por Desidério Lucas do Ó
co-fundador do PS, professor
O Presidente e a Superação da Crise
Todos os candidatos à Presidência da República têm algo em comum : o diagnóstico que fazem do estado do país. Está mal, está deprimido, precisamos de sair desta situação.
Independentemente das propostas apresentadas por cada um deles, gostaria de deixar aqui um modesto contributo pessoal para a discussão. Para tal passei em revista alguns factos históricos para tentar perceber como é que os povos ultrapassaram as grandes crises económicas e sociais que os castigaram.
Há vários situações na nossa história como na história de todos os povos. Frequentemente as crises foram superadas pelo aparecimento de um homem ou mulher, cuja mensagem e personalidade tiveram um efeito unificador e catalizador, capaz de galvanizar, levantar, fazer acreditar nas soluções que propunham. Mesmo em plena crise, com escassos meios, a alma dos povos revigorou-se e foi capaz de vencer.
Em contrapartida, as reviravoltas levadas a cabo por intervenções de carácter técnico (Finanças de Salazar), obtiveram de facto frutos no imediato, mas foram incapazes de agarrar e motivar as mentes para voos mais ousados. Pouco tempo depois, tudo voltava ao estado anterior.
Se é certo que o Presidente da República não governa, também não podemos esquecer que a sua personalidade, a sua imagem e o seu exemplo podem ter um efeito galvanizador.
Quando observamos e avaliamos os três candidatos presidenciáveis, independentemente dos resultados das sondagens, chegamos a conclusões bem diferentes.
Cavaco Silva é um homem que muito respeitamos pois, vindo de famílias modestas, teve a capacidade de alcançar lugares cimeiros nas hierarquias académicas e do Estado. É um homem que prestou relevantes serviços ao país, embora alguns contestáveis, e que por isso tem o seu lugar na nossa história recente.
Mário Soares é igualmente um homem respeitável por quase tudo o que fez pelo país. À sua tenacidade e coragem se deve o facto de vivermos numa democracia formal, embora as desigualdades sociais se mantenham e quase sempre se aprofundaram.
Manuel Alegre é igualmente um homem respeitável com um passado e presente irrepreensíveis. Tem experiência política e, embora a sua passagem por uma executivo tenha sido curta, conhece os meandros das instituições.
Contudo, temos de escolher um deles.
Não voto em Cavaco Silva porque, caso fosse eleito, seria um presidente desestabilizador, que tendencialmente se imiscuiria na esfera da governação e que dividiria o país. A sua actuação como Primeiro Ministro e , acima de tudo, a maneira como saíu dessas funções, criaram em largos estratos do eleitorado muitos animosidades contra ele. Cavaco Silva não é um homem de construir dinâmicas nacionais, Cavaco Silva é um homem que divide, que cria anticorpos. As suas propostas têm um carácter eminentemente técnico, que podem resolver problemas pontuais, mas não acreditamos que seja por aí que passa a solução da crise.
Não voto em Mário Soares porque já deu suficiente ao país, deveria ser um capítulo encerrado na história da democracia portuguesa. O seu lugar deveria ser aquele pelo qual recentemente teria optado: numa das suas casas, escrevendo as suas memórias, de consciência tranquila e confiante nas capacidades das gerações mais novas.
Voto em Manuel Alegre, porque, para além de ser um homem culto, respeitado e digno, é aquele que tem uma imagem limpa, que não cria anticorpos, que é mais aceite pelos diferentes quadrantes da sociedade portuguesa, da esquerda à direita civilizada e que, como tal, pode passar mais facilmente uma mensagem unificadora, aglutinadora e superadora da crise. Manuel Alegre, com a sua mensagem humanista é o que está mais bem posicionado para ser o Presidente de Todos os Portugueses e em quem os portugueses se podem rever e com quem facilmente se podem identificar.
Desidério Lucas do Ó
Faro, 12.1.06
19 janeiro 2006
Uma apologia do voto em M. Alegre
Marcadores: kamikaze (L.P.)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário