique ta mére" mais c'est moi qui paye les frais...". Tudo isto para pensar que em breve começam a dar tiros. E desta vez não serão os emeutiers mas a polícia que tem o mau hábito de acertar em zonas vitais.
Os patetas neo-liberais citados no texto esquecem que apesar de tudo a França ainda é o país que mais migantes recebe e inclui. Aliás Sarkozy c'est pas français du tout. E são sempre os recém chegados os mais xenófobos (ah, ah esta foi boa...).
Eu não sei -e os ataques dentro de Paris fazem-me desconfiar - se ao lado do descontentamento, do desemprego e da exclusão não anda também aqui mãozinha marota.
Mais dia menos dia, iremos ter o mesmo problema em Portugal agravado pela absoluta ausencia de políticas sociais nos bairros degradados e de emigrantes.
Não são jovens desempregados. A droga e a prostituição rende-lhes mais dinheiro que o trabalho honesto. E não é por falta de emprego ou exclusão. Simplesmente não querem vergar a mola. Por cá acontece o mesmo. Raras excepções os imigrantes brasileiros que se encontram em qualquer café, restaurante, etc. E de todas as cores.
Bairros degradados? Ainda existem? 80 por cento já recebeu a sua casinha nova à conta dos impostos dos otários. Falta a Cova da Moura e algumas famílias. Exceptuam-se, claro, os que vieram de àfrica a correr para construir a barraca mal souberam do PRE.
Quem tiver tomates de ir a um desses bairros novos, é capaz de achar estranos os bons carros que estão parados à porta dos rapazes. Além da colecção de cães perigosos, mini-motas, etc, etc.
Mesmo assim há quem se queixe que não gosta da casa oferecida.
repare-se que, curiosamente, não há brasileiros nessas casa oferecidas. Nem outros a não ser ...
Não consigo ler os editoriais do "Público". Não é porque JMF não escreva bem, mas ao começar a lê-lo lembro-me das suas meias vermelhas no tempo em que era maoista e perco-me a rir.
São associações inesperadas! O Camarada Anaximandro é capaz de as explicar melhor do que eu!
De qualquer maneira, o Público é um jornal de referência. Hoje há um artigo a não perder. pg3 "Aqui não há o sonho ameriano, nem sequer o sonho francês" de Molly Moore.
Também traz uma referência a um livro que já saiu em Outubro - "O Mal no pensamento moderno". è uma análse do terrorismo, feito por Susan Neiman. Inspira-se na ideia de mal de Hannah Arendt A propósito è interessante (embora muito sintético) um pequeno livrinho (tese académica?!) sobre o mal publicada há cerca de dois anos pela "Rei dos Livros". A apresentação é do nosso incursionista Simas Santos. E é uma apresentação muito actual, sobretudo quando diz "A democracia (...) tem tido dificuldades em enfrentar os seus crimes".
Para os interessados em ler (em vez de acumular) bons livros, o trabalho de Susan Neiman é uma oportunidade a não perder. A edição é da GRADIVA.
A propósito: visitem, por favor, a livraria Latina, na Rua Santa Catarina, testemunha das lutas do 31 de Janeiro, mesmo junto à Batalha. Vale a pena! A remodelação feita pelo nosso amigo Henrique Perdigão colocou-a ao nível das melhores livrarias da europa. Não tenham dúvidas! Está melhor do que a livraria "Folhas Novas" de Santiago de Compostela, onde temos ido procurar o que de mais recente foi produzido pela reflexão de especialistas.É uma referência do Norte que marca a diferença entre uma livraria e um supermercado de livros. O Henrique foi talhado para livreiro: a paixão dos livros vem-lhe da familia.
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