A bola mata-nos!
Logo agora que tudo nos corria bem é que uma mão marota de Abel Xavier desviando um golo certeiro e maligno nos atirou de pantanas. Ora vejamos: a equipa portuguesa começou este europeu com dois golos na baliza. Por artes mágicas a que não é estranho o virtuosismo dos jogadores portugueses e a inacreditável (e inepta) ingenuidade dos ingleses conseguiu-se transformar o resultado: 3-2 a favor de Portugal.
No jogo seguinte a equipa portuguesa suou para ganhar mas ganhou: começou então o êxtase ditirâmbico mais exaltado que é possível. Éramos os melhores claro, fujam que vêm aí a hoste portuguesa com Nuno Alvares e a padeira de Aljubarrota. Os senhores ministros e os senhores ministriáveis voavam para os países baixos, carregados de caxecóis da selecção, bandeirnhas verde-rubras e virtuosas declarações sobre o colectivo, a emigração e tudo o mais. A televisão mostrou mil golos, sempre os mesmos, desenterrou velhas glórias dos estádios e gargarejou de lágrima no olho todas as sandices que lhe vieram à triste cabeça. Por um momento deixou de haver atraso, subdesenvolvimento, crise de justiça, filas de espera nos hospitais e tudo o resto que aflige esta desolada geografia à beira mar plantada.
A vitória sobre a Alemanha acelerou os que ainda se mantinham calmos. O terror de ser considerado “velho do Restelo” emudeceu-os e o jogo seguinte contra a Turquia teve efeitos devastadores. Contra França, por acaso campeã do mundo, iam ser favas contadas.
No dia do jogo o país parou meia hora antes. O golo rapidamente metido contra os franceses pareceu dar razão à exaltada claque dos media que anunciavam para Portugal uma nova e melhorada idade do ouro.
Durou uma hora a bem aventurança. Determinados, os franceses entenderam não dar por perdido um jogo que ainda não tinha acabado e, pouco a pouco, foram provando que o título mundial não lhes tinha caído no regaço mercê de qualquer milagre. Empataram tranquilamente e começaram a preparar o prolongamento. O guarda redes Barthez defendeu tudo o que havia para defender e mesmo quando a bola passou perto da baliza mostrou que estava atento e a postos. Até que ...
Até que uma bola forte e bem atirada encontrou a mão providencial e rápida de Abel Xavier. O juiz de linha sinalizou o penalty e Zidane fez o resto.
Ora foi aqui que a gesta portuguesa descambou: jogadores malcriados em birras grotescas e particularmente deselegantes; insultos, cuspidelas no juiz de linha, enfim todo um espectáculo a mostrar que o futebol de alto gabarito até então visto era apenas o manto diáfano da fantasia sobre a nudez forte da verdade.
Espectadores portugueses com altíssimas responsabilidades políticas e/ou desportivas disseram patetices irrepetíveis: outra vergonha! Valeu-nos (ai por quem Deus nos manda notícias...) o famoso e tonitruante major Valentim Loureiro que teve a coragem de dizer que a mãozinha era de facto penalty. Foi o único!
A discussão arrastou-se por dois ou três dias mais e as declarações dos jogadores portugueses só pioraram o irremediável. Que se tinha perdido porque essa era a vontade dos poderosos do futebol, que éramos um pequeno país injustiçado, que o futebol era um negócio (isto dito por Figo por quem consta um clube está disposto a pagar meia dúzia de milhões de contos...), que o árbitro tinha sido demasiado rigoroso e que, imagine-se!, não se devem marcar grandes penalidades quase no fim do prolongamento...
Finalmente e na expectativa da final França-Itália apareceu uma estranhíssima teoria vingativa: ao menos que ganhe a Itália. Tentei, sem êxito, dizer a algumas pessoas que, do ponto de vista nacional-nacionalista-futebolístico, era melhor a França ser campeã. Ao menos teríamos sido derrotados pelo campeão e não pelo nº 2. Já o mesmo, aliás, tinha sido dito pelo treinador espanhol. Mas esse tem outra ideia da glória desportiva e sabe bem que não é nos relvados que se dirime o impossível duelo de Quixote com Joana d’Arc.
No rescaldo deste espectáculo deprimente 3 excelentes jogadores portugueses vão ficar ausentes, por castigo - justo e merecido - de competições internacionais. Com isso prejudicam seriamente as suas carreiras e tornam mais problemáticas as possibilidades portuguesas de apuramento para o mundial de 2002. Resta saber qual a reacção da Federação Portuguesa de Futebol às tropelias destes rapazinhos mimados e mal comportados. Será que sequer repreendem os rapazes? É que, em cinco minutos, ou nem tanto, deitaram a perder horas de fair play, de bom futebol, de educação desportiva...Haja quem explique aos políticos populistas e indignados, aos desportistas de bancada que uivaram a destempo clamando roubo e a toda a nacional bem pensância protestante que, a bem do futebol, do desporto e sobretudo de nós todos que nos envaidecemos de ser cidadãos portugueses e europeus, que aquilo, aquela histeria negacionista não é ou não deve ser Portugal.
Este texto foi perpetrado dois ou três dias depois da derrota contra a França e ainda , julgo, não se sabia quem ganharia o jogo final. De resto agora também já o não sei. Haja uma alma caridosa que me diga a data toda, por favor.
No jogo seguinte a equipa portuguesa suou para ganhar mas ganhou: começou então o êxtase ditirâmbico mais exaltado que é possível. Éramos os melhores claro, fujam que vêm aí a hoste portuguesa com Nuno Alvares e a padeira de Aljubarrota. Os senhores ministros e os senhores ministriáveis voavam para os países baixos, carregados de caxecóis da selecção, bandeirnhas verde-rubras e virtuosas declarações sobre o colectivo, a emigração e tudo o mais. A televisão mostrou mil golos, sempre os mesmos, desenterrou velhas glórias dos estádios e gargarejou de lágrima no olho todas as sandices que lhe vieram à triste cabeça. Por um momento deixou de haver atraso, subdesenvolvimento, crise de justiça, filas de espera nos hospitais e tudo o resto que aflige esta desolada geografia à beira mar plantada.
A vitória sobre a Alemanha acelerou os que ainda se mantinham calmos. O terror de ser considerado “velho do Restelo” emudeceu-os e o jogo seguinte contra a Turquia teve efeitos devastadores. Contra França, por acaso campeã do mundo, iam ser favas contadas.
No dia do jogo o país parou meia hora antes. O golo rapidamente metido contra os franceses pareceu dar razão à exaltada claque dos media que anunciavam para Portugal uma nova e melhorada idade do ouro.
Durou uma hora a bem aventurança. Determinados, os franceses entenderam não dar por perdido um jogo que ainda não tinha acabado e, pouco a pouco, foram provando que o título mundial não lhes tinha caído no regaço mercê de qualquer milagre. Empataram tranquilamente e começaram a preparar o prolongamento. O guarda redes Barthez defendeu tudo o que havia para defender e mesmo quando a bola passou perto da baliza mostrou que estava atento e a postos. Até que ...
Até que uma bola forte e bem atirada encontrou a mão providencial e rápida de Abel Xavier. O juiz de linha sinalizou o penalty e Zidane fez o resto.
Ora foi aqui que a gesta portuguesa descambou: jogadores malcriados em birras grotescas e particularmente deselegantes; insultos, cuspidelas no juiz de linha, enfim todo um espectáculo a mostrar que o futebol de alto gabarito até então visto era apenas o manto diáfano da fantasia sobre a nudez forte da verdade.
Espectadores portugueses com altíssimas responsabilidades políticas e/ou desportivas disseram patetices irrepetíveis: outra vergonha! Valeu-nos (ai por quem Deus nos manda notícias...) o famoso e tonitruante major Valentim Loureiro que teve a coragem de dizer que a mãozinha era de facto penalty. Foi o único!
A discussão arrastou-se por dois ou três dias mais e as declarações dos jogadores portugueses só pioraram o irremediável. Que se tinha perdido porque essa era a vontade dos poderosos do futebol, que éramos um pequeno país injustiçado, que o futebol era um negócio (isto dito por Figo por quem consta um clube está disposto a pagar meia dúzia de milhões de contos...), que o árbitro tinha sido demasiado rigoroso e que, imagine-se!, não se devem marcar grandes penalidades quase no fim do prolongamento...
Finalmente e na expectativa da final França-Itália apareceu uma estranhíssima teoria vingativa: ao menos que ganhe a Itália. Tentei, sem êxito, dizer a algumas pessoas que, do ponto de vista nacional-nacionalista-futebolístico, era melhor a França ser campeã. Ao menos teríamos sido derrotados pelo campeão e não pelo nº 2. Já o mesmo, aliás, tinha sido dito pelo treinador espanhol. Mas esse tem outra ideia da glória desportiva e sabe bem que não é nos relvados que se dirime o impossível duelo de Quixote com Joana d’Arc.
No rescaldo deste espectáculo deprimente 3 excelentes jogadores portugueses vão ficar ausentes, por castigo - justo e merecido - de competições internacionais. Com isso prejudicam seriamente as suas carreiras e tornam mais problemáticas as possibilidades portuguesas de apuramento para o mundial de 2002. Resta saber qual a reacção da Federação Portuguesa de Futebol às tropelias destes rapazinhos mimados e mal comportados. Será que sequer repreendem os rapazes? É que, em cinco minutos, ou nem tanto, deitaram a perder horas de fair play, de bom futebol, de educação desportiva...Haja quem explique aos políticos populistas e indignados, aos desportistas de bancada que uivaram a destempo clamando roubo e a toda a nacional bem pensância protestante que, a bem do futebol, do desporto e sobretudo de nós todos que nos envaidecemos de ser cidadãos portugueses e europeus, que aquilo, aquela histeria negacionista não é ou não deve ser Portugal.
Este texto foi perpetrado dois ou três dias depois da derrota contra a França e ainda , julgo, não se sabia quem ganharia o jogo final. De resto agora também já o não sei. Haja uma alma caridosa que me diga a data toda, por favor.
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