Sendo rigoroso, eu não fiz estágio de advocacia. Tudo não passou de um simulacro - pois, também não cheguei a ver as duas autópsias obrigatórias na cadeira de Medicina Legal... -, andei por aqui e por ali enquanto escrevia notícias para os jornais, aprendi algumas coisas como arguido em mãos cheias de processos por abuso de liberdade de imprensa - lá tive que justificar à Srª Bastonária de então aquele registo criminal... - em que não cheguei a ser condenado, meti a minha primeira acção em tribunal sem nunca ter visto como se fazia uma petição inicial - imagino a obra... - e, por todas estas razões, não sei como é fazer um estágio de advocacia.
Já tive uma vasta horda de estagiários. Tive de tudo. Do pior e do melhor. Não tenho muito para lhes dar, a não ser a minha boa-vontade e o meu bom feitio. Mas, ainda hoje, a conversar com quem por lá anda, me questionei: os estagiários de hoje têm possibilidade de fazer estágio? Não têm! Aquilo é uma roda viva de conferências (com créditos), relatórios, escalas e coisas de que nunca ouvi falar, mas que devem ser importantes. Importantes não sei para quem, mas isso é o que menos importa, tantas são as coisas que eu não sei. E há outras coisas: têm de apresentar um trabalho oral para a agregação. Sugeri um tema a uma delas, mas é uma coisa impossível porque é obrigatório indicar jurisprudência e doutrina e sobre o assunto indicado não há. Tentei explicar-lhe que talvez fosse uma boa oportunidade para fazer doutrina num assunto novo, mas o medo é tanto que não pode ser, não se pode arriscar a chegar lá e não apresentar doutrina e jurisprudência, não vá o diabo tecê-las.
Enquanto isto, os candidatos a advogados não passam tempo no escritório. É impossível. E, se não estou em erro, nesta altura das suas vidas, talvez fosse o sítio onde poderiam aprender o que devem aprender nesta fase da vida profissional. Será isto um estágio de advocacia?
17 novembro 2005
Estágio
Postado por o sibilo da serpente
Marcadores: carteiro (Coutinho Ribeiro)
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2 comentários:
E se a revisão ditar uma solução completamente diferente, isso é sinal de que a justiça está a funcionar, de que as magistraturas são independentes entre si e por aí adiante. Aliás, eu acho que, agora, para que as coisa funcionem é bom que hoje seja assim e amanhã o contrário...
O comentário era para o post de Kamikase...
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