15 janeiro 2006

Coisas da vida, entre tachos e discotecas

Gosto de arroz de tamboril e gosto de comer arroz de tamboril no "Mar na Brasa", em Matosinhos, passe a publicidade. Fui lá este fim-de-semana. Espanto: ao contrário do que sucedia, o arroz deixou de vir para a mesa no tacho, agora vem numa vulgar travessa. A lei mudou, pois mudou e, por isso, agora, nem o típico galheteiro nem o tacho em cima da mesa, que nós somos um país de bons costumes e o esquadrão da defesa do consumidor aplaude estas coisas de forma unânime e veemente, que nas suas fileiras não deve haver quem goste mesmo de arroz tamboril.

Ainda na mesma noite. Saímos do restaurante a ruminar o arroz e o fim dos tachos. Tive de passar pela porta de uma discoteca, passava pouco da meia-noite. Esperei por ali quase uma hora. Espanto: iam chegando, aos magotes, crianças entre os 13 e os 15 anos, a pé, à chuva que lhes manchava as pinturas, mas que ficavam à porta, esperando uns pelos outros, mais raparigas do que rapazes. Estranho. Ou não.
O país dos bons costumes e de gosto fino, preocupado com os tachos em cima da mesa, fecha os olhos a discotecas que sobrevivem à custa de uma mescla de clientes crianças e clientes adultos, tudo no mesmo espaço. E aqui, os exércitos dos bons costume, passam, vêem, encolhem os ombros e passam.
Não. Não se trata de mera negligência de quem gere estas casa nocturnas. Muitas daquelas crianças constam das "guest lists", são-lhe oferecidos cartões para bebidas e são para ali encaminhadas por relações públicas com 15 anos e muitas vezes colegas na mesma escola. Não. Não é negligência: é mesmo "crime doloso e premeditado" a que ninguém liga, mais precupados em saber se adultos que podem escolher, fumam ou não fumam.
Que conversa esta? Coisa de parolos e de retrógados, pois claro

(É claro que os encarregados de educação destas crianças são os verdadeiros criminosos. Mas isso são contas de outro rosário...)

3 comentários:

M.C.R. disse...

Eu já nem sei se são regras da UE ou apenas o dono do Mar... a baldar-se. Aos sábados vou com o Manuel Simas Santos comer a uma casa de pasto que tem sempre peixe fresco. E que faz o que lhe pedimos se a encomenda for feita com antecedencia.
Aí ainda servem vários arrozes no tacho. Já a dos galheteiros tem mais justificação: parece que havia muito restaurante que falsificava o azeite. Se for para proteger a produção de azeite e a saude público estou nessa.
Já me parece mais perigosa a ideia da alimentaççao sã, à moda do norte europeu. Parece que esses bárbaros acham horrível uma boa morcela de sangue, um queijo de Serpa sem leite pasteurizado e outras que tais.
quanto aos paisinhos das criancinhas discotequeiras, convem que depois se não arrependam. Porque não serei eu quem me solidarize com eles...

Kamikaze (L.P.) disse...

Ah ganda carteiro! Como eu o compreendo...! Quem havia de dizer que, um dia, para comermos uns genuínos choquinhos fritos com tinta, ou uma carne de porco à alentejana (e por aí adiante) comme il faut, soit disant, em tacho de barro (de preferência com muito sarro) ainda haveríamos de ter que descer a umas catacumbas clandestinas ao estilo tempos da lei seca? Eu bem que já tinha tido um sinistro prenúncio quando, indagando este verão,em terras algarvias, se o peixinho (para além de ser do mar-mar)era "assado" nas brasas, me responderam, em tom escandalizado, que isso agora já era, pois a UE descobrira que as brasitas do carvão intoxicavam não só o nobre robalo mas até a plebeia sardinha!
Cá por mim dispensava que se preocupassem tanto com a minha saúde! E que gastronomia é cultura tenho por assente, pelo que só me ocorre dizer: longa longa vida ao tacho de barro e à colher de pau!

Quanto ao mais, subscrevo.

O meu olhar disse...

Desconhecia essa da toxicidade do carvão quando brasa, em baixo de um peixe e, calculo, também de uma costeleta de vitela. Claro que esta última ainda por cima tem a agravante de ser vermelha, logo, lista negra com ela.
Bom, desconhecia mas fico na mesma: se há coisa que aprecio é bom peixe, assado em boa brasa, de preferência pelas mãos do meu marido, perito na matéria. Que isto de bem assar não é para qualquer um. É preciso paciência e muito esmero! Quanto à vitela, como passo grande parte dos fins-de-semana na zona de Lafões, terra de vitela de primeira, também não a ponho de lado, que é crime.

Mas falando de coisas mais sérias: é preocupante essa realidade dos adolescentes de 13, 15 anos em discotecas. Os pais parecem ter medo de se opor quando é preciso. Não é fácil, mas mais vale enfrentar um problema, que é ver os filhos aborrecidos connosco, do que enfrentar outros muito mais complicados de gerir.